A devoção à Nossa Senhora do Carmo é muito difundida no Brasil. Não são poucas as cidades que contam com conventos carmelitas. Os primeiros foram fundados no século XVI, remontando, portanto, às origens do nosso país.
Muitos brasileiros vestem o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e veneram-na com amor. Este artigo é uma contribuição para que o uso do escapulário seja ainda mais frutuoso aos fiéis. Primeiro, veremos como surgiu esta devoção. Em seguida, vamos aprender o que é o escapulário. Finalmente, vamos estudar a sua imposição.
Aparição a São Simão Stock
Você sabia que o escapulário está vinculado à memória de São Simão Stock? Ele foi um religioso inglês que viveu no século XIII. Serviu a Deus como superior da Ordem do Carmelo durante um período difícil para a família carmelita. Fazia pouco tempo que os carmelitas haviam entrado na Europa, depois de terem sido expulsos da Terra Santa.

Infelizmente, não encontraram acolhimento fácil na Europa. Eram vistos como religiosos estranhos, com uma espiritualidade que não era familiar a ninguém. A sobrevivência da Ordem do Carmelo estava ameaçada.
De 1245 a 1265, a Ordem recém-chegada à Europa como nômade, expulsa do Monte Carmelo, atravessa um período crítico. Outras ordens religiosas temem que a presença dos carmelitas possa abalar seu prestígio e ameaçar sua sobrevivência e por isso os hostilizam. [1]
É provável que, sem a intervenção de Nossa Senhora, a Ordem do Carmelo tivesse desaparecido. No entanto, como todos os carmelitas, São Simão Stock era muito mariano. Suplicou à Mãe de Deus com confiança e foi ouvido!
Conta uma bela tradição devocional que, no dia 16 de julho de 1251, a Virgem Santíssima apareceu a São Simão Stock em resposta às suas súplicas. Ela concedeu muito mais do que o santo pediu, dizendo-lhe:
“O escapulário será para ti e para todos os carmelitas um privilégio, e quem morrer revestido com ele não sofrerá as penas do inferno, será salvo..” [2]
É por isso que a Igreja celebra a memória de Nossa Senhora do Carmo nos dias de 16 de julho de cada ano. Essa festa é um sinal da presença da Mãe entre nós. Mas o que é o escapulário? E o que ele significa? É o que veremos agora.
O Escapulário
Existe, na anatomia do corpo humano, um osso que é chamado pelos especialistas em anatomia de escápula. Ele se localiza na região dos ombros. É por isso que o sacramental que levamos em torno do pescoço se chama “escapulário”.
Você sabe o que é um sacramental? São sinais sagrados instituídos pela Igreja para dispor os corações a receber bem os frutos dos sacramentos e, assim, santificar as mais diversas atividades da vida.
Chamamos de sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes circunstâncias da vida. [3]
O escapulário representa o hábito carmelita. Quem o veste se decide a levar a espiritualidade carmelita, sobretudo a devoção a Nossa Senhora, a todas as áreas de sua vida. É uma forma de associar-se à Ordem do Carmo.
O escapulário é essencialmente um “hábito”. Quem o recebe está, por sua vestimenta, associado em grau mais ou menos íntimo à Ordem do Carmo. [4]
Como sacramental, o escapulário é um sinal exterior de uma devoção interior. Ele lembra ao seu portador que a vida espiritual deve vir em primeiro lugar. Assim, por exemplo, entregando-se todo a Maria, o devoto deve acostumar-se a recorrer a Ela em suas necessidades.
O escapulário é um sinal exterior da relação especial, filial e confiante que se estabelece com a Virgem, Rainha e Mãe do Carmo e os devotos que se confiam a Ela com total entrega, bem como recorrem com toda confiança à sua intercessão materna; recorda a prioridade da vida espiritual e a necessidade de oração. [5]
Mas é importante que o fiel não trate o escapulário como se fosse um amuleto. Para entendermos o modo correto de viver essa devoção, podemos nos recordar de uma promessa que Jesus fez certa vez.
Falando aos Apóstolos, o Senhor deixou claro que não deixaria de recompensar os menores atos de amor feitos aos discípulos por amor a Ele. Nem mesmo um copo de água ficará sem recompensa.
