Não são poucas as menções a Pedro no Novo Testamento. Entre os Doze Apóstolos, ele é certamente o mais proeminente. Era comum, por exemplo, que Pedro conversasse com Jesus em nome dos Doze.
Então, Pedro disse: “Senhor, é para nós ou para todos que contas essa parábola?” (Lc 12, 41)
Até mesmo em detalhes, como a redação dos Evangelhos, nós encontramos um lugar de destaque para Pedro. Você já percebeu que ele sempre ocupa o primeiro lugar na lista dos Doze?
Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e depois André, seu irmão (Mt 10, 2)
Foi por Pedro, e não por outro Apóstolo, que Jesus rezou na noite da agonia para que sua fé não esmorecesse.
Simão! Simão! Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos. (Lc 22, 31)
Hoje nós vamos meditar sobre esse lugar de destaque de Pedro entre os Doze. É uma posição que provém da autoridade que ele recebeu diretamente de Cristo. Primeiro, vamos estudar a mudança de nome. Jesus mudou o nome de Simão para Pedro. Depois, vamos considerar o que é o poder que Pedro recebeu (o poder das chaves). Em seguida, veremos exemplos do uso deste poder pontifício.
De Simão a Pedro
O primado de Pedro entre os Doze Apóstolos decorre de uma ação pública de Jesus. Foi o Senhor quem lhe conferiu um lugar de destaque na Igreja. Você se lembra do que aconteceu em Cesareia de Filipe? Jesus perguntou aos discípulos:
Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16 13b)
Ele queria saber qual era, na opinião do povo, a Sua identidade. Os Apóstolos responderam que as pessoas pensavam que Ele fosse João Batista, Elias ou até algum dos profetas (Mt 16, 14). O Senhor, então, perguntou-lhes:
E vós, quem dizeis que sou? (Mt 16, 15b)
Essa é uma pergunta central. O Senhor conduz a Igreja para dentro de Seu Coração, para o conhecimento de Sua identidade. Simão Pedro, então, agindo como porta-voz dos Doze, tomou a palavra e disse ao Senhor:
Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo. (Mt 16, 16b)
Trata-se de uma declaração clara do dogma da Encarnação. Suas palavras não podiam ser fruto de uma reflexão meramente humana, cheia de fraquezas e limitações. Elas eram uma confissão de fé!
Tal confissão revela duas coisas: em primeiro lugar, que Pedro proclama o mistério da divindade de Cristo já como o cabeça e o porta-voz da Igreja (cf. 11, 25-27; 14, 33); e, em segundo lugar, que Pedro já vê Jesus como o esperado rei-Messias de Israel. [1]
É importante observarmos que Simão Pedro recebeu uma revelação especial do Pai para falar sem erro em matéria de fé. Jesus deixou-lhe bem claro que a Graça atuou nele:
Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. (Mt 16, 17)
Foi justamente neste momento que Jesus renomeou Simão. Para entendermos o sentido da renomeação, precisamos nos atentar para tudo mais que Jesus disse:
Por isso eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16, 18)
Pedro significa pedra. Era um nome novo naquela época. Um nome novo veio com uma missão nova. O Senhor prometeu construir a Sua Igreja sobre esta pedra. Ele não prometeu construí-la nas nuvens, desencarnada, mas sim sobre a pedra.
Jesus prometeu construir um edifício divino sobre esta fundação de Pedro, o qual chamou de “Minha Igreja”, pois não seria simplesmente uma instituição humana. De certa forma, seria incorrupta também: “o poder da morte [ou ‘as portas do inferno’] nunca prevalecerá contra ela”. [2]
Hoje em dia a alteração de nome acontece na nossa vida civil. Há mulheres, por exemplo, que adotam o sobrenome de seus maridos quando casam. Mas não é este tipo de renomeação que encontramos na Bíblia.
