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O que é o pecado contra o Espírito Santo?

O pecado contra o Espírito Santo é o mais grave dentre todos os tipos de pecados, pois leva a pessoa à condenação eterna de modo inevitável.

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No Evangelho ouvimos Jesus dizer que o pecado contra o Espírito Santo não será perdoado aos homens. Essas palavras de Nosso Senhor permanecem obscuras para a maior parte das pessoas, afinal, o que é o pecado contra o Espírito Santo? Provavelmente, você já tenha se perguntado temerosamente se já havia pecado em algum momento contra o Espírito Santo. De fato, as palavras do Salvador são muito severas a este respeito, por isso, vamos entender o que Jesus disse e esclarecer cada um desses pecados à luz do magistério da Santa Igreja Católica.  

“Por isso, eu vos digo: todo o pecado e toda blasfêmia serão perdoados; mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Mesmo se alguém falar uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, se falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo que há de vir” (Mt, 12, 31-32).

Essas palavras de Nosso Senhor até hoje são causa de espanto e admiração. Para compreendê-las é preciso entender o contexto em que elas foram ditas. O primeiro ponto a ser esclarecido é sobre o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz. Jesus, ofereceu a sua vida em sacrifício e através de sua Paixão, Morte e Ressurreição satisfez a justiça de Deus pelos pecados dos homens [1]. Era necessário que os méritos deste sacrifício fossem de valor infinito, porque a majestade de Deus, ofendida pelo pecado, é infinita [2]. Portanto, o sacrifício de Jesus tem o poder de perdoar todo e qualquer pecado. É isso que Jesus quis dar a conhecer quando disse que mesmo as blasfêmias proferidas contra ele seriam perdoadas, pois seu sangue divino tem o poder de purificar todo pecado.

Quando nos arrependemos de nossas faltas e pedimos perdão, Deus toma o sangue preciosíssimo de seu Filho e nos asperge, apagando todo pecado. Mas, embora o sacrifício de Cristo seja de valor infinito e eterno, é necessário sempre lembrar que Deus não nos obriga a receber os frutos espirituais obtidos por Cristo em sua Paixão, por isso, o arrependimento e a abertura de coração são necessários para o pecador ser redimido.

Um reino dividido em si mesmo?

O segundo ponto é o contexto destas palavras. O Evangelho narra Jesus fazendo milagres, anunciando o Reino de Deus, curando as doenças e expulsando demônios. Diante de sinais numerosos a multidão admirada se questionava: “Não será este o Messias? (Mt 12, 23). Os fariseus, ouvindo isso, tomados pela inveja e maledicência daqueles que não desejam se converter, e portanto, vêem Nosso Senhor com desprezo e má vontade, afirmam: “É por Belzebu, chefe dos demônios, que ele os expulsa o demônio” (Mt 12, 24).

Jesus então levanta a questão: Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino? (Mt 12, 26). As obras de Nosso Senhor não fazem outra coisa senão destruir as obras do demônio, como podem então os fariseus afirmar que é por Belzebu que Jesus faz tudo isto? Se fosse assim, este reino estaria condenado:

“Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesmo não pode subsistir” (Mt 12, 25).

Diante das obras de Jesus sempre haverá aqueles que se levantarão e vão blasfemar, mesmo diante da verdade conhecida, mesmo diante de tantos sinais e milagres, mesmo ao verem os frutos inegáveis de suas obras, sempre haverá aqueles que acusam Jesus de estar praticando as obras das trevas.

Quem despreza a graça de Deus, mesmo diante de tantos sinais, este comete o pecado contra o Espírito Santo. É disso que se trata a blasfêmia contra o Espírito Santo, em rejeitar de maneira cada vez mais consciente a graça de Deus, de não se arrepender dos pecados e consequentemente experimentar o endurecimento completo do coração, chamado de impenitência final.

Quem peca contra o Espírito Santo?

Foi a estes que Nosso Senhor disse: “a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada” (Mt 12, 31). São estes que pecam contra o Espírito Santo, em virtude da impenitência e resolução no mal, por isso não haverá perdão, pois estão obstinados. Não há perdão quando não há arrependimento do pecado. O Catecismo ensina que “a misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna” [3].

Aquele que, à vista das obras divinas, cujo poder não pode negar, levanta calúnias levado pela inveja, e diz que Cristo, Verbo de Deus, e as obras do Espírito Santo são o próprio Belzebu, este não conseguirá o perdão nem neste mundo nem no outro [4]. Diz Santo Hilário:

“O Senhor condena de maneira severissima as palavras dos fariseus e a perversidade de todos que estão de acordo com eles, prometendo o perdão de todos os pecados, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo”. [5]

Quais são os pecados contra o Espírito Santo?

