O Evangelho de São Lucas relata que, logo após ter concebido o Verbo de Deus em seu seio, Nossa Senhora foi às pressas para a região montanhosa para visitar sua prima Isabel. Até hoje a saudação de Isabel repercute em nossos corações.
Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! (Lc 1, 42)
Essa exclamação, que todos nós rezamos, foi inspirada pelo Espírito Santo. Ela diz muito a respeito de quem é Maria e do mistério da mulher. Não se trata de um ponto isolado. A Bíblia atribui enorme valor às mulheres.
Do Livro do Gênesis ao Livro do Apocalipse, são muitas as mulheres que povoam as páginas da Bíblia. Nelas, encontramos mais que exemplos de vidas extraordinárias. Elas são uma força moral que guia a todos nós.
A força moral da mulher exprime-se em numerosíssimas figuras femininas do Antigo Testamento, do tempo de Cristo, das épocas sucessivas, até aos nossos dias. [1]
As mulheres marcaram a história da Bíblia e da Igreja de muitos modos. O tema é muito amplo. Neste artigo, vamos meditar sobre apenas um aspecto da dignidade feminina: o legado de coragem e fidelidade que as santas mulheres do Antigo Testamento deixaram para todos nós.
Primeiro, vamos tratar de uma promessa que Deus fez e cumpriu. Você vai aprender que, nas santas mulheres, encontramos a missão de Maria. Depois, veremos que a dignidade da mulher e do homem são complementares. Em seguida, trataremos da firmeza e da fidelidade de Maria.
Fidelidade de Deus e das Mulheres
Como já meditamos no artigo “A parte mais importante da Bíblia”, todo o Antigo Testamento aponta para a missão de Cristo. É na vida do Senhor Jesus e nos Seus mistérios que encontramos a chave para a correta leitura e interpretação daqueles Livros.
Os cristãos lêem o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. [2]
Não é diferente no caso de entendermos o papel das mulheres na Bíblia. Por meio da vida extraordinária das santas mulheres do Antigo Testamento, a humanidade foi preparada para acolher a missão de Maria.

Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão das santas mulheres. [3]
Não foi um período curto. Logo após o Pecado Original, quando Adão e Eva pecaram juntos, Eva recebeu a promessa de uma descendência que venceria o Maligno (Gn 3, 15) e de que seria a mãe de todos os viventes (Gn 3, 20).
Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda expectativa, Deus escolheu o que era tido como impotente e fraco para mostrar fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel, Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. [4]
Essa linhagem espiritual de santas mulheres dão testemunho da fidelidade de Deus à Sua promessa, mas também da resposta fiel de cada uma dessas mulheres ao Senhor. Elas nos ensinam que todos nós somos “cooperadores de Deus” (1Cor 3, 9).
Talvez seja este o primeiro fruto espiritual de nossa meditação: como as santas mulheres da Bíblia, saibamos confiar no Senhor, certos de que, tendo Seu tempo próprio de ação, sempre cumpre o que nos promete.
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Nascido de Mulher
O mistério da Virgem Maria é anunciado e preparado no Antigo Testamento. Nela, completou-se o longo tempo de espera da humanidade. O Verbo de Deus finalmente se fez carne em seu seio.
Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher (Gl 4, 4).
Mas por que será que São Paulo escreveu que Jesus veio “nascido de mulher”? Afinal, todos nascem de uma mulher. Pode parecer redundante à primeira vista, porém há um sentido muito profundo nessa expressão.
Nem sempre nós nos atentamos para o fato de que, no Antigo Testamento, o Senhor Deus instituiu a Antiga Aliança junto a homens, como Abraão e Moisés, embora dirigisse Sua palavra a mulheres em outras ocasiões.
Chegada a plenitude dos tempos, o Verbo de Deus se fez homem em uma mulher. Ele é nascido de mulher! A longa promessa do Antigo Testamento se realiza em Maria, sendo, portanto, um sinal de um amor que alcança a todos.
No início da Nova Aliança, que deve ser eterna e irrevogável, está a mulher: a Virgem de Nazaré. Trata-se de um sinal indicativo de que “em Jesus Cristo” “não há homem nem mulher” (Gal 3, 28). [5]
É interessante observar que a Palavra de Deus declara que, em Cristo, não há homem nem mulher. Trata-se de uma expressão bíblica para afirmar a igualdade entre ambos os sexos, tendo em vista que uma certa oposição entre os dois tinha sido provocada pelo pecado.
Cristo veio libertar-nos, trazendo-nos comunhão. Os atritos que o pecado deixou no relacionamento entre o homem e a mulher foram superados em Cristo, que veio restaurar todas as coisas em Si.
