São Paulo escreveu muitas cartas. Por meio delas, o Espírito Santo instruiu e edificou a Igreja. Na carta aos fiéis de Tessalônica, encontramos uma admoestação que nos fala bem de perto ao coração:
Orai sem cessar (1Ts 5, 17)
Por que será que São Paulo foi tão sucinto e firme nesse pedido? Inspirado pelo Espírito de Deus, ele exortou os fiéis a levarem a oração muito a sério. Essa orientação é confirmada pelas Escrituras e pela Tradição Apostólica.
Sem oração, não há salvação. [1]
Neste artigo vamos meditar sobre a necessidade da oração para a salvação. Primeiro, veremos por que ela é necessária. Em seguida, abordaremos o combate espiritual. Falaremos, depois, de dois desafios à perseverança na oração. Por fim, abordaremos a necessidade de termos a fé da Igreja e daremos algumas sugestões para a sua vida de oração.
A Necessidade da Oração
É comum que, na vida de oração, Deus nos visite de modo sensível. São as chamadas “consolações”. Às vezes sentimos um calor no peito, em outras vezes são as lágrimas que correm pela face. Você certamente já teve momentos assim. Nós devemos agradecer ao Senhor por esses momentos, mas não devemos nos apegar a eles.
Há pessoas que só rezam quando sentem uma consolação (emoções agradáveis). Basta que o prazer da oração diminua para que elas se esqueçam de rezar. Esse não é um bom caminho. Devemos buscar a Deus por quem Ele é, sem almejar recompensas emocionais.
O perigo é que nosso sentido interior pode, por si mesmo, e independentemente da graça, comover-se na presença de certo objeto santo, e então a consolação tem uma certa aparência de espiritualidade, mas essencialmente é um afeto da natureza, que não deixa proveito algum. [2]
É necessário perseverar sempre na oração, com ou sem prazer. Todo dia nós nutrimos o nosso corpo com alimentos adequados: comida e bebida. Sabemos que, sem a alimentação apropriada, não vamos sobreviver. Assim como nós alimentamos o corpo todo dia, devemos nutrir a alma também.
E qual é o alimento da alma? A oração! É do relacionamento com Deus que a nossa alma se nutre. Nós precisamos rezar diariamente. O Senhor quer conceder graças às nossas almas, mas nós temos que pedir (Mt 7, 7).
Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração [3]
Vimos até aqui que a oração é uma necessidade. De tão importante, chega a ser um mandamento bíblico! Entraremos agora nas dificuldades da oração.
Combate Espiritual
Toda oração requer empenho porque ela é um combate espiritual. Ela é um dom de Deus, mas não prescinde da nossa resposta. Temos que nos decidir a viver uma vida de intimidade com o Senhor, se quisermos rezar com fruto.
A oração é um dom da graça, mas pressupõe sempre uma resposta decidida da nossa parte porque aquele que reza combate contra si mesmo, o ambiente e sobretudo o Tentador, que faz de tudo para o distrair na oração. [4]
Se há combate, é porque temos inimigos. São três os nossos inimigos: o diabo, o mundo e a carne. Mesmo assim, é possível tratá-los como um só. Usando as nossas fraquezas, o diabo tenta nos afastar dos caminhos de Deus.
Quando o diabo nos ataca diretamente, a nossa alma fica muito agitada. Ela se sente assaltada porque nós somos para Deus, não para o mal. Sugestões estranhas podem vir à mente durante a oração, como se fossem nossas.
Quando o demônio nos assalta por si mesmo, ingere em nossos ânimos amargura de espírito, porque excita pensamentos turvos, afetos inquietos, agitações penosas, desconfianças, quedas de ânimo, desesperos, invejas, ódios, rancores, tédios e melancolias de muito tormento. [5]
Mas nem sempre o ataque é tão direto assim. Pode ser que o inimigo se sirva dos seus “ministros”, que são a nossa fraqueza (carne) e as ilusões da sociedade (mundo). É preciso estar atento durante a oração para não se deixar enganar.
Geralmente nós temos concepções equivocadas a respeito da felicidade, e a sociedade trata de reforçá-las. Estamos acostumados com frases mundanas que associam fama, dinheiro ou poder à felicidade. Os falsos ensinamentos do mundo e a nossa miséria são brechas em nossas almas.
Quando, porém, [o diabo] nos aborda por meio de seus ministros, como a carne e o mundo, imprime em nós um espírito doce, mas falaz e lisonjeiro, já que desperta em nosso ânimo espécies e desejos gostosos de prazeres, de honras, de preeminências, de fausto e riquezas, com que nos pinta diante dos olhos do entendimento uma falsa felicidade, que depois deságua numa verdadeira infelicidade temporal e eterna. [6]
À primeira vista, o combate da oração parece desesperador. Mas não tenha medo! Não estamos sós. O Senhor está ao nosso lado; e todo o Paraíso reza conosco. Confie, de modo especial, na presença e intercessão de Nossa Senhora.
Assim como Maria cooperou com sua caridade para o nascimento espiritual dos fiéis, assim quer Deus que ela coopere, por meio de sua intercessão, para que possam conseguir a vida da graça, neste mundo, e a vida da glória, no outro. [7]
Vimos até aqui que a oração é necessária e que ela é um combate espiritual. Veremos agora que precisamos perseverar até o fim.
