O relacionamento com o Espírito Santo é um dos tesouros da vida cristã. Ele nos introduz no conhecimento de Cristo. Nós não podemos deixá-lo de lado. Foi o que São Paulo ensinou já em sua primeira carta aos coríntios:
Ninguém será capaz de dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser pelo Espírito Santo. (1Cor 12, 3b)
Neste artigo vamos meditamos um pouco sobre o modo como o senhorio de Jesus se manifesta em nossas vidas. Vamos refletir dom por dom, para identificarmos melhor as graças que devemos pedir.
O Dom da Sabedoria
Muitas vezes nós confundimos a sabedoria humana com o dom da sabedoria. São “sabedorias” bem diferentes. A sabedoria humana é fruto da experiência de vida. Assim, por exemplo, todos nós conhecemos idosos que foram sábios. Eles souberam aprender com a vida.
Já o dom da sabedoria não é obra humana. Somente o Espírito Santo pode infundir essa sabedoria nos corações dos fiéis. É por isso que devemos pedir a graça de recebê-la, como fez Salomão no dia em que foi coroado rei.
Está registrado no Primeiro Livro de Reis. O Senhor apareceu em sonho a Salomão e concedeu-lhe satisfazer um pedido. Salomão não pediu honrarias nem riquezas, mas sim sabedoria.
Em Gabaon, o Senhor apareceu a Salomão, de noite, num sonho, e disse-lhe: “Pede o que desejas que eu te dê.” Salomão respondeu: (...) Dá, pois, a teu servo um coração que saiba escutar, capaz de governar teu povo e de discernir entre o bem e o mal.” (1Rs 3, 5.9)
A sabedoria faz com que nós olhemos a vida com o olhar de Deus. Existem situações que nos causam mal-estar. Com um olhar meramente humano, elas parecem não ter sentido! Mas o Espírito Santo pode nos introduzir no olhar de Deus, abrindo-nos um sentido maior em tudo.
A sabedoria é aquilo que o Espírito Santo realiza em nós, a fim de vermos todas as realidades com os olhos de Deus. [1]
Para viver este dom, precisamos nos acostumar a levar para a vida de oração tudo aquilo que nos inquieta. Renunciando assim à murmuração, aprendemos a confiar em Deus. Ele nos conduz em cada momento da vida.
Estamos todos nas mãos de Deus. [2]
O Dom do Entendimento
Assim como o dom da Sabedoria não é a sabedoria humana, o dom do entendimento não é o entendimento intelectual. Podemos adquirir conhecimentos em livros, e eles têm o seu valor. Mas o dom do entendimento é uma outra realidade. Trata-se de um entendimento à luz do plano de Deus.
Podemos compreender uma situação com a inteligência humana, com prudência, e isto é um bem. Contudo, compreender uma situação em profundidade, como Deus a entende, é o efeito deste dom. [3]
Esse entendimento que vem de Deus tem a ver com a fé. O Espírito Santo nos abre o entendimento do que Jesus disse e realizou, para que possamos aplicar o Evangelho em nossas vidas.
Podemos ler o Evangelho e entender algo, mas se lermos o Evangelho com este dom do Espírito Santo conseguiremos compreender a profundidade das palavras de Deus. [4]
É bom preparar o coração para a santa missa, lendo o Evangelho do dia. Antes, porém, podemos pedir o dom do entendimento.
O Dom do Conselho
Ao longo da vida temos que fazer muitas escolhas. Algumas são fáceis; outras, bastante difíceis. Tem vezes em que nos sentimos confusos, mas nunca estamos sós. O Senhor nos acompanha de modo bem concreto.
O Espírito Santo vem em nosso auxílio, agindo em nossas consciências, para nos conduzir às escolhas de vida corretas. Entre as muitas opções, sempre há aquela que nos liga mais profundamente ao Senhor Jesus. O dom do conselho é esse discernimento.
O conselho é o dom com o qual o Espírito Santo torna a nossa consciência capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus, segundo a lógica de Jesus e do seu Evangelho. [5]
Mas não se trata de uma ação automática. Deus não retira a nossa liberdade: cabe a cada um fazer suas escolhas. É por isso que a oração é fundamental. No interior da oração, vamos nos abandonando em Deus.
Na intimidade com Deus e na escuta da sua Palavra, começamos gradualmente a abandonar a nossa lógica pessoal, ditada muitas vezes pelos nossos fechamentos, preconceitos e ambições, e aprendemos a perguntar ao Senhor: qual é o teu desejo? Qual é a tua vontade? [6]
Encontrar tempo para a oração é um esforço que vale a pena. No fundo, é uma busca de intimidade com o Espírito Santo! Podemos aproveitar muitos momentos para a oração, pois podemos rezar no silêncio do coração.
E com a oração damos espaço para que o Espírito venha e nos ajude naquele momento, nos aconselhe sobre o que devemos fazer. A oração! Nunca esquecer a oração. Nunca! Ninguém nota quando rezamos no ônibus, pelas ruas: rezamos em silêncio com o coração. [7]
Peçamos a graça de escutar o Espírito Santo. Não se esqueça de pedir a intercessão de Nossa Senhora, para que você seja fiel ao Espírito de Deus como Ela foi.
O Dom da Fortaleza
Todos nós já tivemos contato com a nossa fraqueza. Às vezes queremos perdoar, mas não conseguimos. Outras vezes queremos intervir em uma situação, porém não temos a força interior necessária.
