Um desejo do coração humano
O anseio de antecipar o que acontecerá no futuro sempre habitou o coração humano ao longo da história. Esse sentimento se manifesta de diversas maneiras nas civilizações, ora de forma sincera, ora de maneira ilusória. O mundo antigo, por exemplo, imerso no paganismo, era repleto de práticas divinatórias, astrologia e crenças em premonições e catástrofes que supostamente devastariam a terra por diferentes motivos. As razões para se buscar tais adivinhações eram inúmeras: desde a sorte no amor e o alcance da riqueza até a resolução de conflitos políticos entre grandes nações.
Por outro lado, no mundo moderno, com o advento da ciência, desenvolveram-se diversas técnicas para prever fenômenos cotidianos. Empresas tentam antecipar o comportamento do mercado, dos consumidores, dos governos e das políticas econômicas. Ao sair de casa, muitos consultam em seus dispositivos móveis a previsão do tempo, para saber se choverá ou não naquele dia. Matemáticos elaboram métodos complexos para prever o comportamento de variáveis com base em dados estatísticos, algoritmos e modelos probabilísticos. A racionalidade científica parece ter sistematizado esse desejo antigo, e ambas — ciência e previsão — hoje se unem em diversos meios de comunicação, chegando até nós por meio de séries, filmes e redes sociais.

De uma forma ou de outra, com maior ou menor honestidade, é fato que tudo isso expressa nosso anseio de controlar um mundo que sabemos, pela experiência, ser incontrolável. Desejamos ter em nossas mãos — seja por meio de modelos laboratoriais, seja por crenças sem fundamento racional — um poder de onisciência que pertence somente a Deus, Senhor da história. As soluções apresentadas pelo mundo, muitas vezes, nos inquietam. Deixam rastros de ansiedade, melancolia e medo — até mesmo ao utilizar-se da própria Palavra de Deus.
Diante disso, resta-nos a pergunta: para onde caminha a sucessão dos nossos dias? Sabemos que nossa vida há de terminar com a morte — do pó viemos, e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). Mas e quanto ao mundo? Veremos seu fim? Seremos testemunhas da conclusão dos dias da criação? Cumprir-se-ão as predições dos cientistas diante de nossos olhos, ou apenas para as gerações futuras?
O cinema, a arte e a música retrataram esse fim muitas vezes de forma fantasiosa e espetaculosa. Catástrofes climáticas, invasões extraterrestres, guerras globais e destruição nuclear são seus temas preferidos. Enquanto isso, vertentes cristãs e não cristãs, interpretando a Bíblia de modo literalista e enviesado, formularam doutrinas que se espalham como enxurradas pela cultura — e que, ao mesmo tempo, são altamente lucrativas. Falam de arrebatamento, reencarnação, dias de trevas, governos totalitários centralizados…
Mas como encontrar informação segura diante de tanta manipulação e desespero? Como interpretar os sinais dos tempos nas Escrituras, em consonância com a fé da Igreja? A proposta deste artigo é conduzir você por três principais sinais bíblicos, oferecendo um caminho seguro de interpretação.
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Os sinais na Bíblia
Antes de nos debruçarmos sobre os textos bíblicos, é necessário deixar claros dois pontos fundamentais: Cristo é o centro de toda a história, e é para Ele que tudo se dirige. Todas as profecias presentes na Bíblia sobre os acontecimentos futuros apontam para Jesus e sua segunda vinda gloriosa, ocasião em que Ele virá para julgar os vivos e os mortos, colocando tudo sob seus pés. Além disso, não nos é dado conhecer a data exata desses acontecimentos. Aqueles que pretendem anunciar com precisão a chegada do Senhor são, na verdade, falsos profetas, mencionados como pessoas que procuram desviar-nos do caminho verdadeiro. “Não sabeis nem o dia, nem a hora”, diz Jesus (cf. Mt 25,13).
