Hoje em dia muitas pessoas desconhecem o sentido espiritual da Semana Santa. Fora da Igreja, ela é somente um feriadão. Mas não pode ser assim para nós. A Semana Santa é um tempo de graça, no qual somos chamados a aprofundar nos mistérios da Crucificação, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
Neste artigo nós vamos meditar sobre a importância da Semana Santa. Primeiro, você vai aprender até quando deve continuar fazendo as penitências da Quaresma. Depois, veremos como são o jejum e a abstinência da Sexta-Feira da Paixão. Em seguida, vamos falar do Sábado Santo e percorrer um breve resumo da Semana inteira. Já caminhando para o final, nós vamos propor algumas práticas para enriquecer a sua Semana Santa.
Encerrando a Quaresma
Com o Domingo de Ramos, a Igreja entra na Semana Santa. A Quaresma se encerra quando começa a Missa do Lava-Pés, no entardecer da Quinta-Feira Santa. É justamente o momento em que se inicia o tríduo pascal.
Tríduo é uma palavra que significa “três dias”. O tríduo pascal são os três dias em que a Igreja celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Neles, nós somos chamados a entrar no mistério da passagem de Jesus deste mundo ao Pai.
O ápice de todo o ano litúrgico resplandece na celebração do sagrado tríduo pascal da paixão e ressurreição do Senhor, preparada na Quaresma. [1]
Muito embora a Quaresma termine na tarde de Quinta-Feira Santa, as penitências quaresmais devem ser estendidas até a noite do Sábado Santo. A lógica é que nós fazemos essas penitências justamente para nos preparar para o tríduo pascal.
Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a parte na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao Sábado santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito. [2]
É importante não confundirmos as penitências quaresmais com as penitências da Sexta-Feira da Paixão. Você conhece a diferença entre elas? É o que veremos a seguir.
Jejum e Abstinência
As penitências quaresmais são escolhidas pelo próprio fiel que as pratica. Depois de oferecê-las a Deus, elas se tornam obrigatórias apenas para quem fez o voto temporário. Por isso, quando essas penitências são quebradas, comete-se pecado venial. Nós já meditamos sobre o assunto em outro artigo no artigo “E se eu quebrar a penitência da Quaresma?”
Já o caso das duas penitências da Sexta-Feira da Paixão é bem diferente. É a própria Igreja que estabeleceu o jejum e a abstinência para este dia, e eles são obrigatórios para quase todos os fiéis.
O jejum da Igreja é obrigatório apenas em dois dias do ano litúrgico: a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira da Paixão. Nada impede que o fiel pratique o jejum em outras datas, porém somente é obrigatório nestes dois dias.
Cân. 1251 — Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. [3]
Mas como deve ser o jejum? A Igreja estabelece o mínimo. O fiel deve escolher uma única refeição, para tomá-la normalmente. Ela pode ser o café da manhã, o almoço ou o jantar. Cada um escolhe o que lhe parecer melhor. As outras duas refeições devem ser menores que o normal, como pequenos lanches.
É importante saber que nem todos os fiéis estão obrigados a jejuar na Sexta-Feira da Paixão. Existem grupos de fiéis que estão dispensados do jejum: 1) quem tiver alguma dificuldade de saúde; 2) quem tiver trabalho braçal a fazer neste dia; 3) mulheres grávidas; 4) quem for menor de idade; e 5) quem tiver sessenta anos ou mais.
Além do jejum, existe também a abstinência de carne. Não basta comer menos, como a Igreja nos pede; é preciso também abster-se de ingerir carnes de sangue quente neste dia. Podemos comer peixes, frutos do mar, mas não carnes de boi, porco ou aves. Está dispensado da abstinência de carne somente quem tiver menos de catorze anos.
Cân. 1252 — Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência.
Um Sábado Especial
A Igreja recomenda que o jejum e a abstinência sejam prolongados até o Sábado Santo. Não se trata de um dever, mas de um convite. Este sábado não é um dia qualquer. Nele, a Igreja se recolhe junto do Sepulcro, esperando a alegria da Ressurreição. Trata-se de um dia que nos convida ao silêncio e à oração.
Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, em toda a parte o jejum deve ser observado juntamente com a abstinência, e aconselha-se prolongá-lo também no Sábado Santo, de modo que a Igreja, com o espírito aberto e elevado, possa chegar à alegria do Domingo da Ressurreição. [4]
É bom recordar que não há missas desde a Sexta-feira Santa até a Vigília do Sábado Santo. A Igreja vive um dia de grande recolhimento espiritual. A missa que se celebra no entardecer deste sábado é a missa da Vigília Pascal.
