Devoção Popular

São Joaquim e Sant’Ana: um exemplo para os avós

A vida interior de São Joaquim e Sant’Ana transbordava em seu testemunho familiar e, sobretudo, no amor dedicado à Virgem Maria e Jesus.

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São Joaquim e Sant’Ana foram os pais da Virgem Maria e os avós maternos de Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado. A vocação do casal era muito elevada. Por meio de seus frutos, podemos conhecê-los melhor.

Os netos são a coroa dos anciãos, como os pais são a glória dos filhos. (Pr 17, 6)

Conhecer os santos não é uma questão de curiosidade. Trata-se de um mandamento bíblico para crescermos na intimidade com o Senhor Jesus. O Deus de Amor gera relacionamentos de amor entre as Suas criaturas ao Se revelar.  

Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo. (1Cor 11, 1)

Este artigo é um convite para as famílias cristãs reconhecerem o valor espiritual dos idosos, por meio do testemunho que São Joaquim e Sant’Ana nos deixaram com suas vidas. Primeiro, precisamos meditar um pouco sobre a família enquanto lugar de fé. Depois, veremos como os idosos constroem a sociedade. Em seguida, vamos meditar sobre o modo como eles nos auxiliam, que é a educação moral. Por fim, deixaremos algumas sugestões de meditação pessoal.

A Família: um Lugar de Fé

Vivemos um tempo em que muitas famílias enfrentam dores e desafios. Não são poucos os casos em que os filhos chegam a ser vistos como um grande problema, pois os pais não se sentem preparados para assumi-los. Esta é uma situação nova na história do mundo.

Enquanto nas sociedades simples até o século XIX, a prole era vista como a bênção por excelência, hoje em dia os filhos são tidos quase como que uma ameaça. Pensam que eles nos tiram o lugar para o nosso futuro, que ameaçam o nosso espaço vital e assim por diante. [1]

Não devemos julgar ninguém. Somos chamados a um olhar de misericórdia. A Igreja sofre junto com seus filhos, já que ela não está afastada da vida das pessoas. Mas é importante enxergamos que há um caminho de solução. Ele passa pela mudança de perspectiva.

Aqui uma primeira intenção é reencontrar a perspectiva original, a verdadeira, de que o filho, a nova pessoa, é uma bênção. A perspectiva de que ao darmos vida também recebemos vida e que justamente este sair de si mesmo e aceitar a bênção da reprodução é fundamentalmente bom para o homem. [2]  

Mas como podemos mudar de perspectiva? O primeiro passo é aceitarmos que sozinhos nada podemos! Nós precisamos de Deus.  É por isso que devemos cultivar a nossa vida interior: rezar todo dia; receber os sacramentos; viver uma vida de fé.

A vida interior é para cada um de nós o único necessário. [3]

Aqui se situa o exemplo de São Joaquim e Sant’Ana. Como será que eles viveram a busca do único necessário no seu ambiente familiar? As Sagradas Escrituras não respondem diretamente a essa questão, mas uma bela tradição da Igreja soube discernir a resposta pelos frutos da vida do casal.

O amor nunca é constrição, nunca priva o outro da sua liberdade interior. Joaquim e Ana amaram Maria e Jesus assim; e Maria amou assim Jesus, com um amor que nunca O sufocou nem tolheu, mas encaminhou a fim de abraçar a missão para que veio ao mundo. [4]  

A fé foi certamente o eixo da vida familiar de São Joaquim e Sant’Ana. Esse é o grande modelo para os avós. Eles acolheram o mistério de Maria e Jesus a partir da prioridade que deram à oração.

São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que transmitiu a fé e o amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé! [5]  

A família é um lugar de fé. Nela, nós recebemos e transmitimos a fé. Por isso, é importante rezarmos em família. Veremos agora como os avós podem contribuir com o futuro da família e da sociedade.

Futuro dos Povos

Em 2007, quando o Papa Bento XVI veio ao Brasil, ocorreu uma importante conferência em Aparecida. Naquela ocasião, os bispos da América Latina se reuniram para emitir um documento conjunto. Muitos temas foram abordados, inclusive o bem-estar dos idosos.

Crianças e anciãos [isto é, idosos] constroem o futuro dos povos. [6]  

Você percebe a espiritualidade que inspira essas linhas? O documento vincula os idosos à construção do futuro, junto com as crianças. Naturalmente, cada grupo tem o seu modo de construir o futuro.  

As crianças porque levarão adiante a história, os anciãos porque transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas. [7]

Cabe às crianças viver o futuro. Já os idosos constroem-no por meio da educação moral. Eles transmitem valores, experiência e sabedoria aos mais jovens. Estes, por sua vez, devem continuar a obra que receberam.

