Devoção Popular
Nossa Senhora

O apelo de Nossa Senhora de Lourdes

Em quase todas as aparições de Lourdes, Nossa Senhora e Bernadette rezaram juntas. A Virgem Maria deseja a salvação das almas.

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Quantas aparições de Nossa Senhora você conhece? Certamente várias, como as de La Salette, Fátima e Akita. É uma grande alegria que Nossa Senhora venha ao nosso encontro neste tempo tão difícil.  

Mas será que todas as aparições são iguais? É claro que não. O que vem de Deus nunca é redundante, inútil ou tagarela. Certa vez o padre jesuíta Scaramelli escreveu estas palavras sobre o discernimento dos fenômenos extraordinários:

Se uma alma recebe em sua oração certos conhecimentos que nada ajudam, eles não são de Deus; se tiver locuções que transmitem mais curiosidades e não conhecimentos frutuosos, ou algumas visões que não se ordenam ao proveito próprio, ou de outros, estas não seriam certamente enviadas por Deus. [1]

É por isso que a Igreja faz um exame minucioso das aparições antes de aprová-las. Trata-se de um tema muito sério. Há um apelo do Céu por trás de cada aparição, embora elas tenham elementos em comum.

Hoje nós vamos meditar um pouco sobre as aparições de Nossa Senhora em Lourdes, que ocorreram em 1858, em Lourdes (França). Dentro do contexto geral das aparições modernas, já estudamos porque existem tantas aparições de Nossa Senhora em nosso tempo. Agora precisamos nos perguntar o seguinte: Qual a importância de Lourdes para a nossa vida hoje?

Veremos que o apelo de Nossa Senhora continua muito atual.  

Um Mundo Doente

Há 167 anos Nossa Senhora apareceu em Lourdes, na França, a uma jovem. O mundo era bastante diferente naquela época. Não havia celular, nem televisão. Era difícil se deslocar de uma cidade a outra. No entanto, os problemas essenciais não mudaram.  

A humanidade vem se afastando de Deus, buscando a paz onde ela não se encontra. Não são poucas as pessoas que cultuam o dinheiro ou o prazer, como se fossem deuses. Essa atitude de supervalorização da vida material chama-se materialismo, que é uma doença espiritual dos nossos dias:

O mundo [...] conhece também uma terrível tentação de materialismo, muitas vezes denunciada pelos nossos predecessores e por nós mesmos. [2]

Se a palavra “materialismo” é nova para você, não se preocupe. O importante não é decorar uma palavra nova, mas sim entender a ideia que ela transmite neste texto. Uma pessoa materialista é aquela que coloca o amor a Deus em segundo plano e o amor às coisas mundanas e materiais em primeiro lugar.

Esse materialismo [...] manifesta-se também no amor do dinheiro, cujas devastações se amplificam à medida dos empreendimentos modernos, e que, infelizmente, comanda tantas determinações que pesam sobre a vida dos povos; traduz-se pelo culto do corpo, pela procura excessiva do conforto e pela fuga de toda austeridade de vida; induz ao desprezo da vida humana, daquela, mesmo, que é destruída antes de ver a luz; está na demanda desenfreada do prazer. [3]

Você já percebeu como são infelizes as pessoas obcecadas pela vida material? Elas vivem como se Deus não existisse! Tem gente, por exemplo, que só pensa em dinheiro e prazer. O Papa Francisco nos adverte a ter cuidado com este risco:

As coisas materiais não preenchem a vida: somente o amor pode preenchê-la. [4]

O nosso mundo está doente. Mas tenhamos coragem: Nossa Senhora não nos abandona. Ela veio em nosso auxílio, para nos recordar o caminho a seguir.

Uma Pobre Gruta

Quem era Bernadette Soubirous, que viu Nossa Senhora em Lourdes? Santa Bernadette era uma jovem de apenas quatorze anos de idade e a sua vida não era fácil. Ela era uma moça pobre, de baixa instrução e não tinha boa saúde.

Foi a esta jovem que Nossa Senhora escolheu aparecer na Gruta de Massabielle, em Lourdes. A simplicidade era evidente: Uma pobre gruta, uma menina pobre, a Bela Senhora, como Bernadette a chamava.

Meditando sobre este encontro, o Papa Francisco observou a intimidade dos dois corações. Maria Santíssima conhecia o coração de Bernadette e a tratava com respeito:

A humilde jovem de Lourdes afirmava que a Virgem, por ela definida “Bela Senhora”, a olhava como se olha para uma pessoa. Estas simples palavras descrevem a plenitude de uma relação. Assim, a pobre, analfabeta e doente Bernadete, sentia-se acolhida por Maria como pessoa. [5]

Nossa Senhora apareceu dezoito vezes a Santa Bernadette, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858. Ela falou poucas palavras e rezou bastante. Essa espiritualidade nos convida a refletir:  

“Qual é o valor que dou à vida de oração?”

Em Lourdes, a Nossa Mãe e Rainha nos ensinou que a oração requer uma resposta decidida do coração. Nós precisamos nos comprometer com a vida de oração. É preciso perseverar, sem deixar-se levar pelas emoções do momento.

