Sagradas Escrituras
Teologia

O Grande Perigo de não saber interpretar a Bíblia

Durante o processo de condenação de Jesus houve um erro grave de interpretação das Escrituras, por isso, temos que tomar muito cuidado!

Compartilhar Oração

Todos nós devemos conviver com as Sagradas Escrituras. Nesse convívio, é natural que surjam dificuldades de interpretação. Nem por isso devemos nos afastar da leitura diária. O importante mesmo é que sejamos dóceis, para não cairmos no erro da obstinação.    

Neste artigo, vamos tratar do grande perigo de não saber interpretar a Bíblia. Primeiro, vamos ver como uma interpretação equivocada da Lei de Moisés foi causa de forte oposição a Jesus. Depois, veremos como o problema se agravou até a condenação do Senhor. Por fim, daremos uma orientação sobre como ler a Bíblia com segurança.  

Um Problema de Interpretação

Em mais de uma ocasião, o Senhor Jesus realizou curas milagrosas em dia de sábado. Seus adversários se indignavam, porque achavam que aqueles atos seriam uma violação direta de um mandamento da Lei de Moisés.

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Durante sete dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é sábado em honra do Senhor, teu Deus. Não farás obra alguma, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu gado, nem o migrante que vive em tuas cidades. (Ex 20, 8-10)  

Foi o que aconteceu com o chefe de uma sinagoga quando o Senhor curou uma mulher encurvada em dia de sábado. Chegou a tentar dispersar os doentes que buscavam a cura de suas moléstias.

O chefe da sinagoga, porém, ficou furioso porque Jesus tinha feito uma cura no sábado e se pôs a dizer à multidão: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado!” (Lc 13, 14)

O Senhor Jesus interveio logo com firmeza. Deixou claro que Seus milagres não violavam o preceito do sábado. Aqueles homens é que tinham uma interpretação muito estreita da Lei de Moisés.

O Senhor respondeu: “Hipócritas! Não desamarra cada um de vós no sábado seu boi ou jumento da manjedoura para dar-lhe de beber? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não devia ser solta dessas amarras, mesmo em dia de sábado?” (Lc 16, 15-16)

Mas qual era o erro de interpretação daqueles homens? Eles ignoravam o sentido profundo das Sagradas Escrituras. Podiam até ter decorado os versículos do Livro do Êxodo que prescreveram o preceito do sábado, porém interpretavam-no como uma regra fria, destituída de espiritualidade e caridade.

O significado mais profundo do sábado como um dia de descanso e alívio faz dele o dia mais adequado para Jesus aliviar os fardos dos oprimidos (Mc 2, 27). [1]

Até aqui vimos que não basta ter acesso à Bíblia para interpretá-la corretamente. Vamos agora dar um passo a mais.

Se você não quer cair em erros de interpretação da Bíblia, as matrículas para a 4ª Turma da Escola Bíblica estão abertas e com condições especiais de aniversário de 1 ano. Clique aqui e torne-se aluno!

A Condenação de Jesus  

Interpretar errado as Escrituras não é uma questão meramente teórica, sem consequências práticas. Se não entendemos o que Deus nos fala, podemos afastar-nos muito de Seus caminhos.

Um exemplo extremo foi a conspiração de fariseus e herodianos contra Jesus. Depois que o Senhor curou, em dia dia de sábado, um homem que tinha a mão seca, os fariseus ficaram tão raivosos que se aproximaram dos partidários de Herodes para matar Jesus.

Saindo, os fariseus imediatamente conspiraram com os herodianos contra Jesus, a fim de o matar. (Mc 3, 6)

Era uma aproximação surpreendente para a época. Não havia muito em comum entre os dois grupos. Os fariseus eram conhecidos por oporem-se à dominação romana com vigor, enquanto os herodianos aceitavam a colaboração com a dinastia de Herodes. No entanto, ambos se uniram contra Jesus.

Jesus diante de Caifás, pintura de Francesco Trevisani.
[Fariseus e herodianos] tinham visões e posições políticas opostas sobre a vida judaica, mas se uniram em sua oposição a Jesus. [2]

E eles não foram os únicos! Como em toda sociedade, havia em Israel muitos grupos com divergências entre si. Eram pessoas que não conseguiam sentar para resolver suas diferenças. Mesmo assim, juntaram-se em conluio pela condenação de Jesus.  

Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com sacerdotes e escribas, mancomunar-se para matá-lo. [3]

Na escalada de ódio que chegaria à condenação de Jesus, o fechamento à interpretação correta das Escrituras desempenhou um papel. Por mais que os milagres comprovassem a autoridade de Jesus e a verdade de Seu ensinamento, aqueles homens já não queriam mais ouvi-lo.

