O testemunho de Santa Gema Galgani resplandece como um farol diante do mistério da cruz. Esta jovem italiana, escondida do mundo, viveu com o próprio corpo e a própria alma aquilo que todo cristão é chamado a aspirar e contemplar: a Paixão de Nosso Senhor.
Existem almas que Deus escolhe para tornar visíveis aquelas verdades eternas que o mundo esforça-se por esquecer. Diante de uma cultura hedonista, fascinada pelas luzes dos anúncios e das telas; pelos confortos e pelas facilidades da contemporaneidade, a vida de Santa Gema, hoje, desconcerta a muitos por ser profundamente marcada pelo sofrimento. Vivendo apenas por vinte e cinco anos, ela não só suportou as duras condições que a vida lhe impunha, mas também buscava sofrer dentro dos limites da penitência cristã. Não era um sofrer por sofrer, mas um padecimento que se revestia de virtude: era baseado, antes de tudo, em um amor sacrificial.
Um coração todo de Deus
Era o ano de 1878, na aldeia de Camigliano, perto de Luca, na Itália. Uma família simples, mas profundamente católica, teve a graça de acolher em seu seio três filhos homens. Eis que um dia, Enrique e Aurélia Galgani, suspirando por uma menina, ganham do céu aquela que decidem chamar “Gema”, que significa “jóia preciosa”. Por força da graça, Gema não o foi só por nome, mas pela vida santa - ainda que breve - que levou diante de Deus [1].
Sua mãe foi a responsável por apresentá-la aos caminhos do Senhor. A menina demonstrou, já em tenra idade, uma atração muito profunda pelas coisas espirituais. Conta-se que uma vez, aos quatro anos foi encontrada ajoelhada diante de uma imagem da Santíssima Virgem. Com as mãozinhas postas e os olhinhos fechados, recitava lentamente uma Ave-Maria.
“Gema, o que você está fazendo?”, perguntaram seus parentes. “Rezo uma Ave-Maria. Me deem licença, por favor, pois estou em oração” [2].
Se ainda pequena era afeiçoada à uma vida piedosa, não demorou a conhecer também o que era sofrer. Aos sete anos, por tuberculose pulmonar, perde sua mãe, que, falando da encantadora formosura da alma e a maldade do pecado, expira para a glória dos bem-aventurados. Neste instante, põe-se aos pés de Nossa Senhora e diz:
“Maria, já não tenho mais mãe. Seja tu a minha mãe daí do céu”.
Nas mãos de Aurélia jazia um crucifixo, e, na mente de Gema, a frase da mãe que parece ter sido objeto de longas meditações por toda a sua vida: “Veja, minha filha, este amoroso Jesus foi morto na cruz por nós” [3].
O perfeito domínio de si mesma, a singular afeição ao estudo do catecismo a sua vida exemplar permitiram com que ela fizesse a primeira comunhão antes das outras crianças, aos nove anos. Nessa época já não podia conter as suas lágrimas ao ouvir falar da Paixão de Jesus. Registra em seu diário:
“Oh Jesus, quero seguir-Te no Calvário; quero acompanhar-Te até o último suspiro de vida. Quero ficar sempre junto da cruz. Quero, sim, morrer contigo.” [4]
Dor, orfandade e miséria
Se Deus a cumulou de tantas graças, decidiu fazê-la santa também pelos caminhos da Cruz. Gema nutria um forte desejo de ir para o céu. Jesus, por sua vez, acrescentava mais aos seus merecimentos. Quando completou dezoito anos, faleceu o seu melhor amigo e irmão confidente, Gino. Depois de um tempo, sofreu uma lesão no pé que se desenvolveu para uma doença grave. A perna poderia ter sido amputada, mas os médicos decidiram fazer apenas uma raspagem no osso. Gema, recusando o uso do clorofórmio - um anestésico da época - pediu em seu lugar uma cruz. No procedimento mais doloroso da operação, não pode evitar que se lhe escapasse algum gemido. Olhando para o crucifixo, emudecia, pedindo perdão ao Senhor por sua debilidade.

