Sagradas Escrituras
Protestantismo
Igreja Católica

04 Interpretações fundamentalistas da Bíblia que você deve evitar

Saiba dar a razão da sua fé diante de acusações falsas com base nas Sagradas Escrituras

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Não é fácil entender a Bíblia. São Jerônimo ensinava que, sozinhos, nunca poderemos ler a Bíblia porque encontramos muitas portas fechadas e caímos facilmente no erro. [1] Essa é uma verdade sempre atual.

Mas a Igreja, que é Mãe e Mestra, não nos deixa sozinhos. Dela recebemos os critérios adequados para ler e interpretar a Bíblia, sem acréscimos ou diminuições. Ela é “coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tm 3, 15).

Hoje apresentamos alguns temas bíblicos que causam mal-entendidos fora da Igreja.

Imagens e Idolatria

Qual a diferença entre uma imagem e um ídolo?

Uma imagem aponta para Deus, ou para a obra de Deus em uma criatura. Fazemos imagens de santos, e o próprio Deus determinou que fosse feita imagens de querubins na Arca da Aliança:

Farás dois querubins de ouro. (Ex 25, 18)

O templo de Salomão, em Jerusalém, era decorado com imagens:

Salomão revestiu os querubins de ouro. Mandou também esculpir, em todas as paredes ao redor do templo, por dentro e por fora, entalhes de querubins, palmeiras e flores abertas. (1 Rs 6, 28-29)

Jesus caminhava com os apóstolos nesse templo (Jo 10, 23). A produção de imagens era e continua a ser uma forma de glorificar a Deus. Mas a produção de ídolos, não. Por isso, a Bíblia proíbe a confecção de ídolos:

Não farás para ti qualquer ídolo ou figura do que existe em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. (Ex 20, 4)

Então, podemos (e devemos) nos perguntar: o que é um ídolo?

O ídolo é uma criatura que ocupa o lugar de Deus. É um falso deus. Se a imagem (de santos, de anjos, de Nossa Senhora, ou do próprio Cristo ) aponta para Deus e Sua obra, o ídolo, ao contrário, aponta para si mesmo. Exige, por assim dizer, a adoração que cabe somente a Deus.

As imagens funcionam como uma fotografia que nos ajudam a rezar para Jesus, Maria ou para algum Santo, que estão no Céu, junto de Deus. Nenhum fiel verdadeiramente católico acredita que uma imagem de Nossa Senhora, por exemplo, é a pessoa de Maria, e muito menos acham que a imagem (e a pessoa de Maria) é o próprio Deus. Isso é tão claro!

Quando nós, católicos de todas as épocas, prestamos veneração às imagens, dirigimo-nos a quem a imagem representa. Não se trata de idolatria.

O Batismo de Crianças

Por que a Igreja não deveria batizar crianças?  Toda criança nasce manchada pelo Pecado Original, e é uma grande caridade purificar a alma pelo Santo Batismo. O Catecismo da Igreja Católica transmite este ensinamento com clareza:  

Na linha de São Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens e sua inclinação para o mal são incompreensíveis, a não ser referindo-se ao pecado de Adão e sem o fato de que este nos transmitiu um pecado que por nascença nos afeta a todos e é “morte da alma”. Em razão desta certeza de fé, a Igreja ministra o batismo para a remissão dos pecados mesmo às crianças que não cometeram pecado pessoal. [2]

Para entendermos melhor o batismo das crianças, precisamos compreender o que era a circuncisão, determinada por Deus no tempo do Antigo Testamento.  A circuncisão era um corte no prepúcio, aplicado à criança oito dias após o nascimento. Tratava-se de um sinal da Antiga Aliança com Abraão (Gn 17, 9-14). Jesus, por exemplo, foi circuncidado (Lc 2, 21)

A Igreja entendeu que o batismo veio para ocupar o lugar da circuncisão.  Quem se torna cristão não precisa circuncidar-se, mas sim receber o batismo. Vejamos como o teólogo Scott Hahn aborda este ponto:

O batismo é a contraparte da circuncisão como o rito de iniciação da Nova Aliança. Com o batismo, no entanto, que é administrado para homens e mulheres da mesma forma, a graça do sacramento produz a circuncisão interior do coração que o corte da carne meramente representa. [3]

Foi com esse entendimento do Batismo que os apóstolos batizaram “as casas inteiras”. É bem provável que crianças fizessem parte das casas ou famílias:  

Após ter sido batizada, assim como toda a sua casa. (At 16, 15)

Não seria razoável que os pais privassem seus filhos da graça que é o batismo, já que eles haviam compreendido a tamanha grandeza do privilégio que é ser um verdadeiro católico pelo batismo. Portanto, em toda a tradição, desde os apóstolos, as crianças foram batizadas para viverem desde o princípio de suas vidas na comunhão com Deus.

