Espiritualidade

Como Vencer o Desânimo e a Preguiça de Rezar?

A oração é uma graça, mas nós devemos participar dela ativamente. Rezar supõe sempre um esforço de nossa parte.

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Muitas pessoas passam por momentos de desânimo e preguiça em sua vida de oração. São tempos difíceis, de aridez prolongada. A pessoa não sente vontade de rezar, e o seu coração parece seco.

É normal sentir-se assim. Pode parecer estranho à primeira vista, mas tudo em nossa vida espiritual pode beneficiar-nos se soubermos acolher o dom que Deus nos propõe com a dificuldade.

Sabemos que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. (Rm 8, 28a)

Mas como será que podemos extrair os benefícios da luta contra o desânimo e a preguiça? Este é o tema de hoje. Você vai aprender que a oração é um combate necessário para a nossa alma. Depois, veremos o valor da humildade para a vida de oração. Com tais referências em mente, será o momento de distinguir o desânimo da preguiça.

Um Combate Necessário

A oração é um encontro amoroso com Deus. Por meio dela, nós nos colocamos na presença do Senhor e reconhecemos a Sua soberania sobre a nossa vida. É um ato tão importante que influi sobre o rumo dos acontecimentos do mundo.

Em razão de sua natureza, a oração é uma conversa, uma união do homem com Deus, e, em função de sua ação, sustenta o mundo e conduz à reconciliação com Deus. [1]

Nós temos necessidade de rezar porque somos feitos para Deus. Neste mundo não encontramos a plena alegria que somente a amizade com o Senhor pode nos proporcionar. Algo sempre nos falta.

O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. [2]

O nosso coração aspira a uma profunda união com Deus, mas não podemos rezar com as nossas próprias forças. Toda oração é um dom. Isso significa que não somos nós que produzimos a oração com as nossas forças, embora cooperemos com ela.

A oração é um dom da graça e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço. [3]  

“Supõe sempre um esforço” é um ensinamento importante de nosso catecismo. A oração é uma graça, mas nós devemos participar dela ativamente. Há um combate espiritual a travar. Mas é um combate contra quem?

Contra nós mesmos e os embustes  do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com seu Deus. [4]  

Vimos até aqui que a oração é um combate necessário. Precisamos responder ao amor de Deus, comprometendo-nos com ela. Vamos agora dar um passo adiante.

Se você ainda não fez a sua inscrição para o Retiro “Da oração depende a nossa vitória”, clique aqui e se inscreva. Será um momento muito especial para que você esteja bem preparado para o combate espiritual da Quaresma de São Miguel.

A Humildade de um Mendigo

Nós não podemos vencer o combate espiritual da oração sem humildade. Precisamos reconhecer que, quando rezamos, participamos de uma graça que nos foi concedida. Não somos os autores da oração.  

A Palavra de Deus traz uma imagem forte para educar-nos. Perante Deus, somos como um mendigo. O que faz um mendigo para obter comida? Nada. Ele simplesmente suplica pelo que não tem direito. O mendigo depende da misericórdia das pessoas, assim como nós somos dependentes da Misericórdia do Senhor.

Em resumo, outra coisa não somos senão pobres mendigos, que tanto temos quanto recebemos de Deus como esmola: “Eu, porém, sou pobre e mendigo” (Sl 40, 18). [5]  

Partindo da nossa indigência, podemos aproximar-nos de Deus com humildade. Trata-se de uma atitude de realismo. Ele é o Todo Poderoso, e nós somos pecadores. É por misericórdia que o Senhor cuida de nós.

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom: Sua misericórdia é para sempre (Sl 136, 135)

Esse salmo nos ensina que devemos agradecer sempre  ao Senhor. O próprio desejo de rezar melhor já é uma graça! Significa que o Senhor está nos movendo. É, portanto, com humildade que devemos nos aproximar de Deus.

A Aridez do Desânimo

Quando você não tiver vontade de rezar, experimente aproximar-se com redobrada humildade de Deus. Abra o seu coração, dizendo-lhe que está sem vontade. Ofereça a Deus o desânimo. Não tenha medo. Faz parte do combate espiritual.

