No Domingo de Ramos, a Igreja celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. Não foi a primeira vez que Ele esteve na cidade, mas era uma ocasião única. O Senhor entrou nela como o Messias, o Cristo, prometido e profetizado por Deus no Antigo Testamento.
Este domingo prepara os nossos corações para acolhermos um dia novo, o Domingo Pascal. Não só o ano litúrgico, mas também as nossas vidas são marcadas por estes dias extraordinários.
Neste artigo, convidamos você a meditar um pouco sobre os acontecimentos do Domingo de Ramos. Primeiro, vamos entender qual é o sentido espiritual de Jesus ter entrado em Jerusalém montado num jumentinho. Depois, vamos meditar sobre a reação e a traição do povo. Em seguida, faremos uma sugestão para a sua vida de oração. O objetivo deste artigo é colaborar com a sua Semana Santa.
Um Jumentinho
Um pouco antes de entrar em Jerusalém, quando ainda estava junto ao Monte das Oliveiras, o Senhor enviou dois discípulos à sua frente. Pediu que eles trouxessem dois animais: uma jumenta e um jumentinho.
Ide até o povoado ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Desamarrai-os e trazei-os a mim! E se alguém vos disser alguma coisa, direis: “O Senhor precisa deles, mas logo os mandará de volta” (Mt 21, 2)
Não se tratava da simples escolha de um meio de transporte. Havia um claro sentido espiritual no pedido. Em Jesus, naquele momento, cumpria-se uma das profecias do Antigo Testamento. O profeta Zacarias tinha escrito há séculos:
Eis que teu teu rei vem a ti; ele é justo e salvador, humilde e montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta. (Zc 9, 9b)
O jumento era um símbolo da humildade do rei que entra pacificamente em Jerusalém. Jesus não veio para liderar uma insurreição política contra o Império Romano, como queriam muitos israelitas da época.
O jumentinho, nessa profecia, simboliza a humildade do rei que chega “em paz” a Israel, e não montado num “cavalo de guerra” a fim de liderar um ataque militar contra Roma.[1]
Ao contrário dos reinos deste mundo, o Reino de Jesus não é o da dominação. Ele não veio exercer poder político sobre ninguém; não quis ser servido, mas servir. E mais ainda, o Senhor quis entregar livremente a Sua vida!
Se Nosso Senhor tivesse entrado na cidade com pompa real à maneira dos conquistadores, teria dado ocasião para acreditarem que Ele fosse um Messias político. A circunstância escolhida, porém, validava a afirmação de que Seu Reino não era deste mundo.[2]
Até aqui vimos que Jesus é o Rei e Messias profetizado e que o Seu Reino não é deste mundo. Mas como será que as pessoas O acolheram? É o que veremos em seguida.
Bendito o que Vem em Nome do Senhor!
Quando Jesus montou o jumentinho, as pessoas entenderam que aquele homem, que fazia milagres, estava manifestando a Sua identidade para que todos reconhecessem que Ele é o Messias prometido por Deus no Antigo Testamento. E a reação foi imediata!
A numerosa multidão estendeu seus mantos no caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho. (Mt 21, 8)
Estender os mantos era um ato de aclamação a um novo rei. As pessoas estavam exultantes de alegria! Ficava claro para todos que Jesus não era somente um homem sábio, mas sim o Messias-Rei que entrava em Jerusalém.
Os que iam à frente e os que vinham atrás clamavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana nas alturas!” (Mc 11, 9)
Essas palavras são conhecidas de todos nós. Elas ressoam o salmo 118, e nós as rezamos na Santa Missa logo antes da consagração. Veja como a liturgia da Igreja é rica; cada detalhe apresenta um sentido profundo.
A aclamação deles - “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Sl 118, 26) - é retomada pela Igreja no “Sanctus” da liturgia eucarística para abrir o memorial da Páscoa do Senhor. [3]
Crucifica-o! Crucifica-o!
A multidão aclamou Jesus como Rei e Messias. Foi com enorme comoção pública que Ele entrou em Jerusalém, e muitos festejaram naquele momento. No entanto, em poucos dias, uma outra multidão gritaria para que Pilatos soltasse Barrabás e mandasse Jesus para a Cruz.
Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Eles, porém, gritavam mais alto: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam, aquele que fora preso por rebelião e homicídio, e entregou Jesus à vontade deles. (Lc 23, 20-21.24-25)
O que aconteceu para que, em tão pouco tempo, a alegria daquele primeira multidão desaparecesse diante da violência e da gritaria desta segunda multidão? Aqueles que gritavam “crucifica-o” foram facilmente subornados pelo sinédrio e esperavam um Messias político que se ajustasse às suas expectativas, não queriam aceitar um Messias humilde, que desejava a salvação das almas, como era Jesus Cristo.

Talvez, muitos em Israel, esperavam que o Messias derrotasse as tropas de Pilatos, ao invés de submeter-se às suas ordens. É possível que não estivesse nos planos daqueles homens um Messias crucificado que perdoava os carrascos. Seja como for, não aceitaram o caminho da Cruz.
Que pensavam, realmente, em seus corações aqueles que aclamam Cristo como Rei de Israel? Certamente tinham a sua ideia própria do Messias, uma ideia do modo como devia agir o Rei prometido pelos profetas e há muito esperado.[4]
A firme decisão de seguir até o Calvário foi mantida até o fim. Nem a traição de Judas, nem o ódio do Sinédrio, nem os gritos de “Crucifica-O” puderam desviá-Lo da Sua missão redentora. Quem quiser seguir Jesus deve meditar sobre a necessidade da Cruz para a Salvação.
Nosso Senhor podia ouvir os sussurros de um Judas e as vozes encoleiradas diante do palácio de Pilatos. O trono no qual Ele seria elevado era uma Cruz, e Sua verdadeira coroação seria uma Crucificação. (...) Nosso Senhor sabia o que estava no coração do homem e, nem uma única vez sequer, sugeriu que a redenção das almas pudesse ser realizada por meio de um espetáculo de vozes.[5]
Uma Grande Surpresa
Neste ponto chegamos à nossa espiritualidade. Jesus sempre nos surpreende com a Sua grandeza. E isso é normal, porque Ele aponta para um caminho que é bem diferente dos caminhos do mundo. O Senhor abraça a Cruz; perdoa os inimigos; e não exige explicações de ninguém. É humilde e manso de coração.
Nós somos diferentes. Por vezes, reclamamos da Cruz. Temos também dificuldade de perdoar. Exigimos muitas explicações de todos, sobretudo daqueles que pisaram no nosso pé. Tem vezes que a virtude até nos parece fraqueza. Temos muito a aprender!
É bom que Jesus nos surpreenda, porque essa surpresa nos recorda que Ele é Deus. Com Jesus, nós aprendemos como é o jeito de Deus agir. Vamos renunciando aos nossos apegos pessoais para escutar a voz de Jesus e segui-Lo.
A maioria ficara desapontada com o modo escolhido por Jesus para Se apresentar como Messias e Rei de Israel. É precisamente aqui que se situa o ponto fulcral da festa de hoje, mesmo para nós. Para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que ideia temos do Messias, que ideia temos de Deus?[6]
Essas são perguntas que devemos levar para a nossa vida de oração. O nosso relacionamento com Jesus deve ocupar o centro de nossas vidas. Nele, nós podemos encontrar a Paz que o mundo não pode nos dar.
A Semana das Semanas
O Domingo de Ramos marca o início da Semana Santa. Trata-se da semana mais importante do ano litúrgico, ao longo da qual acompanhamos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus passo a passo - do Domingo de Ramos ao Domingo da Páscoa.
É com a sua celebração, no Domingo de Ramos, que a liturgia da Igreja abre a grande Semana Santa.[7]
Estes foram os dias centrais da vida de Jesus. Celebramos o Domingo de Ramos porque a Semana Santa nos conduz para dentro do mistério pascal. É uma forma de lançar um olhar novo para esses mistérios.
Nestes dias, aproxime-se mais de Cristo. Dedique um pouco mais de tempo à oração, conforme a sua realidade. Peça a Nossa Senhora que lhe ajude a participar da Semana Santa com mais fruto.
Referências:
[1] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Marcos: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 75.
[2] Fulton Sheen. Vida de Cristo. São Paulo, SP: Molokai, 2024. p. 598.
[3] Catecismo da Igreja Católica. p. 559.
[4] Papa Bento XVI. Homilia do Domingo de Ramos de 2012.
[5] Fulton Sheen. Vida de Cristo. São Paulo, SP: Molokai, 2024. p. 601.
[6] Papa Bento XVI. Homilia do Domingo de Ramos de 2012.
[7] Catecismo da Igreja Católica. p. 560.