Doutrina

O Corpo de Maria está no Céu?

Maria está mais próxima de nós do que podemos imaginar. Ela já está na glória de Deus, ressuscitada, e assim recorda-nos que há um lugar à nossa espera no Céu.

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Você conhece a diferença entre a Ascensão do Senhor Jesus e a Assunção de Maria? Ascender significa subir ao Céu com as próprias forças. Foi o que Jesus fez, pois Ele é Deus. Assunção é diferente. Trata-se de ser erguido. Maria foi levada ao céu pelo Senhor. Ela não subiu com suas próprias forças naturais.

Assunção não é ascensão. Esta última é elevar-se com as próprias forças. É o caso de Jesus quando subiu ao céu. Assunção é ser assumido. Maria foi assumida, levada, entronizada no céu. [1]

A Assunção de Maria é muito importante para a nossa fé. Foi uma verdade transmitida desde os tempos apostólicos. Infelizmente, porém, nem sempre os fiéis têm uma boa percepção do que significa esse mistério.

Este artigo é um convite para você meditar sobre a Assunção de Maria e crescer em sua devoção mariana. Primeiro, você vai aprender o que é um dogma. Depois, vamos abordar o papel de Maria nos planos do Pai. Em seguida, nós nos aproximaremos ainda mais da Assunção.  

O Dogma da Assunção de Maria

A Assunção de Maria é uma verdade de fé que sempre esteve presente na história da Igreja. Por séculos, não houve a necessidade de que o Papa esclarecesse que se trata de um artigo de fé católica.

Os documentos que evidenciam a Assunção datam já do século IV e, logo dois séculos depois, a doutrina e o dia da festa já tinham sido universalmente estabelecidos na Igreja. Não há nenhuma evidência de que tal ensinamento era seriamente contestado ou disputado durante o período da Patrística; nem qualquer igreja ou cidade teve a pretensão de possuir relíquias da Santíssima Virgem. [2]

No século passado, muitos sacerdotes e até os fiéis da Igreja sentiram a necessidade de que a Assunção de Maria fosse declarada pelo Papa como um dos dogmas da Igreja. Foi uma graça para todos nós!

Sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição. [3]

Mas o que é um dogma afinal? Trata-se de uma declaração papal de que certa verdade faz parte da fé da Igreja. A ideia é manter a fé intacta: o dogma não inclui nem exclui nada. Ele declara o que já era a fé da Igreja desde o tempo dos Apóstolos, para que os fiéis tenham mais segurança.

Se não existissem erros doutrinais, não seria necessária a proclamação de dogmas. Todos concordariam em tudo. Mas a vida não é assim. Já no tempo dos Apóstolos houve a primeira dissensão doutrinal da história do Cristianismo. Ela versava sobre a circuncisão dos convertidos (At 15).

Foi com a autoridade de Pedro, o primeiro papa, que a questão foi resolvida. Ele exerceu o dom do discernimento doutrinal que lhe foi concedido pelo Espírito Santo, silenciando assim a todos (At 15, 12). Uma vez definido o dogma, Tiago tomou a palavra para dar um encaminhamento pastoral ao tema (At 15, 19).  É bonito ver que cada um tem o seu papel na Igreja.  

Pedro fala como chefe e orador da Igreja apostólica. Ele formula uma argumentação doutrinal sobre meios de salvação, ao passo que Tiago toma a palavra para sugerir o plano pastoral de levar o evangelho às comunidades mistas. [4]

Foi com essa mesma autoridade que Pio XII, sucessor de Pedro, definiu um outro dogma. A partir da declaração formal do Papa, não mais se questiona que a Assunção de Maria integra a fé da Igreja. Vale a pena ler o texto oficial:

(...) para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos S. Pedro e S. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a Sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial. [5]

Vimos até aqui que o Papa Pio XII discerniu que era vontade de Deus que os fiéis tivessem mais segurança na devoção à Maria, para que nada fosse retirado de nossa fé. Ele  usou de sua autoridade petrina para explicitar que, sim, Maria foi assunta ao Céu. Mas o que será que a Assunção nos ensina de Cristo? É o que veremos abaixo.

Nascido da Virgem Maria

A Assunção de Maria ao Céu em corpo e alma constitui um mistério que nos mostra como o relacionamento entre Jesus e Maria é único e irrepetível. Nenhuma outra mulher deu nem dará novamente seu corpo para que o próprio Deus se encarne e venha habitar entre nós.

