Em 2017, a Igreja comemorou um Ano Jubilar em ação de graças pela vida admirável de Santa Rosa de Lima. Fazia quatrocentos anos que ela havia partido para o Céu. Seu amor ao Senhor Jesus Cristo e à Igreja continua a inspirar muitos corações em todo o mundo.
Humildade, oração e penitência são as principais qualidades que vêm ao coração quando meditamos sobre Santa Rosa de Lima. Temos muito a aprender com ela. Este artigo é um convite para você conhecer melhor a padroeira da América Latina. Primeiro, você vai aprender um pouco sobre a sua biografia. Depois, vamos meditar sobre a experiência mística que ela viveu. Por fim, deixaremos uma sugestão de oração.
Uma Vida Intensa
Santa Rosa de Lima viveu poucos anos. Nasceu em 1586 e faleceu já em 1617, aos trinta e um anos de idade. Tinha origem abastada (rica), mas não era apegada à sua posição social. Trabalhou duro quando precisou ajudar sua família.
Mesmo sendo proveniente de uma família nobre de imigrantes espanhóis que se estabeleceram no Peru, não hesitou arregaçar as mangas quando os seus familiares, por uma série de desventuras, se encontraram em dificuldade econômica. [1]
Não se tratava apenas de uma virtude moral. Seu compromisso com a família expressava a intimidade que tinha com Cristo na vida de oração. A humildade era um verdadeiro fruto espiritual.
Desde a adolescência optou por seguir Jesus com íntimo arrebatamento, inscrevendo-se na Ordem Terciária dominicana e tomando como modelo e guia espiritual Catarina de Sena. [2]
Santa Rosa tinha forte compaixão pelos mais necessitados. Em meio aos cuidados que lhes prestava, sem jamais descuidar de outros deveres, dedicou-se a uma vida espiritual cada vez mais intensa. Era assídua à oração e fazia muitas penitências.
Dedicada ao cuidado dos pobres e aos trabalhos ordinários que uma dona de casa é chamada a desempenhar quotidianamente, impôs-se um regime de vida austero que se distinguia por uma extraordinária penitência. [3]
Todos nós devemos praticar algum tipo de penitência, mas é preciso tomar cuidado com a presunção. Não podemos, com as nossas próprias forças, copiar os atos dos grandes santos. Sem a Graça de Deus, nada podemos de bom.
As penitências de Santa Rosa diziam respeito à sua santidade. Elas foram reproduzidas por outros santos, que alcançaram a mesma estatura. Nós temos registros, por exemplo, de que Santa Verônica Giuliani, com apenas três para quatro anos de idade, já imitava as rigorosas penitências da vida de Santa Rosa de Lima.
Nessa mesma idade de três para quatro anos, ouvindo [Santa Verônica Giuliani] que Santa Rosa de Lima açoitava-se com disciplina muitas vezes, não sabendo como havia de fazer para imitá-la, desatava o seu aventalzinho. [4]
Penitências, caridade, orações: toda a vida de Santa Rosa foi intensa no amor a Cristo! Mas qual terá sido o seu estado de vida? Ao contrário do que muitos pensam, ela não foi uma freira.
O Estado de Vida
Santa Rosa fez uma experiência vocacional no mosteiro de Santa Clara, mas não se sentiu chamada a permanecer nele. Aos poucos, com a Igreja, discerniu qual era a vontade de Deus para a sua vida. Tornou-se uma leiga terciária dominicana. Adotou então uma disciplina religiosa, porém vivia próxima a seu ambiente familiar.

Com 23 anos, fechou-se numa cela com apenas dois metros quadrados, que se fez construir pelo irmão no jardim de casa e da qual saía só para ir às funções religiosas. E era precisamente nesta angusta e voluntária prisão que transcorria a maior parte dos seus dias em contemplação, em intimidade com o seu Senhor. [5]
Eis uma grande lição! Todos nós somos chamados à santidade, mas cada um tem o seu caminho. É um mito achar que somente os consagrados são vocacionados à santidade. O leigo deve discernir o que Deus lhe pede. Para alguns, o caminho é matrimônio; para outros, a vida consagrada. Há ainda outros estados de vida mais raros, como o de Santa Rosa. O importante, porém, é que o discernimento seja feito na Igreja.
Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos. [6]
Em apenas trinta e um anos de idade, Santa Rosa de Lima atingiu elevada santidade. Vamos agora conhecer um pouco mais de sua vida interior.
Uma Vida Mística
Santa Rosa deixou-se conduzir até o cume da vida espiritual. No entanto, não foi uma subida fácil! Ela teve que desapegar-se das gratificações meramente emocionais da presença de Deus, para aceitar unir-se a Cristo na Cruz, purificando assim a sua alma. Por vezes, chegava a sentir-se como que abandonada por Deus.
