Estamos chegando ao Natal do Senhor. O advento é um tempo litúrgico no qual a Igreja, cheia de alegria e esperança, atualiza em nossos corações a longa preparação de Israel para acolher o Messias.
Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias. [1]
Este texto é um convite para você preparar-se para a solenidade do Natal. Conhecendo melhor quem é Jesus e como foi longa a preparação para a Sua missão, nós podemos acolher o Senhor com mais amor.
Vamos partir de um termo que não é tão comum no dia a dia. Você está familiarizado com a palavra “unção” no Antigo Testamento? Será o nosso ponto de partida. Veremos como ela é importante e, depois, como se aplica a Jesus. Por fim, vamos propor uma meditação para a sua preparação natalina.
Os Ungidos do Senhor
No tempo do Antigo Testamento, alguns homens foram ungidos em vista da missão que desempenharam em Israel. Ungir em nome de Deus era um ato revestido de grande solenidade e sentido espiritual.
Em Israel, eram ungidos em nome de Deus os que lhe eram consagrados para uma missão vinda dele. [2]
Este era o caso dos reis, como o grande Davi. Foi à descendência de Davi que o Senhor prometeu firmar um trono inabalável. Dentre os reis de Israel, ele foi certamente o mais marcante. Era fiel a Deus e à Antiga Aliança, embora tivesse pecado.
Vieram homens de Judá, e ali ungiram Davi como rei sobre a casa de Judá. (2Sm 9, 4)
Não só os reis, mas também os sacerdotes da Antiga Aliança eram ungidos em nome de Deus. Havia uma cerimônia litúrgica para essa ordenação sacerdotal. Ela se encontra descrita no Livro do Êxodo (29, 1-35) em detalhes. Nela, o sacerdote era ungido.
Tomarás o óleo da unção e, derramando-o sobre sua cabeça, o ungirás. (Êx 29, 7)
Houve casos em que até profetas foram ungidos. Era um acontecimento mais raro, porém a unção do profeta Eliseu ficou formalmente registrada no Primeiro Livro dos Reis. O Senhor Deus determinou que ele fosse ungido pelo profeta Elias.
O Senhor disse-lhe: “Vai, volta por teu caminho pelo deserto, até Damasco. Chegando lá, ungirás a Hazael como rei de Aram, a Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel e a Eliseu, filho de Safat, como profeta em teu lugar. (1Rs 19, 15-16)
Ungir em nome de Deus era um ato muito significativo para Israel ao longo de todo aquele período. Os ungidos tinham uma missão divina a cumprir. Não se tratava de um ato vazio.
O Ungido
Acabamos de aprender que, no Antigo Testamento, homens foram ungidos para exercer uma missão divina. Você consegue imaginar a solenidade? Cada unção devia ressoar fundo nos corações dos israelitas fiéis à Aliança, pois sabiam que o Senhor cumpre o que promete.
A Abraão, já idoso, o Senhor prometeu-lhe uma numerosa descendência. Dela sairiam nobres! Assim, a unção de um rei não era como um mero ato de posse, como se poderia pensar hoje em dia. A promessa se fazia presente de geração em geração.
Eu te tornarei sobremaneira fecundo. De ti farei nações, e reis sairão de ti. Estabeleço minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti, através das gerações: uma aliança perene, para que eu seja o teu Deus e o de tua descendência depois de ti. (Gn 17, 6-7)
Essa promessa atinge sua plenitude em Jesus. É para Ele que todo o Antigo Testamento converge. Judá — bisneto de Abraão — tornou-se o pai de uma linhagem de reis em Israel, dentre os quais o mais relevante foi Davi.
Uma dinastia real nascerá de Abraão e Sara (Gn 17, 6) através da linhagem genealógica de seu bisneto, Judá (Gn 49, 8-10). Essa promessa é realizada pela primeira vez com a fundação da monarquia israelita sob o rei Davi (do filho de Judá, Farés, Rt 4, 18-22) e chega ao seu cumprimento final em Jesus, o Messias (do filho real de Davi, Salomão, Mt 1, 1-18). [3]
Já vimos que os reis de Israel eram ungidos, assim como os sacerdotes e alguns profetas. Não surpreende, portanto, que também fosse ungido o descente de Davi que o Senhor Deus prometeu enviar para instaurar o seu Reino.
O Messias devia ser ungido pelo Espírito do Senhor ao mesmo tempo como rei e sacerdote, mas também como profeta. [4]
Em hebraico, a palavra “ungido” se traduz como “messias”. Agora você já consegue vislumbrar a importância desse termo para todos nós. O Messias prometido por Deus era o Ungido! Não estamos mais falando de vários ungidos, como os reis de Israel em geral, mas de um único e insubstituível Ungido.
