Nossa Senhora
Virgem Maria
Sagradas Escrituras

A Ave-Maria é uma oração bíblica

Cada palavra da Ave-Maria tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e, também por isso, expressa a vontade de Deus.

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Depois do Pai-Nosso, a oração da Ave-Maria talvez seja a mais popular entre os cristãos ao longo dos últimos dois mil anos. Vários fatores explicam essa popularidade: sua origem na Tradição Apostólica, sua presença na piedade popular, o apoio constante do magistério da Igreja e até revelações particulares dadas por Deus aos santos.

Porém, há um aspecto importantíssimo que devemos destacar: a Ave-Maria é uma oração bíblica! Cada linha dessa oração tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e, também por isso, expressa a vontade de Deus. Ao rezá-la, estamos, direta ou indiretamente, proclamando a Palavra de Deus, permitindo que ela seja louvada publicamente e meditada em nossos corações.

Nosso objetivo, ao explorar a Ave-Maria como uma oração bíblica, é aprofundar o conhecimento da nossa fé e evidenciar a todos, inclusive aos protestantes, a força da Palavra de Deus em relação à mãe do Salvador.

Ao compreendermos melhor o significado da Ave-Maria e suas raízes nas Escrituras, podemos encorajar cada pessoa a rezá-la, confiantes de que é uma oração agradável a Deus, fundamentada em Sua própria Palavra.

“Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco”

A primeira parte da Ave-Maria traz a saudação do anjo Gabriel à Virgem, encontrada em São Lucas 1, 28: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”. As palavras do anjo são um cumprimento de uma promessa divina. É a alegria da promessa messiânica, profetizada especialmente no livro do profeta Sofonias (3, 17): “O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, um guerreiro que salva; Ele exulta de alegria por tua causa, renova-te com seu amor, e dança e grita de alegria por tua causa”.

Ao dizer “cheia de graça” (ou “toda agraciada”), o anjo usa o termo grego “kekharitoméne”, que denota que Maria foi agraciada de maneira única. Essa expressão “toda agraciada” destaca uma qualidade conferida à pessoa, o que significa que Maria foi completamente preenchida pela graça divina, e não por suas forças. Essa graça é tão plena que não há em Maria espaço para a desgraça do pecado, pois Deus a preparou para a missão que ela haveria de cumprir.

A Virgem de Nazaré estava destinada a ser um templo puro para a vinda do Salvador. Após saudá-la dessa forma, o anjo Gabriel anuncia que o próprio Deus é com ela, acompanhando-a e sustentando-a de maneira singular, pois ela seria a Mãe do Salvador.

Saibamos, que já a primeira frase da Ave-Maria faz estremecer todo o inferno. A saudação do anjo Gabriel é particularmente odiada por Satanás, pois marca o início do cumprimento do plano redentor de Deus entre os homens, exaltando Maria, uma humilde criatura humana, escolhida para trazer o Salvador.

Ao consentir com esse anúncio do mensageiro do Senhor, Maria oferece seu “sim” e, com isso, permite que o Verbo de Deus se encarne e entre no mundo para redimi-lo. Esse momento representa o começo da derrota das forças do mal, pois pela obediência e humildade de Maria, a salvação começa a se manifestar em toda a humanidade.

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“Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”

Essa segunda parte da Ave-Maria vem da saudação de Isabel a Maria, registrada em São Lucas 1, 42: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre”. Isabel, cheia do Espírito Santo, reconhece a singularidade de Maria e a grandeza do seu papel no plano do Senhor.

Ao chamá-la de “bendita entre as mulheres”, Isabel declara que Maria é a mulher mais exaltada da história, desde Eva até a eternidade. Na verdade, ela é a nova Eva, pois, enquanto Eva contribuiu para a queda da humanidade ao ceder à tentação, Maria participa da redenção ao aceitar ser a mãe do Redentor.

O paralelo entre Eva e Maria é fundamental para entender a profundidade dessa expressão. Eva, ao comer do fruto proibido, trouxe o pecado e a morte ao mundo. Mas de Maria vem o “fruto bendito”, Jesus, que é a fonte de nossa salvação.

Jesus é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29), e é por meio de Seu nascimento que o Pai nos oferece a redenção. Maria, portanto, é bendita, pois foi escolhida para trazer o fruto do amor do Pai pelo mundo: Seu próprio Filho encarnado. As palavras de Isabel, descritas por São Lucas, são um “canto” de Deus que deve ser ecoado por nossos lábios.

