Espiritualidade

Frei Galvão: o verdadeiro amor à Virgem Maria e à Eucaristia

A espiritualidade de Frei Galvão era muito autêntica. E toda espiritualidade saudável produz frutos de caridade.

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Há pouco mais de trezentos anos, o Senhor concedeu duas grandes graças ao nosso povo. Será que você sabe quais eram elas? Foram eventos que ocorreram na mesma época, próximos um do outro.

Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi encontrada nas águas do rio Paraíba do Sul. Poucos anos depois, já em 1739, bem perto dali, nasceria Santo Antônio Sant’Anna Galvão (o Frei Galvão).

A região do Vale do Paraíba, especialmente a cidade de Guaratinguetá, deu dois grandes presentes para o povo brasileiro, no mesmo século XVIII (...): a Padroeira do Brasil e o 1º santo brasileiro. [1]

Como brasileiros, devemos conhecer a honra que recebemos. Vivendo em nossa terra, Frei Galvão deixou ensinamentos profundos para o mundo todo. Sua sabedoria provinha do amor à Eucaristia e à Mãe de Deus.

Neste artigo vamos meditar sobre a vida do primeiro santo brasileiro a ser canonizado.  Primeiro, vamos conhecer as bases da sua espiritualidade para crescermos na fé. Toda devoção deve alimentar a nossa vida interior. Depois, vamos conhecer alguns frutos de sua vida. Em seguida, meditaremos sobre a paz que Frei Galvão trazia no coração.

A espiritualidade de Frei Galvão

Frei Galvão faleceu em 1822. Ao longo do tempo, muitas coisas aconteceram no Brasil. Apesar de todas as transformações sociais e históricas, a memória de Frei Galvão permaneceu viva no coração dos fiéis.

Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. [2]  

Na espiritualidade de Frei Galvão, o amor à Eucaristia e à Imaculada Conceição estavam muito presentes. Ele vivia sua vocação franciscana, sempre atenta aos pobres, com intensidade.  

O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria, de quem ele se considerava “filho e perpétuo escravo”. [3]

Que tesouro espiritual! Há uma ligação muito profunda entre a Eucaristia e Maria. Você já percebeu isso? Foi nela que o Verbo de Deus primeiro habitou fisicamente, tendo-se feito homem como nós, com corpo e sangue.  

De certo modo, Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. [4]  

A fé de Maria deve repercutir em nossos corações. Assim como Ela acolheu o mistério que o anjo Gabriel lhe anunciou (Lc 1, 38), nós também devemos acolher o mistério da transubstanciação do pão e do vinho. O Filho de Deus é o Filho de Maria e continua acessível entre nós.

Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor. [5]

Nossa Senhora foi chamada a entrar em um relacionamento pessoal com Deus. Em certo sentido, todos nós somos chamados também. Pelo batismo, nós somos filhos adotivos de Deus.

O progresso da antiga à Nova Aliança não consiste só em uma relação de maior intimidade [com Deus], mas no fato de que chega a ser uma relação pessoal, individual. [6]

A espiritualidade de Frei Galvão era muito autêntica. A Eucaristia e a Virgem Maria tiveram um papel muito importante em sua experiência de fé. Não era um amor de momento, mas sim para a vida toda. O relacionamento pessoal com Deus é o único necessário.

A urgência de nos lembrarmos do único necessário se faz sentir particularmente neste tempo de mal-estar e de confusão geral. [7]

Vimos até aqui as bases da espiritualidade de Frei Galvão. Elas são fontes seguras para qualquer um. Veremos agora que, enraizado nessa rica vida interior, Frei Galvão dava frutos abundantes. Ele ia ao encontro dos irmãos e cumpria os seus deveres de estado sacerdotal, com fidelidade.  

Frutos Abundantes

Toda espiritualidade saudável produz frutos de caridade. É que, voltando para Deus, e não para si, a pessoa se interessa pelas necessidades concretas dos irmãos. O amor ao Senhor e o amor aos irmãos devem tornar-se um único amor.  

Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus. [8]

O amor provoca mudanças efetivas em nós. Não é exagero dizer que quem quiser examinar a própria vida espiritual pode começar observando quais foram as mudanças reais que a oração já provocou em si e em seus relacionamentos.  

Uma pessoa de Igreja deve estar sempre disponível ao serviço, dentro do seu estado de vida. A vida de Frei Galvão é um exemplo claro disso. Quanto mais se aprofundava na vida mística, mais se abria aos irmãos.

Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. [9]

Estejamos atentos ao amor de Frei Galvão aos pobres. Esse é um ensinamento perene que aprendemos com a vida dos santos. Não somente os franciscanos, mas toda a Igreja reconhece Cristo nos mais necessitados.

Não se pode amar a Deus sem estender o próprio amor aos pobres. [10]

Quando lemos a vida dos santos, devemos questionar o nosso modo de vida. Quais são os frutos da nossa espiritualidade? Estamos crescendo no amor? Amamos mais hoje do que ontem? Ou será que a nossa vida espiritual é voltada para nós mesmos? Essas são questões que a vida de Frei Galvão nos suscita.

A Paz que o Mundo não Conhece

Frei Galvão foi um grande pacificador em sua época. Você sabia disso? Certa vez uma instituição pública de São Paulo chegou a escrever ao provincial franciscano, para dar um bom testemunho da vida de Frei Galvão.

A Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII, definindo Frei Galvão como “homem de paz e de caridade” [11]  

Naquela época, como hoje em dia, o mundo era permeado de conflitos e tensões. As pessoas queriam impor sua vontade pessoal umas às outras. Frei Galvão pôde transmitir-lhes a paz que o mundo não conhece (Jo 14, 27) porque não vivia para o mundo, mas para o Coração Eucarístico de Jesus.    

Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. [12]  

A adoração à Eucaristia é muito mais que uma prática santa. Ela é uma grande esperança para a humanidade! É porque aquele que tem um coração verdadeiramente adorador não usa o próximo, como se fosse um objeto. Reconhecendo a dignidade da vida humana, o adorador abre espaço à paz de Cristo em seu coração.

O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. [13]

Contemplação e Caridade

A vida de Frei Galvão nos ensina, de modo bem concreto, que não existe contradição alguma entre contemplação dos mistérios de Deus e amor pelos necessitados. O amor a Deus nos torna mais disponíveis (1Jo 4, 20b). Assim, quanto mais rezarmos com a devida piedade, tanto mais frutos de caridade haverá em nossos corações.

Hoje é um bom dia para você examinar a sua vida de oração, mas também a sua disponibilidade para com o sofrimento dos irmãos. A cada momento o Senhor Jesus nos chama a águas mais profundas.

Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Aparecida e Santo Antônio Sant’Anna Galvão intercedam por nós!

Referências

[1] Seminário Franciscano Frei Galvão. Livro de Orações: Rezando com Frei Galvão. Pato Branco: IMPREPEL, 2016. p. 52.

[2] Papa Bento XVI. Homilia de Canonização de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão. São Paulo, 11 de maio de 2007.

[3] Ibid.

[4]  Papa João Paulo II. Ecclesia de Eucharistia, 55.

[5] Ibid.

[6] Cartuxo, um monge. A Missa, Mistério Nupcial. Juiz de Fora: Ed. Subiaco, 2015. p. 61.

[7] Garrigou-Lagrange. As Três Vias e as Três Conversões. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Permanência, 2011. p.15.

[8] Papa Bento XVI. Deus Caritas Est, 15.

[9] Papa Bento XVI. Homilia de Canonização de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão. São Paulo, 11 de maio de 2007.

[10] Papa Leão XVI. Dilexi Te, 26.

[11] Papa Bento XVI. Homilia de Canonização de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão. São Paulo, 11 de maio de 2007.

[12] Ibid.

[13] Ibid.