Espírito Santo
Doutrina
Teologia

Sete Símbolos do Espírito Santo

O Espírito Santo é a alma da nossa alma, é o laço de amor entre as Pessoas da Trindade. Precisamos conhecê-lo e amá-lo, pois é Ele quem opera em nós a obra da santificação.

Compartilhar Oração

Quando ouvimos falar de Deus Pai, pensamos em um homem idoso e barbudo sentado entre as nuvens. Quando ouvimos falar de Deus Filho, lembramos das muitas imagens que representam a humanidade de Cristo, mas e quando ouvimos falar do Espírito Santo? Geralmente pensamos em uma pomba, mas porque? E que outras figuras e sinais podemos usar para representar o Espírito de Deus?

Vamos lançar um olhar sobre sete figuras ou sinais do Espírito Santo presentes na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, para compreendermos também melhor, como a terceira pessoa da Santíssima Trindade age em nós.

Ao contemplar esses sinais do Espírito Santo, você vai perceber que muitos são quase que contraditórios e paradoxais, isso acontece porque o Espírito, sendo Deus, não pode ser reduzido a esses símbolos, mas os transcende infinitamente, e os símbolos nos ajudam a compreender alguns aspectos d’Ele e sua ação em nós.

A Pomba Branca

A pomba branca é geralmente a imagem do Espírito Santo que vem logo à nossa mente, mas porque essa figura? A primeira vez que ela aparece na Escritura é no Gênesis, sendo o animal que traz o ramo de oliveira para a Arca de Noé (Cf. Gn 8,8-12), simbolizando esperança e o renascimento após a purificação pelas águas. Ela aparece novamente nos quatro Evangelhos quando o Senhor Jesus é batizado nas águas do rio Jordão e o Espírito Santo aparece na forma de uma pomba branca sobre ele (Cf. Mt 3,16; Mc 1,10; Lc 3,22; Jo 1,32), novamente associando a pomba ao símbolo da purificação pelas águas.

Além da simbologia bíblica vemos que a pomba é um animal extremamente dócil, representando como aqueles tocados pelo Espírito são dóceis a Deus. A cor branca representa a pureza e o aspecto divino. Sabemos também que as pombas foram por muito tempo usadas para a comunicação, o famoso “pombo correio”, por serem animais com um ótimo senso de localização, da mesma forma que o Espírito de Deus nos dá a direção para a vida e é a nossa comunicação com Deus, como Ele “ora em nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).

O Ganso Selvagem

Segundo a tradição cristã celta, o Espírito Santo é como um ganso selvagem. Os gansos, ao contrário das pombas, são criaturas impetuosas, barulhentas, imprevisíveis e valentes. Como isso se parece com o Espírito de Deus? Na narrativa de Pentecostes diz-se que “veio do céu um ruído, como um vento impetuoso”(At 1,2) e que após a vinda do Espírito sobre os apóstolos, daqueles que os ouviram “se apoderou o temor” (At 1,43). Ou seja, esse Ganso Selvagem causa grande temor e tremor, ruído e barulho, Ele é ainda imprevisível, como diz o Senhor sobre o Espírito: “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3,8), Ele não é pra ser domesticado, usado para fins pessoais, nem pode ser domado para seu próprio benefício, tal como um ganso selvagem.

Ainda uma história antiga diz que alguns soldados romanos adormecidos foram alertados da presença invasora de inimigos por um grupo de gansos selvagens que fizeram muito barulho, acordando os soldados. Então a tradição diz que nós adormecidos em nossa própria tibieza, somos acordados pelo “barulho” do Espírito Santo que nos alerta para os perigos do mundo e chama para a vida em Cristo, representando também a coragem e a luta contra o pecado.

