O Advento é mais do que uma contagem regressiva para o Natal; é um período litúrgico especial em que a Igreja nos chama a uma espera cheia de expectativa e preparação para o nascimento de Jesus Cristo. Não apenas uma data no calendário, o Natal representa o mistério da Encarnação, quando Deus se fez homem para nos redimir.
“O Verbo fez-se carne” é uma daquelas verdades com as quais estamos tão habituados que já quase não nos impressiona pela grandeza do acontecimento que ela exprime. E efetivamente neste período natalício, durante o qual tal expressão volta com frequência na liturgia, às vezes prestamos mais atenção aos aspectos exteriores, às “cores” da festa, do que ao coração da grandiosa novidade cristã que celebramos: algo absolutamente impensável, que só Deus podia realizar, e no qual podemos entrar só mediante a fé. [1]
Durante essas semanas, somos convidados a vivenciar o Advento com um coração aberto, buscando gerar Cristo em nossas almas, em nossos sentimentos. Como disse São Paulo:
“Irmãos, tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2, 5).
Neste artigo, vamos explorar como cada fiel pode viver este tempo, aproveitando as recomendações que a Igreja nos oferece para uma adequada preparação e renovação da fé.
Um tempo de introspecção
A sociedade em que vivemos, com suas infinitas distrações e ruídos, muitas vezes nos distancia do silêncio necessário para ouvir a voz de Deus. No Advento, somos chamados a desacelerar, a cultivar o silêncio interior e a buscar momentos de oração mais profundos.
Isso significa: reservar um tempo diário para a meditação, a leitura espiritual e a contemplação dos mistérios da fé, principalmente o mistério da Encarnação. Esse tempo de silêncio dos sentidos é essencial para nosso amadurecimento espiritual, pois com ele criamos um espaço interior onde Cristo possa crescer em nossas almas e nascer em nossos atos.
Precisamos de recolhimento interior! Vidas marcadas pela pressa e pelas distrações nunca atingirão “a estatura da maturidade de Cristo” (Ef 4, 13).
Para rezar diariamente em preparação para o Natal, clique aqui e assista os vídeos do nosso Advento em oração.
Preparação Espiritual: Penitências
É bastante recomendável que a preparação espiritual para o Natal inclua penitências. As penitências purificam nossas almas, promovem o desapego das criaturas e dos prazeres efêmeros e auxiliam no crescimento das virtudes, permitindo que, assim, nos aproximemos mais de Deus.
Essas penitências do Advento não precisam ser severas como as do tempo Quaresmal, mas devem ser feitas com seriedade e devoção. Os Santos nos ensinam que os sacrifícios pessoais, como jejuns, abstinências e renúncias voluntárias, feitos por amor a Deus, podem verdadeiramente transformar o coração.
Neste tempo, um bom católico pode escolher abrir mão de algum alimento que gosta, colocar-se em alguma pequena contrariedade física, dedicar-se a ficar mais tempo de joelhos durante as orações, entre tantas outras. Essas práticas não apenas nos preparam para o Natal, mas nos ajudam a compreender o verdadeiro espírito de renúncia e amor que existia no coração daquele Menino que, do ventre da Virgem, repousou em uma manjedoura.
Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2, 6-8).
Decoração com Símbolos Sacros
A decoração de nossas casas e, se possível, do local de trabalho, pode nos ajudar a recordar mais constantemente o caráter sagrado e de preparação do Advento e do Natal. Decorar os ambientes com figuras que representam a Sagrada Família, como o Menino Jesus, São José, Nossa Senhora grávida, por exemplo, é uma maneira de aquecermos nosso coração para a presença de Cristo que veio até nós.
Devemos introduzir elementos que evoquem o verdadeiro significado do Natal. Um presépio é também uma excelente maneira de envolver a família, especialmente as crianças, na contemplação do nascimento de Jesus, criando um ambiente de reverência e adoração.
Esses símbolos não só embelezam o ambiente, mas também servem como lembretes visuais que fortalecem nossa devoção e nos mantém focados no sentido espiritual do Advento.
A simplicidade do Natal x Espírito consumista
O nascimento de Jesus em um estábulo, e tendo como berço uma manjedoura, ensina-nos uma lição de humildade, virtude que é especialmente relevante no Advento. Este é um tempo para reavaliar nossos bens e nossas reais necessidades e praticar a simplicidade, seja em casa, na alimentação ou nas festividades.
