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Espiritualidade

5 conselhos de São João da Cruz para crescer na intimidade com Deus

A doutrina de São João é centrada no total desapego das criaturas como caminho indispensável para a união com Deus.

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São João da Cruz, um dos maiores místicos da história da Igreja, é conhecido por sua profundidade espiritual, sua contribuição à reforma do Carmelo ao lado de Santa Teresa d’Ávila e seus escritos que guiam almas no caminho da intimidade com Deus.

Neste artigo, exploraremos um pouco de sua vida, trazendo também cinco conselhos que ele nos deixou como legado.

Breve Biografia

São João nasceu em 1542, em uma pequena vila na província de Ávila, Espanha. Seu pai, Gonzalo, um nobre rico, apaixonou-se por Catalina, uma jovem de beleza e piedade excepcionais, mas de origem humilde. A família de Gonzalo, apegada à sua posição social, rejeitou a união, considerando inadequado o casamento com uma simples mulher. Gonzalo, então, por amor, renunciou aos privilégios de sua nobreza para se casar com Catalina. Tiveram três filhos.

Gonzalo faleceu quando João era ainda criança, e sua mãe, Catalina teve de lutar para sustentar a família. Viviam em pobreza extrema. Esses desafios da infância moldaram o jovem João, preparando-o para a vida de entrega e sacrifício ao Senhor que abraçaria mais tarde.

Em 1563, ingressou na Ordem dos Carmelitas e assumiu o nome de Frei João de São Matias. Logo, ele demonstrou seu desejo por uma vida de maior austeridade e oração. Tal desprendimento e piedade o levaram a se unir a Santa Teresa d’Ávila na reforma do Carmelo: ela no ramo feminino e ele no masculino.

No entanto, a reforma do Carmelo encontrou forte oposição, especialmente dos próprios carmelitas. Em 1577, na calada da noite, Frei João foi raptado por seus companheiros de ordem e levado à prisão em um convento em outra cidade, Toledo.

Durante nove meses, ele sofreu maus-tratos, isolamento e humilhações. Apesar disso, foi nesse período que ele se uniu mais intimamente a Deus, chegando aos cumes da santidade. No cárcere, ele escreveu alguns de seus mais belos poemas espirituais, o Cântico Espiritual.

Após escapar da prisão com a ajuda de um carcereiro, São João foi encontrado por algumas irmãs carmelitas descalças (ou seja, irmãs da reforma de Santa Teresa d’Ávila). Ele estava completamente debilitado: sem banho por quase um ano e em extrema magreza. Era um morto-vivo! As bondosas carmelitas providenciaram-lhe abrigo por dois meses.

Livre e recuperado, João continuou seu trabalho de reforma na ordem e nos seus escritos, deixando um legado inestimável para a espiritualidade cristã. Ele faleceu em 14 de dezembro de 1591, com apenas 49 anos, mas sua influência na Igreja e na literatura hispânica perdura até os dias de hoje.

Doutor da Igreja

São João da Cruz foi declarado Doutor da Igreja em 1926 pelo Papa Pio XI, que o chamou de Doctor Mysticus (Doutor Místico). Este título reflete sua capacidade de explorar as profundezas da relação entre Deus e a alma. Seus poemas e ensinamentos são atemporais e nos oferecem um itinerário seguro para avançarmos no caminho da santidade.

A doutrina de São João é centrada no total desapego das criaturas como caminho indispensável para a união com Deus. Ele ensina que a alma deve esvaziar-se de todos os apegos terrenos, paixões desordenadas e vaidades, para que Deus possa habitar plenamente em seu interior. Esse desapego não é uma negação do valor das criaturas em si, mas um chamado a amá-las em Deus e por Deus, sem que se tornem obstáculos à comunhão com a Santíssima Trindade.

São João da Cruz enfatiza que o caminho para essa união, invariavelmente, passa pela “noite escura”, uma purificação na alma, tanto da sensibilidade quanto do espírito, onde a alma é despojada de seus confortos e falsas seguranças.

Nesse processo, ela aprende a depender unicamente de Deus, reconhecendo sua pequenez e “fazendo-se nada” para que Deus seja “tudo” em sua vida. Através desse vazio, Deus preenche a alma com Sua presença, levando-a à plenitude do amor e à perfeita conformidade com a Sua vontade.

Assim, a espiritualidade de São João da Cruz é um convite à radicalidade no amor a Deus, a única radicalidade que nos torna verdadeiramente livres.