A Perseverança
Perseverar significa manter o esforço até alcançar o que se deseja. A nossa vida de oração é uma perseverança até a salvação. Não podemos afrouxar no meio do caminho! Devemos ter esperança de sermos salvos, mas sem presumir que já fomos salvos.
A dificuldade mais comum que encontramos é a distração. Muitas vezes começamos a rezar, e a cabeça vai longe. Pensamos no boleto a vencer, na comida a descongelar, em tudo menos na oração.

Se este é o seu caso, não se julgue. Nós temos fraquezas mesmo. Basta retornar à oração e perseverar. Entregue seu coração ao Senhor, com todas as preocupações que lhe vieram. Ele conhece você e quer seu bem.
Perseguir obsessivamente as distrações seria cair em suas armadilhas, já que é suficiente o voltar ao nosso coração: uma distração nos revela aquilo a que estamos amarrados, e essa tomada de consciência humilde diante do Senhor deve despertar o nosso amor preferencial por Ele. [8]
Existem distrações que são involuntárias. Como não as controlamos, não há nada que possamos fazer para reduzir a sua incidência. Mas existem distrações que são voluntárias. Elas provêm da imaginação e podem ser combatidas com um exercício que São Luís Maria ensinou para facilitar a oração do santo rosário:
Coloque-se na presença de Deus, acredite que Ele e sua santa Mãe estão olhando para você, que seu bom Anjo está à sua direita e recolhe as Ave-Marias, que, quando bem rezadas, são como rosas, para fazer uma coroa a Jesus e Maria. [9]
A distração é comum, mas não é a única dificuldade para perseverar na vida de oração. Podemos, por exemplo, passar por um período prolongado de aridez espiritual. São momentos em que o gosto de rezar parece ter ido embora.
Se este é o seu caso, examine a sua consciência. Pode ser que lhe falte uma raiz mais profunda para rezar. O caminho, então, é perseverar lutando por uma conversão mais completa de seu coração. Talvez seja o momento para uma boa confissão.
Se a aridez é causada pela falta de raiz, porque a Palavra caiu sobre as pedras, o combate deve ir na linha da conversão. [10]
Mas se você não sente gosto na oração e não encontra a causa em si, saiba que a sua aridez pode ser um momento de grande crescimento espiritual. Existem purificações pelas quais nós temos que passar, a fim de amar a Deus por quem Ele é e não pelas consolações que Ele nos concede.
É o momento da fé pura que se mantém fielmente a Jesus na agonia e no túmulo. [11]
A perseverança não é um esforço meramente humano. Nós devemos pedir o auxílio de Deus para que Ele nos sustente. Tudo aquilo que nós pedimos para a nossa salvação, o Senhor nos concede. Peçamos perseverança todo dia!
Não basta, diz Belarmino, pedir a graça da perseverança uma só vez ou mesmo algumas vezes. Devemos pedi-la sempre, todos os dias, até a morte, se quisermos alcançá-la. [12]
Falamos da oração e da perseverança até aqui. Chegou o momento de meditarmos um pouco sobre a fé.
A Fé
A fé é uma grande graça que Deus nos concede. Somos chamados a colaborar com ela. Por isso, vivemos unidos à Igreja. Nós temos que receber a fé da Igreja e cuidar dela com zelo, porque não podemos criar a fé em nós.
É antes de tudo a Igreja que crê e que desta forma carrega, alimenta e sustenta minha fé. [13]
Em nossa vida de oração, devemos desconfiar de vozes interiores que contrariam a fé da Igreja. Nossos inimigos espirituais sabem que temos um gosto desordenado por novidades. Não são poucos os que caíram porque se deixaram levar pelos desvarios interiores.
O demônio, pois, sendo o pai da mentira, atira sempre para incutir alguma falsidade em nossa mente. Mas como? (...) Assalta-nos abertamente quando nos mete na cabeça pensamentos contra a fé. [14]
Tenhamos cuidado para não perdermos o tesouro da fé! Não basta ter fé; é preciso que a fé seja verdadeira.
O Nosso Tesouro
Estamos em comunhão na fé da Igreja. Devemos, portanto, rezar sempre pela Igreja. Este é o convite que fazemos hoje. Você costuma rezar pelo papa? Ele precisa das nossas orações. E pelos bispos e padres, você reza? Não se esqueça de apoiar na oração aqueles que lhe transmitem a fé da Igreja. Estejamos sempre em comunhão.
Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, interceda por todos nós!
Referências
[1] Santo Afonso de Ligório. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4ª Edição - Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 20.
[2] Padre Scaramelli. Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 143.
[3] Santo Afonso de Ligório. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4ª Edição - Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 22.
[4] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Questão 572.
[5] Padre Scaramelli Discernimento dos Espíritos Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 31.
[6] Ibid.
[7] Santo Afonso de Ligório. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4ª Edição - Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 39.
[8] Catecismo da Igreja Católica, 2729.
[9] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Admirável Segredo do Santíssimo Rosário: para se converter e se salvar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. p. 114.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 2731.
[11] Catecismo da Igreja Católica, 2731.
[12] Santo Afonso de Ligório. A Oração: o Grande Meio para Alcançarmos de Deus a Salvação e Todas as Graças que Desejamos. 4ª Edição - Aparecida, SP: Editora Santuário, 1992. p. 87.
[13] Catecismo da Igreja Católica. p. 168.
[14] Padre Scaramelli. Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 83.