Inspirados pela pobreza de Belém, somos convidados a renunciar a luxos e confortos e a abraçar uma atitude de humildade e gratidão pelo que Deus passou por nós. Em vez de nos concentrarmos na abundância das coisas, podemos seguir o exemplo de Cristo, optando por uma vivência mais modesta e focada no espírito de desapego.
Sabemos que no mundo de hoje o tempo do Natal muitas vezes é apresentado de maneira distorcida, distraindo-nos da encarnação de Deus e estimulando-nos a um consumismo desenfreado. São presentes, festas, comidas, bebidas, viagens que, em si mesmos, podem não ser errados, porém, se não houver a virtude da temperança e a pobreza de espírito, podemos desagradar a Deus seriamente.
O Advento, pois, nos chama a viver este tempo com simplicidade, evitando que o verdadeiro sentido do Natal seja ofuscado por presentes e excessos materiais. Restringir as compras e valorizar gestos simbólicos – como uma carta personalizada ou um presente confeccionado à mão – é uma forma de não deixar que o espírito consumista invada nossa vivência. Enfim, em vez de presentes caros, um ato de caridade, uma oração ou um momento de partilha podem transmitir aos nossos o verdadeiro sentido do Natal: Deus veio habitar entre nós como um de nós.
Para se preparar bem para o Natal, clique aqui e participe do Advento em Oração!
Obras de Misericórdia pelo Nascimento do Senhor
Como sinalizamos, o tempo do Advento é um tempo propício para realizar obras de misericórdia como um ato de ação de graças pelo nascimento de Jesus. A caridade é uma resposta concreta ao amor que Deus nos mostrou ao enviar Seu Filho.
Cada católico pode contribuir com gestos simples, como visitar os doentes, alimentar os famintos ou ajudar financeiramente uma família em necessidade. Visitar os doentes leva conforto e esperança a quem sofre; alimentar os famintos é um ato de compaixão que nos aproxima espiritualmente das necessidades da Sagrada Família; e ajudar financeiramente uma família é uma maneira de aliviar fardos pesados, renovando a dignidade daqueles que enfrentam dificuldades. Foi por todos estes também que Jesus veio e nasceu de Maria Santíssima.
Esses gestos simples, mas profundamente significativos, tornam-se uma expressão viva do mistério da Encarnação, manifestando a presença de Cristo no cuidado ao próximo e transformando o Natal em uma celebração do amor de Deus que se dá em nós e por meio de nós.
Sejamos também como criancinhas!
O Advento é também um tempo que nos convida a reviver a expectativa do nascimento do Salvador com um coração puro e uma fé confiante, como a de uma criança. A pureza de coração é a chave para enxergar a Deus e acolher o mistério da Encarnação com humildade e alegria.
Nesse tempo, somos chamados a despir-nos das mágoas, da arrogância e das preocupações mundanas que obscurecem nossa alma, para que possamos nos abrir à boa-nova, a Deus que se faz pequeno e acessível na pessoa do Menino Deus. Assim como uma criança acolhe o mundo com olhos desarmados e confiantes, somos convidados a purificar nosso olhar e nosso coração, redescobrindo a alegria da proximidade com Deus.
São João Paulo II nos exorta a isso:
O cristianismo vive o mistério da vinda de Deus até ao homem, e com esta realidade palpita e pulsa constantemente. Ela é, simplesmente, a vida mesma do cristianismo. Trata-se de uma realidade ao mesmo tempo profunda e simples, aberta à compreensão e à sensibilidade de cada um dos homens e sobretudo de quem, por ocasião da noite de Natal, sabe tornar-se criança. Não foi em vão que, uma vez, Jesus disse: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não entrareis no reino dos céus (Mt 18, 3). [2]
A inocência das crianças, marcada por sua sinceridade, é um modelo que nos inspira no Advento a buscar uma relação mais transparente com Deus. Que, durante este tempo, nossos esforços de conversão nos levem a recuperar a espontaneidade espiritual que nos permite se relacionar com o Menino Jesus.
A inocência das crianças, marcada por sua sinceridade, serve como um modelo no Advento, nos convidando a buscar uma relação mais transparente com Deus. Que neste tempo litúrgico, nossos esforços de conversão nos conduzam a recuperar a espontaneidade espiritual que nos permite nos aproximar do Menino Jesus com um coração aberto, simples e verdadeiramente confiante.
Vem, Senhor Jesus!
Clique aqui e acompanhe as orações e meditações diárias do nosso Advento em Oração!
Referências
[1] Papa Bento XVI. Audiência Geral. Quarta-feira, 9 de Janeiro de 2013.
[2] Papa João Paulo II. Audiência geral. Quarta-feira, 29 de Novembro de 1978.