Sagradas Escrituras
Apologética

Jesus tinha irmãos? O que diz a Bíblia?

O desconhecimento da Bíblia pode provocar interpretações equivocadas e trazer grandes prejuízos à fé.

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Algumas pessoas que desconhecem a Bíblia pensam que Jesus teve irmãos biológicos. Trata-se de uma grande confusão que se baseia em uma leitura apressada de alguns versículos soltos.

Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? (Mt 13, 55)

Essas pessoas não percebem que, mais à frente, a própria Bíblia esclarece que Tiago e José eram filhos de uma “outra Maria” (Mt 27, 61; 28, 1). Esta seguia a Jesus, desde a Galileia, como outras mulheres da época.  

Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. (Mt 27, 56)

É fácil comprovar que a expressão “irmãos de Jesus” não significa que eles fossem irmãos biológicos. Eles eram parentes próximos, como primos. Esta forma de tratamento era muito comum naquele tempo.

Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento. [1]

Neste artigo, vamos desfazer algumas confusões que se difundiram entre nós. O objetivo não é que você discuta com ninguém, mas que conheça a sua fé e aprofunde o amor pela Bíblia e por Maria.

Desfazendo uma grande confusão

É importante saber que a Bíblia não foi escrita em português. O nosso idioma nem existia naquela época! Muitas pessoas se confundem porque não se aprofundam nas línguas bíblicas, como o grego, o hebraico e o aramaico antigos.

Nessas línguas, o termo “irmão” tinha uma acepção tão ampla quanto “parente” em nosso idioma. Podia referir-se, por exemplo, a primos e sobrinhos. Embora fosse um uso um pouco ambíguo para nós, ele fazia parte daquela cultura.    

A palavra “irmão” (em grego, adelphoi) tem um sentido mais amplo que “irmão de sangue”. O hebraico antigo não tinha uma palavra para “primo”, então era de costume que se usasse a palavra “irmão”, na Bíblia, para referir-se também a parentes de relação distinta à de um irmão de sangue. [2]

Talvez um exemplo nos ajude a compreender melhor. O Livro do Gênesis relata que Abrão era tio de Ló (Gn 11, 27). Certa vez, quando foi necessário resolver um assunto entre eles, Abrão dirigiu-se a Ló nestes termos:  

Somos irmãos. (Gn 13, 8)

Mas por que será que Abrão chamou o seu sobrinho de irmão? É que, como vimos acima, “irmão” era um termo usado com o sentido semelhante ao de “parente”. Ele cobria uma vasta gama de relacionamentos familiares.  

Literalmente, “irmãos”, um termo usado para várias relações familiares além de irmãos biológicos do sexo masculino. A relação entre Abrão e Ló é a de tio e sobrinho. [3]

Para desfazer a confusão de vez, podemos inverter os termos. De quem a Bíblia diz que Maria é mãe? Somente de Jesus! Não existe passagem da Bíblia em que  “irmãos de Jesus” sejam chamados de filhos de Maria, nem mesmo quando são mencionados juntos.

Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele. (At 1, 14)

Sugerir que a Virgem Maria teve outros filhos além de Jesus é uma invencionice sem fundamentação bíblica! Somente Jesus Cristo é designado nas Escrituras como Filho de Maria.

Esses irmãos nunca são mencionados como sendo filhos de Maria, enquanto Jesus é. [4]  

Vimos até aqui que o desconhecimento da Bíblia pode provocar interpretações equivocadas. Daremos agora um passo a mais.

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Mais uma confusão!

Uma outra confusão tem a ver com o termo “primogênito”. Em seu sentido moderno do termo, o primogênito é o primeiro de uma sequência de filhos. Mas não é esse o sentido que encontramos na Bíblia.

Ela deu à luz o seu filho, o primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura (Lc 2, 7a)

O primogênito é, na Bíblia, um termo jurídico. Faz menção ao direito de primogenitura, vinculando-se assim aos direitos de herança (Dt 21, 15-17). Não traz a ideia de que outros filhos teriam nascido, como no português moderno.

[Primogênito] era um termo técnico da lei judaica, usado para descrever aquele que “abriu” o seio materno, sem qualquer alusão a ter ou não havido outros filhos depois. [5]  

No caso deste termo, como no do outro, a confusão provém da pretensão de interpretar a Bíblia sem a Igreja. Quem a interpreta sozinho, como se pudesse alcançar-lhe o sentido com as próprias forças, acaba fechando-se em suas ideias pessoais  (2 Pd 1, 20-21).  