Davi anuncia os sofrimentos e as glórias do Messias. Ele será o Filho de Deus (Sl 2, 7), será o rei poderoso, bondoso para com os humildes, mas temível para os malvados (Sl 71), o sacerdote por excelência (Sl 110); mas ao mesmo tempo será a vítima voluntária pelo pecado (Sl 39, 7-9); será sobrecarregado de tormentos e sofrerá uma morte pavorosa (Sl 21; Sl 68), mas sairá glorioso do túmulo (Sl 15, 10). [5]
É evidente que Jesus é o Ungido! Você já observou que, no Evangelho de São Mateus, a genealogia de Jesus começa com a afirmação de que Ele é “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1, 1)? Trata-se de uma afirmação clara de que a promessa messiânica se realiza no Senhor Jesus!
Ser da descendência de Abraão e Davi é o que estabelece as credenciais de Jesus e o legitima como o verdadeiro Messias esperado pelo povo de Israel (Mt 1, 1). Há muito tempo, Deus já havia prometido a Abraão que de sua linhagem viriam “reis” (Gn 17, 6) e, mais adiante, selou um juramento com Davi no qual lhe garantia que sua dinastia teria sempre um herdeiro (2Sm 7, 16; Sl 89, 3-4) [6]
Mas por que o Messias é chamado por nós de “Cristo”? É o que nós veremos na próxima seção.
Uma Tradução Importante
A Bíblia não foi escrita em português. O Novo Testamento foi escrito em grego antigo; e quase todo o Antigo Testamento, em hebraico antigo. É por isso que, em português, o termo “Cristo” tem a ver com as duas línguas.
Cristo vem da tradução grega do termo hebraico “Messias”, que quer dizer “ungido”. [7]
Ficou confuso? Não se preocupe! O importante mesmo é ater-se ao sentido que as palavras transmitem. Para você entender melhor, vamos colocar os fatos em ordem cronológica. Tudo vai ficar claro.
Você já sabe que o Antigo Testamento veio primeiro. Portanto, a palavra “Ungido” apareceu primeiro em hebraico: “Messias”. Somente depois é que o Novo Testamento seria escrito, mas em grego! Como era outro idioma, tiveram que adaptar o termo “Messias” para o grego. Optaram por “Cristo”.
Cristo, Messias e Ungido significam o mesmo. O essencial é acolher no coração que Jesus é o Cristo, ou seja, este Ungido ou Messias prometido por Deus. Nele, todas as profecias se realizaram.
Tudo isso é plenamente realizado em Jesus Cristo. Ungido pelo Espírito Santo (At 10, 38), ele é o Filho de Deus (Mc 1, 1; Jo 1, 49) e filho de Davi (Mt 1, 1; Lc 1, 32-33), louvado pelos cristãos como o Messias (Jo 1, 41). [8]
Como essa longa preparação deve repercutir em nossos corações neste advento? É o que veremos agora.
Ação de Graças
Quem ama se prepara para receber o amado. É conhecido, por exemplo, que as noivas passam muito tempo se arrumando no dia do casamento. Mais que vaidade, trata-se de uma expressão de seu amor pelo noivo.
O amor de Deus é maior e mais perfeito do que qualquer amor humano. A longa preparação de Israel para a vinda do Messias é um sinal a mais de como somos amados! Todos os detalhes foram anunciados pelos profetas, para nós termos a certeza do Amor de Deus.
Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. (1Jo 4, 19)
Propomos que você faça uma meditação sobre o amor de Deus em sua vida. Muito antes do seu nascimento, o Senhor já preparava a Sua vinda para oferecer-lhe a salvação. Não existe amor maior! No dia a dia, você reconhece que é amado por Deus? Já respondeu a esse Amor com orações de ação de graças? Hoje é um bom dia para agradecer ao Senhor Deus por tanto carinho.
Que a Virgem Maria prepare o nosso coração para acolher o Messias!
Referências
[1] Catecismo da Igreja Católica, 524.
[2] Catecismo da Igreja Católica, 436.
[3] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro do Gênesis: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 76.
[4] Catecismo da Igreja Católica, 436.
[5] Garrigou- Lagrange. O Salvador e Seu Amor por Nós. São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 89.
[6] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Livro do Gênesis: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 27.
[7] Catecismo da Igreja Católica, 436.
[8] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Marcos: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. p. 97.






