Todo verdadeiro católico tem um amor e devoção especial pela Virgem Santíssima, Mãe de Nosso Senhor. A ela recorremos em todas as nossas dificuldades e necessidades, em seu auxílio maternal encontramos consolo e proteção. Porém, não são poucas as vezes que os católicos são acusados de idolatria por causa do culto com o qual honramos à Virgem Maria. Alguns chegam a citar versículos bíblicos que fora do seu contexto carecem de uma correta interpretação.
Como ensina a doutrina da Igreja Católica, o ato de adoração é devido apenas a Santíssima Trindade, já os atos de veneração são reservados aos santos, mas para a Virgem Maria esta veneração é toda especial, visto os méritos e privilégios que alcançou diante de Deus em razão de sua missão singular. Sabemos também que esta indagação não é nova, mas para iluminar as mentes com a luz da verdade e fazer Nossa Senhora mais conhecida, amada e honrada apresentaremos vários argumentos que ajudará as pessoas a se tornarem devotas da Mãe de Deus.
O objetivo é esclarecer o equívoco que se faz ao afirmar que adoramos Maria, porém, o faremos sem minimizar a devoção que devemos ter para com Ela, muito pelo contrário, você entenderá a importância e a necessidade que temos do seu auxílio e intercessão. Depois desta exposição da doutrina da Igreja Católica acerca do papel de Maria na santificação e na salvação das almas, o leitor compreenderá o motivo pelo qual os católicos veneram, honram, louvam e amam a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa.
Maria é a obra-prima do Altíssimo
Toda verdade de fé tem fundamento na Sagrada Escritura, em relação às verdades de fé sobre a Virgem Santíssima não é diferente. O Evangelho de São Lucas, que narra a Encarnação do Verbo Eterno, fala do arcanjo São Gabriel que dirige à Maria a saudação: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Maria perturba-se porque sabe que um anjo tem a natureza superior à do homem, assim não é natural ouvi-lo saudar alguém inferior. Geralmente, como se lê na Escritura Sagrada, quando um anjo se dirige ao homem, primeiro ele diz “não temais” porque a sua presença grandiosa e tremenda amedronta o homem que é fraco. No caso de Maria o arcanjo não pode resistir aos encantos, estava tão plena do amor divino que ele é quem fica “amedrontado” com o número e a perfeição de suas virtudes e por isso a saúda: “Ave Maria, gratia plena".
A expressão que quer dizer “plena de graça” indica a condição especial da Virgem Maria frente às demais criaturas. Maria é plena da graça de Deus, preservada imune de toda a mancha do pecado original [1], nunca foi tocada e nunca pertenceu ao demônio. Maria é imaculada por um singular privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo. São Luís no Tratado da Verdadeira Devoção é o que melhor a define como a obra-prima por excelência do Altíssimo [2] com uma feliz comparação: “Deus reuniu todas as águas e chamou-as mar, reuniu todas as suas graças e chamou-as Maria” [3]. A Virgem Maria reuniu em um só coração todos os dotes divinos, ela é a “mais alta manifestação criada da sabedoria, do poder e da infinita bondade de Deus”. [4]
A missão singular de Maria
A razão para Deus favorecê-la com todos os seus privilégios é porque a Virgem Maria foi eleita para ser a Mãe de Jesus. Ela é quem irá conceber Aquele em quem habitará “corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2, 9). Para tão nobre missão a “Mãe do Salvador foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função desde o primeiro instante de sua conceição” [5]. A missão confiada por Deus à Virgem Maria é a finalidade, a razão de ser de sua própria existência e de todos os seus privilégios.
No seu “faça-se”, Maria dá consentimento ao anjo e assim coopera com a obra da Redenção, pois será por ela que nós receberemos o Homem-Deus, Salvador dos homens. Alguém pode objetar argumentando que não cabe a Ela o título de Mãe de Deus, já que Maria não gerou a Divindade, mas somente a humanidade de Jesus. Porém, toda mãe é, com efeito, mãe da criança que concebe e dá à luz. É certo que não dá à criança a alma que é criada por Deus, ela gera em seu ventre a parte sensível do homem, ou seja, o corpo. [6]
Contudo, é chamada simplesmente e com razão mãe daquela criança, e não somente a mãe de um elemento daquela criança, mas da pessoa a quem deu à luz. De modo, que o título “Mãe de Deus” só poderia ser contestado se Jesus tivesse se tornado Deus após o seu nascimento, porém, com o “faça-se” de Maria o Verbo de Deus tomou a natureza humana em seu seio, foi justamente isto que a tornou Mãe, o Filho de Maria é o próprio Filho de Deus. [7]
Para aprofundar seu conhecimento sobre a Virgem Maria, clique aqui e se matricule no curso Catequeses Marianas, o novo curso do padre Alex para formar autênticos devotos de Nossa Senhora.
A dignidade de Maria Santíssima
Uma consequência imediata da maternidade divina é uma grandeza incomparável, inestimável em toda a sua plenitude por qualquer intelecto criado, pode-se dizer que é uma grandeza em certo sentido quase infinita [8]. Por conta da sua dignidade, Maria Santíssima é colocada no coração do Credo, Símbolo dos Apóstolos, pelas palavras: “foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria”. Santo Tomás também afirma que a “dignidade de Mãe de Deus é uma dignidade infinita” [9], a esta dignidade, única em sua espécie, corresponde um culto, único também: o culto de hiperdulia que a Igreja só presta à Virgem Santíssima. Devemos, portanto, honrá-la, embora seu culto seja infinitamente inferior ao que prestamos a Deus (culto de Latria), é superior ao que é devido aos demais santos (culto de Dulia). [10]
“A grandeza de Jesus reflete sobre Maria todos os seus raios” [11]
Ela foi, de fato, elevada exaltada e glorificada pelo Criador acima de todas as outras criaturas, o próprio Espírito Santo colocou em seus lábios a profecia: “Todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada” (Lc 1, 48). Por isso é legitimamente honrada com um culto especial pela Igreja, venerada sob o título de “Mater Dei” [12], os fiéis recorrem à sua proteção e suplicam seu auxílio em todos os perigos e necessidades, embora singular, o culto de hiperdulia se difere essencialmente do culto de adoração (Latria) que se presta à Santíssima Trindade. [13]
A Mediação Universal
Depois de considerar a maternidade divina de Maria e a dignidade desta missão singular é necessário que passemos a considerar suas consequências imediatas, a saber: a Mediação universal e a realeza universal.
