Todos os Papas da Santa Igreja Católica são importantes. Todos eles colocaram a serviço de Cristo e de Sua Igreja suas forças, capacidades e vida, dedicando-se incansavelmente para levar o Evangelho de Jesus Cristo, Sua doutrina e os Sacramentos, que são os meios de santificação e salvação, a todos os lugares do mundo.
Sabemos que, infelizmente, nem todos foram santos; muitos se desviaram do caminho, caíram em grandes pecados e escândalos. Mas até mesmo estes são contados entre os sucessores do Príncipe dos Apóstolos. Seja como for, de São Pedro a Leão XIV, todos os homens que ocuparam a cátedra do Apóstolo Pedro em Roma carregam nos ombros uma pesada cruz: a de conduzir todos os povos a Cristo Jesus, o Salvador dos homens.
A missão divina do Romano Pontífice nunca foi fácil, sendo marcada por dificuldades, perseguições, martírios, injúrias e injustiças dos inimigos de Cristo. Mas o Senhor prometeu Sua divina assistência todos os dias, até a consumação dos tempos. Com efeito, a Santa Igreja persiste, navegando há dois mil anos por essas águas violentas e turbulentas que fazem a barca balançar de uma lado para o outro. Em alguns momentos, parece que está para afundar, mas Jesus não permite; Ele é quem a sustenta.
A escolha de um homem simples e santo
O mundo, depois do pecado original, está sempre à beira de uma “explosão”, em uma combinação de avanços e tensões. As nações se armam e se voltam umas contra as outras, na política há uma mistura de otimismo, progresso e rivalidades latentes. Por outro lado, percebe-se uma grande ignorância das pessoas em relação à fé, ao mesmo tempo acontece uma vasta divulgação de erros doutrinais e morais inspirados por homens depravados de mente e corruptos de coração.
O ardor da fé se esfriou rapidamente em muitas almas. Ao abandonarem a Igreja e as santas práticas de devoção, elas caíram no mais terrível indiferentismo, enquanto a voz do Papa alertava para a causa dessa doença espiritual que causa tanto sofrimento: o afastamento de Deus [1]. Muitos integrantes do clero, infelizmente, se desviaram de sua missão divina, influenciados pelas “novidades” do mundo moderno. O homem, cada vez mais autossuficiente, grita aos quatro cantos sua independência de Deus, abandonando a luz de Cristo para seguir a própria luz.
Este relato, que parece retratar de forma muito clara o cenário atual, na verdade reflete os sofrimentos que o povo de Deus e a Santa Igreja Católica padeciam no início do século XX. Providencialmente, Deus suscitou para a Igreja um Pontífice que, a exemplo do Divino Mestre, foi um verdadeiro pastor de almas. Com a sabedoria divina, ele soube conduzir as ovelhas perdidas para o rebanho do Senhor.
Este grande Pontífice, de origem simples, foi eleito para o trono de Pedro após a morte do seu antecessor, o Papa Leão XIII. Em 1903, os cardeais reunidos em Conclave elegeram para Papa da Igreja Católica o cardeal Giuseppe Sarto, um homem de grande piedade e oração. Ele foi pároco, bispo, cardeal, patriarca de imensa caridade, um pontífice de um amor desmesurado pela fé e pela Igreja [2]. Reinou com o nome de Pio X, de 4 de agosto de 1903 até 20 de agosto de 1914, em um mundo que estava tragicamente às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
O seu lema “Instaurare omnia in Christo” - Restaurar em Cristo todas as coisas - expressa o que, de fato, realizou com a graça divina para o bem da Igreja e de todo o povo de Deus. É a verdadeira síntese do seu pontificado, todo voltado para a recristianização da sociedade já corrompida e contaminada pelo veneno do relativismo liberal. [3]
Um árduo combate contra os erros modernos
Desde o início do seu pontificado, ressaltou a importância da sã doutrina e da disciplina para a boa formação dos sacerdotes e para a instrução dos leigos. Ao mesmo tempo, não poupou esforços no enfrentamento e combate à tão difusa heresia do modernismo, com suas formas variadas e, em certos casos, sutis. O modernismo, à luz da ciência moderna e da filosofia contemporânea, reinterpreta a doutrina católica, enfatizando a autonomia da consciência e a evolução do dogma. São Pio X o chamou de “a síntese de todas as heresias” ao condenar de forma vigorosa seus erros na encíclica Pascendi Dominici Gregis.

Esse movimento reformista propõe adaptar a fé e a doutrina da Igreja aos “avanços” da ciência, da filosofia e da crítica histórica da época para, na verdade, suprimi-las por completo. Seus defensores argumentam que a fé precisava evoluir para ser compatível com a “mentalidade” atual. No entanto, ao reduzir a fé a um sentimento subjetivo, o modernismo destrói a ideia de que a verdade de Deus é objetiva, universal e imutável.
