Traduzido de "Why You Should Go to Confession This Lent". Padre William Casey.
A quaresma é o tempo do ano em que Deus nos convida a preparar os nossos corações e a purificar as nossas almas para que possamos receber Nosso Senhor em Sua vinda gloriosa na Páscoa. Não há tempo para demoras. A Bíblia diz: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6, 2)
Durante este período, todo dia, nós devemos tentar fazer um bom exame de consciência, perguntando a nós mesmos:
- Tem alguma coisa que eu possa fazer para me aproximar mais de Deus?
- Existe algo que eu possa fazer para conhecer Deus melhor e para amá-Lo mais?
- Existe alguma maneira de eu aumentar meu desejo de oração?
- Existe alguma maneira de eu reacender o fogo do amor divino que pode ter se apagado na minha vida?
- Será que eu posso, de alguma maneira, me livrar da pequenez espiritual, a indiferença espiritual na qual eu me encontro em boa parte do tempo?
- Existe algo de que eu posso abrir mão?
- Existe algo na minha vida agora que não esteja agradando ao Deus Todo-Poderoso?
- Estou me apegando a algum pecado?
- Existe algum pecado habitual que esteja separando meu coração da adorável graça de Deus?
- Tem alguma coisa que eu preciso confessar?
- Estou crucificando Nosso Senhor de novo com os meus pecados?
Mais ainda, nós devemos rezar todo dia:
Senhor, que haja menos de mim e mais de Vós. Que eu diga não à minha vontade e sim à Vossa. Deus, dai-me a graça de amar a Vós mais hoje que ontem e mais amanhã que hoje.
A pequena Jacinta, vidente de Fátima, disse esta verdade desafiadora: “se os homens soubessem o que é a eternidade, certamente fariam todos os esforços possíveis para mudar de vida.” Com isso em mente, vamos conhecer mais da graça extraordinária que Deus nos concede no Sacramento da Confissão para ajudar-nos na jornada da santificação.
Esteja sempre atento!
Nosso Senhor nos avisou nos Evangelhos para ficarmos atentos. Nós devemos ficar em guarda, o que significa manter nossas almas em estado de graça porque nós nunca sabemos o dia ou a hora que Ele virá.
Para nos ajudar, o Senhor Todo-Poderoso nos deu o grande dom de Sua Misericórdia no Sacramento da Penitência. Tornou-se dolorosamente evidente para mim, tanto por experiência pastoral pessoal quanto por dados de pesquisa, que a vasta maioria dos católicos no nosso país desistiu da prática da confissão sacramental há muito tempo. Isto é verdadeiramente uma tragédia. Acima de tudo, o sacramento da Penitência é o meio ordinário para o perdão dos pecados mortais cometidos depois do Batismo. Mas é também um verdadeiro tesouro de graças e de força espiritual para nós, em nossa luta diária contra o pecado e a tentação.
O Papa Pio XII disse muitas vezes que o grande pecado de nossa época é, na verdade, a negação do pecado. “Pecado” se tornou um palavrão que nós não queremos mais mencionar, nem mesmo no púlpito. Não te parece estranho que, quanto mais pecado há no mundo, tanto menos os católicos (clero, teólogos e leigos) parecem falar dele? Isso é uma insanidade teológica. Pior, é suicídio espiritual. Existe apenas uma única coisa que pode nos separar de Deus, e ela é o pecado mortal. Esconder essa realidade do pecado é, posto de modo bem simples, jogar o jogo do diabo. É cair na sua armadilha.
Recordo-me das palavras de São Paulo: “De fato, vai chegar um tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina e se cercarão de mestres conforme seus desejos, quando sentem coceira no ouvido” (2Tm 4, 3). Este dia chegou. A maior parte das pessoas hoje vê as diversões da vida como mais importantes que a eternidade. Não queremos ouvir a verdade porque a verdade nos faz sentir desconfortáveis — porque a verdade às vezes exige a mudança das vidas, das mentes e dos corações em direção a Deus e aos irmãos.
Arrependimento Bíblico
Quando Jesus chamou os Doze Apóstolos e começou a enviá-los para pregar, Ele lhes deu autoridade e poder para curar os doentes, para levantar os mortos e para recuperar a vista aos cegos, o poder de expulsar demônios e de fazer os aleijados andar - o poder, ou seja, para trazer cura a todo sofredor. Mas o Evangelho também nos diz que, apesar dessa autoridade impressionante, a missão mais importante que Cristo deu aos Apóstolos foi a de pregar a necessidade de arrependimento. “Arrependimento” é uma das palavras mais importantes e mais usadas na Sagrada Escritura inteira.
As primeiras palavras de Jesus, quando começou Seu ministério público, foram: “Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4, 17). E Nosso Senhor disse aos Apóstolos que, em qualquer lugar onde as pessoas se recusassem a ouvir essa palavra e praticá-la, eles deviam sair do lugar e sacudir a poeira de seus pés em testemunho contra tais pessoas (Mt 10, 14). Todo mensageiro enviado por Deus, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, foi enviado para pregar uma mensagem de arrependimento. Ninguém pode ser discípulo de Cristo, ou mesmo reivindicar o nome de “cristão”, a menos que esteja disposto a arrepender-se de seus pecados.
O que é o arrependimento?
Do que estamos falando quando falamos de arrependimento? Primeiro, e mais simplesmente, arrepender-se quer dizer reconhecer a realidade do pecado pessoal na sua vida — e afastar-se dele. Significa tirar da sua vida o pecado e transformá-la conforme a Vontade de Deus, mesmo quando a Vontade de Deus não se ajusta às suas opiniões.
