Muitas vezes, quando lemos as Cartas de São Paulo, temos dificuldade de compreender o que ele quis dizer. Não desanime. Até mesmo São Pedro reconheceu que encontrava “coisas difíceis” nos escritos de São Paulo.
Isso já vos escreveu nosso amado irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Ele trata bem disso, também, em todas as suas cartas, se bem que nelas se encontrem algumas coisas difíceis. (2Pd 3, 15-16)
São Paulo escreveu mais de dez cartas. De todas, a Carta aos Romanos é a mais elaborada e longa. Quando a redigiu, ele já havia pregado o Evangelho por vinte anos e possuía uma expressão mais madura.
[A Carta aos Romanos] é mais formal que o de costume, e seus pensamentos vão e voltam numa rede complexa de mistérios teológicos sobre pecado, juízo, retidão, justificação, santificação, salvação, sofrimento, lei, graça, filiação, eleição, misericórdia, sacrifício e sobre a trindade e unidade de Deus. [1]
São muitos os mistérios de que São Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, tratou na Carta aos Romanos. Todos estão inter-relacionados de algum modo. Este texto é um convite para você crescer no entendimento dela. O nosso objetivo é facilitar a sua meditação pessoal. Vamos dividi-la em três partes, para lermos o texto sem perder o sentido de sua unidade. Em seguida, falaremos da Esperança.
Um Único Salvador
Na primeira parte, São Paulo trata da proliferação do pecado por toda a humanidade. Ele nos recorda que todos somos pecadores, sem exceção alguma! Não há povo que não tenha sido contaminado pelo Pecado Original, nem mesmo o Povo de Israel.
Todas as nações, sem distinção, ficaram escravas dessa condição vergonhosa: emaranhadas no pecado e em desesperada necessidade de salvação. [2]
A resposta de Deus ao pecado é a vinda de Jesus Cristo. Não é possível que nós nos salvemos se nos fecharmos em nosso próprio modo de pensar e agir. A graça de Cristo deve ser acolhida em nossa vida.
Com efeito, se pela transgressão de um só muitos morreram, muito mais abundou sobre muitos a graça de Deus, concedida na graça de um só homem, Jesus Cristo. (Rm 5, 15)
Hoje em dia muitas pessoas pensam que qualquer fé salva. Para elas, o importante seria apenas como se vive. No entanto, o que a Palavra de Deus nos ensina é muito mais exigente. Nós somos chamados a ter fé em toda verdade que foi revelada.
A fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo, e inseparavelmente, o assentimento livre a toda verdade que Deus revelou. [3]
Nós temos fé em Jesus. Ele é o próprio Deus encarnado. Portanto, o sentido de tudo que existe se apresenta a nós com um rosto humano. Não existem mais acontecimentos sem sentido. Seja um sofrimento ou uma alegria, tudo que nos acontece é um lugar de encontro com o Amor de Jesus.
A fé cristã vive do fato de não apenas haver um sentido objetivo, mas de esse sentido objetivo me conhecer e amar; de eu poder me confiar a ele com a atitude de uma criança que se sabe acolhida com todas as suas perguntas no tu da mãe. [4]
Até aqui vimos que a fé em Cristo deve abranger a vida toda, sem deixar nada de fora. Ela não pode ser compreendida fora de um relacionamento com Jesus. Veremos agora outro ponto da Carta aos Romanos.
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O Amor de Deus
Após meditar sobre a salvação dos povos em geral, o Apóstolo passa a tratar de outro tema: a salvação de Israel. Foi neste contexto que São Paulo apresentou reflexões importantes sobre o amor de Deus, que é sempre incondicional.
Embora muitos em Israel tivessem repudiado o Evangelho, Paulo insiste que Deus não abandonou o povo de sua aliança, mas planeja salvar “todo o Israel” em Cristo (Rm 11, 26-27). [5]
São Paulo explica que Deus é capaz de transformar situações adversas em bens espirituais. Desse modo, ao permitir que os israelitas rejeitassem o Evangelho, Deus concedeu que os pagãos fossem alcançados pelas graças da Aliança.
Diante desse enigma pastoral e teológico, Paulo toma a oportunidade para explicar como a eleição do povo Israel promulgada por Deus no passado está completamente relacionada à grande rejeição do Evangelho no presente. [6]
Também em nossas vidas Deus transforma adversidades em benefícios, cabendo-nos esperar no Senhor. Seu amor é sempre incondicional; não muda por causa de nossas limitações.
