Igreja Católica

São Pedro e São Paulo: as Colunas da Igreja

A solenidade de São Pedro e São Paulo é uma expressão da unidade da Igreja.

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Todo ano o testemunho de São Pedro e São Paulo é celebrado com alegria na Igreja. Ele nos recorda que o Senhor não cessa de reunir a todos os homens em Sua Igreja, que é um mistério de unidade.

Há um só Corpo e um só Espírito, como também há uma só esperança à qual fostes chamados, a de vossa vocação. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo (Ef 4, 4-5)

Este artigo é um convite para você meditar sobre o mistério da Igreja, a partir do martírio de São Pedro e São Paulo. Primeiro, vamos aprender que o mistério da Igreja foi profetizado no Antigo Testamento. Depois, vamos nos voltar para o sentido da sua unidade. Em seguida, meditaremos um pouco sobre São Pedro e São Paulo. Por fim, vamos deixar duas sugestões para a sua caminhada de fé.

Um Mistério  Profetizado

Pela fé, nós sabemos que a Igreja é um grande mistério. Ela é uma realidade visível, que atravessa os séculos e chega a praticamente todo o mundo, mas é também uma realidade invisível.

A Igreja está na história, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente “com os olhos da fé” que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual, portadora da vida divina. [1]  

Nós temos acesso ao que é a Igreja, mas nem sempre é fácil transmitir em palavras o que experimentamos.  Contudo, a Palavra de Deus vem em nosso auxílio. Ela nos ensina a falar do mistério.

No Antigo Testamento, encontra-se a Profecia de Daniel. Nela, o termo “mistério” é repetido várias vezes no capítulo 2. Nada é vão na Palavra de Deus. Devemos estar atentos aos detalhes que o Espírito Santo quis inspirar ao autor humano.

O termo “mistério” (raz, em aramaico) chega a aparecer oito vezes em um único capítulo (Dn 2, 18-19, 27-30, 47). [2]  

Você já leu esse capítulo? Ele traz relatos do segundo exílio de Israel. Foi na Babilônia, cujo rei era Nabucodonosor. Suas tropas atacaram Jerusalém, derrotaram o rei Joaquim e escravizaram o povo (Dn 1,1).

Certo dia o rei Nabucodonosor teve um sonho que o perturbou muito. Era o sonho de uma estátua, que foi logo destruída. O rei não conseguia dormir, de tão aterrorizado que ficou.  Os seus magos não lhe podiam ajudar. Foi então que Deus enviou-lhe o profeta Daniel.

Em Daniel, o mistério é apresentado em sonho ao rei babilônio Nabucodonosor, que recebe a visão de uma grande estátua humana, símbolo dos impérios da terra. [3]  

Já se tratava de uma revelação considerável. Aquele homem poderoso, que mandava e desmandava, não era a fonte do seu próprio poder. Ele estava submetido ao Senhor, a quem todos devem obedecer. Mas o profeta revelou ainda mais do mistério de Deus.

O próprio rei, que recebera seu império diretamente do Senhor (Dn 2, 37), era a “cabeça” (Dn 2, 38) da estátua, mas Daniel olha à frente e descreve como a estátua seria destruída e substituída pelo reino messiânico de Deus. [4]

E que reino messiânico seria esse? É o que veremos a seguir.

O Sacramento da Unidade

Vimos que o termo “mistério” foi usado na Profecia de Daniel para falar do Reino que Deus viria a estabelecer. E nós sabemos que todo o Antigo Testamento converge para Cristo e Seus mistérios, portanto não podemos dissociá-lo de Cristo.

Por mais diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração. [5]

Na Carta de São Paulo aos Efésios, o mesmo termo reaparece várias vezes. Inspirado pelo Espírito Santo, o Apóstolo nos ensina que o mistério de Cristo, que estava escondido, foi agora revelado.

Assim como Jesus, que revelou os mistérios do Seu Reino por meio de parábolas (Mt 13, 11; Mc 4, 11), Paulo frequentemente ensina seus leitores sobre o plano oculto de Deus, revelado agora no Reino de Cristo (Rm 16, 25; 1Cor 15, 51; Ef 5, 32; Cl 2, 2; 1Tm 3, 16). [6]

Aqui chegamos à grandeza da Igreja! É na Igreja que Cristo realiza e revela Seu próprio mistério. Nós precisamos da Igreja.  Por estar unida a Cristo como a esposa ao esposo, como uma só carne, a Igreja se torna - ela também - mistério.

