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Teologia

O inferno existe! O que a Igreja ensina sobre ele?

A revelação de que o Inferno existe não é um artigo de fé para nos conduzir ao medo, é antes, um ato de misericórdia conosco.

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De tudo que a Igreja ensina, a realidade do Inferno é talvez o tema mais repudiado pelo mundo. Por que será? Nem mesmo se leva a sua existência a sério! E não faltam pessoas que chegam a fazer piada com o Inferno.  

Este artigo é um convite para você aprofundar a sua fé. Você aprenderá que não há razão para ter medo. A revelação do Inferno foi um ato de misericórdia conosco. Primeiro, vamos conhecer como a Bíblia foi mostrando-nos que o Inferno existe. Em seguida, veremos algumas experiências dos santos. Por fim, vamos discutir uma diferença importante entre os pecados. Esse é um tema fundamental para a nossa salvação!

O Testemunho da Bíblia

Do Antigo ao Novo Testamento, a revelação do que acontece com o homem após a morte foi feita de maneira gradual. Assim, por exemplo, no primeiro livro da Bíblia, fala-se apenas que existe um lugar para os mortos.

Você sabe qual é esse livro? É o Livro do Gênesis. Nele lemos que, certa vez, os irmãos de José cogitaram que Benjamin descesse com eles para o Egito. Jacó, que era o pai de todos eles, não aceitou e disse:

“Meu filho não descerá convosco. Seu irmão morreu, só resta ele. Se lhe acontecer uma desgraça na viagem, que ides fazer, de tristeza fareis descer meus cabelos brancos ao Xeol.” (Gn 42, 38)  

Se você não está familiarizado com a história de Jacó, não se preocupe. O que importa aqui é a menção ao Xeol,  que designava o lugar em que os mortos habitavam. Era praticamente tudo que sabiam sobre a vida após a morte.  

Naquele tempo, ainda não estava muito claro que os justos e os  ímpios — os santos e os condenados, na linguagem atual — recebiam cada qual a sua recompensa. Coube aos profetas falar mais diretamente do que acontece na eternidade.

É aos grandes profetas que Deus começa a descobrir claramente as perspectivas da vida futura. [1]

É verdade que não havia ainda a palavra “Inferno”, mas a realidade a que esta palavra se refere passou a ser conhecida. O profeta Daniel, por exemplo, anunciou um suplício eterno reservado àqueles que odeiam a Deus.

O Inferno e os sete pecados capitais. Pintura da Escola Francesa.
Muitos daqueles que dormem no solo poeirento acordarão: uns para a vida eterna, outros para a ignomínia eterna. (Dn 12, 2)

Somente em Cristo, porém, tudo ficaria nítido. À medida que o tempo de preparação do Antigo Testamento chegava ao fim,  aproximando-se a iminente manifestação de Jesus para  Israel, São João Batista insistia na necessidade de conversão. Em sua pregação, ele advertia seus ouvintes do risco de serem palha para o fogo inextinguível!

Ele está com a pá na mão para limpar o trigo, ele o guardará no celeiro; mas a palha, ele a queimará num fogo que não se apaga. (Lc 3, 17)

Não se tratava de um exagero retórico. O próprio Senhor Jesus, tendo convidado todos à conversão, falou por parábolas da salvação eterna para os bons e da condenação para os maus. Cada alma escolherá livremente o que deseja para si.

Esse ensinamento está exposto também nas parábolas do joio, da rede, das núpcias reais, das virgens prudentes e das virgens tolas e na dos talentos. [2]  

Talvez uma ilustração seja conveniente para demonstrar que o Senhor não deixou margem para dúvidas quanto à existência do Inferno. Ele prometeu que, no fim dos tempos, julgará a humanidade e disse que serão condenados aqueles que decidiram rejeitar o amor de Deus:

Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. (Mt 25, 41)

Vimos até aqui que a revelação da existência do Inferno ocorreu pouco a pouco, até a vinda de Jesus Cristo. Mas qual foi a consequência prática dessa verdade na vida dos santos?

O Testemunho dos Santos

Os santos mártires testemunharam com o próprio sangue que a verdadeira fé vence o mundo. Eles não se deixaram levar pelas seduções mundanas, nem pelos prazeres carnais. Recusaram, assim, todo caminho mentiroso proposto pelo diabo.

O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé. [3]

Não que tenham buscado a morte! A vida é um dom precioso. No entanto, quando pessoas más quiseram forçar-lhes a renegar a fé, eles perseveraram até o fim.  Preferiram enfrentar suplícios terríveis, como a fornalha, a correr o risco da condenação.

Os mártires diziam frequentemente que não temiam o fogo corporal, mas o fogo eterno. [4]

Como poderíamos entender o martírio, se não houvesse o Inferno?  Infelizmente, vivemos em uma época na qual muitos duvidam que ele exista. Talvez por essa razão, cada vez mais pessoas cometem pecados graves, vivendo como se fosse banal rejeitar os Mandamentos de Deus.  