Trata-se de um grande mistério. Na vida, nós sempre precisamos uns dos outros. A família é o primeiro lugar onde aprendemos a viver em relacionamento. Como nos ensinou o Papa Francisco, não podemos viver ilhados em nossos interesses:

Não somos indivíduos isolados, não somos ilhas; ninguém vem ao mundo desligado dos outros. As nossas raízes, o amor com que fomos aguardados e que recebemos ao vir ao mundo, os ambientes familiares onde crescemos, fazem parte duma única história, que nos precedeu e gerou. [8]  

As nossas raízes são parte de quem nós somos. E nós não somos filhos do acaso! Devemos acolher o dom da família, certos de que o Senhor Deus nos concede as graças necessárias para a nossa missão.

Uma pessoa fiel, recebendo uma grande graça opera uma grande ação; se vier a receber, porém, uma graça inferior, operará também uma ação inferior. O valor e excelência da graça, dada por Deus, e correspondida pelo cristão, definem o valor e a excelência das obras. [9]

Um Mundo Superficial

Infelizmente, o mundo não valoriza os idosos. Como o seu valor espiritual já não é reconhecido, há quem os veja como um peso. Muitos idosos são até esquecidos pelas famílias que ajudaram a construir.

A família não deve olhar só as dificuldades que traz a convivência com eles ou o ter que atendê-los. A sociedade não pode considerá-los como peso ou carga. [10]  

Esse escândalo não pode acontecer em nossas famílias católicas! Os idosos têm um importante papel educativo a desempenhar na vida familiar, sobretudo nos casos em que os pais precisam trabalhar muitas horas.

A tarefa educativa dos avós é sempre muito importante, e torna-se ainda mais quando, por diversos motivos, os pais não são capazes de assegurar uma presença adequada ao lado dos filhos, na idade do crescimento. [11]

Você já notou que o mundo anda muito superficial? Não são poucas as pessoas que fogem dos compromissos morais necessários para a construção da vida. Nesse contexto, os idosos são uma referência para quem aspira a uma vida sólida e profunda.

Com a sua própria presença, a pessoa idosa recorda a todos, e de maneira especial aos jovens, que a vida na terra é uma “curva”, com um início e com um fim: para experimentar a sua plenitude, ela exige a referência a valores não efêmeros nem superficiais, mas sólidos e profundos. [12]

A Palavra de Deus confirma essa intuição. Já na época do Antigo Testamento a cabeleira branca era um sinal de uma sabedoria a ser respeitada. É o que nós lemos, por exemplo, no Segundo Livro dos Macabeus:

Eleazar, porém, tomou uma nobre resolução, digna de sua idade, do prestígio que lhe conferia a velhice, da cabeleira branca adquirida com honra, da conduta excelente desde a infância, e digna, sobretudo, da santa legislação estabelecida por Deus. (2 Mac 6, 23)

É verdade que nem todos os idosos conseguem desempenhar o papel que lhes compete na construção do futuro. Alguns não souberam cultivar uma amizade com Deus. Mesmo assim, não faltam idosos exemplares entre nós. Estes não devem esconder as suas virtudes.

Os idosos que receberam uma educação moral sadia deveriam demonstrar, mediante a sua vida e o próprio comportamento no trabalho, a beleza de uma sólida vida moral. [13]

Uma Espiritualidade para Todos

A vida de São Joaquim e Sant’Ana é um modelo para os avós. No entanto, todos podem se beneficiar da espiritualidade dos idosos. Aos mais jovens, convém uma atitude de escuta e reverência aos sábios anciãos da família e da Igreja.

Você é jovem ou idoso? Se idoso, tem consciência do seu papel na família e na sociedade? Se jovem, você aproveita a presença dos idosos? Por que os idosos perderam o prestígio na sociedade? Qual foi o preço que a sociedade paga por esse erro? Essas são questões para meditarmos.

São João e Sant’Ana, rogai por nós!

Referências

[1] Papa Bento XVI & Peter Seewald. O Sal da Terra: o Cristianismo e a Igreja Católica no Novo Milênio. Campinas, SP: Ecclesiae, 2022. p. 155.

[2] Ibid.

[3] Garrigou-Lagrange. As Três Vias e as Três Conversões. Rio de Janeiro, RJ: Editora Permanência, 2011. p. 15.

[4] Papa Francisco. Visita Apostólica ao Canadá. Homilia de 26 de julho de 2022.

[5] Papa Francisco. Alocução do Santo Padre na Jornada Mundial da Juventude. Rio de Janeiro, 26 de julho de 2013.

[6] Documento de Aparecida, 447.

[7] Ibid.

[8] Papa Francisco. Viagem Apostólica ao Canadá. Homilia de 26 de julho de 2022.

[9] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Segredo de Maria. 11a Ed. Lorena, SP: Cléofas, 2018. p. 23.

[10] Documento de Aparecida, 449.

[11] Papa Bento XVI. Angelus de 26 de julho de 2009.

[12] Cardeal Bertone. Homilia de 26 de julho de 2009 na Paróquia de Santa Ana no Vaticano.

[13] Ibid.