Maria vem recordar-nos que a oração, intensa e humilde, confiante e perseverante, deve ter um lugar central na nossa vida cristã. A oração é indispensável para acolher a força de Cristo. [6]

Nossa Senhora nos recorda do que as Sagradas Escrituras nos pedem. Ela sempre nos aponta o Caminho de Jesus. Não podemos relaxar com a vida de oração. Rezemos sempre. Existem dias de forte emoção na oração, em outros dias, porém, sentimo-nos secos como os galhos da Gruta de Massabielle. Mas devemos persistir em oração:

Jesus lhes propôs uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir. (Lc 18, 1a)

Às vezes, as dificuldades da vida são muito pesadas, e nós sofremos a tentação de parar de rezar.  Se você está passando por um momento assim, peça a Graça para perseverar. Visite o Sacrário, busque o Coração de Maria, faça uma boa confissão, se for o caso. Mas não pare de rezar. A oração é necessária:

Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características de uma emergência e parece impelir unicamente para a ação. [7]

Você reza o terço todo dia? Era a oração que Nossa Senhora rezou em Lourdes com Santa Bernadette. Nós não devemos subestimar este grande dom do Céu.

As Aparições da Virgem de Lourdes

Em quase todas as aparições de Lourdes, Nossa Senhora e Bernadette rezaram juntas. Houve poucos momentos de fala, mas eles são muito marcantes. O primeiro foi na terceira aparição, quando Nossa Senhora fez a Santa Bernadette uma promessa muito importante:

Não prometo fazer você feliz neste mundo, mas no próximo. [8]

Em um mundo materialista como o nosso, como faz bem recordar que a nossa vocação é para o Céu! O nosso coração é feito para amar a Deus, não para apegar-se às mesquinharias do mundo.

Mais adiante, na oitava aparição, Nossa Senhora mostrou sua imensa compaixão com a grave situação dos homens modernos, endurecidos pelo materialismo.  Nós também somos chamados a olhar com compaixão para quem vive longe de Deus.  Ela pediu oração e penitência:

Penitência! Penitência! Penitência! Ore a Deus pelos pecadores! Vá beijar a terra como penitência pelos pecadores! [9]

Você faz oração e penitência pelos pecadores? Em sua sabedoria, a Igreja nos apresenta tempos mais dedicados à penitência ao longo do ano litúrgico. O tempo da quaresma, que se aproxima, é um exemplo. Não deixe de dedicar tempo à oração, suplicando por aqueles que não buscam a Deus.

Outra fala de excepcional importância foi a declaração da sua identidade. Nossa Senhora não revelou a sua identidade desde o início. Foi somente na décima sexta aparição que ela disse:

Ela levantou os olhos para o céu, unindo as mãos em oração, que estavam estendidas e abertas para a terra, e me disse: “Que soy era immaculada councepciou” [Eu sou a Imaculada Conceição]. [10]

Foi uma grande alegria para aquele povo! Fazia apenas quatro anos que o Papa Pio IX havia reconhecido o dogma da Imaculada Conceição. Trata-se de um artigo de fé antigo, mas ele ainda não tinha obtido este grau de formalização.

Um mundo ferido pelo materialismo encontra esperança de regeneração nas palavras de Nossa Senhora! Ela é livre do Pecado Original! Livre das consequências do Pecado Original. A sua Imaculada Conceição nos recorda que só há liberdade plena e verdadeira em Deus.

Maria revela-lhe assim a graça extraordinária que recebeu de Deus, a de ter sido concebida sem pecado, porque “olhou para a humilde condição da Sua serva” (Lc 1,38). Maria é esta mulher da nossa terra que se entregou inteiramente a Deus e d’Ele recebeu o privilégio de dar a vida humana ao seu eterno Filho. “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela é a beleza transfigurada, a imagem da nova humanidade. Apresentando-se assim numa dependência total de Deus, Maria exprime na verdade uma atitude de plena liberdade, baseada sobre o pleno reconhecimento da sua verdadeira dignidade. [11]

Não há liberdade no pecado. O materialismo é uma ilusão.

Uma Escola de Oração

Neste mundo materialista que não quer saber de Deus, nós somos chamados a perseverar na fé. Mas a nossa perseverança não será frutuosa sem uma vida de oração decidida. Não devemos desanimar.  

A vida de oração é sim um combate. Combatemos a nós mesmos, mas combatemos também o Tentador [12]. Diante das dificuldades da oração, persevere. Não desista da sua salvação, nem da salvação da sua família.  

Nossa Senhora de Lourdes, rogai por nós!

Referências:

[1] Pe. Giovanni Scaramelli. Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p.73.

[2] Papa Pio XII. Sobre o Centenário das Aparições da Santíssima Virgem em Lourdes .nº 17.

[3] Ibid.

[4] Papa Francisco. Angelus de 04 de agosto 2024.

[5] Vatican News. Santa Maria Bernadete Soubirous, Virgem.

[6] Papa Bento XVI. Homilia por ocasião do 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora de Lourdes.

[7] Papa Bento XVI. Deus Caritas Est, 36.

[8] Santuário de Lourdes. Aparição da Virgem em 18 de fevereiro de 1858.

[9] Ibid.

[10] Ibid.

[11] Papa Bento XVI. Homilia por ocasião do 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora de Lourdes.

[12] Catecismo da Igreja Católica, 2725.