A Vida Prática
Na parte final da Carta aos Romanos, São Paulo aborda algumas consequências práticas de nossa fé. Crer em Jesus é uma experiência pessoal, porém não nos conduz ao individualismo. A fé deve repercutir sobre a nossa atuação no espaço público.
Os capítulos finais da Carta aos Romanos são uma aplicação prática da teologia exposta nos capítulos anteriores. Aqui São Paulo discorre sobre as obrigações do fiel na Igreja e na sociedade. [7]
Devemos examinar a nossa consciência para identificar se cumprimos as obrigações que o Estado nos impõe legitimamente, segundo a lei divina, como pagar os impostos. Trata-se de uma obrigação de justiça, necessária ao bem-comum.
Dai a cada um o que lhe é devido: a quem o imposto, o imposto; a quem a taxa, a taxa; a quem o temor, o temor; a quem a honra, a honra. (Rm 13, 7)
A nossa fé não pode ser apartada de nossa vida, como se fosse um lazer. É preciso que ela informe todas as nossas ações, inclusive a conduta como cidadão.
A Esperança
Um dos temas mais preciosos da Carta aos Romanos é a Esperança. São Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, declara-nos que, quando o cristão persevera nas tribulações, sem perder a fé, chega à Esperança.
A tribulação gera a perseverança, a perseverança leva a uma virtude comprovada, e a virtude comprovada desabrocha em esperança. Ora, a esperança não decepciona. (Rm 5, 3-5)
Mas o que é a Esperança? E por que ela é tão importante? Em primeiro lugar, devemos saber que não é uma esperança qualquer. Ao longo da vida, esperamos muitas coisas boas: um doente espera a sua recuperação; um estudante espera o dia da formatura; e o atleta, a vitória.
São esperanças que dão sentido à nossa vida. Elas devem ser valorizadas e cultivadas, mas precisamos entender que essas esperanças não conseguem saciar o coração humano por si mesmas. Ele exige sempre mais.
[O homem] espera sempre mais do que aquilo que alguma presença lhe pode dar. Quanto mais se deixa levar por essa esperança, tanto mais percebe que ela ultrapassa os limites do empírico. Para ele, o impossível é necessário. Mas esperança significa a confiança de que esse desejo encontre resposta. [8]
Há um enorme desejo em nosso coração. É o desejo de Deus! A nossa alma sabe, lá no fundo, que o mundo é insuficiente. Nós sempre esperamos mais do que a realidade que nos cerca pode nos dar. Por isso, devemos pedir a graça de depositarmos a nossa esperança em Deus.
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. [9]
Desejar o Céu é colocar o coração no caminho certo. Nenhuma alegria deste mundo, nem mesmo as lícitas, podem produzir em nós a felicidade que teremos em Deus no Céu. É para Ele que fomos feitos.
Pode-se definir a esperança como a antecipação do que vem. Nela já se encontra, de certo modo, o que ainda não é e, precisamente por isso, é a dinâmica que impele sempre o homem a ultrapassar a si mesmo. [10]
Quem espera já começa a fruir o que terá. Eis um grande dom! Como toda graça, não podemos produzi-la com nossos esforços. Precisamos pedir na oração o dom da Esperança todo dia.
Um Compromisso com a Palavra
Você já leu a Carta aos Romanos? Este mês é um bom momento para a sua leitura. Ela é o texto bíblico escolhido pela CNBB para o “Mês da Bíblia” deste ano de 2025. Não devemos desperdiçar esses momentos de comunhão. A nossa fé nos conduz a um compromisso com a Palavra na Igreja de Cristo.
Que Nossa Senhora interceda por todos nós!
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Referências
[1] Scott Hahn & Curtis Mitch. A Carta aos Romanos: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2016. p. 20.
[2] Ibid, p. 23.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 150.
[4] Papa Bento XVI. Introdução ao Cristianismo. 5 Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012. p. 59-60.
[5] Scott Hahn & Curtis Mitch. A Carta aos Romanos: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2016. p. 21.
[6] Ibid, p. 53.
[7] Ibid, p. 21.
[8] Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI). A Grande Esperança: Textos Escolhidos sobre Escatologia. São Paulo: Paulus, 2019. Coleção Fides Quaerens. p. 35.
[9] Catecismo da Igreja Católica, 1817.
[10] Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI). A Grande Esperança: Textos Escolhidos sobre Escatologia. São Paulo: Paulus, 2019. Coleção Fides Quaerens. p. 35.