05 Conselhos de São João da Cruz

1. “No entardecer de nossa vida, seremos julgados no amor”

São João da Cruz nos lembra que o critério final de julgamento será o amor. Não apenas o amor de Deus por nós, mas o amor com que vivemos nossa fé e tratamos o próximo.

Esse conselho nos desafia a avaliar como integramos o amor a Deus em cada aspecto de nossas vidas. A caridade deve moldar nossas palavras, ações e, é claro, nossas intenções. Amar significa superar o egoísmo e imitar Cristo, que se entregou completamente por amor a nós.

Assim, somos convidados a viver uma fé marcada pela caridade, tanto nas grandes como nas pequenas coisas. Santa Teresinha, uma grande filha espiritual de São João, compreendeu bem isso e desenvolveu sua doutrina da Pequena Via. Ela chegou a dizer: “No seio da Igreja, minha mãe, serei o amor”.

E você, é o “amor” na Igreja, na sua família, nos seus afazeres mais simples?

2. “A mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer sente-se impedida em sua liberdade e contemplação”

Esse ensinamento enfatiza a importância da ascese na vida espiritual. Ascese é o esforço espiritual e moral (ou seja, práticas interiores e exteriores) para vencer as inclinações desordenadas, renunciar ao pecado e crescer na virtude, buscando crescer no amor a Deus. Essas práticas envolvem uma vida de oração e penitência mais firme, mais decidida.

Como é sua rotina de oração diária? Você lê as Sagradas Escrituras? Faz pequenos sacrifícios no dia a dia? Abdica de certos confortos por amor a Jesus?

Lembremo-nos: apegos desordenados, e mesmo os prazeres lícitos, podem nos aprisionar e impedir nosso progresso espiritual.

3. “Agrada mais a Deus uma obra, por pequena que seja, feita às escondidas e sem desejo de que saibam, do que mil feitas com desejo de que os homens as conheçam”

Aqui, São João da Cruz aponta para o valor do amor vivido no ordinário, sem a busca por reconhecimento ou aplauso. Precisamos ser humildes!

Esse conselho nos desafia a viver um amor extraordinário a Deus no cotidiano, oferecendo ao Senhor cada ato, por mais simples que pareça, com humildade e amor. É na vida escondida, no serviço anônimo, que muitas vezes encontramos o verdadeiro caminho para a santidade.

O anonimato é o exercício da humildade; o silêncio sobre si é o discurso do amor!

4. “A alma que caminha no amor não se cansa”

São João da Cruz reflete aqui a dinâmica do amor que é fonte inesgotável de vitalidade e alegria. Ele nos lembra que o amor verdadeiro se alimenta do próprio ato de doar-se, imitando Cristo, que se entregou até a última gota de sangue.

Esse conselho é um chamado à generosidade. Assim como Cristo não colocou limites em Seu amor por nós, somos convidados a amar com a mesma intensidade e alegria, mesmo nas adversidades. O amor dilata nosso coração, nos impulsiona a amar mais e nos fortalece contra as tentações.

“Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo”.

5. “O progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber”

Esse conselho reflete um dos temas centrais dos escritos de São João da Cruz: a “noite escura” da alma. Ele ensina que, mesmo nos períodos de provação, desorientação ou sofrimento, Deus está presente e operando em nossas almas.

Na escuridão da fé, onde não podemos compreender os desígnios divinos, a fidelidade a Deus na oração se torna a chave para o progresso espiritual. Essa entrega confiante, constante, mesmo sem entender muitas vezes as circunstâncias da vida, é o que transforma a alma e a conduz à santidade.

Se pudéssemos resumir em um versículo bíblico a doutrina de São João da Cruz, este seria: “O justo vive pela fé” (cf. Hebreus 10, 38).

Subamos o monte da santidade!

Encorajados pela vida de São João da Cruz e sustentados por sua intercessão, avancemos com coragem e determinação. Não nos detenhamos nos prazeres passageiros ou nos sofrimentos da jornada, mas fixemos nossos olhos na paz eterna que nos espera.

Que as noites escuras nas nossas vidas sejam acolhidas como instrumentos de purificação e crescimento, e que, mesmo na aparente ausência de luz, saibamos que Deus nos guia silenciosamente. Que o exemplo e os ensinamentos deste grande doutor da Igreja nos inspirem a subir, dia após dia, o monte da santidade, confiando que cada passo, mesmo os mais difíceis, nos aproxima do cume: o puro amor a Deus.

São João da Cruz, rogai por nós!