São Pedro, Príncipe dos Apóstolos
O homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne. Este mistério é grande; eu o digo em relação a Cristo e à Igreja. (Ef 5, 31-32)

É por isso que chamamos a Igreja de “sacramento”. Essa é uma palavra que veio do latim. Quando São Jerônimo traduziu o Novo Testamento para o latim, ele optou pelo termo sacramentum (sacramento) para traduzir o correspondente grego para “mistério” em alguns contextos.

Na Vulgata Latina, São Jerônimo traduz este termo grego “mistério” por sacramentum (sacramento) [7]

A Igreja é um mistério de unidade visível para toda a humanidade. Nela, Cristo reúne os povos promovendo uma união íntima entre Deus e os homens. Ela é uma comunhão espiritual e visível.

A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Ser o sacramento da união íntima dos homens com Deus é o primeiro objetivo da Igreja. [8]  

A unidade da Igreja é um mistério admirável. Por meio dela, o Senhor convida à humanidade a reencontrar a sua unidade. Veremos agora por que chamamos São Pedro e São Paulo de colunas da Igreja de Cristo.

São Pedro e São Paulo

A solenidade de São Pedro e São Paulo é uma expressão da unidade da Igreja. São Pedro foi chamado a ser a pedra, sobre a qual Cristo edifica a Sua Igreja; São Paulo, o instrumento escolhido para levar o Evangelho às nações (Mt 16, 1; At 9, 15).  Cada um tinha a sua personalidade e missão, mas eles encontraram unidade na fé.

Jesus mudou o nome de ambos, no momento em que os chamou para o seu serviço: a Simão, deu o nome de Cefas, ou seja, “rocha”, de onde derivou Pedro; a Saulo, deu o nome de Paulo, que significa “pequeno”. [9]

Como chefe dos Apóstolos, São Pedro conduziu a sucessão apostólica depois da defecção de Judas Iscariotes, fez o primeiro sermão da Igreja e acolheu as primeiras conversões de gentios. Foi uma grande missão! (Mt 16, 18; At 1, 15-26; At 2, 14-36;  At 10, 1-18).

São Paulo, o Apóstolo do gentios
Pedro deve ser, para todos os tempos, o guardião da comunhão com Cristo; deve guiar à comunhão com Cristo; deve preocupar-se para que a rede não se rompa e, assim, possa perdurar a comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. [10]

Já São Paulo teve uma outra história. Ele não pertenceu ao grupo dos Doze Apóstolos e chegou a perseguir a Igreja com ódio! No entanto, a caminho de Damasco, onde prenderia os cristãos, deixou-se tocar pela luz de Cristo. (1Cor 15, 9; At 9, 1-9)

Em suas Cartas, depois do nome de Deus, que aparece mais de 500 vezes, o nome mencionado com mais frequência é o de Cristo (380 vezes). Convém, portanto, que percebamos o quanto Jesus Cristo pode incidir na vida de um homem. [11]  

Mas a unidade na fé não veio sem que se dispusessem a abraçar a Cruz! São Pedro e São Paulo perseveraram até o fim. Quando necessário, derramaram o sangue por Amor a Cristo, dando o testemunho supremo da fé: o martírio.

Aqui [em Roma] cumpriram ambos o ministério apostólico, aqui o selaram definitivamente com o testamento do sangue por eles derramado, com o testemunho do sacrifício total da vida. [12]

Viver a Unidade

Nós também somos chamados a superar divisões e viver a unidade da Igreja. Devemos estudar a fé da Igreja, para construirmos a nossa casa na rocha firme. Como você estuda a fé que recebeu?

Mas não basta estudar para conhecer melhor a nossa fé, devemos também rezar pela Igreja. Você reza pelo papa? E pelas missões? Reza pelo seu pároco? Essas são duas intenções importantes para a nossa vida de oração.

Que São Pedro e São Paulo intercedam por nós!

Referências:

[1]  Catecismo da Igreja Católica, 770.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch As Cartas de São Paulo aos Gálatas e aos Efésios - Caderno de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017. p. 59.

[3] Ibid.

[4] Ibid.

[5] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 112.

[6] Scott Hahn & Curtis Mitch As Cartas de São Paulo aos Gálatas e aos Efésios - Caderno de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017. p. 59.

[7] Ibid, p. 70.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 775.

[9] Papa João Paulo II. Solenidade de São Pedro e São Paulo. Homilia de 29 de junho de 2003.

[10] Papa Bento XVI. Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo: nas Origens da Igreja. São Paulo: Paulus, 2011. p. 58.

[11] Ibid, p. 133.

[12] Papa João Paulo II. Solenidade Litúrgica de São Pedro e São Paulo. Homilia de 29 de junho de 1980.