O inferno é um tema difícil. Algumas pessoas não gostam de falar dele, e outras chegam até mesmo a negá-lo. Mas nós não podemos tomar esse caminho. Trata-se de uma verdade que o Senhor Jesus revelou e que a Igreja nunca deixou de ensinar.
O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. [1]
A meditação sobre o inferno pode ser incômoda, mas não é infrutífera. Ela nos conduz a uma experiência de confiança na Misericórdia Divina. Esse artigo é um convite para você confiar mais no Senhor. Primeiro, vamos aprender que a existência do inferno não está sob questão. Depois, veremos porquê a liberdade é essencial para entendermos o tema. Em seguida, será o momento de visitarmos duas experiências místicas sobre o inferno e de distinguir remorso de arrependimento. Por fim, faremos um convite para a sua vida espiritual.
O Joio e o Trigo
Você se lembra da parábola do joio e do trigo? Enquanto certos lavradores dormiam, um inimigo semeou joio no campo de trigo. Eles foram então pedir uma orientação ao patrão, que lhes disse para deixarem o joio e o trigo crescerem juntos até a colheita.
Como todas as parábolas, esta pode ter mais de uma interpretação. Elas são um tesouro espiritual inesgotável. Mesmo assim, a interpretação que o próprio Senhor Jesus apresentou deve ocupar sempre o primeiro lugar.
O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos. (Mt 13, 39-40)
O ensinamento é muito claro. O diabo é nosso inimigo e haverá um Juízo Final no fim dos tempos. Nele, os anjos de Deus vão separar os bons dos maus. Não se trata de opinião, mas de uma revelação do próprio Deus encarnado.
O Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todo o escândalo e os que praticaram a iniquidade, e os lançarão à fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. (Mt 13, 41-42)
São palavras muito fortes e claras: “fornalha de fogo”. Algumas pessoas acham que o inferno não existe. Para elas, não seria uma realidade compatível com o Amor de Deus. Mas essa é uma opinião enganosa! Ela contraria diretamente o que Jesus nos ensinou.
Jesus anuncia simultaneamente a salvação eterna para os bons e a geena para os maus. Ele o faz, primeiramente, exortando à penitência. [2]
Vimos até aqui que o inferno é uma verdade de fé. A Igreja recebeu esta revelação diretamente de Jesus. Agora nós vamos dar um passo a mais.
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A Decisão Fundamental da Vida
A paciência de Deus com o mal no mundo é um tempo de misericórdia para que nós possamos nos converter. O ponto central é a liberdade humana. Ao longo da vida temos que tomar uma decisão fundamental. Queremos passar a eternidade em Deus ou sem Deus?
No entardecer de nossa vida, seremos julgados sobre o amor. [3]
Mas como o amor pode ser um critério de julgamento moral? É aqui que entra a liberdade humana. Nós somos livres, portanto podemos avaliar os atos que cometemos com plena consciência. Eles são bons ou maus.
A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma deliberada, o homem é, por assim dizer, o pai de seus atos. Os atos humanos, isto é, livremente escolhidos após um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente. São bons ou maus. [4]
É muito importante compreender o valor da liberdade. Se nós não fôssemos livres, não poderíamos amar a Deus. Talvez um exemplo nos ajude a entender melhor este ponto. Seria um absurdo que uma lei trabalhista determinasse que todo funcionário tivesse que amar o seu chefe. E por que é absurdo? Porque não faz sentido tentar obrigar alguém a amar! O amor é livre.

Não é diferente em nosso relacionamento com Deus. Guardadas as proporções, o fato é que cada um de nós tem que escolher livremente se quer amar a Deus ou não. E essa escolha não ocorre apenas em palavras, mas sobretudo na vida concreta.
Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos. [5]
Tenhamos cuidado para não invertermos a responsabilidade. O Senhor quer a nossa salvação, mas nós temos que querer também. Quem se obstinar a rejeitar o Seu amor na vida concreta irá para o inferno que escolheu para si mesmo.
Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa opção livre. [6]
Nada disso é teórico. Vejamos agora algumas experiências místicas que nos ajudam a vislumbrar a nossa responsabilidade espiritual.
Duas Místicas
Santa Francisca Romana foi uma mística que viveu há mais de quinhentos anos. Ele teve muitas visões extraordinárias. Algumas eram gloriosas, felizes. Outras, porém, eram aterradoras. Santa Francisca descreveu, por exemplo, que viu muitos soberbos no inferno.