Quem der apenas um copo de água fresca a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa. (Mt 10, 42)
Mas é claro que essa promessa não significa que quem der um copo de água fresca aos discípulos está dispensado de observar os Mandamentos de Deus ou de viver uma vida correta. Tal interpretação seria absurda!
A promessa não é feita para afastar o fiel da Palavra de Deus. Pelo contrário, é um modo de enraizá-la no coração. É assim com o copo de água fresca, mas também com o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Ao oferecer promessas para quem usa o escapulário, Maria encoraja a pessoa a viver uma vida comprometida com a salvação.
Todas estas práticas devocionais tornam nossos trabalhos concretos e relacionam-os ao mistério da Palavra Encarnada. [6]
Condições para imposição do escapulário
A imposição do escapulário é o ato oficial pelo qual o sacerdote ou o diácono veste o fiel com o escapulário de Nossa Senhora. É comum que os fiéis busquem o clero carmelita para impor o escapulário. No entanto, não há problema algum caso você não more perto de um convento carmelita.
Na primeira vez, deve-se pedir a um sacerdote que abençoe o escapulário e o imponha com uma fórmula aprovada pela Igreja. Com a imposição, passa-se a fazer parte da grande família carmelitana, participando de toda a vida espiritual do Carmelo. [7]
É importante saber que a imposição se dirige à pessoa que a requisita. Por isso, quando o escapulário envelhecer ou se deteriorar, ele poderá ser substituído por outro sem que haja necessidade de uma nova imposição. Basta que seja bento.
Por ser confeccionado com tecido, o escapulário desgasta-se facilmente; por isso recomenda-se que seja substituído por um novo quando necessário. Este também deverá receber a bênção sacerdotal. [8]
Qualquer sacerdote ou diácono está autorizado pela Igreja a fazer a imposição do escapulário, seguindo a fórmula aprovada pela Igreja. O fiel deve comprometer-se a viver uma vida de pureza, conforme as virtudes de Nossa Senhora.
Os Carmelitas difundiram no povo cristão a devoção à Bem-Aventurada Virgem do Monte Carmelo, indicando-a como modelo de oração, de contemplação e de dedicação a Deus. [9]
Indulgência Parcial
Você sabe o que é uma indulgência? Quando confessamos um pecado mortal, o sacramento restitui a vida da graça em nós. Resta ainda uma purificação, para que a alma se desapegue das criaturas. É a chamada “pena temporal”.
Todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui nesta terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. [10]

A indulgência é a remissão, diante de Deus, da “pena temporal” do pecado já perdoado. Ela pode ser aplicada em sufrágio das almas do Purgatório, pois todos nós somos membros do Corpo de Cristo.
Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo em favor deles indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados. [11]
Um dos benefícios do uso do escapulário é justamente a concessão de indulgência parcial. Para obter essa graça do tesouro da Igreja, basta usar o escapulário com um sentimento religioso.
Aos fiéis que utilizam religiosamente um objeto de piedade (crucifixo, cruz, terço, escapulário, medalha), validamente abençoado por um padre, concede-se indulgência parcial. [12]
Uma Vida Mariana
O escapulário de Nossa Senhora do Carmo nos convida a mudar de vida. Não basta usá-lo no corpo; é preciso que nós nos revistamos interiormente dele. O escapulário é um sinal exterior de um compromisso interior.
Por fim, convém mencionar que quem se reveste do escapulário faz bem em rezar pelos carmelitas. A oração é uma forma de participação na família espiritual.
Que Nossa Senhora do Carmo interceda por nós!
Referências:
[1] Frei Patrício Sciadini Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. 3a edição. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 27.
[2] Ibid, p. 29.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 1677.
[4] Papa Pio XII. Discurso do Sétimo Centenário do Escapulário Carmelita. 06 de agosto de 1950.
[5] Santa Sé. Diretório Sobre a Piedade Popular e a Liturgia, 205.
[6] Padre Hugh Barbour. O Escapulário é um Talismã Mágico?
[7] Frei Patrício Sciadini. Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. 3a edição. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 41.
[8] Ibid, 41-42.
[9] Papa Bento XVI. Angelus. 16 de julho de 2006.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 1472.
[11] Catecismo da Igreja Católica, 1479.
[12] Paulo VI. Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina (17).