Espiritualidade

Cinco ensinamentos de Santo Afonso de Ligório sobre a Oração

O oração é o meio necessário e certo para alcançarmos todas as graças necessárias para a salvação.

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Santo Afonso de Ligório nasceu em 1696. Chegou aos noventa e um anos de idade, ao longo dos quais escreveu muitos livros. Certamente muitas almas chegaram ao Céu porque souberam escutá-lo, como convém escutar um santo.  

Meu filho, escuta as minhas palavras e dá ouvido às minhas sentenças. (Pr 4, 20)

Foram muitos os ensinamentos de Santo Afonso. Ele tratou dos mais variados temas, da devoção mariana à preparação para a morte. Mas será que existiu um livro que fosse mais importante que os outros? O próprio santo nos responde:

Publiquei várias obras espirituais. Penso, entretanto, não ter escrito obra mais útil do que esta, na qual trato da oração, porque a oração é o meio necessário e certo para alcançarmos todas as graças necessárias para a salvação. [1]

Esse artigo é um convite para você se aproximar da sabedoria de Santo Afonso de Ligório por meio de cinco dos seus conselhos sobre a oração. Ele está no Céu e quer nos ajudar a chegar lá. Precisamos aprender a valorizar a oração em nossa vida, pois dela depende a nossa salvação. O tema é de suma importância!

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1) Rezar pelos Outros

Santo Afonso de Ligório nos aconselha a rezar pelos outros. Não é um conselho óbvio, pois temos uma tendência de rezar apenas pelos nossos parentes e amigos. Interessar-se pela salvação de todos é um caminho de conversão pessoal.

Não se duvida, entretanto, que as orações que fazemos pelos outros, mormente os pecadores, sejam muito agradáveis a Deus. [2]  

O esforço de conversão é uma saída de nós mesmos. Devemos pedir que o Senhor nos envie o Espírito Santo para que possamos abrir a nossa oração até mesmo para aqueles que querem nos fazer o mal. Estes são os mais necessitados de oração!

Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. (Mt 5, 44)

A oração vincula-se sempre ao amor. Não podemos amar a Deus se optarmos por fechar o coração aos irmãos. O nosso caminho é, portanto, responder às ofensas que nos fazem com oração pela salvação dos ofensores.

A afirmação do amor a Deus se torna uma mentira, se o homem se fechar ao próximo ou, inclusive, o odiar. [3]

Lembremo-nos que este conselho de Santo Afonso de Ligório foi reiterado por Nossa Senhora em Fátima, quando pediu oração e sacrifícios pelos pecadores. Muitos são condenados porque poucos rezam pelos outros.

Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas. [4]

2) Pedir a Salvação

E o que devemos pedir para nós e para os outros? A resposta de Santo Afonso é muito clara e direta: temos que pedir a salvação eterna. Todo o restante vai encontrando o seu lugar se estivermos voltados para a salvação.

Peçamos as graças necessárias à salvação porque a promessa divina não foi dada para os bens temporais, que não são necessários à salvação da alma. [5]  

Este conselho traz uma lição. Tenhamos cuidado para que as preocupações do mundo não perturbem a nossa oração. Todos nós temos necessidades materiais, e o Pai sabe do que precisamos.

No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a Providência de nosso Pai (Mt 6, 25-34). Não nos exorta a nenhuma passividade, mas quer libertar-nos de toda preocupação. [6]

Como filhos, somos chamados a cooperar com a Providência do nosso Pai. Não se trata de jamais pedir coisas materiais, mas sim de confiar que Ele somente nos dará o que for realmente bom para nós.

Quando pedimos bens temporais, devemos pedi-los com resignação e sob a condição de aproveitarem à alma. Se vemos que o Senhor não nos concede, tenhamos por certo que os nega pelo amor que nos tem e porque prevê que vão prejudicar a salvação da nossa alma. [7]  

Até aqui vimos que convém rezar pelos outros, pedindo-lhes a salvação eterna. Veremos agora conselhos sobre como rezar.

3) Rezar com Humildade

Todos os detalhes da Paixão do Senhor são ricos em sabedoria. Nela, houve com Pedro um acontecimento que nos ensina o valor da humildade. Quando Jesus lhe revelou que seria abandonado por todos, Pedro disse estas palavras cheias de autossuficiência:

Mesmo que todos se escandalizem por causa de ti, eu jamais me escandalizarei (Mt 26, 33)

Jesus corrigiu imediatamente a Pedro, dizendo-lhe que ele O negaria três vezes. No entanto, Pedro obstinou-se em sua posição. Foi um momento muito intenso. Suas palavras ficaram registradas no Evangelho de São Mateus:

Ainda que eu tenha de morrer contigo, nunca te negarei. (Mt 26, 35)  

Em poucas horas, porém, Pedro negou Jesus por três vezes. O que aconteceu? É que Pedro confiou em suas próprias forças, esquecendo-se assim de que nada podemos com nossas próprias forças.

