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Espiritualidade

De perseguidor a Apóstolo: a conversão do homem que converteu o mundo

“Saul, Saul, por que tu me persegues?” (At 9, 4)

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É difícil imaginar a comoção que foi a conversão de São Paulo para a Igreja na época dos Apóstolos. Teve gente que demorou para acreditar na sua mudança! Ele era um perseguidor; e não há exagero algum em chamá-lo de perseguidor. Arrependido, ele declarou:

Eu persegui a Igreja de Deus. (1Cor 15, 9)  

Mas ele mudou. Mais ainda, tornou-se um grande místico, um homem apaixonado por Cristo e Sua Igreja. Escreveu boa parte dos livros do Novo Testamento, inspirado por Deus.  Sofreu muito pela fé e jamais recuou.

O que será que a vida de São Paulo fala para nós hoje? Qual é a mensagem que Deus coloca no nosso coração, passados quase dois mil anos do encontro entre o Cristo Ressuscitado e o perseguidor Saulo?

O Perseguidor

Ao longo dos Atos dos Apóstolos, você encontra menções ao Apóstolo como Saulo e como Paulo. Era comum que os judeus daquela época tivessem dois nomes:

Como muitos judeus do período do Novo Testamento, o apóstolo tinha um nome romano (“Paulo”) e um semítico (“Saulo”).

Ele era um judeu devoto, do grupo dos fariseus. Tratava-se de um grupo que se distinguia pelo rigor no cumprimento da Lei de Moisés. Para eles, o Messias ainda não havia sido enviado:

Alguns judeus do tempo de Saulo acreditavam que se todos os membros de Israel observassem a totalidade da Lei de Moisés por apenas um dia, o Messias viria de imediato. [1]

Era pela perfeita observância (ou cumprimento) da Lei de Moisés que Saulo perseguia a Igreja.  Ele achava que  a fé em Cristo seria um desvio de tudo aquilo que recebeu de seus antepassados.  

Fui circuncidado no oitavo dia, sou da estirpe de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus; quanto à observância da Lei, fariseu; no tocante ao zelo, perseguidor da Igreja. (At 3, 5-6a)

Saulo estava cego para tudo que a Igreja pregava, mas tinha zelo pelas coisas de Deus.  Você conhece alguém assim? Existem pessoas que se opõem à Igreja de Cristo porque acham que o caminho de Deus é outro. Elas estão erradas, mas elas não erram por ódio explícito à Verdade. Erram por cegueira espiritual.

A Caminho de Damasco

Nós não podemos julgar os corações. Cabe a Deus este julgamento, não a nós. Quem diria que aquele Saulo, um homem cheio de fúria, se tornaria um grande Apóstolo da Igreja que perseguiu?

Saulo devastava a Igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para atirá-los na prisão. (At 8, 3)  

“Devastar” é uma palavra muito forte. Em grego antigo, era usada para descrever animais selvagens destruindo uma colheita (Sl 80, 13). O teólogo Scott Hahn ensina que há um sentido muito claro neste verbo:

Aqui a palavra é usada para sublinhar a intensidade e brutalidade com que Saulo atacou os primeiros fiéis do movimento cristão. [2]

A conversão de Saulo aconteceu quando ele estava a caminho de Damasco, cidade da Síria. Seu objetivo era prender os membros da Igreja Católica em Damasco e levá-los a Jerusalém, onde seriam julgados.

Foi justamente quando Saulo se aproximava de Damasco que o Senhor interveio em sua vida. Viu-se cercado por uma luz que vinha do céu, caiu por terra e ouviu uma voz:

“Saul, Saul, por que tu me persegues?” (At 9, 4)  

Jesus Ressuscitado se manifestou a Saulo de modo extraordinário. Chamou Saulo pelo nome, em hebraico. O Senhor é Deus; sabe tudo. Sabia, então, desde o princípio, o que aquele perseguidor trazia no coração. E sabia também que mudaria o seu coração.

Mas observemos agora um aspecto importante. A quem Saulo perseguia? Ele perseguia a Igreja. Cristo já estava na Glória do Pai, não podia mais ser perseguido. Mas o Senhor diz, com clareza, que Saulo O persegue:

“Saul, Saul, por que tu me persegues?” (At 9, 4)  

Essa pergunta é também uma revelação. O Senhor revela que a Igreja não é uma instituição meramente humana. Ela é o Corpo Místico de Cristo. O próprio Paulo escreveria depois aos colossenses e aos coríntios:

Vós todos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo. (1Cor 12, 27)

Tanto aqueles cristão de Damasco quanto nós, no Brasil ou em qualquer outro país, somos membros do Corpo de Cristo. O Senhor é a Cabeça da Igreja.

