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4 Atitudes Orantes de Santo Antônio

Seguindo 4 atitudes, Santo Antônio, com sua sabedoria e exemplo, nos mostra que a oração é muito mais do que um ritual; é uma comunicação viva e ativa com Deus.

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Santo Antônio de Pádua, chamado Doutor Evangélico, venerado tanto por sua sabedoria teológica quanto por sua profunda espiritualidade, é frequentemente lembrado por seus sermões eloquentes e milagres marcantes. No entanto, uma faceta menos explorada, mas igualmente rica, de sua vida é seu profundo entendimento da oração. Este santo, que viveu no século XIII, deixou um legado duradouro de conselhos sobre como se unir com Deus de maneira mais íntima e eficaz através da oração.

Em uma catequese em 2010, o Papa Bento XVI ressaltou como Santo Antônio ensinava que a oração requer mais do que apenas o afastamento do barulho externo; ela necessita de um silêncio interior que purifique nossa alma das distrações e preocupações cotidianas. Santo Antônio delineou quatro atitudes essenciais que devem caracterizar uma oração eficaz: obsecratio (abrir o coração a Deus com confiança), oratio (dialogar afetuosamente com Deus), postulatio (apresentar nossas necessidades a Deus) e gratiarum actio (agradecer e louvar a Deus). Essas definições remontam a São João Cassiano, um padre da Igreja do século V.

Primeira atitude orante: Obsecratio

A prática da obsecratio, que se traduz como abrir o coração a Deus com confiança, é o primeiro e fundamental passo na jornada de oração, segundo Santo Antônio. Esta etapa é crucial porque estabelece a base para uma comunicação genuína com Deus. Em vez de uma abordagem superficial ou mecânica à oração, Santo Antônio ensina que devemos começar por abrir inteiramente nosso coração a Deus, expondo nossas verdadeiras emoções, desejos e dúvidas.

A obsecratio não é apenas sobre falar com Deus, mas sim sobre abrir-se para uma relação de vulnerabilidade e transparência. Santo Antônio acreditava que, assim como em qualquer relacionamento significativo, a oração – o diálogo – deve começar com a honestidade e a abertura total do nosso ser interior. Ou seja, falamos sinceramente a Deus, como a um amigo, falamos de nossas dores, angústias, pecados, assim como das alegrias, graças e tudo que habita em nosso coração no momento da oração.

Esta atitude orante é ao mesmo tempo profundamente sentimental – no sentido de algo que toca e envolve os sentimentos humanos – e verdadeiramente racional e a partir da vontade, pois parte também do conhecimento de Deus através das verdades de fé, e do desejo da vontade de abandonar o pecado que ofende ao interlocutor do diálogo interior.

Segunda atitude orante: Oratio

A segunda atitude indispensável na oração, conforme ensinada por Santo Antônio, é a oratio, ou dialogar afetuosamente com Deus. Esta fase da oração é onde o diálogo se estabelece verdadeiramente, permitindo uma comunicação profunda e pessoal com o Divino. Santo Antônio enfatiza que a oração deve ser mais do que um mero recitar de palavras; deve ser um encontro amoroso com Deus, onde se fala e se escuta com o coração.

A oratio é essencialmente um diálogo contínuo que reflete a qualidade de qualquer relação íntima. Assim como conversamos com um amigo querido ou um membro da família, com quem compartilhamos nossos pensamentos mais íntimos, Santo Antônio ensina que devemos conversar com Deus da mesma forma. Essa atitude transforma a oração de um monólogo em um diálogo verdadeiro, onde há espaço para expressar gratidão, buscar orientação, compartilhar alegrias e tristezas, e acolher a presença reconfortante de Deus.