Os juízes não conseguiam concordar quanto a por que Ele deveria morrer; só concordavam que deveria morrer. [4]

As acusações eram muitas e baseavam-se em erros de interpretação das Escrituras. Houve quem acusasse Jesus de violação do sábado, mas também de blasfêmia e de outros crimes religiosos, para os quais a Lei previa a morte por apedrejamento (Jo 8, 59).  

O judeus começaram a perseguir Jesus porque fazia tais coisas em dia de sábado. Jesus, porém, respondeu-lhes: “Meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho”. (Jo 5, 16-17)  

As autoridades mostraram-se muito obstinadas em suas interpretações tortas porque estavam com os corações endurecidos. Embora todas as profecias do Antigo Testamento se cumprissem em Jesus, aqueles homens não queriam aceitar o que não lhes convinha.    

Os judeus mais ainda procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Deus. (Jo 5, 18)  

Não pretendemos esgotar as causas da condenação de Jesus. Elas são certamente muito complexas. Houve, no entanto, durante o seu processo, um erro grave de interpretação das Escrituras. Nós devemos prestar atenção a esse mal.

O Lugar da Interpretação

Chegamos agora a um ponto importante. Como podemos ter certeza de que a nossa interpretação não é meramente subjetiva ou pessoal? Essa é uma preocupação importante. Afinal, a Palavra de Deus nos pede para evitarmos particularismos.  

Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular. (2Pd 1, 20)

Não é possível interpretar a Bíblia corretamente se ela for retirada da vida da Igreja, que foi onde o Espírito Santo quis inspirá-la. Quem pretende interpretá-la de outro modo acaba extraviando-se da verdadeira fé.  

O lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja. [5]

Mas por que será que a vida da Igreja é indispensável para entendermos a Bíblia? É que os textos bíblicos não caíram prontos do Céu. Eles têm uma história de formação. Foram inspirados pelo Espírito Santo dentro da vida concreta da Igreja.

A Santa Escritura está em diálogo com as comunidades dos fiéis: ela saiu de suas tradições de fé. Seus textos se desenvolveram em relação com essas tradições e contribuíram, reciprocamente, ao desenvolvimento delas. Conclui-se que a interpretação da Escritura faz-se no seio da Igreja, em sua pluralidade, em sua unidade e em sua tradição de fé. [6]

A Bíblia não é simplesmente um conjunto de livros. Ela é a Palavra de Deus, dita no Povo de Deus para o Povo de Deus. Em certo sentido, a Bíblia e a Igreja estão unidas como o corpo e a alma. Não dá para separá-las sem perder algo de essencial.  

A Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo. Somente com o «nós», isto é, nesta comunhão com o Povo de Deus, podemos realmente entrar no núcleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer. [7]

Quando falamos em Igreja, não nos referimos a uma entidade abstrata. Ela é o Corpo de Cristo (1Cor 12, 27). Como todo corpo, a Igreja é uma realidade concreta, palpável. Entrando em comunhão com a sua vida concreta, nós recebemos tudo que ela transmite.

A Igreja transmite tudo o que ela é e crê, no culto, na vida, na doutrina. [8]

É fundamental ser Igreja para interpretar a Palavra de Deus sem distorções. A Igreja é o lugar originário no qual o Espírito Santo quis falar aos homens.

No Coração da Igreja

Um antigo provérbio latino ensina que a Palavra de Deus está escrita com mais profundidade no coração da Igreja que nas páginas de papel da Bíblia. Não basta ter a Bíblia em mãos; é preciso entrar na memória viva que a Igreja transmite e abrir-se nela ao Espírito Santo.

A Sagrada Escritura está escrita mais no coração da Igreja do que nos instrumentos materiais. [9]

Você entende a importância de aplicar-se ao estudo da Palavra de Deus? Como você faz para certificar-se de que o seu entendimento está correto? Você acompanha a Liturgia Diária da Igreja?

Para te ajudar a acessar toda a riqueza de interpretação da Bíblia que a Igreja contém ao longo dos séculos, nós criamos a Escola Bíblica, e agora você pode se tornar aluno com condições especiais. Clique aqui e faça agora mesmo a sua matrícula!

Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências

[1] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Lucas: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015 p. 87.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014 p. 40.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 474.

[4] Fulton Sheen. Vida de Cristo. Volume 2. Rio de Janeiro: Petra, 2018. p. 119.

[5] Papa Bento XVI. Verbum Domini, 29.

[6] Pontifícia Comissão Bíblica. A Interpretação da Bíblia na Igreja, III, A, 3.

[7] Papa Bento XVI. Verbum Domini, 30.

[8] Papa Bento XVI Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo: nas Origens da Igreja. São Paulo: Paulus, 2011. p. 33.

[9] Catecismo da Igreja Católica, 113.