Ele é a Cabeça do corpo, que é a Igreja (Cl 1, 18a)  

Saulo não estava sozinho neste momento. Os homens que o acompanhavam ouviram a voz falar com ele, mas não viram ninguém (At 9, 7).  Eles o conduziram pela mão até Damasco:

Ao invés de capturar os cristãos de Damasco e conduzi-los como prisioneiros para Jerusalém, ele próprio foi capturado por Cristo e conduzido pela mão até a cidade. [3]

Sob a Luz de Cristo, Saulo viu a Verdade; mas não foi obrigado a abraçá-la. O Senhor sempre respeita a liberdade humana. Ele nos chama a cooperar com a Graça (1Cor 3, 9). Nós também temos que cooperar com a graça da nossa conversão. É um trabalho diário de resposta ao Amor de Deus.

O Apóstolo

Após o encontro com Cristo na estrada a Damasco, Paulo passou os três primeiros anos de sua missão em processo de amadurecimento espiritual. Ele relata este evento em sua carta aos gálatas:

Parti para a Arábia e, depois, voltei ainda a Damasco. Depois, três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Cefas e fiquei com ele quinze dias. (Gl 1, 17-18)

Antes de avançarmos, lembre-se que a Bíblia não foi escrita em português. No original grego, há um detalhe deste encontro com Cefas (ou Pedro) que não devemos perder de vista. Trata-se da expressão “para conhecer”. O teólogo Scott Hahn aborda o tema com estas palavras:

A expressão grega é mais precisa, indicando que Paulo não só conheceu, mas “consultou” Pedro durante essas duas semanas, provavelmente para reunir informações sobre a vida e o ministério de Jesus. [4]

O Senhor concedeu a Paulo uma compreensão profunda de muitos mistérios. Mesmo assim, ele foi consultar Pedro, o primeiro Papa, para conferir se o Evangelho que pregava era o mesmo que a Igreja pregava. Veja como é importante entrar em comunhão com o Papa!

Nós também devemos ter este zelo. É importante fazer um esforço para conhecer qual é a fé da Igreja. Não desanime se encontrar dificuldades. Saiba que o próprio São Pedro reconhecia que haviam coisas difíceis de entender nos escritos de São Paulo:

Considerai também como salvação a paciência de Nosso Senhor. Isso já vos escreveu nosso amado irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Ele trata disso, também, em todas as suas cartas, se bem que nelas se encontrem coisas difíceis (2Pd 3, 15-16)

Paulo foi incorporado à Igreja pelo santo batismo (At 9, 18). Desde então, sempre esteve unido ao Corpo de Cristo.Foi com este zelo que colaborou ativamente para a expansão da santa fé.

Ele fez três grandes viagens missionárias e orientou muitas comunidades de fiéis por meio de suas cartas. Certa vez o Papa Bento XVI disse estas palavras sobre a relação entre Paulo e a Igreja:

Paulo converteu-se, ao mesmo tempo, a Cristo e à Igreja. Daqui compreende-se porque a Igreja tornou-se tão presente nos pensamentos, no coração e na atividade de São Paulo. [5]

Trata-se de um exemplo para nós. Tenhamos consciência de que a obra de evangelização ocorre em todo mundo. Elas nos dizem respeito. Somos uma só Igreja. Devemos rezar pelas missões.

Uma Paternidade Espiritual

A obra de evangelização que São Paulo conduziu chegou até nós. Pelo seu empenho, a fé se estendeu mais e mais pelo mundo conhecido da época. Além disso, o Espírito Santo revelou muitas verdades de fé a este Apóstolo.

Podemos dizer que, em certo sentido, somos filhos espirituais de São Paulo. Ele é um pai que nos educa na fé, que intercede por nós, que continua a ter no Céu o zelo pela Igreja que teve na terra.

Peçamos com confiança a intercessão de São Paulo, para que o Senhor ilumine a muitos que ainda não O conhecem.

São Paulo, Apóstolo dos gentios, rogai por nós!

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Referências:

[1] Scott Hahn. Anjos e Santos:um guia bíblico para a amizade com os que estão junto de Deus. São Paulo: Quadrante, 2018 p. 98.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch O Livro dos Atos dos Apóstolos - Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2016. p 55.

[3] Ibid, p. 58.

[4] Scott Hahn & Curtis Mitch Cartas de São Paulo aos Gálatas e aos Efésios - Cadernos de Estudos Bíblicos. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017. p 28.

[5] Bento XVI Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo: nas Origens da Igreja. São Paulo: Paulus, 2011.  p. 146