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Os Salmos na Vida de Oração Cotidiana

Conheça cinco sugestões para aplicar os Salmos no dia a dia

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Você já percebeu que o Livro dos Salmos tem uma importância especial na vida da Igreja? Em quase toda missa, nós rezamos um Salmo. Os consagrados, como os monges e freiras, rezam os Salmos várias vezes ao dia. E não são poucos os fiéis leigos que chegam a rezá-los diariamente.  

O Livro dos Salmos deve ter um lugar especial em nossa vida particular de oração, para que possamos nos beneficiar de seu tesouro. Hoje eu gostaria de convidar você a conhecer melhor os Salmos para rezá-los com mais fruto.

Uma Longa Tradição

O Livro dos Salmos (ou Saltério, como também é chamado) é uma compilação com 150 Salmos. Ele é uma coleção de orações reunida do tempo do Rei Davi até o advento de Cristo, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

Desde Davi até a vinda do Messias, os Livros Sagrados contêm textos de oração que atestam o aprofundamento cada vez maior da oração por si mesmo e pelos outros. Os salmos foram pouco a pouco reunidos numa coletânea de cinco livros: os Salmos (ou “Louvores”), obra-prima do Antigo Testamento. [1]

A convivência com os Salmos é uma tradição que remonta ao tempo dos Apóstolos. São Pedro, por exemplo, quando fez o primeiro sermão da Igreja, logo após a descida do Espírito Santo em Pentecostes, citou o Salmo 16, mostrando que ele se cumpriu na Ressurreição de Cristo:

Não abandonarás minha alma no Hades, nem deixarás o teu Santo conhecer a decomposição. (At 2, 31. Sl 16, 10)

Já São Paulo, com a autoridade que recebeu, pediu explicitamente que os fiéis rezassem Salmos. E o pedido ficou registrado em duas de suas cartas:

Entoai juntos salmos, hinos e cânticos; cantai e salmodiai ao Senhor, de todo o coração (Ef 5, 19)
Movidos pela graça, cantai a Deus, em vossos corações, com salmos, hinos e cânticos inspirados pelo Espírito. (Cl 3, 16)

Mais ainda. O próprio Senhor Jesus rezou um Salmo quando, realizando a obra da Redenção, sofria na Cruz:

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 22, 2, citado em São Mateus, 27, 46)

Até aqui vimos que os Salmos não podem ser subestimados. Vejamos agora um pouco da sua beleza, antes de entrarmos na parte mais prática.

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A Beleza dos Salmos

Os cento e cinquenta Salmos cobrem uma vastidão de temas da vida humana. Todos nós lidamos (e até lutamos) com estes temas ao longo de nossas vidas, como a felicidade com o perdão de Deus (Salmo 32) ou a aflição do inocente (Salmo 17).

Além de serem vastos e ricos, os Salmos também nos ensinam como devemos nos dirigir a Deus e nos relacionar com Ele. Nesse sentido, o Papa Bento XVI declarou:

Enquanto orações, os Salmos constituem manifestações da alma e da fé, em que todos se podem reconhecer e nos quais se comunica aquela experiência de particular proximidade de Deus, à qual cada homem é chamado. [2]

Aqui está uma grande beleza deste tesouro. Recitando os Salmos, o nosso coração vai assimilando esta oração, que foi inspirada pelo Espírito Santo, e vai conhecendo a Deus mais e mais. Ou seja, o mesmo Espírito que inspirou os Salmos inspira também a nossa resposta:

Dado que são uma Palavra de Deus, quem recita os Salmos fala a Deus com as palavras que o próprio Deus nos concedeu, dirige-se a Ele com as palavras que Ele mesmo nos doa. Deste modo, recitando os Salmos aprendemos a rezar. Eles constituem uma escola de oração. [3]

Como podemos então aplicar os Salmos em nossa vida cotidiana?

Os Salmos no Dia a Dia

Muitas são as formas de assumir os Salmos no dia a dia. Seguem abaixo algumas sugestões. Não são melhores ou piores que outras formas; são apenas cinco sugestões válidas.

1. Definir Horários ou Momentos de Oração

Na Regra de São Bento, os monges são instruídos a rezar os Salmos em horários específicos. Desse modo, aquele que reza constrói um hábito de rezar. Veja este exemplo:

Já dispusemos a ordem da Salmodia, dos Noturnos e das Matinas; vejamos agora a das Horas seguintes. [4]

Como podemos adaptar, em nossas vidas, este ensinamento?  Você já pensou em começar o dia com um Salmo? E que tal terminar com outro Salmo?  O horário pode ser o do relógio, como seis horas da manhã (06:00), mas esse não é o único jeito. Você pode dispor de um momento do seu dia, como “antes de almoçar” ou “assim que acordar”.