A Semana Mais Importante de Todas
Ao longo da Semana Santa nós vamos acompanhar a passagem de Jesus deste mundo ao Pai. É uma semana intensa, cheia de momentos de profunda espiritualidade. Trazemos aqui um resumo para você se situar melhor:
1. Domingo de Ramos.
É o dia da entrada de Jesus em Jerusalém. O Senhor é aclamado como Rei e Messias.
2. Segunda-Feira Santa.
Jesus visita a casa de Marta, Maria e Lázaro. Nela, o Senhor é ungido com um frasco de perfume, antecipando a Sua sepultura.
3. Terça-Feira Santa.
O Senhor é confrontado pelas autoridades do templo. Ao final do dia, anuncia que será traído.
4. Quarta-Feira Santa.
Judas Iscariotes trama a traição.
5. Quinta-Feira Santa:
Jesus institui a Eucaristia e o Sacerdócio. Nesta noite, o Senhor foi traído por Judas Iscariotes e preso no Horto das Oliveiras.
6. Sexta-Feira Santa.
Paixão e Morte do Senhor.
7. Sábado Santo.
Jesus desce à Mansão dos Mortos.
8. Domingo de Páscoa.
Ressurreição do Senhor.
Arrependimento e Recomeço
Chegamos agora à nossa espiritualidade. A Semana Santa é tempo de graça, de conversão. A Igreja nos convida a abrirmos o nosso coração. Uma boa forma de viver a Semana Santa é fazer uma boa confissão antes do tríduo pascal.
Você já meditou sobre a grande graça que é a Confissão? Nada pode produzir os efeitos na sua alma que a Confissão produz. Talvez uma comparação com o nosso corpo nos ajude a entender melhor um pouco deste mistério.
Todos nós temos um organismo natural. Nós precisamos de água e comida. São necessidades naturais. Se elas não forem supridas, podemos até perder a vida. Com a alma, acontece algo semelhante.
Quando uma pessoa é batizada, ela recebe um organismo sobrenatural. Por meio do Batismo, nós nos tornamos filhos adotivos de Deus. Somos, então, incorporados ao Corpo de Cristo (1Cor 12, 13).
Todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem a sua raiz no santo Batismo. [5]
Mas o Batismo não nos impede de pecar. Ao cometer um pecado mortal, nós perdemos o estado de graça. É uma espécie de morte da alma, embora não apague o Batismo. A situação é muito grave. Com as nossas forças, não conseguimos retornar àquela vida sobrenatural.
Precisamos da ajuda que só Deus pode nos dar: a graça que Ele dispensa livremente no sacramento da Reconciliação. Essa graça funciona com um poder criativo e divino; a graça recria o coração que o pecado desordenou, desfigurou e desgraçou. [6]
O Senhor instituiu o Sacramento da Confissão para que nós possamos retornar ao estado de graça. Não deixe de confessar-se para aproveitar a Semana Santa com mais frutos espirituais. É um momento muito rico em nossa caminhada.
Um Tempo de Graça
Estamos vivendo a Semana Santa. É uma grande graça! Convido todos vocês a aproveitarem bem este momento. Para o mundo, a Semana Santa é apenas um feriadão. Mas nós sabemos que é muito mais.
Vamos entrar num tempo precioso. Abramos a porta de nossos corações para que o Senhor encontre a Sua morada em nós. Convido todos vocês a perseverar na penitência, a confessar os pecados, a participar da liturgia, a ler a Bíblia, a rezar mais. É um tempo de recolhimento e meditação.
Seria bom que cada um olhasse para a própria realidade e fizesse as mudanças necessárias para recolher-se mais na Semana Santa. Para alguns, talvez seja o momento de usar menos o celular ou de desligar um pouco a televisão. Para outros, pode ser o momento certo de pedir perdão a um parente ou de visitar um idoso. Mas certamente a Semana Santa é, para todos, um tempo de mais oração.
Peça, desde já, a ajuda de Nossa Senhora para que Ela lhe inspire como aproveitar melhor a Semana Santa. Recorramos à Sua proteção maternal, para crescermos na fé. Ela é a nossa Mãe.
Que Nossa Senhora das Dores interceda por todos nós!
Referências:
[1] Congregação para o Culto Divino. Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis”. A Preparação e Celebração das Festas Pascais. 16 de janeiro de 1988. nº 2.
[2] Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, nº 110.
[3] Código de Direito Canônico: Cân. 1251.
[4] Congregação para o Culto Divino. Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis”. A Preparação e Celebração das Festas Pascais. 16 de janeiro de 1988. nº 39.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 1266.
[6] Scott Hahn. Senhor, Tende Piedade Lorena, SP: Cléofas, 2018. 3ª edição. p. 85-86.