A oração é o grande meio para alcançar a salvação eterna e todas as graças que desejamos de Deus. Devemos entender, desde já, que não se trata de algo opcional, mas de uma verdadeira necessidade. Se queremos alcançar as graças que pedimos a Deus e, principalmente, a graça da salvação eterna, precisamos rezar muito. No entanto, muitos ainda não compreendem que a oração é a base do progresso espiritual. Com efeito, ela é fundamental para conhecermos a Deus e nos unirmos a Ele.
Essa união, à qual somos chamados por Deus, foi inaugurada na nossa alma com o Santo Batismo. Foi neste exato momento que recebemos uma nova vida em Cristo, uma graça sobrenatural, um dom que nos une a Deus e Deus a nós. É uma realidade tão profunda e sublime que, infelizmente, poucos compreendem, mas que é o reflexo - uma antecipação - da perfeita união que teremos com Ele no Céu.
Essa vida espiritual é a vida do próprio Jesus Cristo em nós, pela fé, pela esperança e pela caridade. Como uma semente, esta vida deve seguir seu curso natural: ao germinar no solo, precisa ser regada e cultivada para que cresça, se torne uma grande árvore e dê os frutos a seu tempo. No entanto, não são poucos os cristãos que estão estagnados e não crescem espiritualmente. Muitos desistem pelo caminho, e tantos outros dão apenas os primeiros passos. Mesmo com boa intenção, não sobem os degraus da perfeição cristã.
Podemos afirmar, sem exagero ou engano, que a vida espiritual - que consiste na vida interior normal e acessível a todos - é a grande desconhecida do nosso tempo. E esta é a causa pela qual as pessoas não crescem nas virtudes, no amor a Deus e ao próximo, pois tudo isso é consequência de uma vida de oração frutuosa. Muitos desistem prematuramente por achá-la difícil, cansativa e monótona. Já outros não rezam com as devidas disposições, mas com uma oração “débil” e sem “força”, o que os impede de progredir espiritualmente e alcançar as graças de Deus.
Pretendemos, com este artigo, despertar para esta realidade tão necessária e urgente: precisamos progredir na vida espiritual. Mas como progredir na oração? Com quais disposições devemos rezar? É o que vamos apresentar a seguir.
Oração vocal: o primeiro grau da oração
Na oração, falamos com Deus e Ele fala ao nosso coração. Esta primeira lição é fundamental para nos fazer compreender a essência do que estamos fazendo quando rezamos. Queremos nos encontrar com o Senhor, fonte de toda vida e graça, e permanecer em Sua presença. Não se trata apenas de pedir coisas a Deus e ir embora, ou de recitar algumas orações rapidamente e sem atenção; isso não é oração. Quem sabe rezar, ama verdadeiramente. Se você rezou, mas não amou Nosso Senhor Jesus Cristo, sua oração foi incompleta, e ainda lhe falta o principal, a “melhor parte”, como Jesus advertiu à atarefada Marta (Lc 10, 42).
No início da vida espiritual, começamos pelo primeiro grau da oração: a oração vocal. Ela consiste, basicamente, em repetir fórmulas como o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Nesta etapa, é importante, durante a oração, estar advertido a duas coisas: o que estou falando e a quem estou falando. Esse exercício nos ajuda a manter a atenção e o foco no que dizemos a Deus e também favorece a piedade e a devoção, pois afinal, estamos nos dirigindo a Deus e não a qualquer pessoa. A negligência em um desses dois pontos pode comprometer a oração.
Há, portanto, um esforço que precisamos fazer. Quem deseja rezar bem, deseja, em última análise, unir-se ao Senhor. Contudo, não podemos nos esquecer de que o Senhor também quer falar ao nosso coração. Ele também quer se unir a nós e nos comunicar seus dons e graças. Trata-se, portanto, de um verdadeiro encontro entre nós e Nosso Senhor, em que estamos em Deus e Ele em nós, numa relação íntima de amizade, na qual a miséria se encontra com a Misericórdia.
Sabemos que a oração vocal é o primeiro degrau dessa escada e nos torna aptos a dar os demais passos. E mesmo adultos, continuamos a fazer orações vocais. Neste ponto, é importante esclarecer que as orações vocais que realizamos são boas e agradáveis a Deus. O próprio Senhor foi quem nos ensinou a oração vocal mais excelente, isto é, o Pai-Nosso. Encontramos nas palavras do Salvador a regra e o modelo de todas as outras orações [1], em poucas palavras, tudo o que podemos esperar de Deus.
