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Como São José pode nos ajudar a Santificar o Trabalho?

A Palavra de Deus confere a São José o altíssimo título de Justo (Mt 1, 19). Ele é um exemplo e modelo para todos os trabalhadores.

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Todos nós temos que trabalhar. Faz parte da vida. Alguns prestam serviços no mercado de trabalho. Outros trabalham em casa, servindo a própria família. Há ainda pessoas que trabalham na Igreja.

Nem sempre, porém, entendemos o valor espiritual do trabalho. Chegamos ao ponto de reclamar de algumas tarefas! Certa vez o Papa Francisco chamou a nossa atenção para este ponto:

Não se tem suficientemente em conta o fato de o trabalho ser um componente essencial da vida humana, e também do caminho da santificação. [1]

Neste artigo vamos meditar sobre o trabalho como caminho de santificação. Veremos como São José pode nos ajudar a santificá-lo. Primeiro, você vai aprender um pouco sobre a dignidade que Cristo deu ao trabalho. Depois, meditaremos sobre o papel do trabalho na vida de São José. Em seguida, vamos propor um caminho mais pessoal de meditações.

A Dignidade do Trabalho

A Bíblia nos ensina que o Senhor era conhecido na cidade de Nazaré como carpinteiro (Mc 6, 3) e como filho de carpinteiro (Mt 13, 55). Esse detalhe nos mostra um costume comum daquela época. O filho seguia a profissão do pai.

Para além do costume histórico, devemos enxergar uma verdade espiritual. Tudo aquilo que se podia ver na vida de Jesus apontava para o mistério que não se pode enxergar com os olhos da carne.

O que havia de visível em sua vida terrestre apontava para o mistério invisível da sua filiação divina e de sua missão redentora. [2]  

Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Unindo a Sua vida divina à nossa, o Senhor elevou a vida humana à plenitude. E o trabalho não ficou de fora, nem mesmo o trabalho braçal.  

Há uma verdade tremenda contida no fato de que, quando Deus se tornou homem, tornou-se trabalhador. [3]  

Que verdade será essa? Na vida de Jesus, o trabalho não foi uma coisa passageira. Ele trabalhou por muitos anos! E teve um ofício penoso que não trazia prestígio social nem prosperidade material.

Trabalhou longas horas ajudando o pai, e depois veio a ser o arrimo da mãe viúva, com o trabalho rústico de um artesão do campo. Nada que Ele tenha criado, pelo que sabemos, ditou tendência ou se tornou um item de colecionador. Ele trabalhou em uma carpintaria por dias e semanas a fio, durante uns vinte anos. [4]

Trabalhando em Nazaré, o Senhor elevou a dignidade do trabalho. Somos chamados a unir o nosso trabalho ao de Jesus, colaborando assim com os planos do Pai para a humanidade. O importante não é qual trabalho fazemos, mas sim onde colocamos o nosso coração.

O trabalho mais sem graça e entediante permite - ou pode permitir, se for visto da maneira adequada com relação a Deus e a eternidade - a união com o trabalho divino do Criador e da Redenção, uma oportunidade diária de cooperar com Deus nos atos centrais do pacto da salvação. [5]

Talvez um exemplo nos ajude a compreender melhor. Você está lendo este artigo para crescer na fé. E como lê? Com um celular ou computador. O seu aparelho não existia há alguns anos. Os operários montaram em uma fábrica, e os motoristas distribuíram. Foi por meio do trabalho deles que este conhecimento espiritual chegou até você.

É assim com todo e qualquer trabalho. Nós não sabemos o efeito do que fazemos, mas sabemos que Deus age através dos nossos atos. Podemos, então, de boa vontade, oferecer ao Senhor o nosso trabalho, com seus incômodos e alegrias. Agindo assim, cooperamos com Deus.  

O trabalho, qualquer trabalho, tem valor por si só. Tem valor enquanto participa do ato criador de Deus. Tem valor enquanto participa dos atos redentores de Deus. Tem valor por si só, e tem valor para os outros. [6]

Até aqui vimos que o trabalho possui uma dignidade espiritual elevada. Não podemos desperdiçar a oportunidade de crescermos na graça, oferecendo a Deus os nossos trabalhos. Vamos agora aprender como era o trabalho de São José.

O Carpinteiro de Nazaré

São José não teve uma vida fácil. Foi um homem pobre que trabalhava duro para sustentar a família. Estamos acostumados a chamá-lo de carpinteiro. Não está errado, mas é bom lembrar que a carpintaria era um ofício bem diferente naquela época.

Um carpinteiro na Palestina do tempo de Jesus fazia trabalhos típicos de outras profissões. Tinha experiência não só com madeira, mas também com pedra e ferro. Assim, por exemplo, devia saber construir casas com esses materiais.

