O batismo é o sacramento da Iniciação à vida cristã, por ele renascemos pelas águas do Espírito Santo e nos tornamos filhos de Deus por participação do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja. Este passo, tão importante na vida do fiel não pode ser levado de qualquer forma, e talvez a decisão mais importante ao redor deste sacramento é a escolha dos padrinhos da criança.
Mais do que um Evento Social
Devemos primeiramente entender que o batismo, mesmo possuindo uma característica social, principalmente no Brasil, é muito mais do que isto. Os pais muitas vezes se sentem pressionados a escolher um padrinho porque é “muito amigo da família” ou até mesmo porque fulano pode dar um presente mais caro. Com este tipo de pensamento acabamos por colocar de escanteio a verdade essencial, que o batismo é um sacramento antes de ser um evento.
Não há nada de errado em fazer uma festa, chamar a família, se preocupar com as roupas, decoração, etc. mas temos que ter em mente que escolher um padrinho não é acidental e não é possível “trocar” de padrinho depois, trata-se de uma responsabilidade assumida pelos pais que escolhem e pelo padrinho que aceita. Ainda pior é escolher um padrinho de improviso ou em cima da hora, sem dar a devida atenção à gravidade do assunto.
É ótimo receber belos e bons presentes para o querido batizado, mas o maior presente que ele recebe é a Fé, impressa nele de forma irreversível pelo sacramento, e o maior dom que os padrinhos podem dar é colaborarem com o crescimento e amadurecimento desta Fé.
A Grave Missão dos Padrinhos
O Código de Direito Canônico, a lei da Igreja, diz que a missão do padrinho é “ajudar que o batizado leve uma vida de acordo com o batismo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes”. E para isto, como diz o Catecismo “devem ser pessoas de fé sólida, capazes e preparados para ajudar o novo batizado, criança ou adulto, no seu caminho de vida cristã”.
O termo “padrinho” significa “pequeno pai” e madrinha “pequena mãe”, assim como “comadre” significa “mãe conjunta” e "compadre" é “pai conjunto”. Isso lança uma luz sobre a natureza do encargo dos padrinhos, que devem ser pais com os pais, ou seja, se tornam responsáveis pela educação moral e religiosa da criança tanto quanto os próprios pais.
Esta responsabilidade é gravíssima, e podemos entendê-la melhor fazendo um exercício mental: Imagine que vocês (os pais) venham a faltar ao seu filho, seja por viagem, doença ou mesmo a morte, ficariam tranquilos confiando a educação na fé, razão e moral àquele que pretende chamar como padrinho? Os pais prestarão contas no fim da vida diante do Juiz Eterno sobre a educação que proveram diretamente aos filhos e indiretamente através dos padrinhos, e os padrinhos também assumem esta responsabilidade diante de Deus, como exorta Santo Agostinho aos padrinhos “ficais sabendo que , diante de Deus, vos fizestes fiadores por aqueles que, à vista de todo o povo, haveis recebido da fonte batismal”.
Requisitos do Padrinho
Tendo em mente estas coisas, podemos claramente entender a quem é possível confiar o encargo de padrinho e a quem não se deve fazê-lo, como resume o Catecismo Romano, não se deve escolher para a missão de padrinho as pessoas “que não querem cumpri-la fielmente , ou que não podem desempenhá-la com zelo e perfeição”.
O Código de Direito canônico aponta que deve haver apenas um padrinho ou uma madrinha, ou então um padrinho e uma madrinha, nunca mais que dois. Nem dois padrinhos ou duas madrinhas, o que já se torna o primeiro preceito nesta escolha, considerando que representa “a família do batizando espiritualmente ampliada e a Igreja Mãe”.
Como normas práticas sobre a escolha dos padrinhos a lei da Igreja elenca 5 preceitos:
- Que seja escolhido livremente pelos pais (ou tutores);
- Que tenha pelo menos 16 anos de idade;
- Que seja católico, crismado, que tenha recebido a Eucaristia e leve uma vida de acordo com sua missão;
- Que não tenha sofrido penas canônicas (como excomunhão);
- Que não seja o próprio pai ou mãe do batizado.