Os irmãos de Jesus

O Novo Testamento faz muitas menções aos “irmãos de Jesus”, como neste versículo:

Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? (Mt 13, 55)

A Igreja, porém, ensina que Maria permaneceu virgem durante toda a sua vida. Como é possível que existissem irmãos de Jesus?

Não eram irmãos, mas primos ou parentes próximos.

É fácil comprovar isso se lermos um pouco mais à frente. Na Paixão de Jesus, Nossa Senhora esteve ao pé da Cruz. Mas outras mulheres observavam de longe.   A mãe de Tiago e José estava lá. Era uma outra Maria:

Grande número de mulheres estavam ali, observando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. (Mt 27, 55-56)

Perceba também que os chamados irmãos de Jesus nunca são mencionados como filhos de Nossa Senhora e não foi a eles que Jesus confiou Maria, como ensina o teólogo Scott Hahn:

Se os “irmãos do Senhor” fossem na verdade filhos de Maria, é bastante improvável que Jesus tivesse confiado sua mãe aos cuidados do Apóstolo João, como Ele o fez na Cruz (São João, 19, 26-27) [4]

A palavra “irmão” era usada tanto para irmãos biológicos quanto para primos. São Paulo usou essa palavra para referir-se aos seus compatriotas (Romanos 9, 3). Abraão a usou para referir-se ao seu sobrinho, Ló (Gênesis 13, 8). [5]

E o Purgatório, é bíblico?

Certa vez Jesus disse:

Mesmo se alguém falar uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, se falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo que há de vir. (Mt 12, 32)

Isso não lhe será perdoado “ no mundo que há de vir”. Há, então, coisas que são perdoadas no mundo que há de vir. A esse estado da alma a Tradição da Igreja nomeia Purgatório.

Não existe a palavra Purgatório na Bíblia, assim como a própria palavra “Bíblia” não está na Bíblia, entre outras. Porém, o vocabulário e a doutrina foram sendo desenvolvidas, como é natural que aconteça. Mas a fé e o ensinamento estão lá, desde o início, desde Cristo e os Apóstolos.

Em outra passagem, Jesus disse:

Entra em acordo com teu adversário enquanto estás com ele a caminho. Senão ele te entregará ao juiz, o juiz ao guarda, e tu serás lançado na prisão. Em verdade, te digo: não sairás enquanto não pagares o último centavo. (Mt 5, 25-26)

Novamente, temos um estado de alma em que as pessoas pagam suas dívidas. Elas não estão no Céu ainda, nem foram condenadas ao inferno. É o Purgatório:

Uma vez que “nada imundo entra no céu” (Ap 21, 27), primeiramente precisamos ser purificados. A partir da reflexão sobre a Eucaristia, a Igreja sempre ensinou que existe um estado intermediário para aqueles que estão destinados ao céu; é um estado de purificação que a Tradição chama de Purgatório. [6]

Também o apóstolo São Paulo ensina que após esta vida, aqueles que morreram na graça, mas não totalmente purificados, deverão passar pelo fogo, não um fogo eterno, mas um fogo necessário para tornar a alma pura de todas as suas imperfeições.

Se a obra que alguém construiu permanece, receberá a recompensa; se a obra de alguém for queimada, ele será punido, mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo. (1 Cor 3, 14-15)

Entender a Bíblia? Só na Santa Igreja!

Meus irmãos, tenham plena confiança de que toda doutrina oficialmente proclamada pela Igreja não é fruto de opiniões humanas ou da opinião de um ou outro homem, mas da ação direta e iluminadora do Espírito Santo, que conduz a Igreja à plenitude da verdade (cf. São João 16, 13).

É na Igreja de Cristo – que só pode ser Una, Santa, Católica e Apostólica – que a Escritura encontra sua interpretação legítima, pois foi ela mesma que, guiada pelo Espírito, reuniu, preservou e transmitiu pela história os livros sagrados.

Assim, fora da Igreja de Cristo, qualquer leitura da Bíblia corre o risco de ser fragmentada, incompleta e, em alguns casos, fundamentalista. A nossa salvação é individual, mas não é individualista. Todo cristão precisa da Santa Igreja para entender a Bíblia corretamente e, só assim, nós poderemos nos beneficiar daquilo que Jesus nos deixou.

Referências

[1]  Bento XVI, Audiência Geral (14 e Novembro de 2007): Insegnamenti III/2 (2007), 586-591.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 403.

[3] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro do Gênesis: Cadernos de Estudos Bíblicos Campinas, SP: Ecclesiae, 2015.

[4] Scott Hahn. Razões Para Crer. Lorena: Cléofas, 2017. p. 113.

[5] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: cadernos de estudos bíblicos Campinas, SP: Ecclesia, 2020. p. 74

[6] Scott Hahn. Razões Para Crer. Lorena: Cléofas, 2017. p. 127.