Sofrimento
Doença

Como manter a fé e a esperança diante do sofrimento?

O sofrimento é inevitável nesta vida, porém, não há motivo para desespero, Deus não nos abandonou, na sua infinita bondade e misericórdia deu-nos um Salvador.

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O sofrimento, sem dúvida, é uma das inquietações no coração do homem que, por natureza, busca a felicidade. Todos os dias e de muitos modos, sem exceção, o sofrimento está presente, seja no que há de mais simples, como a fadiga de um esforço, até uma perda dolorosa, como a morte de uma pessoa que amamos. De fato, o sofrimento permeia a história do homem desde o seu nascimento até a sua morte.

Quando se trata do sofrimento, pouco importa a classe social, a cor, o sexo, a idade, a profissão, o local onde se vive e a religião que se professa, ele está sempre lá, como uma companhia quase inevitável. Com efeito, é uma certeza assim como é a morte. No entanto, é preciso reconhecer que nem todos sofrem na mesma intensidade, uns sofrem a falta dos bens passageiros deste mundo, outros de uma doença incurável, alguns têm problemas familiares ou no trabalho, já outros, sofrem um vazio interior que nada, nem ninguém no mundo parece ser capaz de preencher.

Por que o ser humano sofre?

O sofrimento faz parte da existência do homem, consequência do pecado original. A culpa de Adão transmite ainda hoje e até o fim da história, a todos os homens, uma herança maldita: a privação da graça, a perda do Paraíso, a ignorância, a inclinação para mal, a morte e todas as demais misérias. O afastamento de Deus e de sua Lei pelos nossos primeiros pais, nos infligiu esta terrível condição. Porém, não há motivo para desespero, Deus não nos abandonou, na sua infinita bondade e misericórdia deu-nos um Salvador.

Embora em muitos momentos da vida aconteçam situações dolorosas que nem mesmo sabemos explicar, como uma catástrofe natural que destrói tudo, ou a perda acidental de uma pessoa que amamos muito, ainda assim, precisamos nos recordar que em última instância, todo sofrimento é consequência do pecado. Mas a palavra final não é a da dor, o mal não tem um triunfo absoluto, sob a aparência de fracasso Deus trabalha a nossa paciência e fé e ao fim nos concede a vitória.

A fé em Jesus Cristo nos fortalece no sofrimento

Os anjos anunciaram a boa nova do nascimento de Jesus: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (Lc 2, 10-11). Porém, esta alegria logo transformou-se em angústia, quando o profeta Simeão disse à Virgem Maria: “Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2, 34-35). Apesar da alegria do nascimento do Salvador, a Virgem Maria foi avisada pelo profeta que não estaria isenta dos sofrimentos. Sendo ela a primeira discípula de seu Filho, foi a que mais se uniu a Ele neste mistério de dor.

Nós também quando assentimos às verdades que o próprio Verbo Encarnado nos revelou, recebemos dEle a graça da fé para crer com convicção em tudo que ensinou em virtude de Sua autoridade, com a disposição firme de viver e morrer pela fé em fidelidade a Seus ensinamentos. Esta fé cresce à medida que não colocamos obstáculos ao Seu amor, os dons e graças correspondidas tornam a alma generosa e ardente do desejo de fazer Sua santa vontade e de amá-lo desinteressadamente. Mesmo na maior aflição, se tivermos fé, seremos fortes porque o Senhor nunca falta com Sua graça, pois o justo vive pela fé (cf. Hb 10, 38). Nosso Senhor nos recorda que a fé é capaz de transportar montanhas (cf. Mt 17,20), então pela fé, podemos também superar qualquer espécie de sofrimento.      

A Esperança nos protege da tristeza e do sofrimento

A virtude da esperança nos faz desejar o Reino dos Céus e a vida eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Jesus Cristo. Apoiados na força que vem do Espírito Santo, nossas ações são inspiradas e purificadas, para ordená-las ao Reino dos Céus. A esperança protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. Sem a esperança nos tornamos escravos da tristeza e, consequentemente, do sofrimento mais excruciante.

O fundamento da esperança é a fé, por ela, se tem a certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados (cf. Hb 11, 1-2), a convicção nas promessas do Senhor os fez perseverar nos preceitos divinos até sua consumação em Jesus Cristo. Bem-aventurado é aquele que guarda a fé e tem esperança nas palavras do Salvador, a fé não diminui sua chama e a esperança não esfria. Com orações e súplicas, confia e espera em Deus mesmo diante de qualquer dificuldade, porque sabe que chegará o momento em que receberá a coroa da glória.    

Deus deseja o sofrimento?

Deus nos criou para o bem, para a felicidade, para participarmos de Sua vida bem-aventurada. De modo algum deseja o nosso mal, até ao pecador mais impenitente, Deus deseja a sua conversão e salvação (cf. Ez 33, 11). Deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1 Tm 2, 4). Esta é a vontade de Deus para cada um de nós. Para este fim, Jesus Cristo, fez do sofrimento uma escola de vida, na qual a principal lição é o amor, pelo exemplo de Jesus sabemos que a única forma de amar verdadeiramente é pelo sofrimento.

O próprio Verbo Eterno, tomou para si a natureza humana, encarnou-se no seio da Virgem Maria, mas para quê? Para sofrer por cada um de nós, para satisfazer as consequências do pecado, porque nos ama verdadeiramente. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo 3, 16). Qual prova ainda procuramos? A maior prova já nos foi dada na Encarnação e no alto da cruz.

Por que Deus permite o sofrimento?

