Espiritualidade

Como Santa Edwiges pode nos ajudar em nossa vida financeira?

Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração.

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Santa Edwiges viveu há mais de setecentos anos na Europa. Ela casou-se com uma autoridade pública e foi mãe de sete filhos. Em meio às suas ocupações, assistia aos pobres e necessitados com muito carinho.

Nasceu na Baviera (Alemanha) cerca do ano 1174, foi dada por esposa ao príncipe da Silésia e teve sete filhos. Levou uma vida de fervorosa piedade e dedicou-se generosamente à assistência aos pobres e doentes, para os quais fundou vários albergues. [1]  

Depois que seu marido faleceu, Santa Edwiges discerniu que devia abraçar a vida consagrada. Essa era a vontade de Deus para a sua vida. Entrou, então, para o mosteiro de Trebniz, onde terminaria seus dias na terra em 1243.

[Santa Edwiges] vivia assim no matrimônio como esposa e mãe. E quando ficou viúva, viu imediatamente que este amor a Deus acima de tudo podia doravante tornar-se exclusivo em relação ao Esposo divino. E seguiu esta vocação. [2]

A vida de Santa Edwiges foi extraordinária! Até hoje ela continua a inspirar muitos corações a aproximarem-se de Deus, apoiando-os com sua intercessão. Mas por que será que as pessoas a invocam como padroeira dos endividados? E o que nós podemos aprender com ela sobre o uso do dinheiro?

Este é o tema de hoje. Você vai aprender que a nossa fidelidade a Deus deve chegar às finanças pessoais e que o uso do dinheiro pode revelar qual é o amor fundamental de nossas vidas.

Fidelidade até no Bolso

Muitos fiéis não sabem, mas a Igreja nos apresenta orientações sobre o uso do dinheiro. É natural que seja assim, pois a fé deve abranger a vida toda. Não faria sentido que uma realidade do cotidiano ficasse fora de nosso relacionamento com o Senhor.

Para entendermos o que a Igreja nos pede, devemos começar pelo começo. Será que a compra de um artigo qualquer pode ser imoral? É claro que sim! O consumo não é um ato neutro. Aquilo que nós decidimos adquirir brota do nosso coração e repercute sobre a vida dos outros.

É bom que as pessoas ganhem consciência de que a ação de comprar é sempre um ato moral, para além de econômico. Por isso, ao lado da responsabilidade social da empresa, há uma específica responsabilidade social do consumidor. [3]  

Talvez um exemplo extremo nos ajude a compreender melhor. Se descobrimos que uma empresa se envolveu com trabalho escravo, não podemos comprar seus artigos só porque eles são mais baratos. Seria uma compra injusta! Um bom católico não economiza dinheiro à custa do sofrimento de ninguém.

Quem é fiel nas pequenas coisas, será fiel também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. (Lc 16, 10).

Não é somente o consumo que possui um valor moral. Todas as atividades da economia podem ser boas ou más, corretas ou erradas, à luz da Lei de Deus. Assim, por exemplo, nós devemos aprender a aplicar os nossos recursos sem ganância.

A angariação dos recursos, os financiamentos, a produção, o consumo e todas as outras fases do ciclo econômico têm inevitavelmente implicações morais. Deste modo, cada decisão econômica tem consequências de caráter moral. [4]  

É correto desejar prover uma base sólida para sua família. Todos nós temos necessidades materiais e devemos reunir os meios legítimos para custeá-las. No entanto,  o nosso estilo de vida deve estar sempre orientado para a vontade de Deus, e não para as extravagâncias do mundo.  

Não é mal desejar uma vida melhor, mas é errado o estilo de vida que se presume ser melhor, quando ela é orientada ao ter e não ao ser, e deseja ter mais não para ser mais, mas para consumir a existência no prazer, visto como fim em si próprio. [5]

E como posso saber se meu estilo de vida é egoísta? A forma saudável de dispor do dinheiro se manifesta quando a pessoa não tem dificuldade de ajudar aos pobres. Não podemos resolver o problema da pobreza material no mundo, mas podemos abrir o coração a um irmão em necessidade.

O amor aos pobres é incompatível com o amor imoderado das riquezas ou o uso egoísta delas. [6]

Agora já podemos nos aproximar com mais embasamento do testemunho de fé que Santa Edwiges nos deixou. Ela viveu o amor aos pobres em grau heroico! Podemos dizer que seu dinheiro foi um meio pelo qual Deus quis socorrer muitos em aflições.

Santa Edwiges, exemplo de caridade

Quem quiser conhecer o Evangelho vivido na prática deve consultar a vida dos santos. Eles deixaram um testemunho claro de que todas as exigências do Amor de Deus são o caminho para a verdadeira vida.

