Devoção Popular
Virgem Maria

Nossa Senhora de Guadalupe, a Rainha da América Latina

A Virgem de Guadalupe, Rainha de nosso continente, continua a nos dizer: “Não estou porventura aqui, eu que sou a tua Mãe?”.

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Já tivemos um papa da América do Sul e agora temos um papa da América do Norte. Sabemos que,  em todo o nosso continente, a Igreja é muito atuante. Essa realidade não é nova. Ela remonta aos primórdios da colonização europeia.

Estamos tão acostumados com a presença da Igreja entre nós que nem sempre percebemos que se trata de uma graça que Deus nos concedeu.  A evangelização do Novo Mundo não foi fácil, nem rápida. Chegou a contar com acontecimentos extraordinários.  É o que a história das aparições de Nossa Senhora em Guadalupe nos ensina:

Quando a imagem milagrosa de Nossa Senhora (um daqueles mistérios que os cientistas não conseguem explicar) apareceu no manto de um índio asteca, São Juan Diego tornou-se um chamariz para os povos nativos do México, atraindo-os para Cristo. [1]

Até aquele momento havia forte oposição entre os indígenas do México à evangelização, que talvez vissem como um evento meramente humano. O milagre de Guadalupe, porém, mudou o curso dos eventos. Em pouco tempo, a fé católica espalhou-se pelo país e alcançou muitas outras regiões.

O simbolismo da imagem, os milagres relacionados a ela e sua graça resultaram na conversão em massa dos índios: aproximadamente oito milhões de pessoas em seis anos. [2]  

Daqui a seis anos, nós celebraremos os quinhentos anos das aparições Nossa Senhora de Guadalupe. O mundo já é bem diferente, mas aquele milagre ainda ressoa nos corações de todos nós.

São tantíssimos os corações que, de todas as Nações da América, de Norte a Sul, convergem em peregrinação devota para a Mãe de Guadalupe. [3]

Mas por que será que uma aparição de quase quinhentos anos ainda toca o coração de tantos fiéis? Por mais que o tempo passe, a sua mensagem continua viva e penetrante.  Este artigo pretende ser uma contribuição para você crescer na belíssima devoção a Nossa Senhora de Guadalupe.

A Obediência

Os acontecimentos são conhecidos de todos nós. Em 09 de dezembro de 1531, no México, um homem indígena de cinquenta anos de idade dirigia-se a pé para a catequese e a santa missa. Seu nome era Juan Diego. Era um católico simples, digno e piedoso.

Nossa Senhora apareceu a São Juan Diego na colina de Tepeyac.  Ela queria que um santuário fosse construído naquele lugar. É interessante observar que, como em todas as aparições verdadeiras, a Mãe de Deus sujeitou seu pedido à autoridade da Igreja.  

A Virgem Maria pediu que São Juan Diego fosse ao bispo local para obter a autorização e o apoio episcopal à construção do santuário.  Não foi fácil para ele cumprir sua missão. O bispo não podia aceitar um relato extraordinário sem quaisquer indícios. E se fosse uma aparição falsa?

Imagem original de Nossa Senhora de Guadalupe

Não é que o bispo fosse duro de coração, como pode parecer à primeira vista. Tratava-se do cumprimento de um dever sagrado. Nem toda aparição é verdadeira! Compete ao bispo zelar pela fé do rebanho que lhe foi confiado, separando o joio do trigo.

O demônio, pois, sendo o pai da mentira, atira sempre para incutir alguma falsidade em nossa mente. Mas como? Ou faz de forma desvelada, como um leão selvagem, ou de forma velada, como um dragão enganador. [4]

Aparições é um assunto sério. Você sabia que ainda hoje a Igreja possui um procedimento formal para investigar alegações de fenômenos sobrenaturais? Nele, o bispo local desempenha um papel decisivo no discernimento espiritual da Igreja. É preciso que os fiéis católicos tenham respeito pelo parecer do bispo.  

Compete ao Bispo Diocesano, em diálogo com a Conferência Episcopal nacional, examinar os casos de presumidos fenômenos sobrenaturais que tenham ocorrido no seu próprio território e formular o juízo final sobre eles, a ser submetido à aprovação do Dicastério, inclusive quanto à eventual promoção de um culto ou de uma devoção ligados a eles. [5]

Voltando ao mistério de Guadalupe. A Igreja, por meio do bispo, exigia um sinal, e ele se deu na terceira aparição. A Virgem Maria solicitou que São Juan Diego colhesse algumas rosas que brotaram milagrosamente naquela época do ano. Não era um evento comum para o clima do México.

São Juan Diego levou as flores logo ao bispo, pensando que já bastassem como sinal. Foi justamente nessa ocasião que o manto de São Juan Diego — também conhecido como “tilda” — ficou gravado com a imagem que nós veneramos até hoje. O milagre era evidente!