José, Maria e Jesus na Carpintaria. Pintura de Cesare Maccari.
“Carpinteiro” ou “marceneiro” era uma qualificação genérica, indicando tanto os artesãos da madeira como os trabalhadores que se ocupavam de atividades relacionadas com a construção. Um ofício bastante duro, tendo que trabalhar com materiais pesados como a madeira, a pedra e o ferro. [7]  

Não resta dúvidas que a vida de São José foi humilde. Ele não era um homem de posses, nem podia oferecer luxo à família. Não havia prosperidade em seu lar.  Sua vida foi marcada pela pobreza material.

Ele pertence à classe operária e experimentou o peso da pobreza, em si e na Sagrada Família, de que era chefe vigilante e afetuoso. [8]

Mas a pobreza material não é sinal de pobreza espiritual! É a própria Palavra de Deus que confere a São José o altíssimo título de Justo (Mt 1, 19). Ele é um exemplo e modelo para todos os trabalhadores.

Com uma vida de fidelíssimo cumprimento do dever cotidiano, deixou um exemplo de vida a todos os que têm de ganhar o pão com o trabalho de suas mãos e mereceu ser chamado o Justo, exemplo vivo daquela justiça cristã, que deve reinar na vida social. [9]

Contemplando a vida de São José, compreendemos melhor que o trabalho é muito mais que um mero ganha-pão. Há um caminho de santificação pelo trabalho, e São José pode nos conduzir pela mão.

A Santificação pelo Trabalho

Vejamos agora três meios práticos de santificação pelo trabalho, com base no exemplo de São José. Algumas perguntas serão propostas para a sua meditação pessoal.

1. Compromisso com a família

São José honrou a sua responsabilidade como pai de família. A sua fidelidade ao trabalho era um ato de amor para com Deus. Este é um caminho para todo cristão. As dificuldades da vida de trabalho são um meio de crescer no amor ao Senhor Deus e à família.

O trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. [10]

Como será que eu lido com o trabalho? Tenho senso de responsabilidade? Entendo que o trabalho é um modo de colaborar com os planos de Deus para a minha família? Será que reclamo do trabalho?

2. Zelo

São José era certamente um trabalhador que se esforçava por fazer tudo bem feito. Não era desses que só pensam em receber. Temos essa certeza porque ele era justo (Mt 1, 19). A sua retidão moral fazia com que trabalhasse bem.

Você sabia que trabalhos malfeitos são imorais? O Catecismo da Igreja Católica ensina que quem age assim deliberadamente comete uma forma de desrespeito ao bem do outro. Quem paga por um serviço ou produto tem o direito de recebê-lo.

São ainda moralmente ilícitos (...) trabalhos malfeitos. [11]

Será que eu trabalho como São José? Faço sempre o melhor que posso? Entendo que trabalhar bem é uma forma de respeitar o próximo? Pergunto para as pessoas se estão satisfeitas com meu trabalho?

3. Dificuldades

Existe uma alegria própria do trabalho, mas há também muitas dificuldades. Nem sempre recebemos o que merecemos. Muitas vezes fazemos trabalhos que nos custam muito. Tem dias que dá vontade de parar de trabalhar!

Nesses dias, lembremo-nos de São José. Ele não voltou atrás em seu compromisso. Trabalhou no Egito e em Nazaré. Certamente foi muito difícil.

O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. [12]  

Será que sei transformar as dificuldades do trabalho em oração? Ofereço a Deus o que me desagrada no trabalho? Rezo pedindo ao Espírito que me ilumine a cada dia?

Um Dia de Festa

Há setenta anos o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário. É uma festa muito importante para o mundo moderno, porque nós temos dificuldade de entender o valor espiritual do trabalho.

Peçamos a São José Operário que interceda por nós, para que possamos crescer na vida espiritual em todas as suas dimensões, inclusive no trabalho.

São José, rogai por nós!

Referências:

[1] Papa Francisco. Audiência Geral de 12 de janeiro de 2022.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 515.

[3] Walter Ciszek. Pelos Vales Escuros. São Paulo: Quadrante, 2018. p. 145.  

[4] Ibid,  p. 145.

[5] Ibid,  p. 146.

[6] Ibid,  p. 147.

[7] Papa Francisco. Audiência Geral de 12 de janeiro de 2022.  

[8] Papa Pio XI. Carta Encíclica Divinis Redemptoris, 81.  

[9] Ibid.

[10] Papa Francisco. Carta Apostólica Patris Corde, 06.

[11] Catecismo da Igreja Católica, 2409.

[12] Papa Francisco. Carta Apostólica Patris Corde, 06.