Em segundo lugar, arrepender-se quer dizer buscar a amorosa misericórdia de Deus com um espírito de contrição sincera. Contrição é mais que um pesar pelo pecado. Existem três elementos para uma contrição verdadeira: 1) pesar pelos pecados cometidos; 2) ódio a todo e qualquer pecado, inclusive aos cometidos; 3) e um firme propósito de emenda, o que quer dizer que você pretende tentar, com o auxílio da graça de Deus, não cometer os mesmos pecados no futuro.
Em terceiro lugar, arrepender-se significa aceitar a Palavra e a Lei de Deus, bem como tomá-las como seu modo de vida. É pôr a fé em prática. Nós somos salvos pela fé que atua através do amor. A salvação não é somente pela fé; e nunca foi. O Apóstolo São Tiago escreveu: “Assim também a fé: se não se traduz em obras, por si só está morta” (Tg 2, 17). A nossa fé deve ser uma fé viva. Não pode ser inativa ou moribunda. Com Deus, não é assim.
Por último, arrepender-se significa fazer penitência. Quer percebamos ou não, até mesmo os nossos pecados mais escondidos perturbam, de algum modo misterioso, a ordem inteira da criação de Deus. Eles causam uma diminuição da graça no Corpo Místico de Cristo. Deus espera que nós façamos atos de reparação pelos danos que nossos pecados causam a Ele e aos irmãos.
Nenhum de nós vai chegar à visão de Deus no Paraíso a menos que sejamos humildes o suficiente para admitir que somos pecadores com necessidade da Misericórdia de Deus. Não há exceções. Não deveríamos sentir vergonha ou medo de admiti-lo, porque a Bíblia diz que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3, 23).
O Sacramento da Penitência
Jesus disse aos Apóstolos no Jardim do Getsêmani: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). Todos nós sentimos o poder de atração do pecado em nossas vidas. Todos nós temos que lutar para controlar as nossas paixões desordenadas. Sempre há o perigo de ceder à tentação e cair no pecado mortal num momento de fraqueza. Portanto, existe uma necessidade sempre presente de arrependimento nas nossas vidas.

É por isso que Nosso Senhor, em Sua infinita sabedoria, deu-nos o sacramento de Sua Misericórdia, o Sacramento da Penitência! Ele o deu a nós naquele primeiro Domingo de Páscoa, quando apareceu aos Apóstolos no Cenáculo depois da Ressurreição, um momento decisivo na história da Igreja. O Evangelho de São João nos conta isso: “Soprou sobre eles e falou: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 22-23).
Todo católico deveria memorizar esses versículos. Nós deveríamos conhecê-los de cor, para que possamos responder com prontidão sempre que a nossa fé é questionada neste ponto. O Evangelho nos mostra claramente que Jesus deu aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados em Seu nome. Mas - e isto é importante - Ele não lhes deu o poder de ler as mentes! Como poderiam os discípulos saber quais pecados perdoar e quais pecados reter, se ninguém se confessasse? Nós temos a prática da confissão sacramental porque nos foi transmitida pelos Apóstolos, por determinação de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É por isso que a confissão, de um modo ou de outro, tem sido a prática cristã desde o começo.
Transformação Interior
Veja, Jesus nos deixou este sacramento porque Ele sabia muito bem o que o pecado e a culpa podem fazer com a alma humana. Eles podem destruir a alma humana — separá-la de Deus. Eles podem conduzir uma pessoa ao desespero. Deus sabe que nós precisamos ter uma forma de nos libertar do pecado e da culpa, porque eles podem nos roubar a paz interior e a alegria que, como cristãos, deveriam ser nossas — paz e alegria que vêm da consciência limpa perante Deus.
O espírito humano precisa estar em paz com Deus, e nós precisamos estar em paz conosco mesmo. Precisamos ter certeza de que Deus nos perdoou. Precisamos conseguir experimentar o amor misericordioso de Deus, quando ele toca as nossas vidas. Haverá momentos em nossas vidas, e nós sabemos bem, em que teremos que recomeçar espiritualmente; vamos ter que deixar o passado no passado e começar de novo. Quando nós fizermos isso, vamos precisar ser fortalecidos pela graça de Deus para evitar os mesmos pecados no futuro. É desse modo que o sacramento da Confissão ajuda a nos transformar interiormente.
A Confissão conduz à Santidade
A beleza do sacramento da Penitência é que, sempre que você confessa seus pecados da melhor forma e com a melhor memória - quando você não omite nada, está arrependido de verdade e tem um firme propósito de mudança -, você sempre sai do confessionário com a garantia do perdão completo de Deus.
Muitas pessoas se preocupam desnecessariamente com os pecados que talvez tenham esquecido na Confissão. Mas a mente humana não é como a de um computador, que pode acessar todos os dados que precisa a qualquer momento. A nossa memória está ferida com a nossa natureza decaída. Quando você faz uma boa confissão, todos os seus pecados são perdoados, desde que você tenha um coração contrito. Deus enxerga o interior do coração. Se, mais tarde, você se lembrar de algum pecado que você esqueceu de confessar, leve-o na sua próxima Confissão. É simples assim.
A ideia central é evitar o pecado mortal completamente e buscar uma verdadeira santidade de vida! O objetivo é tornar-nos santos! Aqueles que caíram nesta mentalidade complacente se esqueceram do poder da graça sacramental — que ela é uma barreira efetiva contra os pecados e que é um meio muito efetivo para a santidade pessoal.
É por Seu infinito amor por nós que Deus ordena que nós façamos uso do sacramento da Penitência. É neste sacramento que nós entregamos o passado à misericórdia de Deus, o presente ao Seu amor e o futuro à Sua providência.