Mas o Senhor sempre se compadece de nós. Ele enviou-nos o mais terno auxílio, Sua Mãe, para recordar-nos deste dogma da nossa fé. Foi em 1917, quando Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos em Fátima e mostrou-lhes o Inferno!

Aquela foi uma visão dramática, que nunca seria esquecida pela venerável irmã Lúcia. Ela viu as almas dos condenados e os demônios fervilhando como brasas incandescentes no fogo que não se apaga. Leia com atenção estas palavras da própria vidente:

Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. [5]  

Por que será que Nossa Senhora mostrou justamente o Inferno? Certamente foi um gesto de misericórdia, para o nosso bem! Ninguém pode dar-se ao luxo de negar que o caminho do Maligno é a perdição eterna.

A Decisão Fundamental da Vida

Ao longo da vida, cada um de nós tem que tomar uma decisão fundamental. Queremos amar a Deus, acolhendo Sua vontade em tudo, ou preferimos a nós mesmos? Céu e Inferno são realidades do mundo que há de vir, mas a escolha é feita nesta vida.

O Senhor Jesus não mediu palavras para explicar a gravidade dessa escolha. Ela não é feita da boca para fora, mas com a vida concreta. Quem se decide pelo amor a Deus é uma pessoa que obedece aos Mandamentos.

Quem acolhe os meus mandamentos e os observa, esse é quem me ama. (Jo 14, 21a)

E o contrário!? Sabemos que quem ama a Deus obedece, mas será que todo aquele que desobedece é uma pessoa que O odeia? Aqui é preciso tomar cuidado para não julgarmos o próximo. Não conhecemos o coração de ninguém. Somente o Espírito Santo, que sonda os corações, saberá dizer se se trata de um caso de ignorância ou de obstinação.

Pecados Veniais e Mortais

Que devemos fazer, então? Fugir do pecado! Existe algo pior do que ofender a Deus? Não se engane: todos os pecados são horrorosos! O mundo banaliza esse mal, mas nós não seguimos o mundo.

O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações. [6]

A sabedoria da Igreja nos ensina que existem dois tipos de pecados. Você sabe quais são? Os veniais e os mortais. Ambos os tipos são uma ofensa a Deus e, portanto, devem ser repelidos. No entanto, a gravidade da ofensa não é a mesma em todo caso.

Pecado mortal é aquele que mata a vida da alma! Ele é a morte espiritual, de que falam as Escrituras (1Jo 3, 14-15). Os condenados ao Inferno são almas de pessoas que morreram obstinadas no pecado mortal.

Se você cometeu algum pecado mortal, busque a confissão. Você sabe reconhecê-lo? É um pecado que ofende a um dos Dez Mandamentos (matéria grave), cometido com conhecimento do que se faz (plena consciência) e com determinação de fazê-lo (deliberação).

O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior. [7]

E o pecado venial?  É aquele em que falta um dos elementos acima. Pode ser que não ofenda a um dos Dez Mandamentos (lei moral); ou até que os ofenda, mas sem conhecimento do que se faz (plena consciência) ou sem  determinação de cometê-lo (deliberação).

Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento. [8]

Tenha cuidado com o pecado venial. Ele fere a alma, como uma grave doença, embora não a mate. É importante combatê-lo com rigor, pois poderá conduzir a alma a um pecado mortal. Com a salvação não se brinca!

Esperança de salvação

A revelação de que o Inferno existe não é um artigo de fé para nos conduzir ao medo. Trata-se de um ato de misericórdia para conosco. Seremos julgados pelo Senhor Jesus, que nos ama. Ele quer a nossa salvação.

Não será um estranho que nos julgará, e sim aquele que conhecemos pela fé. Assim, o juiz não surgirá diante de nós como um ser totalmente desconhecido, será um de nós, que conheceu e sofreu a existência humana em seu íntimo. [9]

Devemos fazer a nossa parte. Cabe-nos o arrependimento pelos pecados e o esforço sincero de evitá-los. E se cairmos de novo no pecado? Confissão. Volte ao confessionário, com confiança na Divina Misericórdia.

Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências

[1] Garrigou-Lagrange. O Homem e a Eternidade: a Vida Eterna e a Profundidade da Alma. Campinas, SP: Ecclesiae, 2018. p. 116.

[2] Ibid, p. 118.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 2473.

[4] Garrigou-Lagrange. O Homem e a Eternidade: a Vida Eterna e a Profundidade da Alma. Campinas, SP: Ecclesiae, 2018. p. 120.

[5] Irmã Lúcia. Memórias da Irmã Lúcia I. 13.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007. p. 121.

[6] Catecismo da Igreja Católica, 1850.

[7] Catecismo da Igreja Católica, 1855.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 1862.

[9] Papa Bento XVI. Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 240.