Sagradas Escrituras
Tradição

São Marcos, o Evangelho da Divindade de Jesus

O Evangelho de Marcos reflete a pregação de São Pedro e o tema central do seu Evangelho é o anúncio da divindade de Jesus Cristo.

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Os Evangelhos são o centro da Bíblia. Neles, encontramos a vida e o ensinamento de Jesus Cristo. Cada evangelista apresenta o mistério de Cristo a partir das suas referências, sob inspiração do Espírito Santo.

Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens.[1]

Com São Marcos, não foi diferente. Ele tinha a sua história de vida. Como todo mundo, pertencia a uma família e teve dificuldades. Mas ele se colocou a serviço de Cristo e, portanto, realizou a sua vocação de evangelista.

Este artigo é um convite para você conhecer um pouco mais do Evangelho de São Marcos. Primeiro, vamos aprender que ele repercute a pregação de São Pedro.  Em seguida, conheceremos um pouco da história de vida de São Marcos, sobretudo a sua amizade com São Paulo. O próximo tópico trata da organização deste Evangelho. Ao final, chegaremos à mensagem central que São Marcos nos anuncia. Você sabe qual é?

São Marcos e São Pedro

São Marcos não conviveu com Jesus, nem era um dos Doze Apóstolos. Como é possível que tenha escrito um dos quatro Evangelhos com tanta fidelidade? Uma longa tradição da Igreja vincula este Evangelho ao ensinamento e testemunho de São Pedro.

Ainda que ele não o tenha escrito do ponto de vista de alguém que foi testemunha ocular do ministério público do Cristo, ele era, no entanto, um canal através do qual se propagava a tradição apostólica vinda principalmente de Pedro, a sua fonte primária de informações sobre a vida de Jesus. [2]

São Pedro escreveu duas cartas, que fazem parte do Novo Testamento. Na primeira delas, referiu-se a Marcos com uma consideração tão elevada que nos permite enxergar um pouco da confiança que havia entre eles.

Saúda-vos a igreja que está em Babilônia, eleita como vós, e também Marcos, meu filho. (1 Pd 5, 13)

Não era um ponto isolado. Existe no Evangelho de São Marcos uma presença muito grande da pregação de Pedro. Assim,  por exemplo, quando Pedro pregou o Evangelho à família de Cornélio, fez uma exposição que é muito semelhante ao esquema geral do Evangelho de São Marcos.

Alguns intérpretes também notam a similaridade entre o esquema do Evangelho de Marcos e a apresentação feita por Pedro em At 10, 36-43. [3]  

Esse papel que Pedro desempenhou na formação do Evangelho de São Marcos não é novidade para ninguém. Já nos primeiros séculos da Igreja, Marcos era considerado uma espécie de porta-voz de Pedro.

Muitos Padres da Igreja insistem que, por trás do segundo Evangelho, está a autoridade de Pedro. Papias de Hierápolis (130 d.C.) descreve Marcos como um “intérprete” de Pedro, o que é ecoado por Santo Irineu (180 d.C.), Clemente de Alexandria (200 d. C.) e Tertuliano (200 d.C.) [4]

É bonito ver que o Espírito Santo inspirou os autores da Bíblia em suas vidas concretas, dentro de seus relacionamentos. A Igreja é um mistério de comunhão.

São Marcos e São Paulo

O que mais sabemos de Marcos? Nos escritos do Novo Testamento, ele aparece com seu nome latino (Marcus), mas também com seu nome judaico (Iohannes - João). Não é raro que seja chamado de João Marcos, unindo as duas versões de seu nome.

Tendo concluído sua missão, Barnabé e Saulo voltaram de Jerusalém, trazendo consigo João, chamado Marcos. (At 12, 25)

Marcos participou da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé, de quem era sobrinho (Cl 4, 10). Por algum motivo desconhecido, Marcos desistiu da viagem e retornou a Jerusalém.

Por causa dessa desistência, Paulo não quis a companhia de Marcos na segunda viagem missionária. Houve então um desentendimento com Barnabé, que insistia que Marcos fosse com eles. No final, Paulo partiu com Silas; e Barnabé, com Marcos.

Paulo achava que não se devia levar junto aquele que na Panfília os havia abandonado, em vez de acompanhá-los na missão. A discordância se agravou a tal ponto, que cada um foi para seu lado. Barnabé tomou consigo Marcos, e embarcou para Chipre. Paulo escolheu Silas. (At 15, 38-40a)

Não se surpreenda com essa discordância. A vida dos santos ocorre em meio às dificuldades que todos nós enfrentamos. Os santos são pessoas concretas, que enfrentam problemas reais, mas sempre com o coração decidido por Deus.