No mundo bíblico, a mudança de nome apresentava um sentido espiritual. Era uma forma de atribuir a alguém uma nova missão, no plano de Deus. Assim, por exemplo, Deus mudou o nome de Abrão para Abraão (Gn 17, 5) e o de Jacó para Israel (Gn 32, 38) em momentos decisivos de suas vocações. Foi justamente o que aconteceu com Simão, que se tornou Pedro:
Não era só um nome, era um “mandato” que Pedro recebia, daquele modo, do Senhor. O novo nome Petrus voltará várias vezes nos Evangelhos e terminará por substituir o nome originário, Simão. O fato adquire particular relevo se considerarmos que, no Antigo Testamento, a mudança do nome geralmente anunciava a designação de uma missão. [3]
O Poder das Chaves
Em seguida, Jesus prometeu que Pedro receberia autoridade na Sua Igreja. É uma promessa que somente Deus poderia fazer. Pedro vai participar do governo do Reino dos Céus na terra:
Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. (Mt 16, 19)
Os teólogos Scott Hahn e Curtis Mitch explicam que, naquela época, a chave era um “símbolo da autoridade no ensinamento” [4]. O próprio Senhor Jesus fez uso deste símbolo em outro momento de Sua vida pública, quando repreendeu os doutores da Lei:
Ai de vós, doutores da Lei, porque levastes a chave do conhecimento: vós mesmos não entrastes e impedisse os que queriam entrar. (Lc 11, 52)
No entanto, o poder que Pedro recebeu não se restringe ao ensinamento com autoridade. Ele tem o ofício de governar a Igreja, podendo, assim, excomungar membros rebeldes e perdoá-los na caridade.
[A expressão “tudo o que ligares…desligares…”] denota o poder de incluir ou excluir membros de uma comunidade eclesial. Sinaliza também o poder de perdoar os pecados. [5]
As Chaves em Ação
Mas como será que Pedro exerceu a autoridade recebeu de Cristo?
A resposta a esta pergunta está claramente relatada nos Atos dos Apóstolos, que narram alguns acontecimentos dos trinta primeiros anos da Igreja. O primado de Pedro é evidente na Igreja.
A preeminência de Pedro nos Evangelhos continuou na aurora da Igreja. Aqui [nos Atos dos Apóstolos] vemos Pedro exercendo um nível de autoridade e liderança sem comparação com o ministério de nenhum outro apóstolo. [6]
Vejamos alguns exemplos que ilustram o papel que Pedro exerceu na Igreja após a Ascensão do Senhor:
1. Sucessão de Judas Iscariotes
Entre a Ascensão do Senhor e o Pentecostes, a Igreja era pequena e estava reunida. Foi Pedro quem assumiu a liderança para iniciar o processo de sucessão apostólica. Ele se levantou e apresentou a fundamentação.
Naqueles dias estava reunido um grupo de mais ou menos cento e vinte pessoas. Pedro levantou-se e disse: “Irmãos, …” (At 1, 15)
2. Primeiro Sermão da Igreja
Logo após o mistério de Pentecostes, Pedro levantou-se novamente e fez o primeiro sermão da Igreja em alta voz. A Escritura chega a distingui-lo perante os outros onze apóstolos.
Pedro, de pé, com os onze apóstolos e, em alta voz, falou à multidão: “Homens da Judeia e todos vós…” (At 2, 1)
É interessante observar que os ouvintes da pregação ficaram com o coração comovido. Perguntaram, então, a Pedro e aos Apóstolos o que deviam fazer. Novamente, Pedro falou em nome de todos.
Pedro respondeu: “Arrependei-vos…” (At 2, 38)
3. Primeira cura da história da Igreja
Pedro e João subiram ao Templo de Jerusalém para a oração. Um homem pedia esmolas à porta do templo. Coube a Pedro realizar a primeira cura pública da história da Igreja.
Tomando-o pela mão direita, Pedro o levantou. Na mesma hora, os pés e os tornozelos do homem ficaram firmes. (At 3, 7)
4. Pedro depôs ao Sinédrio
Fazia pouco tempo que Jesus havia sido condenado à morte de Cruz. Pedro e João evangelizavam no templo sem medo. Foram presos, e Pedro respondeu ao Sinédrio movido pelo Espírito Santo.
Pedro, então, pleno do Espírito Santo, disse-lhes: “Chefes do povo e anciãos…” (At 4, 8)
5. Pedro exerceu autoridade no caso Ananias e Safira
Ananias e sua esposa não agiram com honestidade perante a Igreja. Foi Pedro quem julgou o caso, exercendo a sua enorme autoridade.