Os Santos são as pessoas das oito bem-aventuranças.Tinha fome e sede de justiça [Santa Edwiges], aquela mulher perfeita (cf. Prov. 31, 10), como sobre ela se lê na primeira leitura da liturgia de hoje. [7]  

Santa Edwiges era uma mulher da alta nobreza de sua época. Além de influência social, ela possuía muitos bens à sua disposição. Mas o seu coração estava enraizado no Céu, não na terra. Assim, amando a Deus sobre todas as coisas, ela não se deixou arrastar pelas comodidades que o dinheiro compra.

[Santa Edwiges] vivia para Deus desde o princípio, vivia sobretudo do amor de Deus, exatamente como prescreve o primeiro mandamento do Evangelho.

É o que a Palavra de Deus ensina-nos com clareza! O amor a Deus deve sempre ocupar o primeiro lugar em nossas vidas. Se colocarmos algo no lugar de Deus, como o dinheiro, vamos destruir a nós mesmos.

A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos. (1Tm 6, 10)

Santa Edwiges era conhecida por usar de suas posses para quitar as dívidas de quem não tinha como pagá-las. Era comum que muitos pobres fossem vistos em sua residência, onde suas necessidades básicas eram supridas.

[A casa de Santa Edwiges] estava frequentemente cheia de mendigos, miseráveis, coxos e doentes, e a santa os aguardava à mesa ou sentava com eles, usando os mesmos copos, os mesmos utensílios. Depois dos jantares, ela reunia as migalhas deixadas pelos pobres e comia-as como se fossem santas. [8]

Era tanto amor aos pobres em Santa Edwiges que faz com que nós nos recordemos de uma passagem do Evangelho de São Mateus. Nela, o Senhor fala do cuidado que devemos ter com os necessitados. Você conhece essa passagem?  

Todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes! (Mt 25, 40)

Mas não foi apenas o uso de dinheiro que esteve no lugar correto na vida de Santa Edwiges. Como a santa se voltou inteiramente a Deus, seu amor ao Senhor permitiu-lhe passar do luto pela perda do marido à consagração. Em Deus, tudo encontra seu sentido.

Vivia assim no matrimônio como esposa e mãe. E quando ficou viúva, viu imediatamente que este amor a Deus acima de tudo podia doravante tornar-se exclusivo em relação ao Esposo divino. [9]

Vimos, nessa segunda seção, que o amor a Deus é o eixo central que ordena a vida. É um grave erro depositar a esperança de felicidade no dinheiro.  Os bens deste mundo devem ser usados conforme a vontade de Deus.

E o meu amor?

Certa vez o venerável Fulton Sheen fez uma comparação que pode nos ajudar a examinar a nossa consciência. Ele percebeu que a pessoa se torna semelhante ao que ama. Faz muito sentido, pois o amor é unitivo. Como, então, fica quem ama o dinheiro?

O homem se transforma naquilo que ama, e se ele ama o ouro, fica como ele - frio, duro e amarelo. Quanto mais o adquire, mais sofre na entrega até do mínimo, assim como dói ter um cabelo puxado ainda que a cabeça esteja cheia deles. [10]

Tenhamos cuidado para que o dinheiro não seja o centro do nosso coração. Ele deve ser um meio para custear a vida, não somente a própria vida, mas dos que necessitam! Infelizmente, hoje em dia muitas pessoas vivem presas a falsas necessidades.

Quanto mais o rico pecaminoso adquire, mais acredita que necessita. Ele é sempre pobre aos seus olhos. [11]  

Como podemos examinar a nossa consciência para sabermos se temos um bom relacionamento com o dinheiro? Primeiro, a oração é essencial. Devemos invocar o Espírito Santo e pedir a intercessão de Santa Edwiges. Nunca estamos sós! Em seguida, devemos olhar para os fins que buscamos com o dinheiro. Por fim, convém observar como está o nosso comprometimento com os pobres e o nosso desapego.

Que Santa Edwiges interceda por todos nós!

Referências

[1] Oração das Horas. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria: 2004. p. 1409.

[2] Papa João Paulo II. Homilia de 21 de junho de 1983.

[3] Papa Bento XVI. Caritas in Veritate, 66.

[4] Ibid, 37.

[5] Papa João Paulo II. Centesimus Annus, 36.

[6] Catecismo da Igreja Católica, 2445.

[7] Papa João Paulo II. Homilia de 21 de junho de 1983.

[8] Thomas Merton. In the Valley of Wormwood: Cistercian Blessed and Saints of the Golden Age. Liturgical Press: EUA, 2013.  p. 359.

[9] Papa João Paulo II. Homilia de 21 de junho de 1983.

[10] Fulton Sheen. A Cruz, Vitória sobre os Vícios. São Paulo: Molokai, 2018. p.103.

[11] Ibid.