“Deus enviou Seu Filho” (Gl 4, 4), mas, para “formar-lhe um corpo”, quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia. [6]  

A missão de Maria foi única e extraordinária. Convinha, portanto, que recebesse do Senhor privilégios singulares, como a Imaculada Conceição (Lc 1, 28) ou a maternidade divina (Lc 1, 43).

Todas as gerações, desde agora, me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso fez por mim grandes coisas. (Lc 1, 48-49)

A devoção a Maria repousa no reconhecimento do papel que o Pai quis que Ela tivesse na vida do Filho. Quem pretende negar a Maria seu grande papel na história da Salvação acaba afastando-se de um conhecimento correto de Cristo.

O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo. [7]

À luz do relacionamento de Jesus e Maria, podemos agora meditar sobre a Assunção com mais embasamento.

A Assunção de Maria

Ao entrar na glória em corpo e alma, Maria antecipou a ressurreição de todos os outros cristãos. Era de todo conveniente e justo que Ela, que viveu totalmente unida ao Filho, fosse a primeira criatura a entrar no Céu.

A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos. [8]

Em Maria, os efeitos da Ressurreição de Cristo já se fazem presentes. É uma grande esperança para nós! Enquanto combatemos pela nossa ressurreição, já temos ao nosso lado aquela que já é o que nós queremos ser: cidadãos do Céu (Fl 3, 20).

Na assunção de Maria, corporalmente ressuscitada com Cristo, antecipa-se a ressurreição dos mortos, como acontecimento comunitário. Na Mãe de Jesus, a morte não conseguiu destruir a relação entre criatura e Criador. Aquela que viveu, amou, sofreu e esperou no Deus de Israel foi ressuscitada integralmente. [9]

Maria está mais próxima de nós do que podemos imaginar. Ela já está na glória de Deus, ressuscitada, e assim recorda-nos que há um lugar à nossa espera no Céu.  Nós também somos chamados à ressurreição!

Unida a Deus, [Maria] não se afasta de nós, não vai a uma galáxia desconhecida, mas quem procura Deus aproxima-se, porque Deus está próximo de todos nós; e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, encontra-se extremamente próxima de nós, de cada um de nós. [10]

A Assunção de Maria é um farol que ilumina as nossas vidas. Ela nos ensina que devemos avaliar tudo que fazemos e vivemos a partir do combate espiritual pela própria Salvação. A vida não é uma brincadeira.

Que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, mas arruinar a própria vida? Que poderia dar em troca da sua vida?  (Mt 16, 26)

Uma Mãe no Céu

Tenha certeza de que Maria acompanha a sua vida de modo pessoal. Ela conhece o seu nome e sabe quais são os seus desafios. Você pode confiar totalmente nela. É com júbilo que devemos nos lembrar de que Maria está assunta no Céu.

A proclamação do dogma é um sinal de que a nossa devoção à Maria deve estar enraizada em nossas vidas. Como está a sua devoção à Maria? Você recorre à intercessão de Sua Mãe? Conversa com Ela no coração? Quais são as orações marianas da sua preferência?

Hoje é um bom dia para crescer no amor e na devoção à Mãe Santíssima, entregando-lhe todas as dificuldades e alegrias da vida. Ela cuida de nós.

Que Nossa Senhora da Assunção interceda por todos nós!

Referências

[1] Dom Leomar A. Brustolin.  Eis a Tua Mãe: Síntese de Mariologia. São Paulo: Paulinas, 2017. p. 69-70.

[2] Scott Hahn. Salve, Santa Rainha - a Mãe de Deus na Palavra de Deus. Lorena, SP: Cléofas, 2017. p. 85.

[3] Papa Pio XII. Munificentissimus Deus (7).

[4] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro dos Atos dos Apóstolos: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2016. p. 78.

[5] Papa Pio XII. Munificentissimus Deus (44).

[6] Catecismo da Igreja Católica, 488.

[7] Catecismo da Igreja Católica, 487.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 966.

[9] Dom Leomar A. Brustolin.  Eis a Tua Mãe: Síntese de Mariologia. São Paulo: Paulinas, 2017. p. 72-73.

[10] Papa Bento XVI. Homilia na Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria na Paróquia de Santo Tomás de Vilanova, Castel Gandolfo, 2012.