Em 2013, o Papa Bento XVI discerniu que convinha renunciar ao pontificado. Recolheu-se, em seguida, em um mosteiro até os últimos dias de sua vida. Certa vez, porém, ele deu uma entrevista a um jornalista, a quem disse que preparava homilias para pregar a umas poucas pessoas.
Como o jornalista se surpreendeu bastante, Bento XVI explicou-lhe que a Palavra de Deus sempre deve alcançar os corações. Ela é capaz de mudar a vida de quem a acolhe com boa disposição.
Sejam três, sejam vinte ou mil, a Palavra de Deus sempre deve chegar às pessoas. [1]
A sabedoria da Palavra de Deus é um mistério insondável. Nela, encontramos tudo que precisamos para viver bem. Neste artigo, vamos visitar cinco versículos sobre cinco virtudes distintas. Eles são pouco citados. Você verá como a Bíblia é riquíssima!
A Confiança
O último escrito do Antigo Testamento é a Profecia de Malaquias. Nela, nós encontramos uma declaração solene da fidelidade e do amor de Deus. Ele não muda, portanto é digno de toda confiança.
Eu sou o Senhor, não mudei; mas vós, filhos de Jacó, ainda não chegastes ao termo. (Ml 3, 6)
Quem tem mais idade sabe que as coisas deste mundo são instáveis. Com facilidade, perdemos o emprego, a saúde e até os amigos. Se depositarmos nossa confiança nesses bens, ficaremos bastante inseguros.
É o que acontece, por exemplo, com quem confia na riqueza material. Todos nós temos necessidades de obter recursos para custear os gastos mensais. Não há nada de mal em prover a própria família. No entanto, não podemos dar ao dinheiro o que é devido a Deus. Somente o Senhor pode ser a base de nossa vida.
A fé confere à vida uma nova base, um novo fundamento, sobre o qual o homem se pode apoiar, e consequentemente, o fundamento habitual, ou seja a confiança na riqueza material, relativiza-se. [2]
Não se trata de desvalorizar os bens deste mundo, mas de aprender a relacionar-se com eles de maneira equilibrada. É preciso confiar o coração a Deus, não aos bens! Somente em Deus é que podemos encontrar a Paz.
A fé no Deus Único nos leva a usar de tudo que não é Ele, na medida em que isso nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas, na medida em que nos desviam dele. [3]
Vimos que a Palavra de Deus nos conduz a uma atitude de confiança no Senhor. Suas promessas são imutáveis! Esse é um ensinamento para a vida toda. Veremos agora o que a Palavra nos diz da paciência.
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A Paciência
Para crescer na vida espiritual não basta confiança. É preciso ter paciência! O Livro do Eclesiástico, que é uma obra sapiencial do Antigo Testamento, declara que a paciência é a condição para suportar as tentações.
Tudo o que te acontecer; aceita-o, e sê constante na dor; na tua humilhação tem paciência; pois é no fogo que o ouro e a prata são provados e, no cadinho da humilhação, os que são agradáveis a Deus. (Eclo 2, 4-5)
Será que entendemos que os momentos difíceis são preciosos para a nossa vida espiritual? Se desistirmos na primeira dificuldade, nunca cresceremos. Por isso, não pense que seja possível viver uma vida espiritual fácil, de alegria em alegria.
Haverá um tempo da vida em que rezar não vai ser fácil. Os problemas tendem a absorver a nossa atenção, e nós queremos sair logo da adversidade. Mesmo assim, não podemos desistir de rezar. A paciência da fé é uma chave que nos abre tesouros.
É preciso rezar sempre, sem esmorecimento, com a paciência da fé. [4]
A Palavra de Deus nos ensina que a paciência é essencial para o crescimento espiritual. A alma paciente consegue perseverar na fé. Veremos agora o que é a perseverança até o fim da vida.
A Perseverança
Você já percebeu que a obediência a Deus é combatida pela mentalidade do mundo? Não são poucos os que fazem do pecado um projeto de vida. Mas esse não é o nosso caminho. Nós confiamos nas promessas do Senhor com paciência, por isso perseveramos na fé.
Sê fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida (Ap 2, 10c)
A coroa da vida é a recompensa pela perseverança final. Não há bem maior que possamos receber! Trata-se de uma metáfora para a Vida Eterna, que Deus destina àqueles que escolheram amá-lo.
Simboliza a coroa que é a vida (eterna). [5]
Não importa como você viveu sua vida até agora, pois o passado já passou. Basta confessar os pecados a um padre e prosseguir. O que interessa mesmo é como você vive no seu hoje, até o fim.
