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Espiritualidade

Ide a José! Uma Meditação sobre nosso Pai Espiritual

São José é o nosso pai espiritual. Ele nos protege e defende dos perigos do mundo de hoje, assim como protegeu e defendeu o Menino Jesus dos perigos de seu tempo.

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Você sabia que, na sexta aparição de Nossa Senhora em Fátima, a irmã Lúcia viu São José com o Menino Jesus?

São José com o Menino pareciam abençoar o Mundo, com os gestos que faziam com a mão em forma de cruz. [1]

A presença de São José é discreta e silenciosa,  sempre paternal. Ele cuida de nós, que somos a Igreja, e em seus cuidados, ele nos alimenta e protege. Você percebe a ação de São José em sua vida?

Nem sempre nós o honramos como ele merece. São José ocupa um lugar de destaque nos planos de Deus. Este texto é um convite para você conhecer melhor a grandeza escondida do nosso pai espiritual.

A memória do justo é abençoada. (Pr 10, 7a)

Primeiro, vamos recordar como a Igreja lê o Antigo Testamento. Depois, será o momento de conhecer melhor São José a partir de uma leitura do Livro do Gênesis. Em seguida, de modo mais prático, veremos como São José pode nos acudir em nossas tribulações no mundo moderno.

Um Tesouro Escondido

No artigo A parte mais importante da Bíblia, vimos que a Igreja conserva um tesouro: a leitura do Antigo Testamento com base nas chamadas “prefigurações”.  Você se recorda do que é uma prefiguração? O importante não é a palavra em si mesma, mas o seu sentido.

A prefiguração não é um símbolo. É algo que só Deus pode fazer. Eu e você podemos nos expressar de muitos modos - por palavras, gestos e desenhos. Mas nós não podemos nos expressar em acontecimentos históricos, nem por meio da vida de uma outra pessoa. Deus pode, e isso é um grande mistério.

Era por meio das prefigurações que Jesus e os Apóstolos liam o Antigo Testamento! Assim, por exemplo, o Senhor interpretou a serpente de bronze que Moisés levantou no deserto como uma prefiguração da Sua Cruz (Jo 3, 14-15), e São Pedro escreveu que a água do dilúvio era figura do santo batismo (1Pd 3, 21).

Tudo isso nós vimos no artigo que citamos acima. O que nós não vimos é que existem prefigurações que são explícitas na Bíblia; e há outras que são implícitas.

Ide a José!

Quando o beato Papa Pio IX proclamou São José como Patrono da Igreja, ele mencionou o patriarca José do Egito, como uma prefiguração de São José.

Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos. [2]

Mas quem foi o patriarca José do Egito? Ele foi um dos filhos de Jacó. Você encontra a história dele nos capítulos 37 a 50 do Livro de Gênesis. Vale a pena conhecer.

José recebe seus irmãos no Egito. Pintura de Salomon de Bray.

Grosso modo, a história é a seguinte. José era odiado por seus irmãos porque contava com a predileção do pai. Quando lhes contou um sonho, passou a ser odiado ainda mais. No sonho, todos eles estavam trabalhando, colhendo feixes, porém, o feixe de José ficou de pé, enquanto os outros se curvaram perante o dele.

Será que vais reinar mesmo sobre nós e dominar sobre nós? (Gn 37, 8)

Depois, José teve um outro sonho. Novamente, ele o contou aos irmãos. Viu o sol, a lua e onze estrelas que se curvaram diante dele. Os irmãos ficaram muito irritados.

Que significa esse sonho que tiveste? Acaso vamos prostrar-nos por terra diante de ti, eu, e tua mãe, e teus irmãos? (Gn 37, 10)

O mal transbordou no coração dos irmãos de José e eles decidiram matá-lo. Para o pai, diriam que foi morto por um animal selvagem. Porém, mudaram de ideia e lançaram José em uma cisterna até vendê-lo como escravo a uns mercadores que iam para o Egito.

(...) tiraram José da cisterna e o venderam por vinte siclos de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito (Gn 37, 28)

Foi assim que José acabou tornando-se escravo do chefe da guarda do faraó, de quem conquistou a confiança. Mesmo assim, José acabou preso por conta de uma acusação falsa. Por Providência de Deus,  certo dia o faraó mandou tirar José da prisão para que interpretasse um sonho.  

Mais uma vez, um sonho marcou a vida de José. Dessa vez, porém, não era seu; era um sonho do faraó. José previu o que aconteceria nos quatorze anos seguintes:

Virão sete anos de grande fartura em toda a terra do Egito. Depois, porém, virão sete anos de carestia, e toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito, e a fome consumirá a terra. (Gn 41, 29-30)

O faraó ficou tão satisfeito que nomeou José como superintendente, para administrar os celeiros do Egito. Recebeu a responsabilidade de guardar os mantimentos na fartura! Passados sete anos, quando a fome chegou, e o povo pediu ajuda, o faraó, então, pôde dizer a todos:  

Ide a José e fazei o que ele vos disser! (Gn 41, 55)

A história é mais longa. Não só o povo egípcio, mas também os irmãos de José foram-lhe pedir trigo. A fome era intensa por toda a região. Tratava-se de um caso de vida ou morte! Eles não sabiam que José era o administrador dos celeiros do Egito, e dele receberam comida.  