O Espírito Santo, que anima a vida da Igreja, é que torna capaz de interpretar autenticamente as Escrituras. A Bíblia é o livro da Igreja e, a partir da imanência dela na vida eclesial, brota também a sua verdadeira hermenêutica. [6]

Devemos estudar a Bíblia. Quanto mais conhecimento bíblico, melhor! Mas é preciso conduzir o estudo junto com a Igreja, para não nos afastarmos da Revelação Divina.  

Bem-Aventurada

Por que a Igreja insiste tanto em preservar o sentido correto das Escrituras? Não se trata de preciosismo. É que, se errarmos na compreensão da Palavra de Deus, podemos comprometer o plano de Deus para nós.

É o que acontece hoje em dia. Muitas pessoas confundidas rejeitam o papel que Deus quer que Maria tenha em suas vidas, simplesmente porque não entenderam ainda o sentido das Sagradas Escrituras.

Todas as gerações, desde agora, me chamarão bem-aventurada (Lc 1, 48b)  

E como deve ser a nossa devoção a Maria? Há uma passagem do Evangelho de São Lucas em que o próprio Jesus ensina-nos qual deve ser o fundamento da devoção mariana. Trata-se do momento em que Maria e alguns “irmãos de Jesus” não conseguiram aproximar-se do Senhor, e alguém O avisou do ocorrido.

Ele respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21)

Quem foi que melhor obedeceu à vontade de Deus, pondo-a em prática? Maria! Foi a fé  de Maria que lhe permitiu acolher sua vocação, concebendo o Filho de Deus em sua carne. Ela cooperou com a Graça de modo inigualável!  

Maria foi a pessoa por excelência que ouviu a Palavra de Deus, a aceitou (Lc 1, 38) e a pôs em prática. Sua relação biológica com Jesus dependia deste fato e, por essa razão, mais do que seu parentesco de sangue com Jesus, ela era Sua mãe. [7]

Por isso, é muito pouco venerar Maria somente por ser a Mãe de Jesus. Convém que se reconheça o lugar que o Pai lhe concedeu na história da Salvação. Foi pela fé de Maria que o Verbo de Deus se fez carne no meio de nós. Ninguém cooperou com o plano de Deus como Maria.

Maria é mais bem-aventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo. [8]

O desígnio benevolente de Deus é que nós sejamos uma só família: Seus filhos adotivos em Cristo Jesus (Ef 1, 5). Essa não é uma família imperfeita, como muitas entre nós. Nada falta no Céu.

A família da Aliança de Deus é perfeita, não faltando nada. A Igreja vê Deus como o Pai, Jesus como nosso irmão e o Céu como nossa casa. O que está faltando, então? Na verdade, nada. Toda família precisa de uma mãe; somente Cristo pôde escolher a Sua própria, e Ele escolheu providencialmente para toda a família da Aliança. Agora, tudo o que Ele tem, Ele compartilha conosco. [9]  

Nossa Mãe

Apenas Jesus nasceu do ventre de Maria. Ele é o único Filho de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria alcança todos aqueles que Seu filho veio salvar. Por isso, nós devemos nos abrir aos cuidados da Mãe.

Jesus é o Filho Único de Maria. A maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar. [10]

Não tenha receio de acolher Maria, pois este é o plano do Pai. Ela é nossa Mãe (Jo 19, 27). Ame Maria! Você já rezou em Ação de Graças por ter uma Mãe tão boa?

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Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências

[1] Catecismo da Igreja Católica, 500.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 74.

[3] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro do Gênesis: Caderno de Estudos Bíblicos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 66.

[4] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 74.

[5] Scott Hahn. Razões para Crer. Lorena, SP: Cléofas, 2017.  p. 113.

[6] Papa Bento XVI. Verbum Domini, 29.

[7] Scott Hahn. Razões para Crer. Lorena, SP: Cléofas, 2017. p. 111.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 506.

[9] Scott Hahn. Salve, Santa Rainha. Lorena, SP: Cléofas, 2017. p. 31-32.

[10] Catecismo da Igreja Católica, 501.