Espiritualidade
Igreja Católica

Cinco Santos desconhecidos para conhecer nesta Solenidade de Todos os Santos

Todos nós somos chamados à santidade, sem exceção alguma. Os santos nos provam que a santidade é possível.

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No primeiro dia de novembro, a Igreja celebra a memória de todos os santos. Entre eles, incluem-se todos os santos canonizados, mas também aqueles que ainda não foram elevados à honra dos altares.

Você sabia que existe um procedimento para a canonização? Trata-se de um auxílio para o discernimento do Papa, a quem compete a decisão final. Toda canonização declara que certa pessoa já está no Céu.

As causas de canonização dos Servos de Deus regem-se por lei pontifícia peculiar [1]

Quando a Igreja venera a memória de um justo, pede aos fiéis que recorram à sua intercessão e que considerem seu testemunho de vida. Os santos nos acompanham, como uma nuvem de testemunhas. A Igreja é um mistério de comunhão, que vai deste mundo ao Céu.

Com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição. (Hb 12, 1-2)

Neste artigo você vai conhecer a vida de alguns santos que já foram canonizados, mas que são pouco conhecidos da maioria dos fiéis. Vamos meditar sobre a santa vida de um renovador da vida monástica, de uma mística e até de um poeta. Você já sabe quem foram eles? Além disso, veremos que os pais de uma santa muito amada também foram canonizados. O nosso objetivo é convidar você a meditar sobre o chamado à santidade.

São Romualdo

São Romualdo foi um monge beneditino que viveu na passagem do primeiro para o segundo milênio da era cristã. Era um tempo difícil para a Igreja. A fidelidade de muitos monges à Regra de São Bento estava abalada.

Lutou valorosamente contra o relaxamento dos costumes dos monges de seu tempo, enquanto, por sua parte, progredia com empenho no caminho da santidade pelo perfeito exercício das virtudes. [2]
São Romualdo, pintura de Guercino.

Meditando a Palavra de Deus com fervor, São Romualdo reencontrou a simplicidade da vida monástica.  Não propôs inovações extravagantes, que não durariam uma geração, nem quis impor nada a ninguém. Voltou-se ao essencial.

A quem quiser obedecer ao Evangelho na vida monástica, ele oferecerá modelo de vida “simples”. [3]

A simplicidade é uma referência muito importante para todos nós. Ao longo dos mil anos que nos separam da vida de São Romualdo, muitas coisas mudaram no mundo. No entanto,  o ser humano continua o mesmo. Todos nós temos necessidade de cultivar um certo silêncio na vida de oração.

Não é possível prescindir do silêncio da oração prolongada para perceber melhor aquela linguagem, para interpretar o significado real das inspirações que julgamos ter recebido, para acalmar ansiedades e recompor o conjunto da própria vida à luz de Deus. [4]

A vida de São Romualdo  nos recorda da importância  do essencial. Sem convívio com a Palavra de Deus, sem vida de oração, não conseguiremos viver a simplicidade fecunda dos Santos Evangelhos.

Santa Francisca Romana

Cerca de uns três séculos depois de São Romualdo, viveu Santa Francisca Romana. Desde a infância, tinha aversão ao pecado. Na juventude ela quis ser monja, mas seus pais a destinaram ao matrimônio. Não lhe deram ouvidos.

Seus pais, sem consultar suas inclinações, e apesar de suas repugnância, obrigaram-na a se casar, em 1396, com Lourenço Ponziani, jovem nobre de Roma, cuja fortuna vinha desde o seu nascimento. [5]

Ela acolheu o estado de vida conjugal com o coração centrado em Cristo. Amou seu marido, como toda esposa fiel e dedicada.  Foram quarenta anos de casamento! Ao longo desses anos, mantiveram um relacionamento admirável.  

Houve poucos casamentos tão felizes como este, porque houve poucos tão santos como este. A estima, o respeito e o amor foram mútuos; a paz e a união, inabaláveis. Estes esposos viveram juntos 40 anos sem o menor desentendimento, sem sombra de frieza. [6]

Santa Francisca Romana foi uma grande mística. Chegou a ver o inferno e os demônios. O seu relato é muito impactante. Se for feita uma leitura cuidadosa, poderá trazer muitos benefícios à alma devota. As revelações que Deus permite não são para nos assustar, mas para auxiliar a nossa salvação.

Santa Francisca Romana

Certa vez, por exemplo, a santa viu como os espíritos infernais são obstinados em levar as almas para o inferno. A todo momento eles nos tentam, propondo todo tipo de pecado e maldade. A consciência dessa obstinação no mal deve reforçar em nós a paciência no bem.  

Não há um instante do dia e da noite em que estes cruéis inimigos não tentem algum tipo de tentação para cansar aqueles que não conseguem vencer pela astúcia ou pela violência. A paciência é, portanto, a arma defensiva por excelência. Ai de quem se deixa cair nas mãos deles! [7]

A vida de Santa Francisca Romana nos convida à misericórdia. Será que nós rezamos pela conversão dos pecadores? Temos compaixão dos que não rezam por si mesmos?

