Hoje em dia não são poucas as pessoas que enfrentam situações difíceis em seus casamentos. A vida em família é uma grande bênção de Deus, mas ela é também um lugar de combate espiritual.
Os esposos são tentados a abandonar o lar. Os filhos, a desobedecer aos pais. Pequenas questões crescem com facilidade e tendem a ameaçar a paz do lar. É preciso estar atento para os ataques espirituais que as famílias sofrem.
Acredito que a família é uma realidade insuportável para o demônio. Sendo, por excelência, o lugar do amor e da doação gratuita, ele incita seu ódio e violência. [1]
Mas não tenham medo! Deus não nos abandona. É possível viver um matrimônio feliz. O objetivo deste artigo é colaborar com a caminhada da sua família rumo ao Paraíso. Nele, você vai encontrar sugestões concretas para a sua vida familiar, baseadas em três conselhos do Papa Francisco. Porém, desde já, adiantamos que não existe receita de bolo!
A necessidade da Oração
Cada família é uma família, com sua própria história e problemas. Mas há elementos em comum entre elas. Todas precisam, por exemplo, de oração para sobreviver espiritualmente. Rezar é uma necessidade para todos nós.
Quando a Igreja lançou o Ano da Família em 1994, o Papa João Paulo II fez questão de esclarecer que a oração deve ocupar um lugar central na vida da família. O sacramento do matrimônio floresce na oração familiar.
A união sacramental dos dois, selada pela aliança estipulada diante de Deus, perdura e consolida-se na sucessão das gerações. Essa união sacramental deve tornar-se união de oração. Mas, para que isto possa transparecer significativamente no Ano da Família, é indispensável que a oração se torne um hábito arraigado na vida quotidiana de cada família. [2]
Construir um hábito de oração é muito bom para a família. Mas cada uma tem a sua realidade. Em algumas famílias, a disponibilidade para a oração é maior; em outras, menor. Para ajudar nessa missão, disponibilizamos todos os dias vídeos de oração que ajudam as famílias a manter-se conectadas com Deus através da oração.
Para a oração da manhã temos o programa “Manhã de Luz”; temos o programa “Santos da Igreja” para nos inspirar todos os dias com exemplos de virtudes; todos os dias recitamos o Santo Terço para manter viva nossa devoção à Nossa Senhora; além disso, podemos terminar o dia com o programa “Boa Noite Meu Jesus” entregando todo o nosso dia nas mãos do Bom Deus. Não faltam oportunidades de rezar com a sua família todos os dias.
Igreja Doméstica
Você já ouviu falar da expressão “igreja doméstica”? É como um dos documentos do Concílio Vaticano II chamou as famílias católicas. A ideia central é que cada lar é chamado a ser um lugar de anúncio do Evangelho, sobretudo aos filhos. Por isso, o exemplo dos pais é muito importante.
Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada. [3]
Essa expressão é muito rica. Falar de “igreja doméstica” nos recorda da responsabilidade que temos de dar um bom exemplo de fé para aqueles que estão mais próximos de nós, que são os filhos. Não se trata de impor a fé a ninguém, mas de construir um lar fundado no Amor de Deus.

A família tem a sua origem naquele mesmo amor com que o Criador abraça o mundo criado, como se afirma já «ao princípio», no livro do Génesis (1, 1). [4]
Os pais devem examinar como desempenham o seu papel familiar. Não basta conduzir os filhos à Igreja. É preciso edificar a “igreja doméstica”, fazendo do lar um verdadeiro ambiente de amor e compreensão.
O lar é, assim, a primeira escola de vida cristã e “uma escola de enriquecimento humano”. [5]
Mas como podemos edificá-la? Será que existem conselhos práticos para crescermos na vida familiar? É o que veremos a seguir.
Três Conselhos do Papa Francisco
O Papa Francisco nos ensinou que, na edificação da sua “igreja doméstica”, podemos contar com três palavras. Todos nós as conhecemos, mas nem sempre temos a sabedoria de escutar o sentido espiritual de cada uma.
1. “Com Licença”
Pedir licença para entrar em um lugar é uma regra de boa educação. Por ser um costume, nem sempre nos damos conta da importância de agirmos assim. Por que será que pedimos licença? É uma questão de respeito! Pedimos licença para não invadir a privacidade do outro.
Geralmente as pessoas gostam de perceber que temos consideração com elas. Pedir licença abre as portas para um relacionamento mais agradável. É assim com os vizinhos e amigos, mas também com a família.
A proximidade da vida familiar não deve nos levar a esquecer que o parente tem a sua intimidade. Existem casos em que uma compreensão equivocada da proximidade leva as pessoas a não se respeitarem. O Papa Francisco nos ensinou que, pedindo licença na família, nós podemos afirmar o respeito pelo parente próximo.
Entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa existência, exige a delicadeza de uma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito. Em síntese, a confidência não autoriza a presumir tudo. E quanto mais íntimo e profundo for o amor, tanto mais exigirá o respeito pela liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração. [6]
Não se trata de cultivar uma formalidade seca, mas de saber tratar as pessoas com delicadeza. As palavras transmitem muito mais que pedidos. Quem não gosta de ser tratado bem? Devemos aprender a pedir licença para entrar nos corações.
2. “Obrigado!”
Essa é outra palavra que sai da nossa boca todo dia. E é bom que seja assim! Agradecer pelo bem que os outros nos fazem é uma forma de contribuir para que o ambiente social seja saudável.
Infelizmente, hoje em dia, está crescendo uma certa cultura da grosseria. Muitas pessoas destratam o próximo por achar que agradecer seria uma fraqueza. Chegam a levar este péssimo hábito para as suas famílias.
Tenhamos cuidado. Nós não devemos agir desse modo! A família é um tesouro que Deus nos confiou. Ela deve ser uma verdadeira escola de carinho e confiança. Nela, todos nós aprendemos o valor do agradecimento.
A gentileza e a capacidade de agradecer são vistas como um sinal de debilidade, e às vezes até chegam a suscitar desconfiança. Esta tendência deve ser evitada no próprio coração da família. [7]
Dizer obrigado é uma forma de cultivar o respeito pelo próximo. Não se trata de uma formalidade vazia.
3. “Desculpa”
Chegamos àquela que é a mais importante das três palavras. Pedir desculpas é um ato de humildade; é o mesmo que pedir perdão. Todos conhecem um ou outro casamento que entrou em crise porque o marido e a esposa não souberam pedir desculpas um ao outro. Os dois foram-se fechando, pouco a pouco.
A terceira palavra é «desculpa». Certamente, é uma palavra difícil, e no entanto é deveras necessária. Quando ela falta, pequenas fendas alargam-se — mesmo sem querer — até se tornar fossos profundos. [8]
Quem não aprende a pedir desculpas acaba tendo dificuldade de perdoar o próximo. É a partir do reconhecimento dos nossos próprios erros que conseguimos acolher as limitações do próximo. Todos nós vivemos de perdão em perdão, porque somos frágeis como o pó.
Tu és pó, e ao pó hás de voltar. (Gn 3, 19)
Além disso, sem o perdão a família fica muito vulnerável espiritualmente. Os nossos erros abrem feridas emocionais e espirituais no próximo. Pedir desculpas é uma forma de iniciar uma cura. Não podemos deixar feridas abertas em meio ao forte combate espiritual que as famílias enfrentam.
Reconhecer que erramos e desejar restituir o que tiramos — respeito, sinceridade, amor — torna-nos dignos do perdão. É assim que se impede a infecção. Se não soubermos pedir desculpa, quer dizer que também não seremos capazes de perdoar. No lar onde as pessoas não pedem desculpa começa a faltar o ar, e a água estagna-se. Muitas feridas dos afetos, muitas dilacerações nas famílias começam com a perda deste vocábulo precioso: «Desculpa». [9]
Uma Obra de Deus
Que grandes ensinamentos! A família não é uma obra nossa, mas sim uma obra de Deus em nós. Nós devemos fazer o melhor possível, mas sempre confiar os nossos esforços ao Senhor.
Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. (1Cor 12, 6)
Nesse sentido, é importante que os pais católicos assumam seus deveres nessa obra. Eles devem instruir os filhos na fé, ensinando-lhes a prática das orações e das virtudes cristãs. Portanto, mesmo antes da catequese paroquial, convém que tentem transmitir a fé aos filhos.
A catequese familiar precede, acompanha e enriquece as outras formas de ensinamento da fé. Os pais têm a missão de ensinar os filhos a orar e a descobrir sua vocação de filhos de Deus. [10]
Não se trata de diminuir a importância da vida paroquial. Muito pelo contrário! Pais e filhos devem orientar a sua vida espiritual para a paróquia. É nela que nós aprendemos a viver como católicos.
A paróquia é a comunidade eucarística e o centro da vida litúrgica das famílias cristãs; ela é o lugar privilegiado da catequese de filhos e pais. [11]
A família é um grande dom de Deus. Não deixe de entregar a sua família à intercessão de Nossa Senhora e São José, para que o seu matrimônio seja fecundo e feliz. Haverá cruzes, sim, mas a Graça de Deus sempre vai estar presente.
Que Nossa Senhora e São José intercedam pelas famílias!
Referências:
[1] Cardeal Robert Sarah. A Noite se Aproxima e o Dia já Declinou. São Paulo: Edições Fons Sapientiae, 2019. p. 188.
[2] Carta do Papa João Paulo II às Famílias. Gratissimam Sane. 1994 - Ano da Família.
[3] Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, 11.
[4] Carta do Papa João Paulo II às Famílias. Gratissimam Sane. 1994 - Ano da Família.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 167.
[6] Papa Francisco. Audiência Geral de 13 de maio de 2015.
[7] Ibid.
[8] Ibid.
[9] Ibid.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 2226.
[11] Ibid.