A Torrente de Amor

A água é um símbolo muito frequente do Espírito Santo e da Graça potente de Deus, desde o Gênesis: “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2), depois no dilúvio como as águas que vieram para purificar as criaturas (Cf. Gn 7,17-24), como o Mar Vermelho que se abre para a libertação do povo de Israel e para a morte do faraó e seu exército (Cf. Ex 14, 21-31), ainda como a água que jorra da pedra para saciar o povo de Deus no deserto (Cf. Nm 20, 7-11) e no Novo Testamento na água viva que o Senhor Jesus oferece à Samaritana (Cf. Jo 4,10-14) e nas águas batismais que jorram do lado aberto de Cristo na cruz (Cf. Jo 19,34).

Quantas vezes não nos sentimos vazios, como se um buraco infinito estivesse em nosso peito, um anseio por amar e ser amado. São Paulo nos dá a resposta em sua carta: “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). De fato, o Espírito Santo é esse amor de Deus, são as torrentes da água viva do amor que Deus envia para saciar nossa sede, “o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede” (Jo 4,14). Como um rio caudaloso ou uma grande cachoeira, o amor de Deus quer se derramar em nós, preencher o buraco em nosso peito. Se apenas derrubarmos nossas represas, esse Amor pode nos saciar a sede.

O Fogo que consome

O fogo sempre foi um símbolo de Deus, que fez uma aliança com Abraão, consumindo nas chamas suas oferendas (Gn 15,17); que fala a Moisés na sarça que queima e não se consome (Ex 3,2); que guia o povo de Israel como uma coluna de chamas em meio à noite (Ex 13,21); que aparece como “fogo consumidor sobre o cume do monte” quando Moisés vai receber as tábuas da Lei (Ex 24,17); como chama que consome completamente o holocausto apresentado por Elias (I Rs 18,38) e no Novo Testamento aparece na fala de São João Batista sobre Cristo “ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16), e como o próprio Senhor Jesus define sua missão “Eu vim lançar fogo à terra” (Lc 12,49); por fim como as línguas de fogo que descem sobre os discípulos reunídos em pentecostes (At 2,3).

O fogo queima e consome, fere e mata, mas também provê luz, calor, cozinha os alimentos e reúne os homens desde os primórdios da civilização. O Espírito de Deus fere nosso amor próprio, fere com a dor do Amor, e nos purifica, como diz são Pedro que a fé, como o ouro,“não deixamos de provar ao fogo” (I Pd 1,7), e também nos reúne em um só coração e uma só alma (Cf. At 4,32) e nos guia como luz e lâmpada em meio à noite escura do mundo. São João da Cruz, em uma de suas poesias místicas fala do Espírito Santo como a Chama viva de Amor:

Oh! Chama de amor viva que ternamente feres de minha alma no mais profundo centro! [1]

A Nuvem Luminosa

Enquanto o povo de Israel caminhava no deserto, o Espírito de Deus se manifestava durante o dia como uma grande nuvem, que provia sombra e frescor para o povo  (Ex 13,21), Deus também manifesta a sua presença diversas vezes, falando a partir de uma nuvem luminosa, a Moisés ao enviar o maná para alimentar o povo (Ex 16,10-11), novamente a Moisés no Monte Sinai (Ex 19,9) e entregando os dez mandamentos, após (Ex 24,15-18), a nuvem cobria a tenda do encontro, onde Deus habitava em meio ao povo de Israel (Ex 33,9) e encheu o templo construído por Salomão depois de sua consagração (I Re 8,10), já no Novo Testamento, uma nuvem com a voz de Deus aparece no Batismo do Senhor (Lc 3,22) e novamente em sua Transfiguração sobre o monte (Lc 9,34) e em sua Ascensão, Jesus é ocultado por uma nuvem.

A nuvem é algo intermediário entre o céu e a terra, ela oculta e provê sombra. Só podemos olhar para o sol através das nuvens, da mesma forma que o Espírito Santo “oculta” a Glória de Deus para que possamos contemplar apenas aquilo que nossas mentes humanas são capazes de compreender. A nuvem também dá um frescor e sombra, o descanso em meio ao trabalho árduo desta vida, nos alegrando como a sombra do pé de mamona que Deus fez crescer para cobrir e descansar Jonas, o revigorando para sua missão de profecia (Jn 4,6).