[Em Cristo] a contraposição recíproca entre homem e mulher — como herança do pecado original — é essencialmente superada. “Todos vós sois um só em Cristo Jesus”, escreverá o Apóstolo (Gal 3, 28). [6]
É importante reiterar que a Igreja ensina que homens e mulheres são iguais em dignidade. Não é possível falar do homem sem reconhecer a dignidade da mulher. Tampouco é possível falar da mulher, esquecendo-se do homem. Um e outro são desejados por Deus, cada qual com suas características próprias.
O homem e a mulher são criados, isto é, queridos por Deus: por um lado, em perfeita igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e de mulher. [7]
Vimos até aqui como se deve ler a missão das santas mulheres no Antigo Testamento. O tema da fidelidade foi o fio condutor. Em seguida, meditamos um pouco sobre o mistério da Encarnação. Veremos na próxima seção, mais de perto, o mistério de Maria.
Em Maria, a Coragem
Na época do Antigo Testamento, já tinham acontecido nascimentos milagrosos. Foi o caso de Isaac, Samuel e Sansão, que nasceram contra toda expectativa meramente humana, mostrando assim que Deus intervinha na história de seu povo. (Gn 18; 1Sm 1-3; Jz 13).
Nas três, o nascimento de um filho, que depois vem a ser a salvação de Israel, é consequência da misericórdia divina, que torna possível o impossível (Gn 18, 14; Lc 1, 37), que exalta os humildes (1Sm 2, 7; 1, 11; Lc 1, 52; 1, 48) e derruba do trono os poderosos (Lc 1, 52). [8]

Como dissemos acima, as santas mulheres do Antigo Testamento preparavam a missão de Maria. Essas três mães são exemplos disso. Nelas, nós já podemos entrever o mistério do acolhimento do dom de Deus.
No entanto, na plenitude dos tempos, com a gravidez de Maria, é que tudo se realizaria. O nascimento de Jesus ensina que a salvação vem somente de Deus, não de nossas forças. Ela é sempre um dom!
O sentido dos acontecimentos é sempre o mesmo: a salvação do mundo não vem dos homens e do seu poder; o ser humano precisa acolhê-la como um presente, ele só pode recebê-la como puro dom de Deus. [9]
Acolher o dom de Deus requer coragem! Você já meditou sobre essa virtude? Ela é a firmeza do coração, que, cheio de fidelidade à Palavra de Deus, não cede às pressões do mundo nem às tentações do maligno. É comum chamá-la de “fortaleza”.
A fortaleza garante, nas dificuldades, a firmeza e a constância na busca do bem. [10]
A pessoa corajosa e fiel sabe que não pode mudar o mundo com as próprias forças, mas que sempre pode dizer “sim” a Deus em cada circunstância concreta da vida. É o que vemos na vida de Maria!
Maria enfrentou a vida com uma incrível fortaleza de ânimo e tornou-se o símbolo das “mães-coragem” de todos os tempos. [11]
A firmeza de Maria é exemplar. Ela deu à luz em um estábulo de Belém, viveu anos silenciosa em Nazaré, acompanhou o Filho até a Cruz e, em seguida, permaneceu com a Igreja até a sua Assunção. Foi uma vida enraizada em Deus.
Maria sempre reagiu com incrível determinação, indo contra a corrente e superando dificuldades inauditas que teriam impedido qualquer um. [12]
A Beleza da Mulher
Nossa Senhora é a imagem mais bela da feminilidade. É sempre pouco o tanto de elogio que podemos fazer a Maria. Nela, encontramos tudo aquilo que Deus quis para a mulher. Assim, a devoção ao Imaculado Coração de Maria não pode prescindir do seu reconhecimento como obra-prima de Deus.
Quando um cristão encontrou Maria e Jesus através de Maria e Deus Pai através de Jesus, pois terá encontrado todo o bem - referem alguns santos. [13]
Quem quer conhecer a beleza da mulher deve antes meditar sobre o dom de Maria.
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Que Nossa Senhora interceda por todos nós!
Referências
[1] Papa João Paulo II. Mulieris Dignitatem, 30.
[2] Catecismo da Igreja Católica, 129.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 489.
[4] Ibid.
[5] Papa João Paulo II. Mulieris Dignitatem, 11.
[6] Ibid.
[7] Catecismo da Igreja Católica, 369.
[8] Papa Bento XVI. Introdução ao Cristianismo. 5ª edição. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 2012. p. 206.
[9] Ibid.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 1837.
[11] Dom Tonino Bello. Maria, Mulher de Nossos Dias. São Paulo: Paulinas, 2024. p. 70.
[12] Ibid, p. 71.
[13] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Segredo de Maria. 11ª Edição. Lorena, SP: Cléofas, 2018. p. 36.