Meditação: o segundo grau da oração
Quando progredimos na vida espiritual, passamos da oração vocal para a meditação, subimos um degrau dessa escada. Isso não significa, de modo algum, que, ao alcançar o segundo degrau, devemos abandonar a oração vocal. Pelo contrário, quando rezamos bem as orações vocais - isto é, com amor, devoção e atenção - elas nos conduzem necessariamente ao segundo grau de oração que chamamos de meditação.
Se a oração vocal é aquela que expressamos por meio de palavras, seja em voz alta ou mentalmente, no segundo grau, o foco se move mais para o interior da alma. A oração mental ou a meditação é uma busca por Deus com o auxílio da razão e da imaginação. É um esforço ativo para refletir sobre as verdades da fé, as Escrituras Sagradas, a vida de Jesus Cristo ou dos santos. O objetivo é mover o coração e a vontade para amar a Deus, não apenas por palavras ou sentimentos, mas de modo mais profundo e perfeito. Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica:
A meditação “mobiliza o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Essa mobilização é necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do coração e fortificar a vontade de seguir a Cristo.” (CIC 2708).
Sendo assim, a meditação não é apenas um exercício intelectual, mas um caminho para aprofundar o conhecimento de Deus e, a partir daí, sentir-se impelido pelo amor a servi-Lo. Desse modo, percebemos que a vida cristã não se limita à prática da oração vocal. Ela é apenas o começo. Embora seja boa e necessária para nos ajudar a conservar a graça de Deus, a vida interior vai mais além, visa o desenvolvimento dessa graça. Se você for generoso com Deus e não pôr obstáculos à Sua graça, essa vida sobrenatural crescerá a cada instante, em proporção e com a intensidade do seu amor a Ele. [2]
Isso só depende de você! Se, de fato, estiver disposto a progredir na vida espiritual, Deus lhe concederá todas as graças necessárias. Infelizmente, muitos desconhecem esta realidade da vida interior e, por isso, não progridem. Passam anos de suas vidas “estagnados” por não entenderem que disso depende seu progresso na oração.
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Muitas vezes, diante das dificuldades, do cansaço, do desânimo ou da preguiça, não conseguimos estabelecer uma rotina de oração que nos ajude a amar a Deus como Ele merece ser amado. Mas saiba que é possível vencer esses obstáculos e rezar com perseverança. No retiro vamos abordar tudo aquilo que você precisa saber para viver bem a Quaresma de São Miguel deste ano, mas também, você aprenderá um caminho de oração que vai te ajudar em todos os dias da sua vida.
Lembre-se de que a oração é acessível a todos e, embora seja o meio mais eficaz para alcançar as graças que mais precisamos de Deus, ela deve nos conduzir, necessariamente, ao amor. Sendo assim, é imprescindível rezar bem todos os dias, com devoção e piedade. Em outras palavras, com as devidas disposições [3]. Mas, quais seriam essas disposições?
Condições para rezar bem
Para bem rezar, exige-se especialmente o recolhimento, isto é, pensar que nós falamos com Deus e, portanto, devemos orar com todo o respeito e devoção, evitando, tanto quanto possível, as distrações, que são todos os pensamentos estranhos à oração. Assim, antes de iniciar a meditação, procure se afastar de todas as ocasiões de distração, pense que está na presença de Deus, que, de fato, o vê e o escuta.
Também é fundamental a humildade, virtude que nós faz reconhecer a nossa própria indignidade e miséria. Desse modo, pense na melhor postura que expresse sua condição. Se possível, é claro, fique de joelhos diante do Crucifixo, de uma imagem da Virgem Maria ou de outro santo. Reze com confiança, ou seja, na esperança firme de ser atendido por Deus, para a Sua maior glória e o nosso bem. Outro detalhe importante é não desanimar: não devemos nos cansar de orar. A oração deve ser perseverante, se Deus não atender imediatamente as graças pedidas, continue a rezar com mais fervor. E, por fim, reze com resignação, conformando-se com a vontade de Deus, que conhece melhor do que nós o que é necessário para a nossa salvação eterna, mesmo quando nossas orações não forem atendidas.
Seguindo esses passos, sua vida espiritual, certamente, irá progredir, você fará belas e profundas meditações, a graça de Deus crescerá na sua alma na proporção que corresponder a ela, sua fé se tornará viva e atuante, sua esperança estará firme em Deus e resignada a Sua santa vontade, e sua caridade fará seu coração arder de amor por Deus que tanto nos ama. Ao final, você atingirá a perfeição de vida que todo cristão deve alcançar.
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Referências
[1] Catecismo Maior de São Pio X, nº 281.
[2] Jean-Baptiste Chautard. A Alma de Todo o Apostolado. 2ª ed. Artpress: São Paulo-SP, 2015, p. 14, 15.
[3] Catecismo Maior de São Pio X, nº 268 a 275.