Como a Catarina de Sena, também a ela foi concedida a graça mística de participar fisicamente na paixão de Jesus, que tinha elegido como seu Esposo, e por 15 anos teve que atravessar a dura experiência interior da ausência de Deus, aquelas dores do espírito que São João da Cruz, o reformador do Carmelo, chama a “noite escura”. [7]
Você já ouviu falar da “noite escura” da alma? É uma experiência reservada aos grandes santos. O Senhor conduz certas almas eleitas a uma espécie de crise, para purificar o seu interior. Nesse momento, a alma não sente mais os prazeres característicos do início da vida espiritual, nem desfruta das habilidades próprias da fase imediatamente posterior.
Em que consiste esta crise? A alma se sente então como despojada, não apenas das consolações sensíveis, mas também das luzes que havia recebido sobre os mistérios da salvação, de seus ardentes desejos, daquela facilidade de agir, de ensinar, de pregar, em que se comprazia por um secreto orgulho, considerando-se superior aos outros. É este o tempo de uma grande aridez. [8]
Mas por que será que o Senhor age assim? É difícil para nós entendermos, mas trata-se de um ato de amor! Jesus quer nos unir a Si mesmo para sermos plenamente felizes. As nossas imperfeições e os nossos pecados devem ser superados de vez, reduzidos a cinzas. Assim, o Senhor envia o Espírito Santo para atear fogo à alma, incandescendo-a no Seu amor.
O fogo do amor de Deus é igual ao que progressivamente desseca a madeira, a penetra a inflama e a transforma a si mesmo. As provações desse período são permitidas por Deus para conduzir os avançados a uma fé mais elevada, a uma esperança mais firme, a um amor mais puro. [9]
A medida da santidade não está nos milagres e visões, mas sim no amor e na configuração a Cristo. É por isso que a vida de Santa Rosa de Lima não prescindiu de fortes sofrimentos. No recolhimento, sua alma era provada e progredia de dor em dor.
A vida de Rosa foi escondida e no sofrimento a qual, condescendendo ao Espírito Santo, alcançou o vértice alto da santidade. [10]
Essa é mais uma lição para a nossa vida espiritual. A ninguém é dado viver sem passar por sofrimentos. Infelizmente, porém, poucos são aqueles que aprendem a oferecê-los a Deus. Murmurando contra as adversidades, jogam fora um tesouro espiritual.
“Se os homens soubessem o que significa viver na graça, não se assustariam diante de qualquer sofrimento e padeceriam de bom grado qualquer pena, porque a graça é fruto da paciência” [11]
A vida de Santa Rosa de Lima foi centrada na intimidade com Cristo. Tudo que ela fazia, como orações e esmolas, voltava-se a responder ao amor de Cristo de modo concreto. Esse é um chamado para todos nós!
Uma Amiga no Céu
A fama de santidade de Santa Rosa de Lima estendeu-se pelo mundo antes mesmo da canonização, em 1671. Hoje ela está na Glória de Deus, de onde intercede por nós. Você já pediu alguma graça por meio de sua intercessão?
Talvez hoje seja um bom dia para recorrer a esta grande amiga no Céu. Deixamos aqui uma oração extraída da Liturgia das Horas, que você poderá rezar se assim desejar:
Ó Deus, que inspirastes Santa Rosa de Lima, inflamada de amor, a deixar o mundo, a servir os pobres e a viver em austera penitência, conceda-nos, por sua intercessão, seguir na terra os vossos caminhos e gozar no céu as vossas delícias. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. [12]
Santa Rosa de Lima, rogai por nós!
Referências
[1] Cardeal Tarcisio Bertone. Homilia na Celebração Eucarística no Santuário de Santa Rosa de Lima. Chimbote (Peru), 31 de Agosto de 2007.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] Padre Filippo Maria Salvatori. Santa Verônica Giuliani. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017. p. 34.
[5] Cardeal Tarcisio Bertone. Homilia na Celebração Eucarística no Santuário de Santa Rosa de Lima. Chimbote (Peru), 31 de Agosto de 2007.
[6] Papa Francisco. Gaudete et Exsultate (14).
[7] Cardeal Tarcisio Bertone. Homilia na Celebração Eucarística no Santuário de Santa Rosa de Lima. Chimbote (Peru), 31 de Agosto de 2007.
[8] Garrigou-Lagrange. As Três Vias e as Três Conversões. Rio de Janeiro, RJ: Editora Permanência, 2011. p. 84.
[9] Ibid, p. 85.
[10] Cardeal Tarcisio Bertone. Homilia na Celebração Eucarística no Santuário de Santa Rosa de Lima. Chimbote (Peru), 31 de Agosto de 2007.
[11] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 20 de Agosto de 2008.
[12] Liturgia das Horas. Ofício Divino renovado conforme o decreto do Concílio Vaticano II e promulgado pelo Papa Paulo VI. Rio de Janeiro, RJ: Editoras Vozes, Paulinas, Paulus e Ave-Maria, 2004. Páginas 1340-1341.