Dito isso, passemos às passagens bíblicas. Em diversos momentos das pregações apostólicas e nos próprios discursos de Jesus, encontramos os chamados sinais escatológicos. A análise de todos eles exigiria um estudo extenso — há, inclusive, vasta literatura especializada sobre o assunto. Além disso, encontramos também elementos de literatura extra-bíblica, que influenciaram fortemente a comunidade judaica e os primeiros cristãos (como, por exemplo, Jd 1,14-15). Para fins didáticos, organizamos aqui três passagens principais que resumem com clareza a doutrina neotestamentária sobre o fim dos tempos e iluminam outros trechos que, à primeira vista, podem parecer enigmáticos:
A grande tribulação: o discurso escatológico de Jesus (Mt 24–25)
Composto por diversas parábolas, o discurso escatológico de Jesus no Evangelho segundo São Mateus é o quinto grande bloco de ensinamentos do Mestre. Ele se inicia com os discípulos admirados diante da imponência do Templo de Jerusalém, e com o anúncio de Jesus de que “não ficará pedra sobre pedra” (v.24,2). A explicação do Senhor sobre o fim dos tempos parte de uma premissa fundamental: o desfecho da história ocorrerá com a sua segunda vinda (cf. Mt 24,3). O curso dos acontecimentos conduz-se à sua volta e à restauração plena da humanidade ferida pelo pecado.
Até lá, diversos sinais ocorrerão (cf. Mt 24,9–12). Surgirão falsos mestres e doutrinas enganosas, seguidos por guerras e conflitos. Haverá desastres naturais em escala global, os quais serão apenas o princípio das dores. No entanto, a grande “provação final” da Igreja não será meramente ambiental ou política, mas uma intensa perseguição por causa do nome de Jesus. Traições e escândalos surgirão dentro da própria comunidade cristã, e o amor — princípio supremo da vida cristã — se esfriará (v.12).

Alguém poderia objetar: esses acontecimentos já não se deram ao longo da história? Em dois milênios de existência, a Igreja não foi perseguida diversas vezes, e não enfrentou crises internas? O texto prossegue: “haverá então uma tribulação tão grande como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (v.21). Além disso, falsos profetas realizarão grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, até os eleitos.
Por fim, após essa tribulação, surgirão sinais no firmamento: a lua e as estrelas perderão seu brilho, para dar lugar ao Sol da Justiça. O Filho do Homem aparecerá de maneira gloriosa e incontestável nos céus, sendo reconhecido por todas as nações. Os anjos reunirão os justos e separarão os maus. Contudo, o versículo 14 destaca que essa manifestação final não ocorrerá antes da proclamação universal do Evangelho, que será testemunhado para toda a humanidade.
No capítulo 25, Jesus descreve o Juízo Final, no qual todas as nações comparecerão diante Dele. Ele, o Juiz, se assentará em seu trono glorioso (v.31), e cada um será julgado segundo o amor ao próximo — pois todo sofrimento do outro era também sofrimento do próprio Cristo. Este julgamento é definitivo. Os condenados o serão eternamente, enquanto os salvos gozarão da presença de Deus para sempre. Será o dia da Justiça divina, resposta final a todos os males e injustiças provocados pelo pecado.
Os detalhes das duas cartas aos Tessalonicenses
Outra grande referência aos acontecimentos futuros encontra-se nas Cartas aos Tessalonicenses, consideradas por muitos estudiosos como os documentos mais antigos do Novo Testamento. Esse fato já revela um detalhe importante: a pregação inicial dos Apóstolos estava marcada por uma forte expectativa da volta iminente de Jesus e da instauração definitiva de seu Reino. No entanto, é essencial frisar que não há mudança significativa na cronologia dos eventos mencionados anteriormente. O que o Apóstolo dos gentios faz é esclarecer dúvidas e adicionar elementos da Tradição apostólica não registrados diretamente nos evangelhos.
A questão central da parusia nestas cartas gira em torno da ressurreição dos mortos. Com a perseguição aos cristãos já em curso, surge a dúvida a respeito dos que morreram antes da volta do Senhor. Na primeira carta, São Paulo é categórico: os vivos não precederão os falecidos no momento da vinda de Cristo.
“Pois o Senhor mesmo, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do céu. E os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares” (1Ts 4,15–17).
Aqui, São Paulo acrescenta um aspecto não descrito diretamente nos Evangelhos: tanto vivos quanto mortos estarão diante de Jesus no “Dia do Senhor”, cuja abrangência é universal e envolve todos os povos de todas as épocas. É importante reforçar: os mortos ressuscitarão verdadeiramente em corpo e alma. Seus corpos, antes corrompidos pelo tempo, assumirão uma forma gloriosa para aqueles que foram salvos, e a deformação para aqueles que foram condenados, e perdurará para sempre.