A bem-aventurada viu uma vasta prisão cujos habitats eram muito numerosos, e lhe foi dito que eram os soberbos. Este cárcere era dividido em vários lugares, onde as vítimas eram classificadas segundo as diversas espécies de pecado. Os ambiciosos eram aqueles que os demônios mais desprezavam. [7]
Mesmo torturadas por demônios, essas almas malditas continuavam a blasfemar contra Deus! Essa reação evidencia que são almas que não amam, nem querem amar a Deus. O inferno é o lugar dos obstinados no mal.
Essas almas, irritadas e enraivecidas por estes tão horríveis tormentos, uivavam de maneira medonha e proferiam blasfêmias assustadoras. [8]
Outra revelação importante ocorreu no século passado. Santa Faustina Kowalska teve uma visão do inferno e recebeu de Deus a ordem para deixar escrito tudo que viu para que as pessoas se convertessem.
Eu, irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do inferno para que possa contar às pessoas e testemunhar que o inferno existe. [9]
Por misericórdia para com a nossa geração, o Senhor revelou-lhe que muitas almas que acabam no inferno são justamente aquelas que não acreditavam que o inferno existisse. Trata-se de um chamado a rezar pela conversão dos pecadores.
O que eu escrevi dá apenas uma pálida imagem das coisas que vi. Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas que lá estão é justamente o daqueles que não acreditavam que o inferno existisse. [10]
A vida dos santos confirma e estimula a nossa fé. Gostaríamos agora de responder a uma pergunta que geralmente surge quando pensamos no inferno.
Fogo Eterno
Já vimos que a pessoa entra no inferno porque rejeita livremente a Deus. Mas por que será que a punição é eterna? Para abordar essa pergunta, precisamos entender que os condenados não são capazes de arrepender-se. Eles vivem no remorso.
O remorso tortura, o arrependimento liberta e já canta a glória de Deus. [11]
Você conhece a diferença entre remorso e arrependimento? Quem se arrepende gostaria de nunca ter cometido o ato pecaminoso. Se pudesse, voltaria ao passado para desfazê-lo. Já quem tem remorso aprova o ato em si mesmo, mas gostaria de livrar-se das suas consequências negativas.
O condenado é incapaz de transformar seu remorso em arrependimento, e suas torturas em expiação. [12]
Após a morte, não existe mais a possibilidade de arrependimento. Veja como esta vida é séria! Nós não podemos nos distrair com as seduções do mundo. O tempo de vida é um tempo de decisão.
Não existe arrependimento para eles [os demônios] depois da queda, como não existe para os homens depois da morte. [13]
Um chamado à Misericórdia
A doutrina do inferno é uma grande prova do Amor de Deus por nós. Tenhamos confiança. O diabo costuma atacar a nossa confiança em Deus, porque quem confia n’Ele, se levanta dos pecados arrependido e retoma a caminhada.
Sabe o demônio, diz São João Crisóstomo, que a confiança é aquela preciosa corrente que nos leva ao Paraíso; porque com este santo afeto tomamos grande ânimo e nos levantamos a Deus. [14]
Renovemos então a nossa confiança no Senhor Deus, abrindo o nosso coração ao confessor. Todo sacerdote é ministro da nossa salvação. Faça um exame de consciência e busque um padre para fazer uma sincera e profunda confissão.
Que Nossa Senhora interceda por nós!
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Referências
[1] Catecismo da Igreja Católica, 1035.
[2] Garrigou-Lagrange. O Homem e a Eternidade: a Vida Eterna e a Profundidade da Alma. Campinas, SP: Ecclesiae, 2018. p. 117.
[3] São João da Cruz. Avisos y sentencias 57: Biblioteca Mística Carmelitana, v 13, Burgos, 1931. p. 238.
[4] Catecismo da Igreja Católica, 1749.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 1033.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 1033.
[7] Santa Francisca Romana. Tratado do Inferno. São Caetano do Sul, SP: Santa Cruz Editora e Livraria, 2022. p. 37.
[8] Ibid, p. 38.
[9] Santa Ir. Maria Faustina Kowalska. Diário: a Misericórdia Divina na Minha Alma. Curitiba, PR: Editora Apostolado da Divina Misericórdia. 2016. p. 211.
[10] Ibid.
[11] Garrigou-Lagrange. O Homem e a Eternidade: a Vida Eterna e a Profundidade da Alma. Campinas, SP: Ecclesiae, 2018. p. 145.
[12] Ibid, p. 144.
[13] Catecismo da Igreja Católica, 393.
[14] Padre Scaramelli. O Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 117.