Não é possível conciliar a fé na ressurreição com a reencarnação. Quem aceita uma rejeita a outra; é preciso saber escolher. Infelizmente, porém, existem pessoas que não conseguem enxergar essa diferença e acabam fazendo uma grande confusão.
O objetivo deste artigo é ajudar você a enxergar a verdade da fé com nitidez. Primeiro, você vai aprender que a doutrina da reencarnação se baseia em uma concepção distorcida de pessoa humana. Depois, veremos por que ela é incompatível com a fé católica. Em seguida, vamos abordar o tema da morte. Finalmente, vamos chegar a uma explicação para a sedução que essa ideia exerce sobre alguns.
Uma Ideia Distorcida
A doutrina da reencarnação se apoia em uma concepção distorcida de pessoa humana. A sua ideia central é que o corpo não seria parte da pessoa humana, mas somente uma moradia temporária do espírito ao longo da vida. Depois da morte, o espírito poderia sair do corpo em que viveu e habitar em outro corpo. Esse era um pensamento muito comum na Grécia Antiga.
Para esses gregos, o homem é somente espírito; o corpo é só uma casca e é negativo! Pelos sofrimentos e provações desta vida, a alma vai se purificando até separar-se do corpo. Aí volta a viver aqui em outro corpo e, assim sucessivamente, até purificar-se totalmente e não precisar mais reencarnar-se! [1]
Não é essa a concepção de ser humano que encontramos na Bíblia, nem na Tradição ou no Magistério da Igreja. Nós cremos que o ser humano é uma unidade de alma e de corpo. Nós somos um composto, o que confere dignidade ao corpo humano.
A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. [2]
O corpo faz parte da pessoa humana. É fácil, aliás, comprovar essa verdade no dia a dia. Você certamente conhece pessoas que compram suplementos alimentares, como sais minerais. Mesmo que a lei brasileira permitisse, elas nunca iriam ao cemitério recolher as cinzas dos falecidos para consumir. A composição química pode ser eficiente, mas a ideia é nojenta.
E por que é nojenta? Este é o ponto: por mais nutritivos que sejam, os restos mortais são humanos. Eles têm natureza humana! São partes de pessoas, ainda que falecidas. Por isso, a ideia de comê-lo causa nojo. Lá no fundo, o nosso coração sabe que o corpo não é uma “moradia do espírito”. Ele é parte de uma pessoa.
Não existe reencarnação! A alma e o corpo são realidades complementares. O pressuposto da reencarnação está completamente errado. Não só a alma, mas também o corpo têm dignidade espiritual porque ambos formam uma só unidade: a pessoa humana.
O corpo do homem participa da dignidade da “imagem de Deus”: ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, Templo do Espírito. [3]
Vimos até aqui que a doutrina da reencarnação distorce a compreensão de quem é o ser humano, por desconsiderar a dignidade espiritual do corpo humano. Mas existem ainda outros problemas.
Uma Doutrina Incompatível
A doutrina da reencarnação é incompatível com o Cristianismo. Nós cremos que não podemos nos salvar com as nossas próprias forças. O que a humanidade perdeu com o pecado só pode ser restituído pelo próprio Deus, que veio na carne nos salvar.
Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. [4]
Essa é a nossa fé. A doutrina da reencarnação vai na direção oposta. Afinal, se existisse reencarnação, ninguém precisaria de um Salvador. As pessoas se salvariam a si mesmas, sozinhas, purificando-se de vida em vida.
Não é um erro pequeno. O sacrifício de Cristo na Cruz perderia o seu sentido redentor. Jesus passaria a ser visto apenas como um sábio, mas não como o próprio Deus que veio na carne nos salvar.
Não se pode crer, ao mesmo tempo, na ressurreição e na reencarnação; não se pode dizer que Cristo nos salvou na cruz e dizer que eu me salvo me reencarnando! Repito: um reencarnacionista elimina a cruz de Cristo e a sua ressurreição. Quem crê na reencarnação não é cristão de verdade, pois a ressurreição é o centro da fé cristã. [5]
Nós não podemos brincar com a fé que recebemos dos Apóstolos. Jesus morreu na Cruz e, ao terceiro dia, ressuscitou para nos dar o dom da Salvação. É preciso que tenhamos fidelidade ao ensinamento da Igreja.
Ele é a oferenda de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro. (1Jo 2, 2)
A reencarnação é uma ideia que não tem nada a ver com a Ressurreição. Quando Jesus ressuscitou, apareceu aos Apóstolos e deixou claro que não era um espírito sem corpo. Ele mostrou as Suas chagas. Comeu alimentos sólidos. Deixou-se tocar.
Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um espírito não tem carne, nem ossos, como podeis ver que eu tenho. (Lc 24, 39)
A Ressurreição de Jesus é o fundamento da nossa ressurreição. Nós não colocamos a nossa esperança em nós mesmos, mas no Senhor Jesus. Ele é o Salvador.
Uma só Morte
A doutrina da reencarnação desconsidera o corpo e ignora o sacrifício da Cruz. Não são seus únicos erros. Outro problema grave é que ela banaliza a morte. Deus determinou que cada um morra apenas uma vez, logo não pode haver reencarnação. Logo depois da morte, seremos julgados.
Como está determinado que cada um morra uma só vez, e depois vem o julgamento, assim também Cristo oferecido de uma vez por todas para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não mais em relação ao pecado, mas para salvar aqueles que o esperam. (Hb 9, 27-28)
A morte é um evento único e irrepetível. Não podemos banalizá-la com a falsa ideia de que vamos viver e morrer várias vezes neste mundo. Ao contrário, é preciso valorizar o tempo de graça e misericórdia que Deus nos concede. A vida é um tempo de decisão!
A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. [6]

As parábolas de Jesus confirmam que não existe reencarnação. Poderíamos dar muitos exemplos, mas basta um. Você se lembra da parábola de Lázaro e do Rico? Um rico negava até mesmo migalhas a um indigente, que morreu na miséria. Um tempo depois, o rico morreu também e caiu em tormentos. Suplicou ajuda a Abraão, que falou de um abismo intransponível.
Há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós. (Lc 16, 26)
Se existisse reencarnação, a parábola seria muito diferente. Abraão, na parábola, não disse que seria preciso reencarnar. Ele apresenta um fato consumado. Há uma só morte e, depois, virá o julgamento. Não há lugar para falar de reencarnação.
Uma Falsa Solução
O sofrimento é um grande mistério. Por que um inocente sofre? E uma criança, por que nasce deficiente? Não há uma resposta rápida. Talvez por isso a ideia de reencarnação tenha crescido tanto. Ela propõe uma falsa solução.
A ideia da reencarnação diz que a culpa do sofrimento é de quem sofre. Assim, uma pessoa sofre numa vida porque teria feito o mal na outra. Dom Henrique Soares resume a doutrina da reencarnação com estas palavras:
Deus é justo e não tem nada a ver com o sofrimento humano: cada um é responsável pelo seu sofrimento. Aqui se faz, aqui se paga! Essa lei não tem exceção: é a lei da causa e do efeito… E nem Deus pode apagá-la! [7]
Esse é um pensamento humano. Seduz muitas pessoas porque reflete a nossa sede de vingança. Mas Deus não é assim. Ele não criou uma lei impessoal para punir as pessoas, nem trata seus filhos como se fosse um carrasco.
[O Senhor] não age conosco segundo os nossos pecados, e não nos retribui segundo nossas iniquidades. (Sl 103, 10)
Segundo a doutrina da reencarnação, o sofrimento seria uma reação automática de uma lei espiritual de causa e efeito. Qual é a imagem de Deus que há por trás da ideia de reencarnação? Como seria possível falar em Misericórdia Divina se existisse reencarnação? E qual é a lógica de punir alguém sem que a pessoa saiba o que fez?
Como eu posso pagar por uma coisa da qual não me recordo? Até o pai mais estúpido, quando catiga o filho, explica por que vai castigá-lo! Que Deus é esse que me castiga sem me dizer o motivo? Como posso pagar por uma coisa da qual não tenho consciência e pelos pecados de uma vida da qual sequer me recordo? [8]
São muitas as contradições da reencarnação. Elas só aumentam à medida que meditamos sobre o assunto.
Conhecer a Fé
A fé católica é o maior tesouro da nossa vida. Nela encontramos respostas para todas as inquietações da vida. Nós devemos guardá-la com muito cuidado. Por isso, é muito bom estudar a fé. Quanto mais a conhecemos, melhor a transmitimos.
Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vos pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência. (1Pd 3, 15b-16a)
Que Nossa Senhora, Mãe de Esperança, interceda por todos nós!
Referências:
[1] Dom Henrique Soares da Costa. Escatologia sobre o Fim do Mundo. Lorena, SP: Editora Cléofas. p. 54.
[2] Catecismo da Igreja Católica, 362.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 364.
[4] Catecismo da Igreja Católica, 621.
[5] Dom Henrique Soares da Costa. Escatologia sobre o Fim do Mundo. Lorena, SP: Editora Cléofas. p. 62-63.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 1013.
[7] Dom Henrique Soares da Costa. Escatologia sobre o Fim do Mundo. Lorena, SP: Editora Cléofas. p. 55.
[8] Dom Henrique Soares da Costa. Escatologia sobre o Fim do Mundo. Lorena, SP: Editora Cléofas. p. 56.