Além disso, a Segunda Carta aos Tessalonicenses aprofunda alguns aspectos da grande tribulação. Em primeiro lugar, afirma o Apóstolo, haverá uma grande apostasia, em que muitos abandonarão a fé e distorcerão a verdade. Nesse contexto, manifestar-se-á o seu principal agente: o “Iníquo”, o “Filho da Perdição”, o “Adversário” (2Ts 2,3–4). Ele se manifesta em todo aquele que se coloca no lugar de Deus e exige ser adorado como tal. São Paulo diz que há algo — ou alguém — que o “retém” (2Ts 2,6), impedindo sua plena manifestação até o tempo determinado.
Esse personagem será destruído por Jesus com o “sopro de sua boca”, apesar de vir revestido de poder e capaz de realizar sinais extraordinários. Ele é instrumento de Satanás, cuja intenção é perder os filhos de Deus.
Novos céus e nova terra (Ap 21,1–8)
O livro do Apocalipse apresenta o desfecho dos eventos após o julgamento das nações na parusia de Cristo: as forças do mal serão derrotadas e haverá “um novo céu e uma nova terra”, pois “o primeiro céu e a primeira terra desapareceram, e o mar já não existe” (Ap 21,1). A Nova Jerusalém Celeste, descrita nessa passagem, é o símbolo definitivo da morada eterna entre Deus e os redimidos — lugar onde não haverá mais dor nem morte.
Diversos símbolos expressam a conclusão da revelação de Deus ao homem. As doze portas, que representam as doze tribos de Israel (Ap 21,12), indicam a inauguração do novo Povo de Deus por meio da missão dos doze Apóstolos. A imagem da Esposa do Cordeiro (Ap 21,9) simboliza a união plena e eterna da alma com Deus — uma comunhão definitiva após a consumação de todas as coisas.
Dessa passagem, podemos concluir algo essencial também sobre a criação material: ela será restaurada, pois “a criação espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (cf. Rm 8,19). Como no Éden, Deus voltará a habitar no meio dos homens, e “a glória de Deus será a sua luz, e o Cordeiro, sua lâmpada” (Ap 21,23). Com o fim do pecado, cessam também todas as suas consequências. A criatura humana é elevada a um estado jamais imaginado: o da comunhão plena com o Senhor.
Como devemos viver a partir destes sinais?
O ensino da Igreja é claro: ninguém sabe o dia nem a hora da vinda do Senhor.
“Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor” (Mt 24,42).
Essa vigilância constante é o cerne da espiritualidade escatológica cristã. Ela não se baseia em cálculos ou especulações sobre datas, mas na fidelidade cotidiana ao Evangelho e na esperança da bem-aventurança eterna.
Esperar Jesus não é uma atitude passiva ou ociosa. Pelo contrário, trata-se de uma vivência ativa do amor de Deus, com a consciência de que cada ação tem um valor eterno. Os cristãos dos primeiros séculos viviam sob a constante expectativa da vinda do Senhor, e isso dava sentido ao seu sofrimento, suas escolhas e até mesmo à sua morte. Para eles, a parusia não era uma ameaça, mas uma promessa gloriosa.
Essa perspectiva também nos convida a rever nosso modo de viver:
1- Estamos preparados para encontrar o Senhor a qualquer momento?
2- Temos vivido como cidadãos do céu, mesmo estando ainda neste mundo?
3- Alimentamos a esperança da vida eterna ou nos deixamos prender pelas ilusões passageiras da terra?
A escatologia não é um apêndice da fé cristã, mas seu coração pulsante. Afinal, tudo o que fazemos — orar, evangelizar, perdoar, sofrer, amar — encontra sua plenitude na eternidade. Se o cristianismo se limita apenas a esta vida, como dirá São Paulo, “somos os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,19).
Portanto, viver à luz dos sinais do fim dos tempos é, antes de tudo, viver em estado de graça, unidos a Deus, atentos aos seus mandamentos e à sua Palavra. É cultivar a vigilância não por medo, mas por amor, como quem aguarda o retorno do Amado. Como diz o Apocalipse, “o Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’” (Ap 22,17). Que também o nosso coração repita com fervor: Marana-tha! Vem, Senhor Jesus!
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