Os pecados contra o Espírito Santo são assim chamados porque se cometem por pura malícia, o que é contrário à bondade atribuída ao Espírito Santo. O Catecismo considera seis tipos de pecado contra o Espírito Santo [6], são eles:

1 - O desespero da salvação: desespera-se da salvação o que acredita já estar condenado ao inferno por causa dos seus numerosos pecados. Tem a convicção que não se salvará, convencido de que seu destino inevitável é o inferno. Quem assim procede não confia na misericórdia e no perdão de Deus; crê que não adianta recorrer à confissão, rezar e ir à Missa, crendo que não há salvação para ela.

2 - Presunção de se salvar sem mérito: é o oposto do desespero, neste caso, a pessoa pensa que já está salva e por mais que cometa pecados, Deus lhe perdoará. Acredita já estar salvo independente do que fizer. Age como se não precisasse de Deus, acredita ser desnecessário mudar de vida, confessar, ir à Missa e rezar o terço porque já está salva. Este acredita estar perdoado sem arrependimento, salvo sem conversão.

3 - O combate à verdade conhecida: quem assim procede rejeita de forma consciente a verdade revelada, julga-se “dona da verdade” e, por isso, não aceita as verdades de fé por puro orgulho. Este é o pecado dos Fariseus e Saduceus. Ao conhecer a verdade é preciso aderir a ela, se não o fizermos, estaremos pecando contra o Espírito Santo. Se temos certeza que tal coisa é verdade, assim como os fariseus, vendo os sinais de Jesus, sabiam que ele era o Messias, mas negam essa mesma verdade, então incorrem em pecado contra o Espírito Santo.

4 - Inveja das graças que Deus dá a outro: ocorre quando a pessoa tem inveja das graças que Deus dá aos outros. O invejo irrita-se contra o próximo que alcançou uma graça e revolta-se contra Deus. Rejeita, assim, os dons e as graças que Deus lhe dá. É o caso de Caim que matou Abel por inveja.  

5 - Obstinar-se no pecado: age assim, todos aqueles que mesmo possuindo plena consciência da gravidade do pecado continuam a cometê-lo. Justificam-se: “Deus é amor!”. Não muda de vida porque ama seus pecados. O coração endurecido obstina-se no pecado. Não toma a resolução de mudar de vida simplesmente porque não quer se converter. Quem é obstinado não se arrepende de ter pecado, peca não por fraqueza, mas por malícia. Este ama o seu pecado mais do que a Deus. Além disso, é comum que pessoas obstinadas no pecado vivam a alardear seus pecados, ou seja, a exibir-se vaidosamente com suas faltas, crendo que há nisso algum motivo de glória. Essas pessoas costumam arrastar muitos outros com seus maus exemplos.

6 - A impenitência final: Não é difícil de entender este pecado, é a conclusão de todos os outros pecados contra o Espírito Santo. O impenitente depois de uma vida inteira de pecado em pecado, no fim dela continua impenitente não arrependido de todo o mal que fez. Mesmo sabendo que a morte se aproxima, não quer se converter, não se arrepende dos seus pecados. Rejeita a Deus e deseja o inferno. A agonia da morte ao invés de trazer-lhe o arrependimento, traz um ódio por Deus e a rejeição completa de sua graça. Devemos considerar que dificilmente uma pessoa consegue se arrepender no leito de morte, caso não tenha feito essa experiência muitas outras vezes em sua vida. Aliás, quem vive pecando, morre pecando!  

Por fim, os pecados contra o Espírito Santo, como uma “capa”, impedem e bloqueiam a ação da graça de Deus que faria o pecador sair dos seus pecados e vícios e voltar-se com confiança e esperança para Nosso Senhor. Porém, com o coração endurecido e enquanto durar tal situação, Deus não pode salvá-lo. Não por falha na misericórdia divina, pois a graça não falta a ninguém, mas por obstinação, o pecador não arrependido, rejeita a salvação. Contudo, se o pecador abre o coração para a graça e com arrependimento sincero e verdadeiro pede perdão, mesmo que esteja no leito de morte, a misericórdia de Deus o alcança.

Supliquemos a ação intensa e abrasadora do Espírito Santo em nossa alma, para afastar de nós tudo que nos impeça de aderir à graça de Deus. Façamos orações cada vez mais fervorosas, a fim de que o pecado não subsista em nossa alma e assim, não haja bloqueios para a ação de Deus.

Referências

[1] Catecismo Maior de São Pio X, nº 104.

[2] Idem, nº 107.

[3] CIC, nº 1864.

[4] Aquino, Santo Tomás de. Catena Aurea, volume 1: Evangelho de São Mateus. Ecclesiae, p. 432.

[5] Ibidem.

[6] Catecismo Maior de São Pio X, nº 965.