Então, Pedro disse: “Ananias, por que encheu satanás teu coração, para que mintas ao Espírito Santo e retenhas uma parte do preço da propriedade? Ficando como estava, não permaneceria tua? E vendendo-a, o dinheiro não continuaria teu? Como puseste tal coisa em teu coração? Não é a homens que mentiste, mas a Deus” (At 5, 3-4)
6. Pedro endossou a evangelização dos gentios
Nos primeiros dias da evangelização, houve uma questão em torno do anúncio do Evangelho aos gentios. Pedro estava no centro da ação visível da Igreja, portanto atraía críticas (At 11, 3). Porém, bastou que explicasse o que Deus operou nele que todos aceitaram:
Então, Pedro começou a contar-lhes, ponto por ponto, o que havia acontecido. Ao ouvirem isso, os fiéis acalmaram-se e glorificavam a Deus. (At 11, 4.18a)
7. Pedro decidiu o Primeiro Concílio da Igreja
Durante o primeiro concílio da Igreja, em Jerusalém, debateu-se o tema da circuncisão. Houve uma longa discussão. Mais de uma pessoa teve voz, mas foi a posição de Pedro que prevaleceu. Ele decidiu a matéria de fé, definindo a doutrina de que não é necessário circuncidar quem recebe o Batismo.
Depois de uma longa discussão, Pedro levantou-se e falou: “Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem.” (At 15, 7)
As decisões pastorais do concílio seguiram as diretrizes da fé de Pedro. Foi emitida uma carta apostólica à Síria e à Cilícia, com uma norma de conduta. Os gentios não precisavam passar pela circuncisão, mas deveriam abandonar práticas pagãs.
Vamos somente prescrever que evitem o que está contaminado pelos ídolos, as uniões ilícitas, comer carne de animais sufocados e o uso do sangue. (At 15, 20)
Este decreto não está mais em vigor. Tratava-se de uma regra provisória, voltada para a necessidade da Igreja naquele século. Mas a fé da Igreja, declarada por Pedro, continua a mesma. Nenhum cristão é circuncidado.
De acordo com o Concílio de Florença, em 1442, este decreto apostólico foi apenas uma medida temporária, tomada para facilitar a união entre judeus e gentios no início da Igreja. [7]
Um Pai na Fé
Muito mais poderia ser escrito a respeito de Pedro. Entre os Doze, não há outro Apóstolo que seja tão mencionado no Novo Testamento. Os números falam por si mesmos.
Pedro é o mais conhecido - mencionado 195 vezes nas Escrituras; o restante dos Apóstolos, apenas 130. O segundo mais mencionado é João, sobre quem há 29 referências. [8]
O lugar de Pedro é incontestável. No entanto, há um passo a mais que nós devemos dar. Somos chamados a amá-lo! As chaves que Jesus deu a Pedro não caíram no chão. Elas estão nas mãos do Papa.
Por que Jesus teria nomeado Pedro como chefe dos Apóstolos se Ele não tivesse a intenção de que este ofício fosse de alguma forma continuado dentro da Igreja? [9]
Jesus deu autoridade a Pedro para que chegasse até nós! Não tenha receio de responder ao Amor de Jesus, amando o Papa. Ele é o nosso pai na fé! Por isso, não deixe de rezar pelo Papa. Tenha zelo pelo Papado. A responsabilidade do Sucessor de Pedro é muito grande, e todos nós somos devedores de seu sacrifício pessoal.
Festa da Cátedra de São Pedro.
São Pedro, Príncipe da Igreja, rogai por nós!
Referências:
[1] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p.88.
[2] Scott Hahn. Razões para Crer Lorena, SP: Cléofas, 2017 p. 135.
[3] Papa Bento XVI. Audiência Geral, 7 de Junho de 2006: Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja.
[4] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Mateus: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 89.
[5] Ibid, p. 90.
[6] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro dos Atos dos Apóstolos - Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2016 p. 35.
[7] Ibid, p. 79.
[8] Fulton Sheen. Vida de Cristo. São Paulo, SP: Molokai, 2024. p. 228.
[9] Scott Hahn. Razões para Crer. Lorena, SP: Cléofas, 2017 p. 137.