Os filhos da Santa Igreja, nossa Mãe, esperam justamente a graça da perseverança final e a recompensa de Deus, seu Pai. [6]
A Palavra de Deus ensina-nos a perseverar na fé e nas obras até o fim. No entanto, não podemos perseverar sem a graça de Deus! Você pede a graça da perseverança final em suas orações?
O Perdão
No tempo em que os assírios invadiram o território de Israel, o Senhor levantou o profeta Miqueias para garantir ao povo Sua fidelidade. Por meio dele, Deus ensinou que não Se esquece de ninguém, nem mesmo dos mais duros pecadores. Ele perdoa sempre.
Ele voltará a ter misericórdia de nós. Pisará nossas culpas e lançará nas profundezas do mar todos os nossos pecados (Mq 7, 19)
A Palavra de Deus nos ensina que o perdão é fonte de vida. Nós vivemos do perdão de Deus, que não tem limites, portanto devemos perdoar os irmãos como somos perdoados pelo Senhor.
É triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. [7]
Perdoar o próximo é um exercício de humildade. Reconhecemos que o mal foi feito, mas proclamamos que não conhecemos o coração do outro. Apenas o Senhor sonda o coração humano.
Quando os outros nos infligem uma violência, esquecemos com frequência quão pouco sabemos sobre seus corações. [8]
Um conselho para ajudar no caminho do perdão é o arrependimento sincero pelos próprios pecados. Quem se sabe pecador tem mais facilidade de perdoar. Por trás da dificuldade de perdoar, existe um desconhecimento de si mesmo.
O de coração contrito esquece-se por completo das injustiças sofridas; mas aquele que se prende e ao mesmo tempo pensa estar contrito é como o homem que, dormindo, pensa estar correndo. [9]
A Palavra de Deus nos ensina o valor do perdão. Quando rezamos o Pai Nosso, por exemplo, pedimos perdão pelas nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Será que você precisa reconciliar-se com alguém hoje? Peça a Deus a graça de reconciliar-se com os irmãos, para viver com o coração liberto
A Oração
A Palavra de Deus nos ensina que a oração deve ocupar um lugar central em nossa vida. Assim, por exemplo, em tempos de aflições, ela não deve ser o último recurso, mas sim a primeira opção.
Da minha angústia invoquei o Senhor, e ele me respondeu. (Jn 2, 2)
Não restam dúvidas de que a oração é um grande combate espiritual. Além das nossas dificuldades interiores, os demônios fazem de tudo para nos desviar do caminho da união com Deus. Em meio às angústias que chegam, devemos esforçar-nos para rezar.
A oração é um dom da graça e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço.
A oração é um caminho de intimidade com Deus. Quem tem fé leva tudo que lhe acontece para a oração, tanto as tristezas quanto as alegrias. Rezar é um modo de viver em Deus. Por isso, convém pedir sempre o dom da oração.
Pela oração, relatamos a Deus tudo o que acontece na nossa vida todos os dias, seja bom, seja ruim. [11]
As Escrituras nos ensinam que devemos levar a oração muito a sério. Rezamos em todos os momentos da vida, sejam alegres ou não.
Um caminho de sabedoria
Nem sempre é fácil ler a Bíblia. Ela apresenta algumas passagens de difícil interpretação. No entanto, o esforço vale a pena. Na Palavra de Deus encontramos alimento espiritual para a nossa vida.
A Igreja nos pede que todos nós leiamos a Palavra de Deus com frequência. Hoje é um bom dia para examinarmos como está a nossa convivência com a Bíblia. Será que nós nos esforçamos para entendê-la?
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Que Nossa Senhora interceda por todos nós!
Referências
[1] Peter Seewald. O Último Testamento. 1ª Edição. São Paulo, Planeta, 2017. p. 31.
[2] Papa Bento XVI. Spe Salvi, 8.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 226.
[4] Catecismo da Igreja Católica, 2613.
[5] Scott Hahn & Curtis Mitch, As Cartas de São João e o Apocalipse: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2020. p.72.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 2016.
[7] Papa Francisco. Misericordiae Vultus, 10.
[8] Fulton Sheen. A Cruz, Vitória sobre os Vícios. São Paulo: Molokai, 2018. p.18.
[9] São João Clímaco. Escada do Paraíso. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2020. p.156.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 2725.
[11] Walter Ciszek. Pelos Vales Escuros. São Paulo: Quadrante, 2018. p.262.