São Paulino de Nola

Voltaremos agora ao século IV,  para tratar de mais um santo notável. É uma pena que poucos conhecem a vida de São Paulo de Nola. Ele foi amigo de Santo Agostinho e estudou na escola de Santo Ambrósio.

Contemporâneo de Santo Agostinho, a quem esteve ligado por profunda amizade, Paulino exerceu o seu ministério na Campânia, em Nola, onde foi monge, depois presbítero e bispo. [8]

São Paulino de Nola era um homem de letras. Recebeu uma formação poética muito rigorosa ainda antes de sua conversão. Além disso, ainda jovem, tinha conseguido um cargo político de certa relevância.

Recebeu uma requintada educação literária, tendo como mestre o poeta Ausônio. Afastou-se da sua terra pela primeira vez para seguir a sua precoce carreira política. [9]

Quando se converteu, Paulino passou a buscar outros valores. Sua conversão foi tão significativa e autêntica que todos perceberam, inclusive os pagãos. Naturalmente, houve quem o criticasse por amar a Jesus Cristo!

São Paulino de Nola
A conversão de Paulino impressionou os contemporâneos. O seu mestre Ausônio, um poeta pagão, sentiu-se “traído” e dirigiu-lhe palavras ásperas. [10]

E como o santo reagiu a essa situação? Ele foi fiel a Jesus Cristo. Abandonou o que devia ser abandonado; e passou a usar seus talentos para a edificação da Igreja. Tornou-se um grande poeta da fé!

Os seus poemas são cânticos de fé e amor em que a história cotidiana dos pequenos e grandes acontecimentos é vista como história da salvação, como história de Deus conosco. [11]

É bonito ver que os santos não viviam em outro mundo. Eles atingiram a santidade entre nós, a partir de suas vidas concretas. Tinham relações de amizade, de trabalho e de estudo. Enfrentavam dificuldades e ataques, mas não enterravam seus talentos (Mt 25, 21). Essa é uma lição para todos nós.  

São Luís e Santa Zélia Martin

Todos nós conhecemos e amamos Santa Teresinha. Ela é uma das santas mais invocadas da atualidade. Mas você sabia que os pais dela também foram canonizados? Eles eram pais santos que tiveram uma filha santa!

Os Santos esposos Luís Martin e Maria Zélia Guérin viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus. [12]

Essa família é uma mensagem que Deus diz ao nosso coração. É importante observar que São Luís e Santa Zélia Martin não eram consagrados. Há quem pense que apenas os religiosos são chamados a ser santos, mas não é verdade. A santidade é para todos.

São Luís e Santa Zélia Martin
Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. [13]

São Luís e Santa Zélia foram “pessoas comuns”, pais de família, que cumpriam todas as atribuições de seu estado de vida. Cuidavam da casa, das contas e de tudo mais. Foi em meio às atividades da vida civil que chegaram à santidade.

Vocação Universal à Santidade

Até aqui enfatizamos que todos nós somos chamados à santidade, sem exceção alguma. Para concluir, convém recordar que o caminho da santificação não é individualista. A Igreja é o lugar em que nós nos unimos a Cristo. Nela, devemos perseverar na fé e na humildade.  

Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. [14]  

Conhecer a vida dos santos é uma forma de aprender a ser Igreja. Eles querem que nós cheguemos ao Céu, para louvarmos e amarmos a Deus juntos.  Será que temos consciência da grande graça que é sermos católicos? Hoje é um excelente dia para render graças ao Senhor, que nos trata com tanto carinho.  

Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências

[1] Código de Direito Canônico. Cân. 1403 — § 1.

[2] Ofício Divino. Oração das Horas. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Ave-Maria: 2004 p. 1267.

[3] Dom Benedito Calati, Cam. Introdução. In: São Pedro Damião, Vida de São Romualdo. Edições Camaldoli. p. 06.

[4] Papa Francisco. Gaudete et Exsultate, 171.

[5] Nota Biográfica. In: Santa Francisca Romana. Tratado do Inferno. São Caetano do Sul, SP: Santa Cruz - Editora e Livraria, 2022. p. 08.

[6] Ibid.

[7] Santa Francisca Romana. Tratado do Inferno. São Caetano do Sul, SP: Santa Cruz - Editora e Livraria, 2022. p. 54.

[8] Papa Bento XVI. Os Padres da Igreja: de Clemente de Roma a Santo Agostinho. São Paulo: Pensamento, 2010. p. 158.

[9] Ibid.

[10] Ibid, p. 159.

[11] Ibid, p. 160.

[12] Papa Francisco. Homilia de 18 de outubro de 2015.

[13] Papa Francisco. Gaudete et Exsultate, 14.

[14] Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, 9.