Essa atitude, segundo São João Cassiano, é também de entrega a Deus. Ao rezarmos por oratio não apenas falamos o que nos agrada, mas devemos procurar falar o que agrada a Deus, ou seja, fazer votos ou bons propósitos de buscar mais a Ele, praticar as virtudes, evitar os pecados de estimação, etc. Da mesma forma como um namorado promete à namorada aquilo que a agrada, devemos também prometer a Deus agradá-lo, mas é óbvio que não basta apenas prometer…

Terceira atitude orante: Postulatio

A terceira atitude essencial na oração, conforme ensinada por Santo Antônio, é a postulatio, que envolve apresentar nossas necessidades a Deus. Este aspecto da oração reflete nossa dependência de Deus para providência e auxílio em todos os aspectos da vida. Santo Antônio enfatiza que, enquanto devemos sempre buscar alinhar nossos desejos com a vontade de Deus, também é apropriado e necessário trazer nossas preocupações específicas diante d'Ele em oração.

Postulatio vai além do simples ato de pedir; é um reconhecimento de nossa posição como criaturas que dependem de seu Criador. Este aspecto da oração é fundamentado na humildade e na confiança, pois ao pedirmos, reconhecemos tanto nossa própria incapacidade de resolver todos os nossos problemas quanto a soberania e bondade de Deus, que cuida de nós. Santo Antônio ensinava que ao expressarmos nossas necessidades a Deus, estamos também fortalecendo nossa fé Nele, confiando que Ele ouve e atende às nossas preces de acordo com Sua vontade.

Deus sabe de todas as coisas, sabe o que precisamos e o que vamos pedir. Por que então pedir? Porque justamente nesta postura de dependência de Deus é que crescemos em perfeição e vamos aos poucos nos conformando à sua Santa Vontade. Como diz Jesus:

Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e vos será aberto… Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este pedir um pão? Ou dará uma cobra se este lhe pedir um peixe? Se vós, que sois maus, sabeis dar o que é bom a seus filhos, quanto mais o Pai celeste vos dará o que é bom se o pedires.”  (Mt 7,7.9-11).

Quarta atitude orante: Gratiarum actio

A quarta e última atitude indispensável na oração, conforme ensinada por Santo Antônio, é a gratiarum actio, que se traduz como o ato de louvar e agradecer a Deus. Esta prática de gratidão é fundamental na vida de oração, pois reconhece e celebra a bondade e as bênçãos de Deus. Santo Antônio entendia que a gratidão não era apenas uma resposta apropriada aos dons recebidos, mas uma poderosa forma de oração que nos conecta mais profundamente com Deus.

A gratiarum actio vai além de um simples agradecimento; ela é uma atitude de reconhecimento da presença e da providência de Deus em todas as situações. Louvar e agradecer a Deus significa manter um coração grato em todas as circunstâncias, sejam elas de alegria ou de adversidade. Essa atitude deveria permear toda a vida do cristão, transformando a maneira como vemos e interagimos com o mundo.

Para praticar gratiarum actio, podemos iniciar e encerrar cada dia com um momento de agradecimento. Esta prática pode incluir agradecer a Deus pelas bênçãos visíveis, como saúde e família, e também pelas invisíveis, como o amor e a misericórdia de Deus que sustentam a vida espiritual. Além disso, mesmo nos momentos de dificuldade, procurar razões para agradecer pode ajudar a cultivar uma perspectiva mais positiva e confiante na Providência Divina, afinal “Tudo convém para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).

Rezemos com Santo Antônio

Santo Antônio, com sua sabedoria e exemplo, nos mostra que a oração é muito mais do que um ritual; é uma comunicação viva e ativa com Deus. Através da obsecratio, aprendemos a abrir nosso coração sem reservas; por meio de oratio, a dialogar com Deus como com um amigo íntimo; com postulatio, a apresentar nossas necessidades com confiança e humildade; e através de gratiarum actio, a manter um espírito de alegria e gratidão em todas as circunstâncias.

Que o exemplo de Santo Antônio inspire todos nós a renovar nosso compromisso com uma vida de oração mais íntima e verdadeira. Assim como ele ensinou e viveu, que possamos também nós aprender a abrir nossos corações, dialogar sinceramente, pedir com fé e agradecer com alegria, encontrando em cada ato de oração uma fonte de força, consolo e inspiração para nossa jornada espiritual.

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