Ainda assim, o sofrimento assombra o homem. Afinal, por que Deus permite o sofrimento? Esta pergunta nos inquieta e sua resposta é um mistério. A limitação da inteligência humana impede o homem de penetrar plenamente nos mistérios de Deus. Nestes casos só podemos fazer o ato de fé como Santo Agostinho: “Deus não permitiria o mal se não pudesse tirar desse mal um bem infinitamente maior”. Só Ele sabe de todas as coisas, mesmo diante das calamidades e das desolações, confiemos na providência divina que sempre nos auxilia.  

Nas maiores dificuldades, somos chamados a fazer o bem. Muitas pessoas doam a própria vida para auxiliar os que mais precisam, na assistência daqueles que estão em situação de risco, seja por orações fervorosas ou na assistência material. Somos como o Cirineu, que ajudou Jesus a carregar a cruz, ou as “mãos” de Deus que com bondade ampara os desamparados. Quantas pessoas voltam para Deus quando o sofrimento bate à porta! Seja diante de um problema financeiro ou uma doença, ou diante de situações inexplicáveis, quando vemos nossa impotência, a única esperança é confiar em Deus para que Ele olhe por nós.

As consequências das decisões erradas que tomamos também causam sofrimentos: a nós, a quem amamos e a outras pessoas. Mesmo contrariando a Sua vontade, Deus mantém nossa liberdade para que aprendamos com nossos erros e como eles impactam a vida do próximo. Muitas vezes ao experimentar o amargor das más escolhas, fazemos como o filho pródigo que volta com fé e confiança aos braços do Pai (cf. Lc 15, 11-32).  

O sentido cristão do sofrimento

Nosso Senhor deu ao sofrimento um novo sentido, tornou-o caminho de conversão, de união aos Seus padecimentos, por essa união alcançamos méritos para a vida eterna. Com efeito, o cristão não sofre em vão. Chamados a ser como Cristo, o cristão segue o exemplo do Mestre que diz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9, 23). Ainda hoje, como os judeus e os pagãos de sua época, muitos não entendem as palavras dos Salvador, para estes a cruz é motivo de escândalo e loucura (cf. 1 Cor 1, 22). Porém, para o cristão a cruz é sabedoria e redenção. Foi pela cruz que Jesus Cristo venceu o pecado, o demônio e a morte, também nós, por Seus méritos, seguindo Seu exemplo é que seremos salvos.

Amar é sofrer, quem não sofre não ama de verdade. Amar quando tudo vai bem, quando não nos falta nada, quando temos tudo de que precisamos, quando tudo parece perfeito, quando não nos exige sacrifícios, é fácil e facilmente nos esquecemos de Deus, como o rico insensato que diz: “Minh’alma, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, diverte-se!” (Lc 12, 19). Este é o amor do mundo, porém, pode alguma dessas coisas nos acrescentar mais um dia de vida? Insensato, diz o Senhor, “ainda nesta noite vão tomar a tua vida. E o que acumulaste, para quem será?” (Lc 12, 20).

O amor verdadeiro, vem de Deus, porque Deus é amor (cf. 1 Jo 4, 8). Por Sua graça suportamos qualquer dificuldade, por maior que seja. É pelo sofrimento que o amor é testado, a fé vivificada e a esperança abrasada. Não raro, o sofrimento provoca a busca de Deus, um retorno a Ele. Assim, por maiores que sejam as suas perdas, suas dificuldades, seus sofrimentos, entregue todos a Jesus Cristo que também sofreu por cada um de nós e nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 19). Nos momentos de tribulação e dificuldade, a fé do justo é provada (cf. 1 Pe 1, 7).      

Como estou vivendo os meus sofrimentos?

São Paulo, grande apóstolo dos gentios, viveu na própria carne os sofrimentos de Jesus Cristo (cf. Cl 1, 24), não exitou em dizer: “tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28). No entanto, não é difícil constatar que há aqueles que amam a Deus e buscam viver conforme a Sua santa vontade e há também quem não O amam e até mesmo O rejeitam.

Para os que amam a Deus, os reveses da vida são uma oportunidade de união com Nosso Senhor, na intimidade da cruz unem os seus sofrimentos aos dEle, vivem como o Apóstolo: “é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Este ato de verdadeiro amor alcança muitas graças, e nos faz suportar tudo, até o dia em que o próprio Senhor enxugará toda lágrima, quando este dia chegar “a morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas de antes passaram” (Ap 21, 4).

Portanto, se você for injustiçado, lembre-se que Jesus foi injustamente condenado; quando zombarem de você por causa da fé, lembre-se que Jesus foi escarnecido; em qualquer dificuldade, doença e sofrimento, lembre-se que Jesus abraçou e carregou a cruz; se você perder todos os seus bens, lembre-se que Jesus foi despido de suas vestes; quando for surpreendido com a morte de uma pessoa amada, lembre-se que Jesus pendente na cruz entregou-nos Maria por mãe. Quando um inocente padece, é Jesus quem sofre; quando praticamos a caridade é ao próprio Cristo que fazemos (cf. Mt 25, 40).

Os que não amam a Deus, já antecipam de certo modo os sofrimentos dos condenados. Por causa da vida vazia de sentido, depositam nas criaturas sua esperança e buscam nelas o que não podem oferecer. Os bens deste mundo são seu tesouro, por isso, vivem inquietos e preocupados com o ladrão que a qualquer momento podem roubá-los. Ao contrário, diz o Senhor, “ajuntai-vos tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e os ladrões não arrombam nem roubam. Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6, 20-21). Que a vossa fé e esperança estejam em Jesus Cristo Nosso Senhor.