As verdades reveladas por Deus, interpretadas por este novo prisma, adquirem uma significação completamente nova e oposta ao que até então se acreditava ser perene e imutável. Os dogmas da Igreja, como a divindade de Jesus Cristo, a Eucaristia ou a Santíssima Trindade, não seriam verdades eternas e reveladas, mas apenas símbolos que expressam uma experiência religiosa em constante evolução. Com o passar dos anos, novos significados surgiriam das novas experiências religiosas de outros tempos.
De fato, o modernismo enfraquece toda a estrutura doutrinária de Cristo, guardada e preservada pela Igreja Católica. Ao afirmar que a verdade religiosa é um produto da consciência humana em evolução, coloca em xeque a autoridade da Igreja e consequentemente do Santo Padre. Com todas as suas forças, São Pio X tentou frear a mentalidade modernista que buscava destronar Nosso Senhor Jesus Cristo e corromper doutrinal e moralmente o Credo católico. Era preciso recristianizar a sociedade pela forte presença da Igreja no mundo, afirmando a fé de sempre e condenando os erros.
O zelo pela salvação das almas
Falar deste grande Papa apenas pelo aspecto da luz que seus documentos trouxeram à Igreja e ao mundo, resplandecendo sempre a verdade de Cristo Rei e Senhor, já seria suficiente para lhe prestar todas as honras. No entanto, essa abordagem ainda é incompleta. O legado de São Pio X vai além da condenação dos erros do seu tempo, ele também promoveu a reforma da Cúria Romana, colaborou para uma melhor formação do clero, estabeleceu a nova disciplina para a primeira comunhão e a comunhão frequente, e a restauração da música sacra. [4]
Seu tempo como pároco e bispo o fez perceber que grande parte dos fiéis se enveredavam no pecado por desconhecerem o caminho reto da sã doutrina. Assim, movido pelo zelo pastoral, dava aulas de instrução religiosa, ensinando às pessoas as verdades da fé católica. Ele cumpriu fielmente a missão de todo sacerdote: a de levar os homens a Cristo e Cristo aos homens.
Ao identificar que a causa desses desvios era a ignorância dos católicos acerca da fé, publicou em 1905 a Carta Encíclica Acerbo nimis sobre a transmissão da doutrina cristã. Em seu pontificado, ele retomou para toda a Igreja o que já pusera em prática quando pároco, isto é, providenciou um Catecismo para a instrução religiosa. De fato, estava convencido de que grande parte dos males que afligiam a Igreja provinham do desconhecimento da sua doutrina e de sua leis [5]. Dedicou-se incansavelmente na formação do clero, ciente de que, com padres segundo o Coração de Jesus, o Bom Pastor, o rebanho estaria protegido dos erros doutrinais e morais. [6]
O ideal de sacerdote que o Pe. Giuseppe Sarto sempre teve em vista era o do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, nem mitificado nem revolucionário: o pobre e humilde Jesus, que redime do pecado e imprime na alma a graça de Deus. Este é o modelo de sacerdote amado e desejado por esse papa. [7]
Também os leigos, se quiserem permanecer no caminho de Cristo, não podem entrar em consenso com o mundo. Muitas vezes, a oração do Rosário em família foi substituída por programas de TV ou distrações variadas no celular. Para restaurar a vida católica das famílias cristãs, precisamos devolver a Cristo a posição que Lhe pertence. O Senhor não deve reinar apenas na Igreja, mas também no coração de todos os homens, nas famílias e na sociedade.
Giuseppe Sarto permaneceu sempre fiel a Cristo e ao seu Corpo Místico, a Igreja, pela qual se entregou por inteiro desde os tempos do seminário. Foi incansável, trabalhou unicamente pelo Reino de Jesus Cristo e pela salvação das almas. Agora o nosso olhar se volta para o doce Cristo na terra, o Papa Leão XIV, pedimos a intercessão do grandioso São Pio X para que ele exerça o Ministério Petrino com as mesmas disposições. Que o Senhor o conserve e vivifique, faça-o feliz na terra e não o abandone ao poder dos seus inimigos.
Um Papa é, acima de tudo, servo de Cristo e servo da Igreja. Que o nosso Pedro possa pôr em prática essa imensa obra de restaurar em Cristo todas as coisas.
São Pio X, rogai por nós!
Referências
[1] Cristina Siccardi. São Pio X: vida do papa que organizou e reformou a Igreja. 1 ed. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2025, p.14.
[2] Ibid, p. 22.
[3] Ibid, p.15.
[4] Ibid, p. 23.
[5] Ibid, p. 16.
[6] Ibid, p. 16.
[7] Ibid, p. 37.