Nosso combate deve enfrentar aquilo que sentimos com nosso fracasso na oração: desânimo diante da aridez. [6]

Muitas pessoas têm uma noção equivocada da oração. Elas pensam que a medida da fé seriam as emoções, como sentir um calor no peito. Não é verdade. O Senhor nos concede a graça de sentir emoções agradáveis no corpo, mas às vezes nos priva delas para crescermos espiritualmente.

Jeremias lamenta a destruição de Jerusalem, pintura de Rembrandt.

Certa vez São Luís Maria Grignion de Montfort apresentou esse ensinamento de modo muito direto e claro em uma de suas obras. Ensinando a rezar o Rosário, o santo declarou que o valor da oração aumenta se tivermos que lutar mais para rezá-lo.

Seu Rosário é tanto melhor quanto mais difícil. [7]

Não se trata de buscar dificuldades na oração. O fato é que elas virão, com naturalidade. O Senhor Deus permite o nosso desânimo para aprendermos a buscá-lo por quem Ele é, não pelo que Ele nos oferece.

Outra dificuldade, especialmente para aqueles que querem sinceramente orar, é a aridez. Esta acontece na oração, quando o coração está desanimado, sem gosto com relação aos pensamentos, às lembranças e aos sentimentos, mesmo espirituais. É o momento da fé pura que se mantém fielmente com Jesus na agonia e no túmulo. [8]  

A Aridez da Preguiça

Pode acontecer que a sua aridez não seja um período de purificação interior. Talvez lhe falte mais conversão. Nesse caso, a aridez seria uma espécie de preguiça. Para discernir, convém fazer um exame de consciência e levar o caso concreto a um sábio sacerdote.

Se a aridez é causada pela falta de raiz, porque a Palavra caiu sobre as pedras, o combate deve ir na linha da conversão. [9]  

Como vimos, nem sempre a aridez indica que algo está errado. Ela pode ser uma purificação interior. Porém, a aridez causada pela preguiça é um sintoma de uma doença espiritual. Ela requer cuidados especiais. Talvez seja o momento de fazer uma confissão geral.

Outra tentação, cuja porta é aberta pela presunção, é a acídia (chamada também “preguiça”). Os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração. [10]

Seja qual for a causa, não pare de rezar! Ao preparar-se para a oração, lembre-se de que existe uma antiga tradição que nos ensina a rezar em três etapas. Primeiro, rendemos ação de graças. Depois, reconhecemo-nos pecadores com sincero arrependimento. Enfim, pedimos o que precisamos. Você já experimentou rezar assim? Pode ser uma boa ideia.

Antes de tudo, registremos nossa sincera ação de graças em nosso livro de oração. Na segunda linha deve estar a confissão e a contrição sincera da alma. Apresentemos em seguida nossos pedidos ao Rei de todos. [11]

Um Coração Confiante

Nós não devemos ter vergonha de sentir desânimo ou preguiça. Os desafios fazem parte da nossa caminhada rumo ao Pai. Se você está passando por um período assim, tente identificar a sua causa. O auxílio de um sacerdote será certamente útil nesse momento.  Mas o importante mesmo é não desistir da oração.  

Lembre-se também que Nossa Senhora acompanha sua história e conhece suas dificuldades. Ela sempre está conosco.

Nos dias 12, 13 e 14 de agosto vai acontecer o Retiro “Da Oração depende a nossa vitória” às 20h no canal do Youtube do Padre Alex Nogueira. Será um momento especial para se preparar para a Quaresma de São Miguel e entender melhor o combate da oração. Para se inscrever, clique aqui.

Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências

[1] São João Clímaco. Escada do Paraíso. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2020. p. 349.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 27.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 2725.

[4] Ibid.

[5] Santo Afonso de Ligório. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4a Edição. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 21.

[6] Catecismo da Igreja Católica, 2728.

[7] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário: para se Converter e se Salvar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. p. 117.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 2731.

[9] Ibid.

[10] Catecismo da Igreja Católica, 2733.  

[11] São João Clímaco. Escada do Paraíso. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2020. p. 351.