Se Pedro houvesse se humilhado e pedisse ao Senhor a graça da constância, não o teria negado. [8]

A Igreja nos ensina que não podemos fazer bem algum sem a Graça de Deus. É a soberba que nos arrasta para uma posição autoconfiante, como se pudéssemos muito. Tenhamos cuidado! Devemos recordar-nos de que a oração é uma graça.

A oração é um dom, uma graça; não pode ser acolhida senão na humildade e na pobreza. [9]

4) Rezar com Confiança

Rezar com confiança é essencial para nós. Essa orientação pode até parecer evidente à primeira vista, mas é um conselho de grande sabedoria. Confiar gera vínculos entre quem ama e aquele que é amado. Na santa missa, por exemplo, rezamos com amor e confiança ao Pai.

Na liturgia romana, a assembleia eucarística é convidada a rezar o Pai-Nosso com ousadia filial. [10]

Mas qual é a razão da nossa confiança? A Misericórdia de Deus! Sabemos que o trono de Cristo é um trono de graça, que nos abre as portas do Reino. É nele, e não em nossas forças, que temos a esperança da salvação.

O trono da graça é Jesus Cristo, que está assentado à direita do Pai, não sobre um trono de justiça, mas de graça, para nos obter o perdão, se estivermos em estado de pecado, e o auxílio necessário para preservarmos, se estivermos na amizade de Deus. Para este trono, devemos dirigir-nos sempre com confiança, mas com uma confiança firme e certa. [11]  

Desconfiar das próprias forças é o tom próprio da verdadeira confiança em Deus. Quem sabe que é capaz de pecar recorre ao Todo Poderoso, pedindo-lhe forças para perseverar até o fim no caminho correto.

A confiança verdadeira e santa só se encontra naqueles que, esperando em Deus, temem a si mesmos, e desconfiam de suas forças. [12]

5) Rezar com Perseverança

Eis mais um grande conselho de Santo Afonso de Ligório: perseverar na oração até o final! Rezamos quando temos vontade e rezamos quando não temos vontade. É uma necessidade para a nossa salvação.

A graça da salvação não é uma só graça, mas uma corrente de graças, as quais vêm todas se unir à graça da perseverança final. Ora, essa corrente deve, por assim dizer, corresponder à outra corrente de nossas orações. [13]

A vida de oração é um combate. Há momentos em que rezar é fácil e agradável. Em outros momentos, porém, estamos áridos. Não há problema algum. A fé não é uma emoção. É preciso atravessar o deserto com fé pura, sem recompensas emocionais, para permanecer com Cristo.

Outra dificuldade, especialmente para aqueles que querem sinceramente orar, é a aridez. Esta acontece quando o coração está desanimado, sem gosto com relação aos pensamentos, às lembranças e aos sentimentos, mesmo espirituais. [14]

Nem toda aridez é sinal de uma fé pura. Ela pode ser um sintoma de alguma doença espiritual, cujo remédio será uma maior conversão. Por isso, convém examinar bem a consciência e conversar com o confessor para buscar luzes.

Se a aridez é causada pela falta de raiz, porque a Palavra caiu sobre as pedras, o combate deve ir na linha da conversão. [15]

Um Caminho de Vida

Esses cinco conselhos de Santo Afonso de Ligório são muito valiosos. É claro que eles não esgotam o tema, pois sempre há mais a dizer sobre a oração. No entanto, com esses cinco conselhos em mente, podemos aprofundar a nossa vida pessoal de oração. Ela é um caminho de vida.

Que Santo Afonso de Ligório interceda por nós!

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Referências

[1] Santo Afonso. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4ª Ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 11.

[2] Ibid, p. 58.

[3] Papa Bento XVI. Deus Caritas Est, 16.

[4] Irmã Lúcia. Memórias da Irmã Lúcia - 13a ed - Fátima (Portugal): Secretariado dos Pastorinhos, 2007. p. 92.

[5] Santo Afonso. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4a Ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 61.

[6] Catecismo da Igreja Católica, 2830.  

[7] Santo Afonso. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4a Ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 62.

[8] Ibid, p. 65.

[9] Catecismo da Igreja Católica, p. 2713.

[10] Catecismo da Igreja Católica, p. 2777.

[11] Santo Afonso. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4a Ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 74.

[12] Padre Scaramelli. O Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 102.

[13] Santo Afonso. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4a Ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 86.

[14] Catecismo da Igreja Católica, 2731.

[15] Catecismo da Igreja Católica, 2731.