Devoção Popular
Espiritualidade

A história do presépio e o Convite à Oração

Contemplar e rezar diante do presépio é uma forma de nos unirmos mais intimamente a Deus.

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O presépio é um dos símbolos mais emblemáticos do Natal, retratando o nascimento de Jesus em sua simplicidade em meio aos animais. Mais do que uma tradição decorativa, o presépio é uma catequese visual, um convite à oração e um chamado à contemplação do mistério da Encarnação.

Sua história remonta a São Francisco de Assis, que, com sua espiritualidade marcada pelo amor a Jesus e pela pobreza, deu forma a essa prática devocional que se espalhou pelo mundo.

A Origem do Presépio

A história do presépio, como o conhecemos hoje, está ligada a São Francisco de Assis. Em 1223, Francisco desejava celebrar o Natal de uma maneira que destacasse a humildade do nascimento de Cristo.

Na pequena vila de Greccio, na Itália, São Francisco organizou um presépio vivo. Ele colocou uma manjedoura com feno, cercada por um boi e um burro, e convidou as pessoas da região a se reunirem para uma celebração noturna com orações e cânticos.

De muitos lugares foram chamados os irmãos: homens e mulheres do lugar, de acordo com suas posses, prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. [1]

Houve ali uma Missa

São Francisco, como um fervoroso católico, compreendia que a representação da cena do nascimento de Jesus era mais do que uma simples encenação: tratava-se de um símbolo que apontava para o Cordeiro de Deus. Ele sabia que, sem o Santo Sacrifício, a noite permaneceria incompleta em seu sentido mais pleno. Por isso, naquela ocasião, celebrou-se uma Missa, coroando a memória do nascimento de Cristo com a presença viva de Seu sacrifício redentor, a Eucaristia.

A noite ficou iluminada como o dia e estava deliciosa para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em sua alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O santo parou diante do presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. [2]

São Francisco, consciente das restrições litúrgicas em relação à celebração fora dos edifícios cultuais (ou seja, das igrejas), agiu com humildade e discernimento. Para garantir que sua iniciativa “não fosse vista como desejo de novidade” desordenada, ele pediu e obteve a autorização do Sumo Pontífice. [3] Sua atitude refletia sua obediência e respeito à autoridade do Papa, demonstrando, mais uma vez, sua fidelidade à Igreja.

Na celebração, São Francisco, revestido da dalmática – o traje litúrgico característico do ministério diaconal – exerceu com profunda reverência o ofício que lhe cabia como diácono.

Com a voz cheia de fervor e solenidade, ele cantou o Santo Evangelho, conduzindo os presentes a uma atmosfera de verdadeira contemplação. Suas palavras ecoaram pela noite, como se cada nota entoada fosse um convite à abertura do coração para acolher o mistério daquele Menino de Belém.

Depois, Francisco fez a pregação, explicando o significado do nascimento de Cristo com tanta emoção que, segundo relatos, muitos sentiram como se estivessem realmente em Belém. A noite foi tão emocionante que, a partir de então, a prática de montar presépios se popularizou e espalhou-se pela Europa, tornando-se uma tradição amplamente difundida.

O significado espiritual do Presépio

Ter um presépio em casa ou na igreja não é apenas uma prática decorativa, mas um estímulo à oração. O presépio nos convida a contemplar cada elemento do nascimento de Jesus, meditando sobre seu significado espiritual:

1. Os Pastores

Os pastores foram os primeiros a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Eles estavam em vigília nos campos quando um anjo lhes apareceu, dizendo:

Não temais, eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor (Lc 2, 10-11).

Os pastores representam os pobres e humildes, aqueles que estão acordados e disponíveis para ouvir a voz de Deus. Assim como eles estavam vigilantes nos campos, nós também somos chamados a estar em vigília espiritual, sempre atentos aos sinais do amor de Deus que nos conduzem a Jesus.

2. Os Reis Magos

Os Reis Magos representam os povos pagãos que buscam a verdade e encontram sua plenitude em Cristo e em Sua Igreja. Guiados por uma estrela, eles chegaram a Belém para adorar o Menino Jesus, trazendo presentes simbólicos: ouro, incenso e mirra.

O ouro representa a realeza de Jesus. Como presente digno de um rei, o ouro simboliza que Cristo é o Rei dos reis, aquele que veio instaurar o Reino de Deus na Terra. O incenso é um símbolo que aponta a Divindade do Menino, digno de adoração. Ele é Senhor. E a mirra, que é um bálsamo usado para embalsamar corpos, antecipa a missão da Sua vida: o sacrifício que Jesus ofertaria para a salvação da humanidade. O Menino é, pois, um Salvador.

E, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram (Mt 2, 11).

Os Magos, assim, simbolizam o caráter universal da salvação. Eles nos lembram que Jesus é a resposta ao anseio de todas as religiões e culturas, mas para reconhecê-l’O como Deus, é preciso adorá-l’O e submeter-se ao Seu senhorio, ou seja, adorar o único Deus verdadeiro, abandonando suas falsas crenças.

3. Os Animais

O boi e o burro são frequentemente representados no presépio, remetendo à profecia de Isaías:

O boi conhece o seu dono, e o jumento, o estábulo de seu proprietário; mas Israel nada sabe, o meu povo nada entende (Is 1, 3).

Os animais nos lembram que, enquanto a humanidade fechou as portas para o Salvador, a criação O acolheu. No fim da vida, na Cruz, Jesus também esteve cercado por homens que se comportavam como animais, mostrando que a rejeição e a brutalidade humana acompanham todo o mistério da salvação.

4. A Manjedoura

A manjedoura, o lugar onde os animais se alimentam, tornou-se o berço do Salvador. Este detalhe aparentemente simples carrega profundo simbolismo. Jesus é o Pão da Vida, que se entrega a nós na Eucaristia. Belém, o local de Seu nascimento, significa “casa do pão”.

Eu sou o pão vivo que desceu do céu; quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).

A manjedoura também é uma espécie de pré-figuração da Cruz, pois é a única cruz que um recém-nascido poderia carregar. Desde o início, Jesus veio ao mundo como aquele que seria oferecido em sacrifício por nossa salvação.

A manjedoura e a Cruz, portanto, estão nas duas extremidades da vida do Salvador! Ele aceitou a manjedoura porque não havia lugar na hospedaria; Ele aceitou a Cruz porque os homens disseram: “Não queremos este Homem como nosso rei”. Renegado ao entrar, rejeitado ao sair, Ele foi colocado no estábulo de um estranho no início de Sua vida e na sepultura de um estranho em seu final. Um boi e um jumento cercavam Seu berço em Belém; dois ladrões estavam nos flancos de Sua Cruz no Calvário. Envolto em faixas em Seu local de nascimento, Ele foi novamente colocado em faixas no Seu sepulcro – faixas que simbolizam as limitações impostas à Sua Divindade quando assumiu a forma humana. [4]

5. José e Maria

José e Maria, curvados diante do Menino na manjedoura, representam o exemplo perfeito de contemplação. Eles não eram apenas os pais terrenos de Jesus – sendo José o pai adotivo –, mas Seus primeiros adoradores, reconhecendo-O como o centro de suas vidas e o propósito de sua existência.

Maria, em sua humildade e pureza, é o modelo de quem acolhe Jesus com o coração aberto, de corpo e alma. José, em seu silêncio e fidelidade, nos ensina a confiar nos planos de Deus, mesmo quando não os compreendemos plenamente.

Rezar o presépio!

Contemplar e rezar diante do presépio é uma forma de nos unirmos mais intimamente a Deus, especialmente neste tempo do Advento e na noite de Natal. É um convite para nos deixarmos transformar pelo mistério sublime da Encarnação: Deus que se faz homem, vindo até nós na fragilidade de um bebê indefeso.

O presépio nos recorda que a verdadeira alegria brota de Deus e se manifesta em nós na simplicidade, na humildade e na entrega total à Sua santa vontade. Rezemos, com fervor e constância, o mistério do Natal. Meditemos sobre cada elemento que circunda Aquele que, na manjedoura, é o centro de nossas vidas: Jesus, o Salvador!

Rezemos, rezemos sem cessar, com amor e devoção. E com Santa Teresinha, terminamos:

Não posso temer um Deus que se fez por mim tão pequeno… amo-o!… pois é só amor e misericórdia! [5]

Que nossas preces sejam um cântico de gratidão e louvor ao Menino que é a Luz do mundo.

Referências

[1] Tomás de Celano. Fontes Franciscanas. Livro Primeiro.

[2] Ibid.

[3] Legenda Maior 10,7. Fontes Franciscanas.

[4] Fulton Sheen. Vida de Cristo. Capítulo 2. Ed. Molokai. 2024.

[5] Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Carta 266 (ao Padre Bellière).