Também entre os santos, portanto, existem oposições, discórdias, controvérsias. Isso me parece muito consolador, porque os santos não “caíram do céu”. São homens como nós, também com problemas complicados. [5]  

O desentendimento foi um momento passageiro que logo seria superado. Mais tarde, houve a reconciliação entre eles. Paulo partiria com Marcos em missão. Chegou até mesmo a requisitar a companhia de Marcos!

Toma contigo Marcos e traze-o, porque é prestativo para ajudar-me. (2Tm 4, 11b)  

Uma antiga tradição relata que, depois de ter sido assistente de Pedro, São Marcos seguiu para o Egito. Até hoje ele é recordado como o fundador de muitas igrejas em Alexandria, que é uma cidade egípcia.

A tradição conta que, após o martírio de Pedro e Paulo, Marcos foi o primeiro a estabelecer igrejas em Alexandria, ao norte do Egito. [6]

Já conhecemos um pouco da história de São Marcos. É hora de aprendermos um pouco sobre o Evangelho que ele teve a honra de escrever, sob a inspiração do Espírito Santo.

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Organização do Evangelho de São Marcos

A organização do Evangelho de São Marcos é muito clara e direta. Contém apenas 16 capítulos. Inicia com o Batismo de Jesus, a tentação no deserto e o anúncio do Reino de Deus na Galileia (Mc 1, 1-15).

Em seguida, vem uma narrativa mais longa (Mc 1, 16-8, 26). Neste momento, o Senhor vai revelando aos discípulos que Ele é o Cristo, o Filho de Deus. Não convinha que todos soubessem naquele momento, pois havia muitos mal-entendidos quanto ao Messias que havia de vir.

A liturgia propõe à nossa meditação o Evangelho de São Marcos, do qual uma característica singular é o chamado “segredo messiânico”, ou seja, o fato de que Jesus não quer entretanto que se saiba, fora do grupo restrito dos discípulos, que Ele é Cristo, o Filho de Deus. [7]

Na seção seguinte, há outra narração longa. É a caminhada até Jerusalém  (Mc 8, 27-16, 8). Nela, os discípulos já sabem que Ele é o Messias. Então, o Senhor vai ensinando-lhes que deve passar pela Paixão.

Nunca se chama a si mesmo de Messias, mas sim “Filho do Homem”, isto é, aquele que recebe de Deus o poder sobre os impérios deste mundo. Não é, porém, um dominador como os governantes da terra, mas o Servo Sofredor da profecia de Isaías. [8]

O último capítulo começa na manhã do Domingo de Páscoa. Ele narra brevemente os episódios da Ressurreição e da Ascensão.

Jesus é Deus!

O anúncio da divindade de Jesus Cristo é o tema central do Evangelho de São Marcos. Já no primeiro versículo, a identidade de Jesus como Filho de Deus é proclamada com toda a clareza.

Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. (Mc 1, 1)

Ao longo deste Evangelho, o título Filho de Deus é invocado nos mais variados contextos. No entanto, o momento mais dramático foi quando o centurião romano viu o modo como Jesus morreu na Cruz.

Ao ver que [Jesus] havia expirado desse modo, o centurião que estava diante dele disse: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15, 39)

Essa afirmação, que é inspirada pelo Espírito Santo, significa que Jesus não é apenas um homem bom e sábio. Se é o Filho de Deus, Ele é igual a Deus!  Trata-se de uma confissão da divindade de Jesus Cristo.

Poder-se-ia dizer que, na verdade, o reconhecimento de Jesus como o divino Filho de Deus é o objetivo do Evangelho de Marcos. [9]

Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Evangelho de São Marcos enfatiza esta verdade porque ela é central para nós. Só pode chamar-se de cristão quem crê que Jesus é o Filho de Deus.

O nome Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu Pai: Ele é o Filho Único do Pai e o próprio Deus. Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é necessário para ser cristão. [10]  

No que cremos?

Todo domingo nós confessamos o credo na Santa Missa. Ele é uma oração muito importante, pois sintetiza e transmite a fé dos Apóstolos. É bom lembrar que não rezamos sozinhos.  

A comunhão é um grande mistério.  Os irmãos ao nosso redor rezam conosco, como também os irmãos mundo afora. Não vemos com os olhos, mas Igreja Purgante está junto de nós e a Igreja Celeste, também. São Marcos reza conosco!

Todos nós adoramos a Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus.  Tenhamos a alegria de professar a nossa fé.

Que São Marcos rogue por todos nós!

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Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica, 109.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Marcos - Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 19.

[3] Ibid, p. 19.

[4] Ibid, p. 19.

[5] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 31 de janeiro de 2007.

[6] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Marcos - Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 19-20.

[7] Papa Bento XVI. Angelus. 01 de fevereiro de 2009.

[8]  Bíblia Sagrada. Tradução Oficial da CNBB. Edições CNBB. 5ª Edição, 2021. p. 1389-1340.  

[9] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Marcos - Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 22.

[10] Catecismo da Igreja Católica. p. 454.