2. Rezar a sua vida concreta no Salmo

Deus se interessa por nós, por tudo aquilo que passamos. Ele não está longe. É importante então responder ao Seu Amor de Pai, levando as situações da vida (dores e alegrias) para a oração:

De todas as realidades, as mais dramáticas e as mais jubilosas, pode-se tirar material para a oração. Os salmos cobrem todas as realidades da vida porque não há contexto que exclua Deus. [5]

Escolha um Salmo adequado para a situação que você vive.  Assim, por exemplo, se você está passando por injustiças, pode rezar o Salmo 34; ou, se sofre a tentação de ser infiel a Deus ao invés de perseverar, reze o Salmo 1.

3. Levar a Missa no Coração ao Longo do Dia

Uma outra forma de aplicar os Salmos no dia a dia é recorrer ao Salmo Responsorial da última Missa que você foi, seja ela a Missa do domingo ou de outro dia. Você pode anotar um versículo que tenha tocado o seu coração, ou anotá-lo por inteiro.

Vejamos um exemplo. Em breve, a Igreja vai começar a Grande Quaresma. É o dia da Quarta-Feira de Cinzas, e o salmo responsorial será o Salmo 50:

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!  Na imensidão de vosso amor, purificai-me! (Sl 50, 3)

Você pode anotar esse versículo e levá-lo consigo ao longo do seu dia, da semana ou até mesmo da quaresma. O importante é que, quando puder, você medite o Salmo colocando a sua vida nele. Você poderá, por exemplo, perguntar-se:  Quais são os meus pecados? Já experimentei a misericórdia? Confio na misericórdia de Deus?  E eu, sou misericordioso com os irmãos? Transmito a confiança na misericórdia para o próximo?

Sempre que o Espírito Santo tocar o nosso coração quando lemos ou escutamos um Salmo, devemos guardar essa experiência com carinho e visitá-la.

Se há salmos, ou apenas versículos, que falam ao nosso coração, é bom repeti-los e recitá-los durante o dia. [6]

4. Combater Pecados Capitais

Há uma bela tradição devocional na Igreja que ensina os fiéis a rezar  os Salmos 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142 para aumentar o arrependimento pelos pecados e estimular a luta contra as más inclinações. [7]

Cada um desses Salmos é associado ao combate de um dos Sete Pecados Capitais:

  • Soberba

Contra a soberba, recomenda-se o Salmo 6

  • Avareza

Contra a avareza, recomenda-se o Salmo 31(32)

  • Ira

Contra a ira, recomenda-se o Salmo 37(38)

  • Luxúria

Contra a luxúria, recomenda-se o Salmo 50(51)

  • Gula

Contra a gula, recomenda-se o Salmo 101(102)

  • Inveja

Contra a inveja, recomenda-se o Salmo 129(130)

  • Acídia (ou Preguiça)

Contra a acídia ou preguiça, recomenda-se o Salmo 142(143)

Como se trata de uma devoção, pode-se acrescentar outras orações válidas. É bonito pedir o auxílio de Nossa Senhora e do Anjo da Guarda ao começar o Salmo. Outra bonita tradição é encerrar a oração com um Glória.

5. Estudar os Salmos

Às vezes as pessoas têm dificuldades com os Salmos porque começam a rezá-los sem fazer um estudo prévio. Não se assuste com a palavra “estudo”. É só uma leitura dirigida para conhecer o Salmo que será rezado.

A edição “Bíblia Sagrada - Tradução Oficial da CNBB” apresenta muitas notas que ajudam o leitor a entender o texto. Mas outras edições católicas também são boas.  Vale a pena ler as notas do Salmo antes da oração, preparando-se para rezar sem dúvidas.

Mãos à Obra!

O Papa Bento XVI nos ensinou que os Salmos são uma escola de oração, e o Catecismo anuncia a mesma verdade com outras palavras:

O Saltério é o livro em que a Palavra de Deus se torna oração do homem. [8]

Rezando os Salmos, respondemos a Deus com a Palavra que Ele inspirou. Entramos em diálogo profundo. Abra seu coração aos Salmos. Apresente suas dores e aspirações ao Senhor, rezando com as Palavras que Ele já deu a você e com as moções que Ele lhe inspirar.

As cinco sugestões que reunimos aqui são valiosas, mas a prática é insubstituível. Na perseverança do dia a dia, você vai aprender a conversar com Deus.

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Referências

[1] Catecismo da Igreja Católica, 2585.

[2] Papa Bento XVI Audiência Geral de 22 de junho de 2011.

[3] Ibid.

[4] São Bento A Regra de São Bento. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 2016. Cap. XVII, 1.

[5] Ir. Tomás de Aquino Santos Nonato, Obl. OSB. Os Salmos e a oração do cristão.

[6] Papa Francisco. Audiência Geral de 19 de junho de 2024.

[7] Wilhelm Nakatenus. Sete Salmos Penitenciais.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 2587.