E São José?

Podemos agora entender por que José do Egito foi uma prefiguração de São José. A missão de um nos ajuda a entender a do outro. Mais que coincidências pontuais, como nomes e lugares, há um mistério nessas vidas que só pode ser acessado pela fé.

São José e o Menino Jesus. Pintura de Bartolomé Esteban Murillo.

O que fez José do Egito? Ele não era egípcio, mas acolheu sua família no Egito. Proveu alimentos e proteção à infância de Israel. E São José, o que fez no Egito? Ele também não era egípcio; porém, no Egito, protegeu e alimentou a infância de Jesus. A paternidade de São José foi preparada no coração da humanidade pela paternidade de José do Egito.

O papel de São José no início da vida de Jesus segue claramente o papel do patriarca José no início da vida de Israel. Os dois partilham o mesmo nome; ambos são descritos como “justos” ou “retos”; ambos recebem revelações em sonhos; ambos saíram exilados para o Egito; e ambos surgem em cena para preparar o caminho para um acontecimento maior: no caso do patriarca José, o êxodo liderado por Moisés, o Libertador; no caso de São José, a redenção trazida por Jesus, o Redentor. [3]  

A missão de São José é certamente maior que a de José do Egito. À luz da fé, podemos vislumbrar um pouco mais desse mistério.  De que fome José do Egito salvou o povo? Da fome material, do estômago. E São José, de que fome nos salva? Da fome espiritual! Ele protegeu o Pão da Vida no Egito.

Sem José, não teríamos o Pão da vida na Eucaristia. Maria “amassou o pão”  em seu ventre santo; São José amorosamente o preservou no Egito. Ele continua a guardar o Pão da Vida em cada tabernáculo pelo mundo. [4]  

Chegamos agora a um ponto central deste artigo. A paternidade de São José chega a todos nós! Não é uma peça de museu, que nos recorda um belo passado. Ele cuida da Igreja, como cuidou do Menino Jesus.

Fome de Deus

Infelizmente, a fome corporal não foi suprimida no mundo. Muitas pessoas morrem de inanição hoje em dia. Mas não é este o nosso tema aqui. Gostaríamos de chamar a atenção para um outro problema: a fome espiritual e moral do mundo moderno.

O mundo sofre hoje de uma fome espiritual e moral. As almas têm morrido por falta de alimento espiritual: corações despedaçados, casamentos arruinados, vidas destruídas, crianças assassinadas no ventre materno, a verdade e o senso comum em completa escassez. [5]  

Nós devemos recorrer à intercessão e ao modelo de São José para vencer o combate espiritual. Estas são duas das grandes necessidades do mundo moderno:

1. A Família

As famílias vêm sendo atacadas com força pelo adversário de Deus. Não são poucas as pessoas que perderam as referências de paternidade e maternidade. Há uma confusão geral. Alguns chegam a pensar que o matrimônio seria um fardo.

Para combater e superar os enganos de satanás, a Igreja precisa de São José. Seu exemplo e proteção são a única maneira de sair da confusão que nos encontramos. A quem mais podemos recorrer para entender o que é o casamento e a família, senão ao Chefe da Sagrada Família e Terror dos demônios? [6]

Experimente a intercessão de São José. Reze pela sua família, mas também pelas famílias do mundo inteiro. Peça-lhe que ajude você em suas necessidades familiares concretas.

2. A Evangelização

Muitos povos que foram corajosamente evangelizados no passado encontram-se afastados de Cristo e Sua Igreja. Há uma forte luta espiritual no mundo. Cada vez mais pessoas perdem o senso do que é a fé.  Neste momento de crise, podemos recorrer à intercessão de São José!

São José foi o primeiro missionário. Hoje ele deseja trazer Jesus novamente às nações. Muitas nações e culturas, antes cristãs, desviaram-se de suas raízes e estão no caminho da autodestruição. [7]

Você reza pelo esforço de evangelização da Igreja? Peça a São José pela conversão dos pecadores, sobretudo dos batizados que se desviaram pelos largos caminhos do erro.

São José, Nosso Pai

São José é o nosso pai espiritual. Ele nos protege e defende dos perigos do mundo de hoje, assim como protegeu e defendeu o Menino Jesus dos perigos de seu tempo. A sua missão continua em nós, a Igreja!

O anjo do Senhor apareceu em sonho a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo” (Mt 2, 13)

Assim como, no Egito, o Menino Jesus encontrou refúgio seguro junto a São José, nós também devemos confiar as nossas vidas a ele. Que a aparição de São José em Fátima com o Menino Jesus nos braços nos recorde de sua presença paternal.

São José, rogai por nós!

Referências:

[1] Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 180-181 (IV Memória).

[2] Pio IX. Quemadmodum Deus.  

[3] Scott Hahn Salve, Santa Rainha: A Mãe de Deus na Palavra de Deus. Lorena, SP: Cléofas, 2017. 5ª ed. Páginas 29-30.

[4] Donald Calloway. Consagração a São José: As Glórias de Nosso Pai Espiritual. Campinas, SP: Ecclesiae, 2021. p. 173.  

[5] Ibid. p. 173.

[6] Ibid. p. 17.

[7] Ibid. p. 17.