Liturgia

Ressurreição, a maior alegria da história!

A Ressurreição nos convida a depositar toda a nossa esperança em Jesus. Ele dissipou as trevas do nosso pecado e conquistou para nós uma nova vida.

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Nas primeiras décadas da Igreja, São Paulo escreveu duas cartas aos coríntios. Elas foram inspiradas pelo Espírito Santo e constam na Bíblia. Na primeira delas, ele aborda o tema da Ressurreição com palavras muito fortes.

Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã é a nossa fé. (1Cor 15, 14)

Essa é uma verdade que a Igreja sempre defendeu. Se Cristo não tivesse ressuscitado, a Igreja seria semelhante a um clube social reunido em torno da memória de um homem bom. A nossa fé seria, então, vazia.

Você compreende a importância deste mistério? A Ressurreição comprova que Jesus não é apenas um sábio, que, tendo deixado ideias e instituições, morreu como todos. Ele é muito mais! É por isso que chamamos Jesus de Senhor. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

A Ressurreição constitui antes de mais nada a confirmação de tudo que o próprio Cristo fez e ensinou. [1]  

A Ressurreição é a maior alegria das nossas vidas. O Senhor Jesus está vivo, presente e atuante no meio de nós. Ressuscitado, Cristo nos abriu as portas para uma nova vida. Fomos, então, vivificados.

Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva. (1Pd 1, 3)

Neste artigo, vamos meditar sobre esta grande alegria. O nosso objetivo é convidar você a entrar em maior intimidade com o Senhor. Primeiro, vamos meditar sobre a alegria da Ressurreição. Depois, com base num trecho do Evangelho de São Lucas, vamos pensar sobre a nova vida que recebemos. Em seguida, veremos que a Páscoa não é somente um dia. Ela é uma alegria que se estende por cinquenta dias! Por fim, deixaremos um convite à oração.

Uma grande alegria

A Ressurreição de Jesus foi a verdade central que a Igreja viveu em seus primeiros dias. Antes de ser escrita no Novo Testamento, ela foi transmitida pela tradição viva da Igreja.  Veja o que São Paulo escreveu por volta do ano de 56:

Eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras. (1Cor 15, 3-4)

Que Escrituras eram essas? Não podiam ser as do Novo Testamento, que ainda não havia sido totalmente escrito. Eram as promessas que Deus fez no Antigo Testamento. São Paulo estava, explicando que a Ressurreição cumpriu o que os israelitas esperavam.

A Ressurreição de Cristo é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento e do próprio Jesus durante sua vida terrestre. A expressão “segundo as Escrituras” indica que a Ressurreição de Cristo realiza essas predições. [2]

A alegria da Igreja foi enorme, mas não foi imediata. Quase todos os discípulos tiveram dificuldade de crer. Eles tinham ficado tão abalados com a Paixão que, quando o Ressuscitado apareceu para eles, ainda assim continuaram duvidando. Esse fato nos ensina que a fé é um dom de Deus. É preciso pedir fé.

Mesmo confrontados com a realidade de Jesus ressuscitado, os discípulos ainda duvidam, a tal ponto que o fato lhes parece impossível. [3]

Hoje em dia, passados muitos séculos, nós temos dificuldade de sentir o impacto do anúncio da Ressurreição. Primeiro, as mulheres deram o seu testemunho aos Apóstolos. Elas foram ao sepulcro, que estava vazio. Ouviram, então, um Anjo dizer-lhes que Jesus havia ressuscitado. Depois o próprio Jesus apareceu primeiro a Pedro e, em seguida, aos Doze.

apareceu a Cefas [ou Pedro] e, depois, aos Doze (1Cor 15, 5)

É preciso estar atento para o sentido espiritual da presença do Anjo. Assim como, na Encarnação, um Anjo anunciou a Maria, agora um Anjo anuncia a Ressurreição às santas mulheres. É uma solenidade muito grande.

Esta presença angélica tem um significado: dado que quem anunciara a Encarnação do Verbo fora um anjo, Gabriel, assim também para anunciar pela primeira vez a Ressurreição não era suficiente uma palavra humana. Era necessário um ser superior, para comunicar uma realidade tão surpreendente, tão incrível, que talvez nenhum homem teria ousado pronunciá-la. [4]

Uma Vida Nova

A Ressurreição nos convida a depositar toda a nossa esperança em Jesus. Ele dissipou as trevas do nosso pecado e conquistou para nós uma nova vida. Todo dia nós podemos recomeçar, sem o peso esmagador do passado.