Por essa época a família afunda em uma crise financeira que culmina na morte de seu pai. Uma outra enfermidade lhe vergou o corpo com dores atrozes nos rins, nas costas e na cabeça — um calvário que se estendeu por mais de um ano, acompanhado de paralisia e meningite. Mas, enquanto seu corpo definhava, sua alma se elevava em desejos mais ardentes de santidade.
Os médicos, dessa vez, a deram por perdida, mas Deus tinha outros planos. Na véspera da Solenidade da Imaculada Conceição, movida pela fé e inspirada pelas religiosas que a assistiam, Gema prometeu entregar-se inteiramente a Deus, consagrando a Ele sua virgindade. Foi então que teve uma visão de São Gabriel da Virgem Dolorosa, que lhe apareceu — e, por um milagre, foi completamente curada.
O sacrifício junto ao Sacrifício de Jesus
No ano de 1899, o céu quis unir Santa Gema Galgani ainda mais profundamente à Paixão de Cristo. Foi-lhe concedido o dom dos estigmas — as chagas do Salvador impressas em sua carne frágil. Este sinal visível do amor de Jesus crucificado era para Gema um segredo, escondido dos olhares do mundo, velado pela prudência do diretor espiritual e pela delicadeza de sua mãe adotiva, Dona Cecília.
Entregue à direção do Padre Germano — enviado por Deus para guiá-la pelos caminhos da cruz — Gema viveu experiências místicas extraordinárias. Na simplicidade dos dias comuns, Deus lhe visitava com graças singulares. Certa noite, durante uma quinta-feira — dia da Eucaristia e da agonia do Senhor no Horto — Gema, sentindo que entraria em êxtase, retirou-se do jantar. Ali, na solidão do quarto, travava uma batalha de amor e misericórdia diante de Deus: suplicava a conversão de um pecador, oferecendo-se em oração e intercessão. O diálogo espiritual era ardente: “Salva-o, Senhor, é uma alma que Te custou tanto!” [5].
Pouco depois, o sinal de que sua oração foi ouvida: um homem bate à porta, ansioso por confessar-se. Era o pecador por quem ela clamava. Padre Germano o acolheu e, tocado pela graça, o homem se arrependeu profundamente. A própria confissão foi iluminada pelos detalhes que o padre ouvira durante o êxtase da jovem santa.
Nos últimos meses de sua breve vida, Santa Gema Galgani experimentou um verdadeiro Calvário. As dores físicas se uniam às terríveis investidas do demônio, que tentava perturbá-la com visões horrendas e assaltos espirituais cruéis. Mesmo mergulhada em um mar de sofrimento, sua alma permanecia firme, unida a Jesus Crucificado. Escreveu em seu diário:
“Jesus está comigo, não tenho medo de nada. (...) Tudo o que faço é para Jesus, tudo o que sofro é por Jesus, tudo o que quero é Jesus.” [6].
Em um de seus últimos dias, revelou com simplicidade e amor aquilo que o próprio Senhor lhe dissera: “Me disse Jesus que seus filhos devem morrer crucificados.” Gema, consumida de amor pelas almas, entregou-se por completo. Ofereceu-se a Deus como vítima expiatória pelos pecadores, desejando que seu sofrimento não fosse em vão, mas que se tornasse fonte de conversão e misericórdia para o mundo.
A nós, hoje, o exemplo da Virgem de Luca é luminoso. É impossível não admirar-se com os exemplos de sua vida, abnegada e recolhida. Ao passo que buscamos sempre mais benefícios próprios, Santa Gema Galgani aponta para a doação total conformando-se à Paixão do Senhor. Através da penitência, busquemos nos aproximar mais dessa entrega de amor ao Nosso Deus crucificado, que tanto nos ama e se dá a nós.
Santa Gema Galgani, rogai por nós!
Referências
[1] Benjamín Martín Sanchez. Santa Gema Galgani. Sevilla: Apostolado Mariano, s/d. p. 04.
[2] Ibid, p. 04.
[3] Ibid, p. 06.
[4] Gema Galgani. Diário e Cartas. 7ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 85.
[5] Germano De Santo Estanislau, Santa Gema Galgani. 2ª. ed. Jundiaí, SP: Editora Ecclesiae, 2014. p. 278.
[6] Gema Galgani. Diário e Cartas. 7ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 85.