Essa força é o dom da fortaleza. Não é algo que nós produzimos. Ela é verdadeira quando vem do Espírito Santo, que nos leva para além de nós mesmos. É com auxílio do Espírito que podemos viver na prática o que a Palavra de Deus nos ensina.
Com o dom da fortaleza, o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração, liberta-o do torpor, das incertezas e de todos os temores que podem detê-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja posta em prática, de forma autêntica e jubilosa. Este dom da fortaleza é uma verdadeira ajuda, dá-nos força, liberta-nos também de tantos impedimentos. [8]
É necessário pedir o Espírito Santo em nossa vida de oração. Ele nos dará a fortaleza necessária para cumprir os nossos deveres e para dar testemunho de Cristo.
O Dom da Ciência
Você já teve a experiência de louvar a Deus pela beleza do céu, das matas ou até mesmo de algo que o homem tenha criado, como uma obra de arte? Essa experiência é movida pelo Espírito Santo. Trata-se do dom da ciência.

No primeiro capítulo do Livro do Gênesis, lemos que a criação agrada a Deus. Animais, mares, plantas - tudo é bom! É o dom da ciência que faz com que nós possamos nos alegrar com a criação como o próprio Deus se alegra.
«Deus viu que isso era bom» (1, 12.18.21.25): se Deus vê que a criação é boa, é bela, também nós devemos assumir esta atitude e ver que a criação é boa e bela. Eis o dom da ciência, que nos faz ver esta beleza; portanto, louvemos a Deus, dando-lhe graças por nos ter concedido tanta beleza! [9]
Peçamos a Deus a graça de contemplar tudo que é criado com a sua ciência, ou seja, com seu olhar de beleza.
O Dom da Piedade
Em sua primeira carta a Timóteo, São Paulo falou da piedade. Trata-se de um dom que está no centro da vida cristã: é um relacionamento pessoal com o Senhor, uma comunhão com Ele.
A piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida presente e da futura. (1Tm 4, 8b)
A piedade dá sentido à nossa vida. Ela nos conduz nos caminhos da amizade com Cristo. Um dos seus frutos é, portanto, compartilhar a vida em Cristo com os irmãos.
O dom da piedade significa ser verdadeiramente capaz de se alegrar com quantos estão alegres, de chorar com quem chora, de estar próximo daquele que está sozinho ou angustiado, de corrigir quantos erram, de consolar quem está aflito, de acolher e socorrer aquele que está em necessidade. [10]
Esse é um ensinamento que nos convida ao exame de consciência. Será que transmitimos a alegria da fé aos irmãos mais próximos de nós? Nós nos preocupamos, de verdade, com suas dores e questões?
O Dom do Temor de Deus
Algumas pessoas entendem errado o dom do temor de Deus. Não é para termos medo do Senhor! Este dom é uma consciência infusa pelo Espírito Santo de que somos pequenos perante Deus e que, portanto, dependemos de Sua bondade.
O temor de Deus faz-nos ter consciência de que tudo é graça e que a nossa verdadeira força consiste unicamente em seguir o Senhor Jesus e em deixar que o Pai possa derramar sobre nós a sua bondade e misericórdia. Abramos o coração, para receber a bondade e a misericórdia de Deus. [11]
É uma alegria depender de Deus! Ele nos ama mais do que podemos imaginar. Nós devemos pedir a graça de ter um coração misericordioso. Da consciência de nossas fraquezas, podemos nos compadecer do próximo.
Mas acima de tudo, o dom do Temor de Deus nos faz temer ofender a Deus, nosso Criador e Redentor. Deus é digno de todo nosso louvor e amor, portanto, devemos temer as mínimas ofensas ao Senhor, pedindo-lhe graças para corresponder em tudo à Sua santa vontade. O Espírito Santo vem em nosso auxílio para nos dar consciência da nossa miséria e da grandeza de Deus, portanto, como criaturas, nosso coração deve reconhecer a bondade de Deus e o quanto devemos corresponder ao seu amor, fazendo sempre e em toda parte aquilo que Ele deseja.
Vinde, Espírito Santo!
Este artigo é um convite à sua vida de oração. Invoque o Espírito Santo com mais frequência. Entre no cenáculo de seu coração e fique com Maria e os Apóstolos (At 1, 14), pedindo ao Senhor que lhe envie o Espírito.
Em Maria, o Espírito Santo manifestou o Filho do Pai tornado Filho da Virgem. [12]
Como Igreja, nunca estamos sós. Podemos contar com a oração maternal de Nossa Senhora, que vem em nosso auxílio.
Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, interceda por todos nós!
Referências:
[1] Papa Francisco. Audiência Geral de 09 de Abril de 2014.
[2] Papa Leão XIV. Primeira Bênção Urbi et Orbi. 08 de Maio de 2025.
[3] Papa Francisco. Audiência Geral de 30 de abril de 2014.
[4] Ibid.
[5] Papa Francisco. Audiência Geral de 07 de maio de 2014.
[6] Ibid.
[7] Ibid.
[8] ________. Audiência Geral de 14 de maio de 2014.
[9] ________. Audiência Geral de 21 de maio de 2014.
[10] ________. Audiência Geral de 04 de junho de 2014.
[11] ________. Audiência Geral de 11 de junho de 2014.
[12] Catecismo da Igreja Católica, 724.