O ofício do mediador é de unir duas partes, entre Deus e os homens, Jesus é o mediador por excelência, fazendo-se homem uniu a divindade e a humanidade na sua Pessoa, e por isso redimiu o homem por sua Paixão e Morte na cruz. Sendo assim, Jesus é mediador de Redenção, como Ele diz: “ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6). Maria, por sua vez, na qualidade de Mãe de Deus, Redentor de todos os homens, é designada a ser medianeira universal subordinada ao seu Filho, ou seja, por Ele e com Ele a Virgem Maria exerce o papel de mediadora entre Deus e os homens, mas particularmente entre seu Filho e nós. [14]
“Se é verdade, e o é muitíssimo, que ninguém vai ao Pai senão por meio de Cristo, assim também é verdade que ninguém vai a Cristo senão por meio de Maria” [15]
Sem ela nós não O teríamos. De fato, é por meio dela que alcançamos de Nosso Senhor as graças que precisamos e Maria é quem as distribui aos membros do Corpo Místico de Cristo, verdade que a Igreja declara pelo título “Dispensadora de todas as graças”, pois dela recebemos todos os bens que nos são concedidos por Jesus Cristo. [16]
A realeza universal de Maria encontra seu fundamento na realeza de Jesus Cristo, na sua participação nos mistérios da Encarnação e Redenção. Os títulos de rainha, soberana e senhora foram dados a Maria porque o Homem-Deus que ela deu à luz, é o Rei do Universo, Senhor e soberano de todas as coisas. A mãe do rei é rainha, participa em certa medida da sua soberania.
A Missão de Maria Santíssima
Ensina São Luís no Tratado da Verdadeira Devoção que Deus quis servir-se de Maria na Encarnação e ainda quer servir-se dela na santificação das almas [17], pois tendo se cumprido em Maria perfeitamente as palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2, 20). A Virgem Santíssima tem a missão de formar Jesus Cristo nos eleitos. Esta é a razão pela qual necessitamos do seu auxílio e precisamos recorrer a ela em todas as situações e circunstâncias da vida.
A devoção e culto a Maria Santíssima tem apenas um único fim, levar os homens a uma união íntima com Jesus Cristo para que possam se salvar. “Nossa perfeição consiste em estarmos unidos a Jesus Cristo pela graça”. E a graça está em Maria, de todas as criaturas, a mais unida a Jesus, consequentemente a nossa união a Maria Santíssima é a medida de união a Jesus Cristo. [18]
O próprio Senhor foi quem nos entregou a Virgem Maria por mãe, do alto cruz disse Jesus ao discípulo amado: “Eis a tua mãe!” (Jo 19, 27). Naquele momento João representou todos os homens que desejam se unir a Nosso Senhor, mas para que esta união se faça como Ele deseja indicou-nos um caminho: a Virgem Santíssima. Deste modo, não há nada a temer, sabemos que Maria Santíssima não é deusa, mas é a Mãe de Deus, a veneramos com especial devoção convictos de que quanto mais íntima for a nossa união a ela, tanto mais Jesus Cristo viverá em nós, e tanto mais abundante será em nós a graça divina. [19]
Clique aqui para fazer sua matrícula no novo curso do Padre Alex: Catequeses Marianas.
Referências
[1] CIC 490.
[2] São Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018, p. 13.
[3] Ibid, p. 20.
[4] Pe. Gabriel Roschini, O.S.M. Instruções Marianas. Rio Grande da Serra, SP: Realeza, 2021 p. 16.
[5] CIC 490.
[6] Pe. Gabriel Roschini, O.S.M. Instruções Marianas. Rio Grande da Serra, SP: Realeza, 2021 p. 61.
[7] Ibid, p. 61, 62.
[8] Ibid, p. 64.
[9] Suma Teológica, I part. XXV. Art VI.
[10] Pe. Júlio Maria de Lombaerde. O segredo da verdadeira devoção para com a Santíssima Virgem. Campinas, SP: CEDET, 2020, p. 37, 38.
[11] Pe. Gabriel Roschini, O.S.M. Instruções Marianas. Rio Grande da Serra, SP: Realeza, 2021 p. 64.
[12] Mãe de Deus.
[13] CIC 971.
[14] Pe. R. Garrigou-Lagrange. A mãe do Salvador e Nossa Vida Interior, Campinas, SP: CEDET, 2017, p. 161.
[15] Pe. Gabriel Roschini, O.S.M. Instruções Marianas. Rio Grande da Serra, SP: Realeza, 2021 p. 15.
[16] Pe. R. Garrigou-Lagrange. A mãe do Salvador e Nossa Vida Interior, Campinas, SP: CEDET, 2017, p. 163.
[17] São Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018, p. 17, 19.
[18] Pe. Júlio Maria de Lombaerde. O segredo da verdadeira devoção para com a Santíssima Virgem. Campinas, SP: CEDET, 2020, p. 56.
[19] Ibid.