Em maioria estes cinco requisitos para a escolha do padrinho são bastante diretos e claros, mas o terceiro ponto talvez seja o mais importante para prestarmos atenção por ser um pouco mais subjetivo, e por isso, deve ser mais explorado. Recorremos novamente ao Catecismo Romano que dá uma brilhante instrução: “Ora, os que pelo Batismo começam a viver uma nova vida espiritual, precisam também de ser confiados a uma pessoa cheia de fé e prudência, em condições de ensinar-lhes as normas da vida cristã , e de guiá-los na prática de todas as virtudes, para que vão crescendo em Cristo, até se tornarem homens perfeitos pela graça de Deus.”.
A partir desta instrução do Catecismo Romano, podemos delinear alguns critérios para ver se o possível padrinho leva uma vida de acordo com sua missão, como pede a lei da Igreja.
Características dos Bons Padrinhos
Cheio de fé. O padrinho deve entender e viver a fé católica na qual a criança será batizada, uma pessoa de vida de oração, que frequenta os sacramentos e vai à missa ao menos nos domingos, que tem uma vida pastoral ativa e que dá testemunho de sua fé no convívio com as pessoas e na sua retidão de trabalho.
Prudente. A prudência é como se fosse o motorista do carro da vida, uma pessoa prudente vive uma vida ordenada, toma boas escolhas de vida, e vive de forma exemplar. Isso não significa que o padrinho deva ser uma pessoa “bem sucedida” como entende o mundo, mas alguém cuja vida tem um “rumo” que percebe seu lugar e sua missão nesta vida e guia suas ações com a razão e a lei de Deus.
Catequista. Aqui não se entende que o padrinho deva literalmente dar catequese em uma comunidade paroquial, mas sim que seja capaz de entender e ensinar a fé ao seu afilhado, explicando os dogmas de fé, as escrituras e apresentando à criança a vida dos santos como exemplo. Também não precisa ser necessariamente uma pessoa “douta” mas sim alguém que tenha uma compreensão de fé, e que seja capaz de transmiti-la fielmente.
Guia. O padrinho deve ser um exemplo para seu afilhado, alguém que pratique as virtudes em sua vida. É de comum conhecimento que, principalmente na adolescência, os filhos param de olhar seus pais como exemplo e procuram exemplos fora de casa, o padrinho deve ser o primeiro a quem o afilhado deveria correr, tanto para imitar quanto para pedir conselhos. Para isto também é necessário que não somente ele seja da mesma fé, quanto que partilhe dos mesmos ideais e visão de mundo dos pais, para que haja certa continuidade na educação da criança.
Amigo. Aqui acrescentamos outra característica necessária para os dias de hoje. O padrinho para cumprir todas as suas obrigações deveria participar da vida do seu afilhado, estar presente em momentos bons e ruins. Para isto ele precisa ser amigo da família, alguém cuja companhia é bem vinda e até familiar. É necessário salientar que este é apenas um dos critérios e a familiaridade e amizade nunca podem ser o único nem o principal critério de escolha do padrinho. Podemos dizer também, que é aconselhável evitar escolher como padrinho uma pessoa de idade avançada, muito doente, ou ainda uma que mora muito longe e que portanto não consiga participar da vida do afilhado.
Escolha Livre e Responsável
Se você é um pai se preparando para batizar seu filho, leve em consideração tudo o aqui foi dito e não se deixe levar por conveniência ou pressão social na escolha do padrinho, e se, ao olhar ao seu redor não encontrar ninguém que preencha os requisitos, é necessário repensar suas amizades para o seu próprio bem espiritual e de seu filho. No caso de se encontrar em uma nova cidade onde não conheça ninguém que possa fazer este papel, sempre é possível conversar com o pároco e pedir a indicação de pessoas para isto, tomando o cuidado para também acolher à medida do possível a pessoa na convivência familiar.
Se você é ou está se preparando para ser padrinho, medite sobre o que aqui foi dito e procure viver de forma condizente com tão sublime missão, estude a fé, frequente os sacramentos e reze com e por seu afilhado.