“Santa Maria”

A palavra “Santa” significa “separada” e reflete o lugar de Maria em relação à sua eleição como mãe do Salvador. Como vimos, o termo grego “kekharitoméne”, usado pelo anjo Gabriel, indica que Maria foi “totalmente preenchida pela graça”, ou seja, é alguém em quem a graça de Deus atua de maneira completa e perfeita.

Além disso, Isabel, ao se dirigir a Maria, afirma que ela é “bem-aventurada” por ter acreditado (cf. São Lucas 1, 45). Na Bíblia, o termo “bem-aventurado” é usado para descrever aqueles que são justos, santos e amigos de Deus, pois caminham com Ele e vivem em Sua presença.

Por exemplo, Abraão é uma das figuras mais proeminentes da história da salvação. Por meio dele, nasceu “Israel”, o povo da antiga aliança, estabelecendo uma linhagem de fé e obediência a Deus. A santidade de Abraão é tão exaltada nas Sagradas Escrituras que ele é considerado o pai dos justos e o modelo de fé. O próprio Jesus, na parábola do Rico e do mendigo Lázaro, indica que aqueles que morriam em amizade com Deus repousavam no “seio de Abraão”, um lugar de descanso para as almas fiéis antes da redenção.

Se Abraão é exaltado por sua “justiça” — termo usado no Antigo Testamento para expressar santidade —, Maria ocupa um papel ainda mais elevado. Explicamos: no ventre da Virgem foi gerado o “novo Israel”, Jesus Cristo, a fonte da nova e eterna aliança. Enquanto Abraão representa a promessa de fé, em Maria se dá o cumprimento dessa promessa, pois ela foi escolhida como o canal pelo qual o Messias veio ao mundo. A bem-aventurança de Maria transcende a de Abraão, pois nela Deus preparou um templo puro para a vinda do Salvador.

A santidade de Maria é reconhecida desde os primeiros tempos dos escritos apostólicos. Como mãe do Filho de Deus, ela é o odre novo para o Vinho novo (cf. Mt 9, 17), é a vinha do Senhor, inteiramente pura, preparada desde sua concepção. Se o solo onde Deus se manifestou a Moisés por alguns instantes é considerado terra santa, quanto mais santa é a “terra” que acolheu o próprio Deus feito homem, onde Ele habitou e se nutriu. A santidade de Maria é, assim, o novo Éden para o novo Adão.

Vale ressaltar que a santidade de Maria, totalmente enraizada nas Escrituras, não se deve apenas ao fato de que Deus a escolheu e a preparou de maneira especial para essa missão única, mas também por seus méritos na cooperação com a graça divina.

Maria aceitou e cumpriu a vontade de Deus até o fim — desde o “sim” ao anjo até o Calvário e, posteriormente, em Pentecostes —, quando, sustentando a fé dos Apóstolos, tornou-se Mãe da Igreja: Mãe de Jesus, a Cabeça, e de Seu Corpo Místico, a Igreja.

“Mãe de Deus”

Em São Lucas 1, 43, Isabel refere-se a Maria como “mãe do meu Senhor (Kyrios)”. O título “Kyrios”, usado para Jesus, é uma afirmação de Sua divindade. No grego, “Kyrios” corresponde ao hebraico “Adonai”, título sagrado dado ao próprio Deus.

Isabel reconhece, portanto, que o fruto do ventre de Maria é verdadeiramente Deus. Essa expressão é a base para a doutrina de que Maria é a Mãe de Deus — Theotokos. Ao chamarmos Maria de Mãe de Deus, não se declara que ela seja mãe da Santíssima Trindade ou que tenha gerado a natureza divina de Deus Pai, do Filho ou do Espírito Santo. Em vez disso, a Igreja afirma que Maria é a mãe de Deus Filho feito homem, pois ela deu à Pessoa Divina do Filho uma natureza humana — e isso é realmente belíssimo, impressionante!

Também, o uso de “Senhor” para se referir a Jesus é significativo na mensagem do anjo aos pastores em Belém: “Hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11). A declaração do anjo aos pastores não só apresenta Jesus como Salvador e Messias, mas também como o próprio Deus encarnado, um mistério tão grandioso que causou espanto e maravilha aos que ouviram (cf. São Lucas 2, 18).

Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, e sua divindade e humanidade não podem ser separadas. A doutrina de que Maria é Mãe de Deus é uma expressão da fé cristã na encarnação. Por isso, ao confessarmos junto a Isabel que Maria é Mãe do Senhor, reconhecemos que ela é a Mãe de Deus encarnado. Esse título não diminui a centralidade de Cristo; pelo contrário, exalta o mistério da encarnação e o amor de Deus que se fez homem para nos salvar.

Esse reconhecimento, que nos leva a chamar Maria de Mãe de Deus, assim como fez Isabel, é uma expressão de fé inspirada pelo Espírito Santo. Como afirma São Paulo: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor (Kyrios), senão pelo Espírito Santo” (1Cor 12,3).

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“Rogai por nós pecadores...”

Na última parte da Ave-Maria, pedimos a Maria que interceda por nós. Esse pedido de intercessão encontra respaldo na Bíblia, especialmente na passagem das Bodas de Caná (Jo 2, 1-11). Em Caná, Maria intercede junto a Jesus, e Ele, em resposta ao pedido de Sua mãe, realiza Seu primeiro milagre.

Vamos explicar o sentido espiritual dessa passagem. Quando o vinho acaba, sinalizando uma falta que poderia trazer constrangimento e tristeza aos noivos, Maria prontamente percebe a necessidade e se dirige a Jesus, confiante em Sua capacidade de ajudar.

No contexto espiritual, os noivos de Caná simbolizam o próprio Cristo, o Esposo, e a Igreja, Sua esposa — uma imagem esponsal claramente expressa em Apocalipse 21, onde Cristo e a Igreja são apresentados como Esposo e Esposa. Assim, Maria age como intercessora no “casamento” entre Cristo e a Igreja, pedindo que o “vinho” do Espírito Santo — símbolo da graça divina — nunca falte nessa relação.

Esse vinho espiritual representa a presença contínua do Espírito, a alegria e a vitalidade que mantêm a Igreja unida a Cristo, de modo que, por Ele, com Ele e n’Ele, a alegria e a plenitude da vida divina estejam sempre presentes em nosso caminhar de fé.

“... agora e na hora da nossa morte”

O pedido de intercessão a Maria ganha especial importância no momento da morte, que os cristãos sempre enxergaram como um momento de grande combate espiritual. Os Apóstolos alertam sobre a vigilância constante contra o inimigo de nossas almas, o diabo, que “anda ao redor, como leão que ruge, procurando a quem devorar” (1 Pe 5, 8) e nos aconselham a nos “revestir de toda a armadura de Deus” para resistir às ciladas do maligno e permanecer firmes no “dia mau” (Ef 6, 11-13).

Essa batalha espiritual é intensa ao longo de nossa vida, mas torna-se especialmente dramática nos momentos derradeiros, quando o inimigo busca, com todas as suas forças, lançar as almas ao desespero e afastá-las de Deus na hora da morte.

É, portanto, crucial que nos preparemos espiritualmente, buscando viver em estado de graça, recorrendo aos sacramentos, especialmente à confissão, e confiando-nos à proteção da Mãe de Deus, para resistir às últimas tentações que Satanás possa nos impor.

Roguemos pela misericórdia divina, pedindo a intercessão de Nossa Senhora para obtermos a graça de uma boa morte e a força espiritual necessária para enfrentar as provações finais. Que possamos nos manter firmes, perseverantes e confiantes no amor e no perdão de Deus até o último instante de nossa jornada.

Nos lábios e no coração: a Palavra de Deus

A Ave-Maria não é apenas uma expressão da fé católica transmitida pela Tradição Apostólica; é também profundamente enraizada nas Escrituras e uma prova do amor de Deus por todos nós. Ao recitá-la, exaltamos o plano de Deus — um plano que nos chama a louvar a obra de Redenção realizada em Cristo e a glorificar a Deus pelos dons com os quais Ele agraciou Sua Mãe.

Que essa oração continue a nos orientar para Deus e a nos colocar sob a intercessão amorosa de “nossa Mãe” (cf. São João 19, 26-27). Com serenidade e plena certeza, digamos: rezar a Ave-Maria é colocar nos lábios e conservar no coração a própria Palavra de Deus.

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