Há mais de trezentos anos uma santa teve uma experiência muito especial com Jesus. Ela viu o Sagrado Coração e escutou doze promessas. A Igreja reconhece o valor dessa espiritualidade e nos convida a uma vida de conversão, em resposta ao Amor com que fomos amados.
E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem para conosco (1Jo 4, 16)
Neste artigo vamos meditar sobre o amor com que Deus nos amou. Primeiro, vamos nos voltar para o sentido de falarmos ao coração. Depois, partindo do coração humano em geral, vamos contemplar o Sagrado Coração de Jesus. Em seguida, chegaremos à experiência da santa. Você já sabe quem ela é? Por fim, vamos meditar sobre a Grande Promessa que Jesus nos fez por meio dela.
Uma Imagem que todos entendem
A Bíblia propõe muitas imagens para a nossa vida espiritual. Entre elas, uma das mais comoventes é a do coração. Já na época do Antigo Testamento se falava do coração em sentido figurado.
Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua força. (Dt 6, 5)
O Novo Testamento deu continuidade ao uso desta imagem. São Mateus registrou, em seu Evangelho, que o próprio Senhor Jesus recorreu à metáfora do coração para advertir-nos dos riscos do materialismo.
Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (Mt 6, 21)
É impressionante como falar do coração penetra em nosso mundo interior. Todos nós conseguimos entender que ele expressa a mais profunda intimidade da pessoa humana. É no coração que falamos com Deus em oração.
Qualquer que seja a nossa linguagem de oração (gestos e palavras), é o homem todo que reza. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, geralmente do coração (mais de mil vezes). [1]
A oração é um encontro com Deus. Ela só pode ocorrer quando há abertura interior. Por isso, o coração é também um lugar de luta espiritual. Nós temos que confrontar nossas desordens para nos decidirmos por Deus.
[O coração] é o lugar da decisão, no mais profundo de nossas tendências psíquicas. É o lugar da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. [2]
É importante tomarmos consciência de que a metáfora do coração é bastante concreta. A mente é abstrata; o coração, não. Ele possui membranas e veias. O seu movimento é perceptível e altera-se conforme mudam as nossas emoções.
Ao mencionar o coração, a Palavra de Deus nos revela que a nossa vida espiritual não é desencarnada. Nós somos pessoas inteiras, de corpo e alma. O cristão não deve ignorar a importância do corpo, das emoções, nem da alma em sua vida espiritual.
Este núcleo de cada ser humano, o seu centro mais íntimo, não é o núcleo da alma, mas da pessoa inteira na sua identidade única, que é alma e corpo. Tudo está unificado no coração, que pode ser a sede do amor com todos os seus componentes espirituais, psíquicos e também físicos. [3]
Se assim é o nosso coração, podemos nos perguntar como será o Sagrado Coração de Jesus. É o que veremos a seguir.
O Sagrado Coração de Jesus
Ao fazer-se homem como nós, o Verbo de Deus assumiu a nossa humanidade. Jesus tem um coração humano, como o nosso. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus nos recorda da concretude de Sua presença entre nós.
A devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus. O que contemplamos e adoramos é a Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito homem, representado numa imagem sua em que se destaca o seu coração. [4]
Essas palavras fazem eco da experiência que São João relatou em sua primeira carta. Cristo é o Verbo de Deus encarnado, portanto Ele é a própria Palavra de Vida. Os Apóstolos puderam ter um relacionamento pessoal e concreto com o Senhor. Ouviram e viram Jesus. Tocaram n’Ele como quem toca em um amigo.
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da Palavra da Vida (1Jo 1, 1)
É com essa experiência original dos Apóstolos que nós queremos entrar em contato por meio da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Os sentimentos de Cristo são sacramentos de Seu amor: expressão visível de um mistério invisível.
O Filho eterno de Deus, que infinitamente me transcende, quis amar-me também com um coração humano. Os seus sentimentos humanos tornam-se o sacramento de um amor infinito e definitivo. [5]
Até aqui vimos que o coração é uma imagem ou metáfora usada nas Escrituras e que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus nos conduz a um relacionamento pessoal com Ele. Veremos agora como surgiu esta devoção.