O Sopro de Vida

Difícil de ser representado artisticamente, o vento ou sopro de Deus é o sinal da presença do Espírito Santo em Pentecostes “veio do céu um ruído, como um vento impetuoso”(At 1,2) e também mostra a presença do Espírito de Deus, em hebraico “Ruach” ou “sopro” no ato criador de Deus ao dar a vida soprando nos pulmões de Adão (Gn 2,7), e também na visão do profeta Ezequiel, que se vendo em meio a um vale de ossos ressequidos profetizou o sopro da vida e “um barulho se fez ouvir, em seguida um ruído ensurde­cedor, enquanto os ossos se vinham unir aos outros” (Ez 37,7), esse sopro de vida vivificante é sinal da presença e ação de Deus “quando eu colocar em vós o meu espírito … Sabereis então que sou eu o Senhor”(Ez 37,14).

Os apóstolos antes de receberem o Espírito em Pentecostes se reuniam às portas fechadas por medo, durante a Igreja primitiva os cristão se reuniam em catacumbas, em meio aos ossos secos, por medo da perseguição, hoje ficamos presos em uma vida espiritual pequena, fria, seca, como um vale de ossos, sem esperança como os discípulos, com medo de nos entregarmos a Deus, uma vida… morta. Busquemos a abertura ao Espírito Santo, como o vento impetuoso que vai reviver os ossos secos, que vai dar coragem para abrir as portas e enfrentar a vida, e acima de tudo Viver plenamente (Cf. Jo 10,10).

O Óleo Sagrado

O óleo é usado em diversas culturas como símbolo de consagração, força, e autoridade. Era usado pelos atletas gregos para cobrir o corpo como sinal de preparação física, era usado pelos egípcios em seus rituais mais sagrados, também era um remédio muito comum, para ajudar na cicatrização de feridas e evitar a contaminação. No Antigo Testamento o óleo é usado para ungir a cabeça dos sacerdotes (Ex 29,7), reis como Saul (I Sm 10,1), e Davi, “o Espírito do Senhor apoderou-se dele” (I Sm 16,13), também a Salomão (I Rs 1,39). O óleo também é usado para consagrar a Arca da Aliança e seus objetos sagrados (Ex 30,24-29). O profeta Isaías prenunciando as palavras de Jesus diz “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção” (Is 61,1; Lc 4,18).

Nós recebemos nos sacramentos três óleos distintos, representando as diferentes ações do Espírito Santo enquanto unção de Deus: no Batismo recebemos o óleo dos Catecúmenos que representa essa força e preparação física para a luta da vida em Cristo. Também no Batismo e de novo no Crisma e nas Ordenações, podemos ser ungidos com o Santo Crisma, um óleo que representa a consagração a Deus como aos Reis e sacerdotes, também este óleo é usado na consagração de altares para a celebração da missa. Por fim, o óleo dos enfermos citado por São Tiago (Ti 5,14-15) é essa unção de cura, fortalecimento, cicatrização e consolo que se faz presente no sacramento da Unção dos Enfermos.

O Espírito em nossa vida

O Espírito Santo age através dos sacramentos, mas também age de forma mais pessoal em nossas vidas não só nos grandes momentos, mas no dia a dia, na fidelidade com as pequenas coisas. Saibamos nos abrir e pedir o auxílio do Espírito Santo:

-Vinde Espírito Santo, como pomba para nos tornar mais dóceis à vontade de Deus;

-Vinde Espírito Santo, como ganso selvagem para nos alertar dos perigos para a alma;

-Vinde Espírito Santo, como água torrencial para nos encher do Amor de Deus;

-Vinde Espírito Santo, como fogo para queimar em nós tudo que não agrada a Cristo;

-Vinde Espírito Santo, como nuvem para nos aliviar o cansaço da cruz diária;

-Vinde Espírito Santo, como vento para soprar em nós nova vida em Cristo;

-Vinde Espírito Santo, como óleo para nos fortalecer, curar e consagrar.

-Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém!

Referência

[1] S. João da Cruz. Obras Completas. Ed. Vozes (Petrópolis, 1984) p. 827