Quando Juan Diego abriu sua tilma (manto) para apresentar as rosas ao prelado da Igreja, o bispo Zumárraga e seus confrades reagiram com reverência e espanto, ajoelhando-se diante da tilma em cujo tecido Deus havia milagrosamente impresso a imagem da Virgem Maria. [6]

O que nós podemos aprender com todos esses acontecimentos? Certamente o valor da obediência à Igreja! Esse é um ensinamento claro que Nossa Senhora nos deixou em Guadalupe. Ela não passou por cima da autoridade do bispo, mas respeitou-o como sucessor dos apóstolos. O santuário só foi construído com a anuência episcopal.

O Encontro

No início do texto, recordamos que o encontro entre Nossa Senhora e São Juan Diego  ocorreu em um momento histórico turbulento para o Novo Mundo. Deixemos aos historiadores a narração dos eventos. O fato que nos interessa aqui é que a intervenção de Deus veio, mais uma vez, por meio de Maria Santíssima.  

Há quase cinco séculos, naquele momento complicado e difícil para os habitantes do novo mundo, o Senhor quis transformar a comoção causada pelo encontro entre dois mundos diferentes em recuperação de sentido, em recuperação de dignidade, em abertura ao Evangelho, para a transformar em encontro. E fê-lo enviando Santa Maria, sua Mãe. [7]

É bonito ver que, onde houver abertura a Deus, haverá espaço para Maria. Ela está sempre perto de seus filhos; e não se esquece de ninguém. Sua presença é terna e discreta, mas também profundamente transformadora. O nosso papel de filhos é abrir o coração, apresentando-lhe as nossas necessidades.

[Nossa Senhora de Guadalupe] veio para consolar, para atender às necessidades dos mais pequeninos, sem excluir ninguém, para os aconchegar como mãe solícita com a sua presença, o seu amor e a sua consolação. É a nossa Mãe mestiça! [8]

É uma grande alegria que a Mãe de Deus (Lc 1, 43) seja a nossa Mãe! Você já vislumbrou a profundidade desse mistério? Daqui a alguns dias, a Igreja vai celebrar o Natal do Senhor. No presépio, vamos encontrar a imagem de Maria com o Menino-Deus nos braços. O amor entre Jesus e Maria é a plenitude do amor entre uma criatura e seu Criador.

A relação de Maria com Jesus remete à plenitude da relação criatura e Criador. Estabelece, entretanto, uma nova forma de laços. A criatura deve cuidar do Deus-Criança, nos braços da Mãe de Nazaré. [9]

O Deus de amor gera laços de amor! E é com esse amor que Maria nos ama. Quando São Juan Diego teve receio de pedir uma conferência com o bispo, Nossa Senhora garantiu-lhe que não tinha razões para temer reiterando o seu amor:

“Não estou porventura aqui, eu que sou a tua Mãe?” [10]

Nós podemos escutar essas palavras dirigidas a São Juan Diego como que dirigidas a nós mesmos. Do que temos medo? Estamos sob os cuidados da mais perfeita Mãe. Ela enxerga todas as nossas necessidades.  

A Maternidade de Maria

As aparições de Nossa Senhora em Guadalupe nos recordam que Ela colabora de modo ativo e claro nos planos de Deus. A todo momento, Maria nos conduz ao Filho — e sempre em comunhão com a Igreja visível. É colaborando com a Igreja que nós participamos da obra de salvação dos homens.

Ela aceita colaborar livremente no plano salvífico de Deus, participa de maneira ativa, unida ao seu Filho, na obra de salvação dos homens. [11]

Um devoto de Nossa Senhora de Guadalupe deve inspirar-se na obediência de São Juan Diego e respeitar seu bispo. Precisamos aprender a viver em comunhão.  Será que você reza pelo bispo de sua diocese? Ele também precisa de orações. Hoje é um bom dia para interceder por ele.

Que Nossa Senhora de Guadalupe e São Juan Diego intercedam por todos nós!

Referências

[1] Diane Moczar A Igreja sob Ataque: Quinhentos Anos que Dividiram a Igreja e Dispersaram o Rebanho. Campinas, SP: Ecclesiae, 2021. p. 24.

[2] Ibid.

[3] Papa João Paulo II. Homilia de 12 de dezembro de 1981.

[4] Padre Scaramelli. Discernimento dos Espíritos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2015. p. 83.

[5] Dicastério para a Doutrina da Fé. Normas para Proceder no Discernimento de Presumidos Fenômenos Sobrenaturais. II, A, Art 1.

[6] Catholic Answers Guide. Nossa Senhora de Guadalupe. [tradução livre].

[7] Papa Francisco. Homilia de 12 de dezembro de 2022.

[8] Ibid.

[9] Dom Leomar A. Brustolin. Eis tua Mãe: Síntese de Mariologia. São Paulo, SP: Paulinas, 2017. p. 59-60.

[10] Papa Francisco. Homilia de 12 de dezembro de 2022.

[11] Papa João Paulo II. Homilia de 12 de dezembro de 1981.