As Doze Promessas
Santa Margarida Maria Alacoque foi uma freira da Ordem da Visitação. Entre os anos de 1673 e 1675, ela viveu uma experiência mística muito profunda: teve uma série de visões. O próprio Jesus apareceu-lhe e falou da devoção a Seu Coração.
Em uma das aparições, o Senhor disse à santa que quase todos os homens eram ingratos com Ele. É triste, mas ainda hoje muitos corações continuam fechados a Jesus. Mesmo assim, o Senhor não repele a ninguém. Ele aguarda a todos, de coração aberto.
Você já deve ter ouvido falar das promessas do Sagrado Coração de Jesus. Foram apresentadas à santa por Jesus em uma das aparições. Ao total, foram doze promessas:
1. “Eu lhes darei as graças necessárias para cumprirem os deveres de seu estado”
2. “Eu darei paz às suas almas”
3. “Eu os consolarei em todas as suas aflições”
4. “Serei refúgio seguro durante a vida e, sobretudo, na hora da morte”
5. “Derramarei abundantes bênçãos sobre seus empreendimentos”
6. “Os pecadores acharão em Meu Coração a fonte e o oceano infinito de Misericórdia”
7. “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas”
8. “As almas fervorosas elevar-se-ão rapidamente à grande perfeição”
9. “Abençoarei os lares onde for exposta e honrada a imagem do Meu Coração”
10. “Darei aos sacerdotes a graça de converterem os corações mais endurecidos”
11. “As pessoas que propagarem esta devoção terão seu nome escrito para sempre no meu Coração, e dele jamais será apagado”
12. “Eu prometo, na excessiva misericórdia de Meu Coração, que meu amor onipotente concederá a todos os que comungarem durante nove primeiras sextas-feira do mês seguidas a graça da penitência final; não hão de morrer em pecado e sem receber os sacramentos. servindo-lhes Meu Coração de asilo seguro naquele último momento”
A Grande Promessa
A última das doze promessas é conhecida como a Grande Promessa. O Senhor nos oferece a graça mais importante que existe: a salvação! Para isso, devemos comungar nas primeiras sextas-feiras de cada mês por nove meses seguidos com confiança na Misericórdia do Senhor.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. (Jo 6, 54)
Mas não é algo automático. Como em toda devoção, não basta praticar os atos externos. O fiel deve estar com o coração voltado para Deus. Assim, precisa receber a Eucaristia em estado de graça, com a firme decisão de nunca mais voltar ao pecado.
Quem se aproxima dos Santos Sacramentos deve ter firme intenção e vontade decidida de abandonar o pecado. [6]
Uma dúvida que as pessoas costumam ter é sobre o que fazer se “perderem” um mês. Nesse caso, o fiel deve recomeçar do zero a devoção com a certeza de que o Senhor reconhece o valor da nossa obediência.
É indispensável comungar nas nove primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos. [7]
Cheios de Esperança
Podemos entender agora por que o Sagrado Coração de Jesus enche os nossos corações de esperança. Ele, que é Deus, se fez homem por nós. Acreditar em Seu Coração de Homem-Deus é professar a nossa fé em Jesus Cristo.
O coração de Jesus é o coração de uma pessoa divina, quer dizer, do Verbo encarnado, e que, por conseguinte, representa e nos põe ante os olhos todo o amor que ele nos teve e ainda nos tem. [8]
A nossa devoção ao Sagrado Coração deve nos mover em direção ao amor com que fomos amados. Ele não recua perante as nossas ofensas e oferece-nos o perdão. Confiando em tão grande Amor, nós temos a esperança de amar verdadeiramente.
Sagrado Coração de Jesus, tende piedade de nós!
Reze o Ato de Reparação ao Sagrado Coração de Jesus com o Padre Alex
Referências:
[1] Catecismo da Igreja Católica, 2562.
[2] Catecismo da Igreja Católica, 2563.
[3] Papa Francisco. Encíclica Dilex Nos, 21.
[4] Ibid, 48.
[5] Ibid, 60.
[6] Frei Salvador do Coração de Jesus. A Grande Promessa do Sacratíssimo Coração de Jesus. São Paulo: Edições Loyola, 2015. p. 10.
[7] Ibid.
[8] Papa Pio XII. Haurietis Aquas, 60.