Ele está vivo e ainda hoje passa, transforma e liberta. Com Ele, o mal já não tem poder, o fracasso não pode impedir-nos de recomeçar, a morte torna-se passagem para o início duma nova vida. [5]  

Mas como podemos viver esta nova vida? Essa é uma pergunta muito pertinente. Toda a vida da Igreja se orienta em torno da Ressurreição. Se Jesus não tivesse ressuscitado, não haveria sacramentos nem santidade.

Aparição de Jesus às três Marias, pintura de Laurent de La Hyre.

Para viver a nova vida, é preciso ter um encontro pessoal com Cristo. Ele está vivo em Sua Igreja. O relato dos discípulos de Emaús talvez seja uma boa leitura para o tempo pascal. Ele nos oferece algumas inspirações.

Você se recorda dos discípulos de Emaús? Eram dois discípulos que iam ao povoado de Emaús, perto de Jerusalém. Eles estavam atordoados com a Paixão. Jesus os visitou, caminhou com eles, mas não foi reconhecido. Ao longo do percurso, o Senhor foi abrindo-lhes o sentido das Escrituras.

Começando por Moisés e passando por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, o que se referia a ele. (Lc 24, 27)

Em seguida, os discípulos convidaram Jesus para ficar com eles. Veja a importância do contato pessoal! O Senhor aceitou e ficou com eles. À mesa, puderam reconhecer o Senhor quando Ele partiu o pão.

Depois que se pôs à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles. Então os olhos deles se abriram e o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. (Lc 24, 20-31)

É um gesto que nos leva a pensar na Eucaristia. Se estivermos em estado de graça, devidamente confessados, comungar bem vai ajudar a aumentar a nossa intimidade de vida com o Senhor Ressuscitado.

Como os dois discípulos reconheceram Jesus ao partir o pão, hoje, ao partir o pão, também nós reconheçamos a sua presença. [6]

É bonito observar que a caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús se desenvolve conforme a estrutura básica da santa missa. Primeiro, a Palavra de Deus é proclamada. Depois, o Pão da Vida é partilhado.

A estrutura do episódio de Emaús reflete a estrutura da liturgia eucarística, em que Jesus se dá à Igreja na palavra e nos sacramentos, na proclamação da Escritura e no Pão da vida eucarístico. [7]

A sabedoria da Igreja é muito grande. Quem quiser viver a nova vida que a Ressurreição nos traz vai encontrar alimento na meditação da Palavra de Deus e na Eucaristia. O estudo e a meditação da Bíblia nos ajudam a participar bem da santa missa, entendendo melhor a liturgia.

Um Tempo de Alegria

Toda semana a Igreja dedica um dia (o domingo) para celebrar a Ressurreição. Além disso, ela nos propõe um tempo litúrgico específico para que nós possamos meditar mais a fundo sobre o mistério da Ressurreição. É o tempo pascal.

Na Igreja tudo se compreende a partir deste grande mistério, que mudou o curso da história e que se torna atual em cada celebração eucarística. Mas existe um tempo litúrgico no qual esta realidade central da fé cristã, na sua riqueza doutrinal e inexaurível vitalidade, é proposta aos fiéis de modo mais intenso, para que cada vez mais a redescubram e mais fielmente a vivam:  é o tempo pascal. [8]

A alegria da Ressurreição se estende por todo o período pascal. É como se fosse um único dia, um grande domingo. A alegria se prolonga, dia a dia. São cinquenta dias, até a Solenidade de Pentecostes.

A celebração da Páscoa continua durante o tempo pascal. Os cinquenta dias que vão do domingo da Ressurreição ao domingo de Pentecostes são celebrados com alegria como um só dia festivo, antes como “o grande domingo” [9]

Ressuscitados com Cristo

Nossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl 3, 3). Não vivemos para nós, mas para Ele. Fomos unidos ao Senhor pelo Batismo e, com Ele, queremos ressuscitar para a Vida Eterna.  

Graças ao Espírito Santo, a vida cristã é, já agora na terra, uma participação na morte e ressurreição de Cristo. [10]

Que neste tempo de alegria nós possamos levar, com a nossa oração, a luz de Cristo para os entristecidos, os amargurados, para todos aqueles que esperam por Cristo sem ainda conhecê-lO.

Que Nossa Senhora interceda por nós!

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica, 651.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 652.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 644.

[4] Papa Francisco. Regina Coeli. 02 de abril de 2018.  

[5] Papa Francisco. Homilia da Vigília Pascal da Noite Santa. 16 de abril de 2022.

[6] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 26 de março de 2008.

[7] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Lucas: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p 127.

[8] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 26 de março de 2008.

[9] Congregação para o Culto Divino. Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis”. A Preparação e Celebração das Festas Pascais. 16 de janeiro de 1988. n.100.

[10] Catecismo da Igreja Católica, 1002.